Abigail e a Fera de Hillstone escrita por amarf


Capítulo 7
Capitulo cinco




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A High School Mason não era muito atrativa. O bloco vermelho de dois andares tinha janelas escuras, o calçamento era em parte coberto por musgos e as arvores velhas que circundavam não davam uma aparência melhor. Apesar de que por dentro, tudo era muito iluminado, as paredes eram amarelas sem vida e os armários vermelhos. Lucas estava sentado no chão, próximo a sala de aula com a cara enfiada numa revista de automóveis, mas ninguém sabia que dentro dessa revista tinha outra em quadrinhos do quarteto fantástico.

– Pode me dizer onde esta a sua amiguinha?

– Oi? – Lucas ergueu o olhar desinteressado, Belinda Sea estava com o cabelo loiro solto, o lábio estava brilhante com o gloss em exagero, a dona de um par de pernas bem feitas estava com os braços cruzados em sua frente.

– Você poderia dizer onde esta sua amiguinha?

– Eu não sei onde ela esta, Bel.

A garota sentou de seu lado, apoiou a cabeça no ombro de Lucas que fechou a revista e ficaram em silencio vendo as pessoas irem de um lado para o outro.

– Você sabe que não precisa mentir para mim – Belinda sussurrou

– Eu não estou mentindo Bel, eu só não acordei no meu melhor humor.

– Eu estou vendo… Você esta lendo revistinha na escola – Ela escondeu o riso

– Não é uma revistinha!

– Tudo bem, desculpe…

– Você é tão idiota – Ele beijou seu cabelo

– Eu sei – Ela se afastou dando um beijo demorado no canto de sua boca – Avisa a sua amiguinha que é ate sexta-feira o pagamento da viagem – Levantou-se e entrou na sala.

Abigail estava pegando o livro de biologia no armário quando sentiu um arrepio tomar conta de seu corpo, o pelo de seus braços eriçaram e a sua visão escureceu, um cheiro horrível de alguma coisa se decompondo invadiu suas narinas fazendo seu estomago se retorcer. Ela deixou os livros caírem no chão quando a visão escura tomou conta da imagem de crianças morrendo, a sua própria roupa estava suja de sangue. Sentiu as lagrimas descerem pelo seu rosto, caiu de joelhos no chão vendo a cena. Ao redor, labaredas de fogo cresciam cada vez mais, a fumaça deixava sua respiração difícil.

– Alô? Abigail? – Lucas passou a mão no rosto de Abigail que estava paralisada vendo armário vazio – Esqueceu alguma coisa? – Ele mesmo verificou o armário

– Não… Eu… Vamos para a aula – Ela disse rápido, assustada com que acabara de ver.

– O que você tem? – Ele segurou a amiga pelos ombros fazendo com que ficasse parada

– Eu estou bem. Sério!

Sentou-se na carteira do fundo e abaixou a cabeça fechando os olhos, queria esquecer a cena horrível que lhe aparecera de repente, ainda podia sentir a fumaça atrapalhar sua respiração. O professor Lee explicava sobre genética, o assunto que lhe menos interessava no momento. Lucas voltou sua atenção para a amiga.

– O que você tem? – Cochichou

– Nada… Só estou com dor de cabeça.

– Você tem ficado com dor de cabeça com frequência, Abigail.

– Estou bem… Professor Lee não tira os olhos de você – Sussurrou.

– O que quer dizer com isso? – Lucas afundou o corpo na carteira

– Que ele vai me fazer uma pergunta ou pegar sua revista.

– Então…

– Estou atrapalhando os dois? Eu posso dar aula quando acabarem, eu não quero parecer mal educado – Professor Lee disse calmo e cínico.

– Desculpe professor, não vai acontecer mais – Abigail falou baixo.

– Não, não vai acontecer. Se retirem da sala.

– Esta falando sério? – Lucas falou alterado

– Eu não brinco, Sr. Miller.

– Vai ver é por isso que você tem essa cara.

– Como?

– Lucas, cala a boca – Abigail falou se levantando para sair.

– Além de não brincar também é surdo? – Colocou a bolsa nas costas se preparando para sair.

– Sr. Miller esta passando dos limites – Professor Lee disse com o rosto em chamas de raiva

– Você… – Sua voz foi abafada pela mão da Abigail que o puxou para fora.

– Que droga!

– Vamos para casa.

