Hunter - A caçada começou escrita por Julia Prado


Capítulo 20
Cárcere privado


Notas iniciais do capítulo

Nos falamos lá embaixo ;*



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A situação tinha saído fora do meu controle. Quando chegou realmente a hora, eu notei a besteira que tinha feito. O quanto aquilo machucaria não só Jacob, mas toda a minha família também. E Naomi... Ah, ela ia ficar arrasada. Eu estava arrasada, mas não era como se fosse deixar que notassem isso. Não, eu ia manter meu pavor apenas para mim. Ia fazer o que sempre fiz com perfeição: manter-me sob controle.

Eu não sabia onde estava, mas o local tinha resíduos de uma residência quase permanente. Poderia estar em La Push, ou no Canadá, ou em qualquer canto do mundo que não teria como saber. Eu só esperava que a tortura não demorasse muito para acabar. Não tinha ideia dos planos de Farad, nem das metas dele, mas só esperava que ele nunca as alcançasse. Não se elas envolvessem Jacob.

É claro que era algo muito idiota de ser dito em um momento como esse, já que eu praticamente tinha me oferecido para a morte. Isso traria Jacob para uma armadilha, eu só me liguei nisso depois de salvar a vida de Brady, mas era o mínimo que eu poderia fazer. Já tinha perdido o Collin, não podia perder o Brady também.

Lembrei-me da expressão de satisfação de Farad quando ele se afastou de Brady. De um modo silencioso, ele havia aceitado meus termos. Eu não a vi chegando, nem senti seu cheiro de imediato. Mas então duas mãos frias pousaram ao lado da minha cabeça, impossibilitando que eu me mexesse. Vi apenas o momento em que Farad se transformava de volta, ignorando os rosnados de Brady, e vinha na minha direção. Com uma dor lacerante na cabeça, eu apaguei.

Na verdade, eu esperava ter salvado a vida de Brady. Não podia ter certeza, é claro, depois que apaguei. Farad havia me dito que cumpriu sua parte no trato, mas até onde eu podia confiar que isso era verdade?

E eu estava certa o tempo todo. A vampira estava com ele, conveniada com seus próprios desejos. Ela queria a destruição do bando, pelo menos foi isso o que disse aos sussurros para Farad. Estava impaciente. Ele a tinha mandado esperar.

Seu nome era Dakota. Foi disso o que Farad a chamou. Ela era a mulher mais linda que eu já tinha visto, mesmo que não tivesse feições de mulher adulta. Conservava uma idade entre 15 ou 16 anos. Era um pouco difícil de saber, já que seu olhar era de anciã, mas suas feições jovens.

Baixa, pele branca como papel, traços clássicos, com bochechas altas e lábios finos. Os cabelos eram de um dourado escuro e de aparência suja, desciam lisos e um pouco embaraçados até seu quadril. Os olhos... Eu procurava não encarar muito eles para não entrar em desespero. Mas era do mais vivo vermelho. Ela tinha, assim como Farad, uma aparência selvagem, de quem não passava muito tempo na civilização.

Qualquer mulher no mundo daria tudo para ter um rosto daquele, as pessoas matariam por tal perfeição. Se ela não fosse minha possível ceifadora, eu também sentiria inveja. Não havia espaço para inveja em mim agora.

– Sua comida. – ela disse com sua voz de anjo, mas com repúdio ao olhar para o prato de comida.

Eu contava o tempo pelas vezes em que me alimentavam. Devia ser de noite e eu deveria estar aqui por um dia já. O quarto tinha taboas nas janelas, as paredes de madeira eram revestidas com panos, então eu nunca sabia se era dia ou noite. Não havia frestas para poder saber. A luz era fraca e havia um ventilador que mantinha o ar circulando.

Eu estava sempre amarrada à cama. Como se escapar fosse algo que passasse pela minha mente. Eu não teria nem chance.

Comi só por que meu estomago parecia que ia abrir um buraco, mas não o suficiente. Eu estava sem fome, imaginando onde meus atos tinham me levado. Estaria Jacob já no meu rastro? Farad tinha gostado dessa nova situação, foi o que me disse assim que acordei amarrada na cama.

