Hunter - A caçada começou escrita por Julia Prado


Capítulo 10
Sonhos proféticos


Notas iniciais do capítulo

Nos falamos lá embaixo ;*



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Não foi mistério ir bem na prova de Biologia. Mas foi um mistério não ter caído de sono durante ela. Também foi um mistério Austin ter ido tão bem durante o dia, sem chorar – embora estivesse mais quieta do que antes. Passei horas me culpando por tê-la levado. Austin era diferente de mim, e eu deveria ter levado isso em consideração. Ela não conseguia analisar as coisas de um modo a parte de si, era muito emotiva para algo assim. A ideia de um corpo estar despedaçado no meio da floresta entrava aos poucos na minha cabeça, provocando calafrios quando passava. Mas mesmo assim eu ainda estava curiosa demais. E isso estava começando a me consumir.

Ao voltar para casa, fui sozinha. Austin queria ficar na praia com os amigos e notei que estava trabalhando, ao seu próprio modo, para esquecer o que tinha visto. Então eu segui com as janelas do carro abertas no máximo, deixando o vento gelado e cortante entrar no carro, mas também evitar que eu tremesse demais enquanto pensava sobre o corpo. Eu tentava não me apegar aos detalhes de como o corpo havia jazido no chão, daquela forma tão brutal. Pensava ao redor da cena principal. Na forma sigilosa como tudo estava sendo tratado.

Estacionei o carro e entrei em casa. Nem Jane e nem John se encontravam. Acho que os ouvi comentando algo de manhã sobre uma reunião na casa de Sue Clearwater em Fork. Não conseguia me lembrar.

Joguei minha bolsa no sofá e fui para a cozinha, fuçar em alguma coisa. Depois de encontrar alguns biscoitos, deitei no sofá e liguei a televisão. Zapeando pelos canais, me sentia aliviada em já ter passado pela provas, mas apreensiva por ainda não ter suas questões. Pelo inverno estar chegando, só tinhamos mais uma semana de aula. As férias de inverno eram intensas em La Push e Forks, mas geralmente os la pushianos tiravam férias uma semana antes do pessoal de Forks.

Meus olhos foram pesando conforme o programa avançava. Me acomodei melhor no sofá e fechei os olhos, deixando minha mente vagar pelos lugares que quisessem, mas sem se fixar em nada. Bocejei e suspirei, deixando o sono vir com mais força. O estresse dessa madrugada, adicionado a uma noite mal dormida me exauriram por completo.

Eu deveria estar muito longe. Aquilo não parecia ser a floresta de La Push. Embora houvesse certa semelhança. Não me era estranho. O vento que batia em minhas roupas e cabelos trazia um cheiro salgado. Era bem úmido também, muito parecido com o vento que soprava perto da praia. Olhei ao redor. Eu estava próxima a um dos penhascos de La Push.

Nunca tinha estado aqui antes, mas já os tinha visto de longe. Havia dois, um mais baixo e o mais alto. Eu me encontrava no mais alto. Nunca fui muito adepta de altura, e essa não estava me deixando mais confortável. Olhei para o outro lado, atrás de mim havia uma floresta e no meio dela havia uma cabana abandonada, escondida por entre as arvores. Ali não parecia La Push, eu nunca tinha visto essa cabana antes... Mas as árvores... Eu poderia reconhecer essa mata em qualquer lugar.

Estava sonhando, tinha isso muito claro em minha mente. Estranhei o motivo de sonhar sobre um lugar no qual não tinha ido ainda, que nunca havia visto. E parecia tão rico em detalhes! Por um breve momento me senti escapar do sonho, sentindo o tecido do sofá quente em minhas costas. Mas o sono venceu e eu voltei para o sonho.

Aparecendo de repente, havia um homem na frente da cabana. Alto, forte e sombrio. Estava parcialmente escondido pelas sombras das árvores. Mas aquele físico, aquela forma de parar o corpo – como se estivesse sempre pronto para atacar – eu poderia reconhecer. Era Farad.