Lucas não gostava de brigar com Abigail, mas tinha vezes que ela ficava demasiada chata, principalmente quando não conseguia o que queria, naquele momento ela estava chata demais. Chutava com afinco a pedra no caminho, as mãos no bolso e o queixo travado era um sinal claro que estava irritado. É em horas como essa que ela fica idêntica a Belinda, pensou enquanto entrava na cafeteria amarela e rosa. Dessa vez quem o atendeu foi Gil que diferente da irmã era extremamente alta e magra, tinha cabelos castanhos secos, não usava nenhum tipo de maquiagem e Lucas não se recordava de nenhum sorriso naqueles lábios. Pediu uma caixa cheia com as rosquinhas mais açucaradas e quando saiu esbarrou em Abigail.

– Desculpe – Ela disse.

– Tudo bem – Deu de ombros tentando desviar da amiga que imitou sua ação

– Não pelo esbarrão. Esse foi de proposito, estou falando da…

– Olha Abigail, esquece.

– Não, eu…

– Esquece – Forçou um sorriso desviando da amiga mais uma vez, ela o imitou de novo. Ficaram em silencio por alguns segundos, Abigail o encarou – Para de me olhar.

– Eu não estou te olhando – Ela riu abaixando o olhar

– Você é uma idiota. Por que eu sou seu amigo? – Sua pergunta não era retorica e nem para Abigail, ele perguntou para si mesmo com seriedade. Começaram a caminhar para casa.

– Isso é fácil… – Ela disse, Lucas ficou em silencio esperando que ela continuasse – É por que eu sou incrível… E você precisa de mim – Deu uma piscadela. Os dois começaram a gargalhar alto, mesmo que sentisse raiva da amiga por alguns minutos, não conseguia ficar por muito tempo.

O sorriso de Abigail se desmanchou quando os olhos pousaram nas duas figuras que caminhavam em sua direção, Lucas viu Lisa e outra garota de pele branca e feição angelical. Ela sentiu um frio imenso tomar conta do seu corpo, paralisou sentindo todo o sentimento que sentiu antes no corredor voltar, estava com medo. Lucas a olhou preocupado.

– O que foi Abigail?

– Essas garotas, elas…

– Eu só conheço a Lisa – Lucas comentou por alto vendo que as duas garotas se aproximavam. Abigail sentiu o ar sumir de seus pulmões, por impulso apertou forte o braço de Lucas tentando expulsar a fraqueza.

– Oi gente! – Lisa sorriu divertida – Essa é minha irmã, Karina.

– Não me lembro de ter visto na festa…

– É porque ela é a irmã mais chata…

Karina revirou os olhos.

– Foi um prazer conhecer vocês – Desviou de ambos e voltou a andar, Abigail não disse nada. Sentia-se mais fraca a cada segundo.

– A proposito, eu sou o Lucas – Ele falou nas costas da garota. Lisa ficou examinando os dois com um sorriso espontâneo – Sua irmã é sempre assim?

– Costuma ser pior… Tenho que ir nessa – Apressou o passou para acompanhar Karina, Abigail não se moveu ocasionando um esbarrão, quando tocou no braço de Lisa sentiu sua visão ficar escura, suas pernas falharam e ela ameaçou cair no chão – O que você fez?! – Lisa sussurrou, Karina virou-se, a sua feição angelical havia sumido e a imagem vingativa pronta para atacar surgiu. Lucas segurou Abigail pela cintura. Um circulo pequeno se formou deixando Lucas confuso e mais preocupado. Abigail estava mole em seus braços, Karina falou:

– O que foi Lisa?

– Ela me tocou e eu… – Lisa massageou a testa tensa – Vamos, temos que ir.

– Me leva para casa, por favor – Abigail conseguiu dizer. Lucas a levou para seu quarto e a colocou na cama, ficou observando a amiga pálida.

– O que diabos aconteceu? – Sussurrou sozinho.

*********

As cortinas pesadas cor de vinho estavam impedindo a luz entrar no quarto, todo o chão era coberto por um tapete felpudo, a cama de casal impecável e todo o guarda-roupa organizado milimetricamente. Iris estava sentada no centro do quarto de joelhos, os olhos fechados, seus punhos estavam fechados, tentava concentrar sua mente e controlar a respiração, mas as lagrimas caiam compulsivamente, os soluços cortavam o silencio. A imagem repetitiva de crianças morrendo estava como um filme em sua cabeça, o cheiro de sangue era real, o seu vestido azul bebe estava manchado e ela própria estava machucada, mas nada que doesse tanto quanto ver aquela cena.

Uniu as palmas da mão em frente ao peito e repetiu as palavras:

“Sitientem sumus

Fons est arida

Imple Caleto transigendum

Veniat ad me”

Um vento rodopiou seus cabelos, quando abriu os olhos estava de pé no meio de uma floresta de coloração alaranjada, as folhas caiam com leveza e rodopiava por sua cabeça. Em sua frente uma mulher de aparência cansada e pele cansada cheirava uma flor, mesmo que não aparentasse disposição, tinha um brilho alegre. Caminhou em direção a Iris.