– Isso pode ser uma dor de cabeça. – ele disse com um sorriso cruel nos lábios. – Ter seu precioso Jacob buscando por mim com tanto afinco, mas é mais divertido assim. Estava começando a me estressar com toda essa espera. Acho que agora será mais rápido, não?

Eu só tinha lhe enviado um olhar de nojo à guisa de resposta. Ele riu.

– Não fique tão brava. A ideia foi sua, a final de contas.

Eles permitiam que eu usasse o banheiro apenas de manhã. Dakota me acompanhando. Eu não entendia o motivo deles acharem que eu poderia tentar escapar. Eu não tinha chance.

Não ajudava em nada ter o cheiro constante de Dakota comigo tampouco. Minhas dores de cabeça ficavam durante horas, passando apenas quando eu dormia durante o dia, sentindo tanto estresse e medo que a única forma de não surtar era dormir.

– Os humanos não têm que comer mais do que isso? – Dakota perguntou, seus olhos vermelhos vivos cheios de repugnância, mas curiosos. Ela olhava para o prato quase intocado e depois para mim.

– Suponho que não tenha passado muito tempo com humanos. – comentei distraída por sua curiosidade.

– Vejo meios mais produtivos deles. – ela sorriu cruel, seus olhos vermelhos brilhando sangue.

A ideia da morte de tantas pessoas para lhe dar essa coloração revirou meu estômago. Ela pareceu se divertir com isso. Estreitei meus olhos para ela, tentando colocar o pavor de lado e tentar descobrir as motivações dela.

Não havia muito além para se fazer.

– Qual o seu interesse na reserva? – perguntei.

Dakota bufou.

– Não é da sua conta. – rápida como um piscar de olhos ela estava na minha frente. Esses movimentos abruptos me pegavam de surpresa, sempre me faziam pular. – Mas eles pegaram algo de mim e quero de volta.

Então saiu.

Deitei a cabeça na cabeceira da cama. Só havia se passado um dia e eu já estava entrando em desespero. Quanto tempo mais eu ficaria viva aqui? Fechei os olhos e tentei deixar minha mente vagar por alguns minutos. Fiquei imaginando como estaria Brady, Jacob e meu pai. Qual era o tamanho da besteira que eu tinha feito? E, por que diabos eu ainda estava viva?

Ele poderia me matar, fazer Jacob sofrer, e mesmo assim continuar com ele em suas mãos. Qual era o propósito de Farad?

Deixei as questões de lado, focando minha mente em Jacob. Gostaria de saber como ele estava agora. Gostaria de saber usar esse sexto sentido... Quero dizer, não podia ser algo unilateral, certo? Se ele tinha abertura para os meus sentimentos, então deveria ter uma porta para os dele também. Embora eu nunca tenha sentindo nada além de meus próprios sentimentos... Então talvez não fosse possível.

Devia ser uma mágica destinada apenas aos lobos. Bom, é uma pena, eu gostaria muito de saber como ele estava. Provavelmente furioso comigo. Na verdade, não faria muita diferença se Farad me matasse, tenho certeza que se Jacob encontrasse meu corpo me reviveria só para me matar novamente. Eu tinha pisado na bola feio.

Ah, mas como eu ia saber que Farad continuava nas redondezas, mesmo depois de ter sido quase morto?... Tudo bem, tudo bem, era bem idiotice não ter pensado nessa hipótese.

A porta se abriu pela milésima vez hoje. Dessa vez era Farad que entrava. Seus cabelos continuavam longos, ainda havia aquele olhar faminto em seus olhos, do tipo que gostaria de cometer genocídios por La Push.

– Você parece um pouco pálida – ele disse sentando na beira da cama.

Eu me encolhi o máximo que conseguia para não ficar perto dele. Não somente por medo, mas por nojo também. Parecia que toda essa maldade dele iria me infectar.

– Dakota disse que não tem comido o suficiente.

– Desde quando isso é problema seu? – respondi antes de conseguir segurar.

Farad sorriu amplamente.