Não senti medo. Por já estar ciente de que era um sonho, isso não me assustou. Mas também não me deixou mais tranquila. Ele caminhou despreocupado até mim. Tentei dar um passo para trás, mas estava muito próxima da beirada do penhasco. Então desisti e deixei que ele se aproximasse.

Parecia diferente do que ao vivo. Parecia mais sombrio do que já era. Ganhando proporções maiores em meu sonho, parecendo maior do que realmente era. Travei meus musculos quando ele se aproximou, ficando dois passos de distancia de mim. Eu esperei por ele. E pelo o que ele iria dizer. Mas a princípio ele não disse absolutamente nada, apenas ficou me encarando.

Aparecendo de repente, o corpo despedaçado estava entre nós. Dei um curto salto para trás, meus pés quase deslizando para fora do penhasco. Procurei não olhar para o corpo, mas não era como se eu pudesse afastar os olhos. Eu via os pedaços, via o sangue, via os ossos expostos... Era nauseante. Quando subi meus olhos para Farad, ele me encarava, medindo minha reação.

Então sorriu, com um movimento rápido suas mãos atingiram meus ombros. Eu fui jogada para trás, gritando enquanto meu corpo era suspenso pelo ar e desabava em direção ao mar revolto e as pedras abaixo dele. Debati meus braços e pernas, como se houvesse alguma coisa na qual eu pudesse me segurar. Era meu sonho e eu poderia modificar ele, se precisasse. Mas ele não se modificou, e eu iria sentir dor, sabia que sim. Por isso me forcei a acordar. Os ventos ainda pareciam passar com rapidez por mim, mas então senti o tecido quente do sofá. Voltei a gritar pelo ar... Então bati nas águas e pedras.

Ergui meu corpo com violência. Arfando. Minhas costas doíam, assim como meu quadril. Mas eu estava segura em casa. E não havia nenhum corpo despedaçado na minha frente. Voltei a deitar no sofá, completamente sem sono. Meu corpo estava suado, como se eu tivesse corrido uma maratona. Fechei os olhos com força quando uma dor latejou na parte detrás da minha cabeça.

O sonho tinha tido uma sensação muito real. Eu ainda me sentia batendo nas pedras e na água gelada. Balancei o corpo, como se isso fosse fazer com que o sonho saisse da minha pele. Levantei e estiquei as costas. Com o final das provas, eu não tinha muito mais o que fazer durante o dia. Não me sentia impelida a continuar a ler o livreto. Estava com muita preguiça para ler qualquer coisa. Subi para meu quarto.

Tomei banho, lavei os cabelos, os hidratei por uma hora e depois cuidei da pele. Passando aqueles produtos que eu tinha comprado e que usei raras vezes. Fiz toda uma seção SPA por mais de horas. Mas isso não foi o suficiente para fazer o dia passar rápido demais. Jane e John não iam voltar tão cedo. Austin provavelmente ficaria até tarde na praia com Lali e Graham.

Uma ideia me surgiu, como sempre fazia quando eu estava sem fazer nada. Coloquei minhas calças jeans, uma blusa branca sem mangas, meu maxi suéter cinza e minhas botas pretas de frio. Enrolei um lenço fofo cinza no pescoço. Desci as escadas e joguei o celular no bolso traseiro da calça. Puxei meu casaco marrom claro de frio, me sentindo aquecida e confortável.

Entrei no carro e deixei a casa para trás, mal olhando quando os vizinhos acompanharam minha saída de suas janelas térreas. Eles costumavam fazer isso sempre quando sabiam que eu estava sozinha na casa. Era eu abrir a porta que eles, provavelmente, já achavam que eu havia encontrado outro cadáver no meu quintal. Isso era irritante, mas tinha um dedo de John ai. Mantendo seus amigos com os olhos em mim.

Parei o carro no estacionamento da praia, travando ele ao sair. Olhei para o céu com uma raiva crescente. Uma leve neve começava a cair, mas não tinha força ainda para chegar ao chão. Eu não gostava de neve, isso significava que iria ficar mais frio, mais escorregadio e mais difícil de não me importar com a falta do aquecedor em casa.