– Olá querida… – Disse suave, acariciou o rosto de Iris – O que aconteceu?

– Estou morrendo, mama – Iris falou rouca – Não aguento mais.

– Oh querida… Não, não – Abraçou Iris que apoiava a cabeça no ombro da mulher, estava se sentindo exausta – Venha, vou te preparar um chá.

Caminharam um pouco ate pararem em frente a um chalé de pedras claras, a chaminé estava exalando uma fina fumaça, jasmins estavam colorindo as janelas do chalé e a porta entre aberta dizia que um delicioso chá de laranja estava no fogo. Iris sentou-se em uma das cadeiras, apoiou o cotovelo na mesa e colocou as mãos no rosto, o cheiro do chá invadia suas narinas acalmando seu corpo, mas as lagrimas continuavam a cair.

– Eu desisto.

– Não Iris, você não pode deixar suas irmãs. Sabe o que…

– Eu não tenho mais forças.

– Oh querida, eu nunca quis isso… – A mulher disse tristonha.

– Preciso limpar… – Iris falou com a voz embargada, ergueu o olhar para a mulher em sua frente que reconheceu aquele brilho decidido – Só assim conseguirei continuar.

– Na ultima vez você ficou de cama por meses.

– Eu aguento.

– Iris…

– Faça!

No andar de baixo, Karina entrou na mansão carregando Lisa, segurava com firmeza a cintura da irmã que estava pálida e fraca, o suor frio escorria por sua testa. Jack viu a amiga sendo colocada no sofá.

– O que aconteceu? – Perguntou preocupado

– Eu não sei, estávamos voltando e ela esbarrou na… – Engasgou com o nome da garota – Abigail e ficou assim – De repente, Lisa sentou-se, o cabelo caia desordenado em seu rosto, o lábio estava branco e os seus olhos que uma vez foram caramelos, estavam pretos. Ficou fitando o fogo na lareira, paralisada.

– O que esta acontecendo?

– Eu… Eu não sei… A Lisa nunca ficou assim…

Dos olhos da garota um liquido visguento e vermelho começou a sair como lagrima, ela continuou calada sem demonstrar qualquer sentimento de dor. Karina e Jack assistiam a cena surpresos, olhavam para Lisa que se colocou de pé, um estalo vindo de sua coluna surgiu fazendo com que a parte superior do seu corpo caísse para trás. Sua boca abriu mais do que a mandíbula permitia e uma voz estridente que fez doer os tímpanos dos dois espectadores disse:

– A quarta senhora esta chegando – Sons de cascos caminhando pela casa ecoaram pela sala – Ela traz o caos, o medo, a dor… Ela carrega o amor, a paz, a coragem…

Lisa desmaiou no chão no mesmo segundo, se não fosse o batimento cardíaco acelerado de Jack e Karina, o silencio seria completo. Ficaram olhando o corpo mórbido, a garota foi a primeira a se aproximar. Com receio colocou o dedo na garganta da irmã para sentir seus batimentos cardíacos.

– Leve Lisa para o quarto, eu vou procurar Iris.

Um clima tenso se apoderou da casa, ninguém falava nada desde que Lisa teve o surto, Shane mal podia acreditar na historia que o amigo lhe contava, tudo estava se tornando loucura demais, ate para eles. Iris era a que costumava viver esses tipos de situações, Lisa era diferente.

– Isso tudo depois que ela esbarrou com a Abigail? Mas isso não faz o menor sentido.

– Eu sei… Tudo esta uma loucura.

– É um ano especial… Não podíamos esperar que fosse diferente.

– É… – Jack murmurou sendo interrompido por batidas fortes na porta – Assim que a porta abriu, Lucas entrou como um furacão na casa. Jack levantou a sobrancelha direita.

– Acho que você errou de casa, amigo.

– Não. Estou no lugar certo. Onde esta a Lisa?

– Eu já estou de saco cheio desse moleque, vou torcer o seu pescoço… – Shane começou a dizer, mas foi interrompido por Lucas que estava impaciente.

– Onde esta a Lisa? Eu realmente não sei que diabos esta acontecendo, mas desde que ela se encontrou com a Abigail…

– O que tem a Abigail?

– Ela esta delirando na cama, falando umas coisas sem sentido! – Lucas massageou a testa irritado, voltou a perguntar com a voz alterada – Cadê a Lisa?

– Esta indisponível no momento – Jack falou sério.

– MERDA! – Lucas socou a parede.

– Onde esta a Abigail? – Jack perguntou sem expressar emoção nenhuma.

– Na minha casa.

– Vamos ate lá. Talvez eu possa ajudar… Shane, você vem?


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