– Ah, aí está a Gaele que conheço! Na verdade, anjo, já que é minha convidada, gostaria que passasse um bom tempo conosco.

Ter o apelido que Jacob me deu nos lábios de Farad era de arrepiar, e não no bom sentido. Parecia minha sentença de morte. Meu coração retumbou em meu peito ao pensar sobre isso.

– O que você quer? – perguntei sem querer passar pela enrolação.

– Direto ao ponto. Também prefiro assim – ele assentiu. – Sabe, Gaele, faz um tempo que venho tentando passar um tempo de qualidade com você... Ou com alguém da sua família, para ser bem honesto.

Ergui minhas sobrancelhas em um questionamento mudo.

– Veja você, muitas pessoas acreditam que magia não passa de abstração infantil, mas nós dois sabemos que não é, né? – ele sorriu amplamente. – É claro que há pouca dela por aí, você só precisa saber onde procurar com cuidado. De qualquer forma, estou só enrolando. Onde quero chegar é que há uma antiga curandeira quileute...

– Sahale Umi? – perguntei o cortando. Minha paciência estava curta no momento, então era bom deixar claro que estávamos provavelmente na mesma página.

Ficou óbvio o choque em seu rosto. Ele não esperava por isso.

– Li o livreto de lendas e mitos quileutes. – falei monotonamente.

– Ah, esse livro... – ele murmurou, seus olhos fincados nos meus como se quisessem sugar informações da minha mente. Engoli em seco e mirei um ponto acima de sua cabeça. – Eu estava em busca dele. Não sabia que estava com você.

O modo como ele disse isso deu a impressão de que ele realmente faria algo pelo livro. E se ele ainda achava que estava comigo, então ele iria até minha casa... Ou mandaria a louca loira até lá.

– Não mais. Devolvi o livro há algumas semanas. – dei de ombros. – Não achei que teria mais importância já que eu podia tirar informações direto da fonte.

– Claro. – ele murmurou novamente, sua mente parecia longe. – E você o leu por inteiro?

Senti meu rosto corando, mas continuei a mirar um ponto alto em sua cabeça.

– Não. Só algumas partes. – admiti.

Ah, não era que ele não fosse interessante, mas sem o livreto eu tinha mais desculpas para fazer perguntas a Jacob e, com isso, passar mais tempo com ele.

– Interessante. – ele disse e agora sua voz trazia mais energia, como se ele estivesse de volta à conversa. – Bom, há informações realmente valiosas nesse livro. Uma, em particular, que estou em busca há tempos.

Esperei, não querendo revelar se eu tinha ou não a informação que ele sabia. Se eu a tivesse não falaria nunca, não para ele. Nada para ajuda-lo.

– Perto de seu fim, Sahale Umi deixou dois últimos recursos para que a magia de seu povo não se extinguisse. – ele falou lentamente, seus olhos buscando os meus, os mantive longe. – Primeiro, deu a liderança dos espíritos-guerreiros para o seu mais fiel e corajoso guerreiro. Contudo, Sahale sempre duvidou da índole humana e, temendo que no futuro uma ditadura movida por ganancia atingisse sua tribo, ela deixou para trás uma adaga escondida na floresta. Essa adaga daria o poder à outro espírito-guerreiro assumir o comando.

Eu me lembrei da adaga trançada que Farad havia me atacado no dia em que invadiu a oficina do meu pai. Mas não acho que era a mesma, se não ele não estaria me contando sobre isso. Meu coração redobrou seus batimentos, desejei que não tivesse feito isso. Parecia pistas para Farad coletar.

Ele continuou.

– Segundo, ela deixou para trás uma profecia que o Outro Mundo lhe sussurrara. A profecia diz, em minhas próprias palavras, que o conhecimento profundo de Sahale e sua conexão com as propriedades mágicas e a floresta seriam passadas para uma de suas descendentes mulheres em tempos de caos e dúvidas. A profecia diz sobre uma descendente de inocência, sem apego ou empatia com a magia e o ser humano, que, quando estiver pronta, guiará o povo quileute até o perigo passar.