A orla da floresta estava logo ali, passando despercebida pelas várias pessoas que transitavam por ali. Era como se eles nem soubessem da existência de algo tão magnífico e misterioso como a floresta. Caminhei pelo mesmo local onde estava de madrugada com Austin. Minha curiosidade formigando. Eu não sabia o que ia encontrar, mas, por algum motivo, eu acreditava que as respostas poderiam estar ali.

Caminhei por um bom tempo. Eu não me lembrava de ser tão longe. Mas isso não me incomodou. Por mais que a floresta estivesse úmida, mais gelada do que a cidade e concentrando uma quantidade significativa de sereno, eu me sentia bem. Mesmo assim apertei o lenço no meu pescoço, sentindo sua textura macia e quente.

Cheguei ao local, mas não havia nada ali a não ser alguns pedaços de roupas restantes. Não me senti decepcionada, era óbvio que eles iriam procurar, o mais cedo possível, retirar o corpo dali na madrugada. Em um horário onde ninguém prestaria atenção no que eles estavam fazendo.

Agachei no chão e olhei para os pedaços de roupa, não ousando tocá-los. O que estava matando essas pessoas? Não era possível ser um animal – como eles provavelmente usariam quando as cosias saissem do controle. Um animal não despedaçava uma pessoa dessa forma e deixava os corpos do modo como ficaram. Aquilo era brutal e intencional. Havia maldade naquilo, ódio.

– Foi horrível, não foi?

Eu me assustei e cai de bunda no chão. Levantei-me devagar, limpando a sujeira do casaco. Ao olhar para cima, prendi a respiração. Parecia muita coincidência eu ter sonhado com ele e agora ele estar bem aqui, na minha frente. Entre os restos das roupas do cadáver e eu. Engoli em seco e assenti, incapaz de dizer qualquer coisa.

– Não sabia que você tinha visto o corpo até ontem de madrugada. A vi saindo da floresta com a sua irmã. – ele estava deixando claro que conhecia mais sobre mim do que eu podia imaginar.

– Achei que ia sair do meu pé depois que eu entregasse o recado a Jacob Black. – falei com um quê de acusação na voz. Eu nem sei por que estava dizendo sobre isso.

Farad abriu um sorriso, mas não parecia feliz, nem alegre e nem divertido com meu comentário. Era um sorriso gelado e cheio de perigos. Não como os perigos que Jacob emanava, outros tipos de perigos. Do tipo vou-matar-você-se-não-calar-a-boca.

– Eu também achei que iria. Mudança de planos. – sorriu mais uma vez.

Senti meu estomago revirando. Eu poderia correr, mas isso seria quase impossível. Provavelmente eu cairia e só o instigaria a vir atrás de mim. Embora em nenhum momento ele tenha indicado que me atacaria, era algo muito claro quando me olhava.

– Acha que foi um animal? – ele perguntou e parecia realmente muito interessado no que eu suspeitava.

Como se isso abrisse uma caixa em minha mente, consegui colocar parte do medo de lado. Era a chance que eu tinha de descobrir alguma coisa. Dentro da minha cabeça, bem lá no fundo, alguém me dizia que eu estava olhando para a causa de óbito do cadáver. Mas ignorei isso.

– Não. Brutal demais.

– Animais podem ser brutais.

– Mas não dessa forma. – minha voz saiu nivelada demais para alguém que, há cinco minutos, estava completamente aterrorizada. – Animais são brutais por instinto, quando a caça oferece resistência. Mas a forma como foi feito não foi instinto, foi intencional.

– Ah... Havia me esquecido que você pretende ser bióloga. – ele disse olhando para a copa das árvores, como se buscasse por mais informações em sua cabeça. – Parece uma profissão adequada a voce.

Não havia um comentário certo para essa situação. Esse completo estranho, no qual me encrenquei nas duas vezes que o encontrei, estava deixando bem claro que vinha me observando, que conhecia minha família, meus sonhos e projetos. O que ele não conhecia?

Então me lembrei da festa de Drew. Onde fiquei tão próxima de Jacob. E ali estava: a mudança de planos. Eu estava em sua mira novamente, em algum momento eu devo ter saído dela, mas meus encontros com Jacob, cada vez mais recorrentes, o fez mudar de opinião.