Farad ficou esperando a minha reação. Depois de alguns momentos o olhei com confusão. O que ele queria com tudo isso?

– Não vi nenhum mapa no livro. – falei sem interesse.

Ele respirou fundo, parecendo controlar seu gênio. Encolhi-me mais um pouco na cama.

– Certamente que não há mapa no livro. A floresta escondeu a adaga, duvido muito que a própria Sahale a acharia, mesmo se quisesse. – ele disse mais calmo.

– Então qual o propósito da conversa? – ergui uma sobrancelha. – Não li essa parte do livreto. Não tenho informações para complementar.

– Achei que não tivesse. O caso é que seu pai é descendente dos Umi. – ele disse. – Assim como você. A única primogênita.

Bufei e rolei meus olhos. Ele estava em um caminho tão errado.

– Vai quebrar a cara se acha que sou eu. – falei com uma risada debochada – Não sei se você reparou, mas eu não sou muito ligada nessas coisas de quileutes e lobos e vampiros.

– Exatamente. – a voz dele era sentenciosa.

Meu sorriso foi escapando por meus lábios. Não, não tinha como! Eu não tinha nada de especial. Nenhum conhecimento especial para “liderar o povo quileute” ou sei lá o que mais essa profecia dizia. E profecias eram muito subjetivas, venhamos e convenhamos. Um único texto pode ser interpretado dez vezes diferente por dez pessoas diferentes.

Não tinha como ser eu. Talvez um descendente mais para frente. Não sei, mas com certeza não era eu.

Não tinha como ser.

– A partir do momento em que você aceitou Jacob em sua vida, junto com toda a bagagem que ele carrega, você também aceitou o sobrenatural. – ele continuou. – Em palavras mais bonitas, você aceitou a existência da magia.

– Eu não tenho nada de especial. Nunca aconteceu nada fora do normal, nem quando vim para La Push, no caso dessa profecia for geograficamente restrita. – mantive meu pensamento.

– Não mesmo? Nunca? – pressionou. – Talvez não que você tenha notado, pode ser algo tão natural para você, que não tem como ser considerada estranha.

Estávamos discutindo tudo isso com tanta... Razão. Em um assunto que não era nem um pouco racional. O problema era que eu adorava um bom debate, Farad tinha aguçado minha curiosidade sobre o assunto, por mais que eu tivesse a plena certeza de que não era eu. Eu só precisava fazer com que ele visse isso.

– Hipoteticamente sim, eu poderia ter deixado passar algo por ser familiar demais. Mas você não acha que pessoas ao meu redor, pessoas que não tem nenhum conhecimento sobre isso, não viriam a anormalidade? – contra-ataquei – Amigos, familiares. Isso não é natural para eles.

Farad brilhou seus olhos para mim, pensando no meu argumento.

– Mas você não vai com muita frequência na floresta com seus familiares e amigos, não é mesmo? – ele disse. – A última vez que foi, estava com sua meia-irmã, Austin. Era escuro demais para que ela notasse, mas não acha estranho ter encontrado a rota para o corpo da guia turística tão rapidamente? E, depois do choque de perceber o que encontrara, não acha estranho ter voltado. E tudo isso sem atrair atenção?

– Jacob me notou. – eu o lembrei rapidamente.

– Mas só por que você fez barulho. Antes disso, ninguém as havia escutado. Foi uma surpresa até para mim, que estava vendo tudo isso muito distante. – revelou. – Não é estranho um bando de lobos estarem no local e nenhum deles ouvir vocês? Sentir o cheiro de vocês? Escutar seus batimentos cardíacos?

Minha mente vagou para aquela noite. A forma como andávamos e nossos passos pareciam camuflados, mal fazendo barulho. A forma como eu me guiava, tendo a plena certeza de onde estava indo... Mas isso se devia por eu estar prestando atenção na lanterna de John. Eu estava me guiando por ela

... Mas houve um momento em que tomei minha própria rota para não dar de cara com todos.

– Jacob deve ter me encobertado. – falei descartando a teoria. – Fez isso uma vez, por que não o fez antes também?

Farad riu e balançou a cabeça.

– Por que é tão difícil fazer você aceitar o sobrenatural? Eu vi a dificuldade que o próprio Jacob teve com isso. Foi preciso eu quase mata-la para você acreditar. – comentou casualmente, como se aquela noite não tivesse sido o início de muitas outras noites insones e cheias de pavor.

– Não tenho dificuldade em aceitar isso. Mas o case que você está me apresentando não tem fundamentos. Não vejo base ou provas. Portanto, seu argumento não tem validade nessa discussão. – rebati – Acreditei nas lendas por que ela me foram comprovadas. Você só está jogando um monte de superstição lixo e tentando me fazer engolir.

Farad ficou novamente em silencio. Ele tinha a expressão de quem estava prestes a me socar. Se fosse por que eu descartei tão rudemente suas teorias, ou só pelo modo como estava tratando toda essa situação eu não sabia, mas estava ciente da sua irritação.

Tentei não me encolher ainda mais. Eu já estava com meus joelhos próximos de meu tronco, mais do que isso ficaria ridículo. Empinei meu queixo e aprumei melhor meus ombros, para que pelo menos isso tirasse um pouco da posição fetal e covarde.

– Tudo bem. Então vamos seguir pelas evidências...

– Pelas suas evidências, não se esqueça. Provavelmente tudo o que você me apresentar terá sido vivido apenas por você, então não me julgue se não as aceitar.

Farad trincou os dentes, os olhos lampejaram vermelho para mim, como se ele realmente estivesse prestes a me mater. De alguma forma ele se controlou.

– Certo. – falou rudemente – A primeira vez que nos encontramos, na floresta perto da casa dos Black. Você se lembra?

Dei de ombros, como forma de reconhecimento.

– Você acha mesmo que eu a teria deixado sair de lá com vida? – a voz dele era sarcástica agora. – Eu estava fora do radar do bando e preferia me manter assim por um bom tempo, até quando a hora fosse a certa. Eu sabia que se deixasse você escapar, uma hora eles saberiam.

– Mas você não me atacou.

– Não consegui te atacar. – ele me corrigiu. – Nos meus planos, faria com que você acreditasse que eu a estava deixando ir. Esperaria até você virar as costas e então a atacaria. Não seria muito difícil, eu nem precisaria esperar você virar as costas. Estava tão aterrorizada que duvidei se conseguiria andar. No entanto, quando você passou por mim um vento a atingiu. Lembra-se disso?

Assenti. Era como se o cheiro de terra molhada, grama e salinidade me atingissem novamente.

– A partir daquele momento não consegui mais tocá-la. Você passou por mim e virou as costas, em uma coragem muito estranha. Não pareceu se importar em me dar as costas. Quando fui fazer o meu movimento, algo me impediu, formando uma barreira ao seu redor. Achei, de início, que tinha sido um dos amigos frios de Jacob, mas eles não são permitidos na Reserva. Então notei, depois de mais um tempo, que foi a maneira como a floresta encontrou de te proteger.

Ofeguei.

Como é? – havia, sim muito nitidamente, um sarcasmo grande em minha voz. – Que porra é essa? Uma versão de merda de X-Men?

Farad esperou que o meu choque-sarcasmo-choque-e-mais-um-pouco-de-sarcasmo passasse. Quando voltei a minha posição fetal, ele continuou.

– Você saiu correndo e então fui libertado. Tentei ataca-la outras vezes, mas não funcionou. Tive que deixa-la ir. E então você encontrou com Jacob e eu sabia que já não era mais possível.

– Tá legal. Se é com isso que você quer me convencer, que faço parte de um grupo seleto de pessoas especiais, é bom tirar o cavalo da chuva.

– Você nunca estranhou a sua relação com a floresta de La Push? Nem por um segundo? – ele estava chocado com a minha relutância.

Porém, Farad havia apertado um ponto complicado para mim. Sim, eu já havia estranhado a forma como ela me fazia sentir e agir. Sempre ligava isso com o meu amor pela biologia, pela natureza. Nunca por uma explicação sobrenatural.

– O garoto... Brady é o nome dele, certo? – Farad disse notando minha fraqueza. – Ele achou estranho o seu comportamento na floresta. Achou o comportamento da própria floresta estranho. A sua ligação com ela só cresce. Você sentiu o cheiro de Dakota na parede da caverna. O garoto não sentiu.

Abri minha boca para rebater, mas a fechei logo em seguida. Eu não sabia o que dizer. Não havia nada que eu pudesse falar que fosse tirar essa ideia da cabeça dele, por que havia acontecido algumas coisas estranhas comigo nos últimos dias.

– Não tem como seu eu, Farad. Está focalizando seus esforços na pessoa errada. – falei com mais veemência. Ele tinha que entender. – Não tem como ser eu. Não há pessoa menos ligada com os quileutes do que eu. Minha única ligação é Jacob. Você acha que o pessoal de La Push não teria notado? Jacob, ou Billy?

Farad riu.

– Você acha que eles não sabem?

Abri a boca e então a fechei. Não, Jacob não esconderia isso de mim. Não esconderia algo tão sério assim. Ele disse que eu não tinha nenhuma ligação... Corrigi o pensamento. Ele disse que eu não era uma loba. Não comentou nada sobre outras vertentes.

– É claro que eles só suspeitam. – Farad continuou como se não tivesse notado o meu choque e raiva. – Os Conselheiros são envoltos de superstições, muitas delas corretas é claro. Eles possuem uma leve ideia de que talvez você esteja realmente mais destinada aos quileutes do que aparenta, por ser parente de quem é.

– Jacob teria me dito. – balbuciei.

Farad tornou a rir.

– Acho que ele não é tão honesto com você, não é mesmo?

Eu sabia o que ele estava fazendo com isso. Estava tentando minar minha confiança em Jacob. É claro que eu estava chateada, com raiva e chocada, mas não o suficiente para duvidar de Jacob. Eu sempre soube que ele ainda me escondia coisas, que demoraria até eu saber de tudo. Então isso estava na lista, e daí?

– Eles suspeitam, principalmente, por que não posso atacar a casa de Jacob. Não posso chegar nem perto, na verdade. – revelou. – Era uma das suas dúvidas, não era? Pois bem. Não consigo chegar perto, sempre sou barrado. Foi uma das primeiras medidas que Jacob tomou quando soube de mim, a sua segurança e depois a de sua casa. Eles acham estranho eu não ter atacado ainda. Mas não possuem curandeiras fortes o suficiente para sentir a presença da magia.

Ele estava delirando... Não tinha como.

– Bom, vejo que hoje não vou conseguir muita coisa de você. Voltamos a nos falar amanhã, ok anjo? – sorriu quando me encolhi pelo apelido. Levantou e saiu do quarto.

Minha cabeça estava rodando assim que a porta se fechou. Era informação demais. Era irracionalidade demais. Não havia como ser eu... Não podia ser. Isso era só coisa da cabeça de Farad, ele estava tentando me manipular para conseguir a adaga para ele.

De certa forma, era racional da parte dele. Farad estava ficando sem opções, então era mais fácil jogar a carga nas minhas costas, focar a mente em algo que ele doentiamente acredita que dará certo para não precisar lidar com as falhas de seu plano. Que eram muitas.

Ele tinha Jacob em sua cola mais do que nunca agora. Por que não jogar esse monte de lixo nas minhas costas e deixar que eu lide com elas? Farad notou a falha, o grande erro, que cometeu quando me capturou. Quando aceitou a ideia mais ridícula que alguém poderia aceitar. Então precisava de um motivo para me manter viva, para não trazer mais fúria de Jacob e do bando para ele.

Sim, era por isso que ele estava falando tudo aquilo. Não tinha nada de adaga – tudo bem, talvez a tal adaga existisse -, nada de descendente predestinada. Isso tudo era baboseira. Não era biologicamente possível uma floresta ter vontade própria. Ia contra tudo o que a ciência sempre acreditou, tudo contra o que eu acreditava. Saber que seres míticos andavam pela Terra já não era o suficiente? Já não tinha minado meus sonhos sobre a biologia e a forma como a vida corria? Tinha que acabar com outro sonho também?

E logo a floresta de La Push? Não podia ser nenhuma outra? Logo a que eu mais me sentia apegada. Então, se formos levar pelas teorias de Farad, a minha ligação com ela não passava de uma obrigação que foi destinada a acontecer? O meu amor aos seres, a natureza, a floresta... Nada disso vinha de mim? Era tudo um fruto de uma profecia? De um conhecimento centenário?

Um sentimento parecido com doença me atingiu. Eu me senti mal. Deitei na cama e tentei respirar fundo, concentrar a mente em outras informações, nas falhas da teoria de Farad.

Tive que usar cada gota de determinação para isso.

As falhas: Farad não conseguiu me matar na primeira vez que nos encontramos, mas ele me feriu na floresta uma vez. Ele tentou me matar na loja do meu pai. Se eu era a tal predestinada, se eu era a protegida da flora e fauna de La Push, como ele conseguiu fazer isso?

Mas a explicação veio tão fácil quanto a falácia: Farad não tentou me matar na floresta, ele só me machucou. E na loja do meu pai era exatamente essa a explicação, eu não estava na floresta. Se fosse pensar como Farad, essas seriam as explicações.

E então eu estava em desespero novamente. Não haviam mais falhas. Na noite em que o vi naquela forma horrenda, ele ia me matar eu senti isso, mas não o fez. Demorou tempo o suficiente para Jacob me encontrar. Na caverna foi a mesma coisa. Ele não tentou me matar, estava tentando matar Brady. Ele conseguiu me tirar de lá por que realmente não tinha a intenção de me matar.

Contanto que ele continuasse com esse pensamento longe da floresta, ele poderia me ter onde quisesse.

É claro, tudo isso seguindo pela linha de pensamento dele. Eu ainda achava muito impossível, irracional demais. Era difícil acreditar. Era difícil aceitar que eu estava no meio disso, que os holofotes agora estavam em mim.

A palavra predestinada rodou em minha mente, fazendo-me sentir enjoada.

Não, nada de predestinada, destinada ou qualquer outro sinônimo que fosse me ligar a essa profecia. Profecias não eram comprovadas cientificamente. Pelo menos isso tinha que ser certo. Não era possível que uma mulher, na beira da morte, falasse algumas boas quantidades de bobagens e alguém interpretasse isso como uma profecia. Ela estava morrendo, cacete!

Em algum momento minha mente me fez o maior favor que poderia ter me ajudado nesse momento. Ela desligou. E eu dormi em um sono sem sonhos, sem preocupações e, principalmente, sem sobrenatural.


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Notas finais do capítulo

E aeeee? O que acharam?
Queria agradecer a super repercussão do capítulo anterior! Hiper obrigada a Pinky (seus comentários sempre me alegram, amore, cheios de carinho! nem tenho o que falar, né? vivo lendo e relendo a linda recomedação); Lena18 (seja super bem-vinda amore! Adorei seu comentário, fico muito feliz que a história tenha te prendido e espero não ter atrapalhado em nada depois da noite insone, haha); Janye Stark (sempre fiel aos capitulos, muito obrigada amore!); Talia Lautner (é tão bom ler palavras carinhosas!, seja super bem-vinda e espero que continue conosco, ainda bem que sua conta voltou!); Puro_Sangue (seja super bem-vinda e espero que continue conosco, muito obrigada pelo comentário amore!); Lilian Blackwell (nem tenho o que falar, né amore? obrigada pelos comentários, pela linda recomendação - não me canso de ler ela ahaa) e Terumy M W Lahote (obrigada por comentar, amore, seus reviews sempre me deixam sorrindo de orelha a orelha!).
Estou sentindo falta de algumas leitoras aqui, haha! Mas muito feliz com as novas!!

Mas vamos ao que importa: quem quer fazer um bolão sobre as intenções por trás da aliança de Dakota e Farad? Vamos ver quem acerta, hahaha
Hiper obrigada a todas!
Nos vemos na semana que vem!!

Beijooos ;*



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