Farad pareceu saber por onde meu pensamento estava indo. Ele retirou o sorriso dos olhos quando ficamos em um longo silêncio. Parecia toda a cena do meu pesadelo de novo. O corpo entre nós, o silêncio apavorante. E então ele me empurraria. E eu cairia para a morte.

– Sei que não gosta de servir de correio. Mas achei que cumpriu a última tarefa com tanta habilidade... Você não se importaria em passar novamente, não é mesmo?

Engoli em seco. Era uma pergunta retórica. Como da última vez. Então, já que não tinha opção nisso, resolvi aceitar a tarefa nas minhas próprias condições. Eu iria sair daqui com algumas respostas.

– Sob algumas condições. – falei, empinando meu queixo e impondo mais minha vontade.

Farad ergueu as sobrancelhas, parecendo surpreso com a minha petulância. Mas acho que não se importou com isso, então assentiu, como se me mandasse prosseguir.

– Qual o seu problema com Jacob?

Farad riu. E um frio invadiu meu coração, fazendo com que eu me retraísse. Não era uma risada feliz. Acho que Farad nunca foi realmente feliz.

– Ah, é um problema de muitos e muitos anos atrás. Mas, do modo como os ventos estão soprando, acredito que vá acabar logo.

Meu coração acelerou. A forma como ele disse isso... Dava a impressão que mais uma morte iria acontecer.

– O que está matando essas pessoas? – perguntei.

Farad estreitou seus olhos para mim, como se estivesse em dúvida se iria ou não responder a minha pergunta. Eu esperava que sim, por mais que parte da minha mente gritasse que ele era o responsável, eu não conseguia ver o motivo disso. Ele queria atingir Jacob, mas mataria pessoas aleatórias para conseguir isso? Não acho que alguém faria isso.

– Deveria perguntar a Jacob. Garanto que a resposta dele é melhor que a minha.

Evitei estremecer, mas não pude deixar de sentir o gelo descendo sobre minha espinha. Recusei a acreditar no que a voz dele sugeria, mas isso não significava que eu ia deixar de perguntar a Jacob.

– Qual o recado? – perguntei sem emoção na voz, de repente querendo sair dali com muita rapidez. O recado era a minha segurança de que eu voltaria viva para casa.

Farad se aproximou e, em um golpe rápido, acertou a palma de sua mão em meu rosto. Eu arfei e recuei, os olhos lacrimejando. Eu senti meu lábio cortado, o sangue ferroso e salgado entre os lábios. Abri meus olhos e, quando olhei para frente, ele não estava mais lá.

Sentei no chão, com as costas encostadas na árvore e deixei que as lágrimas e os tremores viessem, me atingissem agora para que depois eu pudesse me reerguer. Não sei quanto tempo fiquei sentada chorando em silencio, mas quando julguei ser o necessário, me levantei e sequei as lágrimas. Meus olhos estavam inchados e vermelhos, eu tinha certeza disso. Mas sobre isso nada poderia ser feito.

Voltei correndo pela floresta, as copas as árvores balançando tão forte que pareciam revoltadas com o que aconteceu. Eu também me senti com raiva. Depois da dor ter passado. Eu me sentia fervendo de raiva, eu queria que alguém pegasse Farad e desse cabo dele.

De repente, a ideia de ter lobos gigantes protegendo a cidade não me pareceu tão ruim assim. Farad poderia topar com um lobo gigante e ser engolido. Isso seria muito útil para mim.

Entrei no meu carro e dei partida. Eu estava revoltada agora. Com vontade de chutar a bunda do primeiro imbecil que passasse na minha frente. Dirigi com velocidade para a oficina de Jacob. Eu ainda sentia o sangue nos lábios, mas não parei para limpar. De vez em quando meus olhos se enchiam de lágrimas novamente. Expulsei elas e me concentrei na estrada. Estava me aproximando da oficina, mas não tinha local para estacionar na frente dela. As habilidade de Jacob e Quil com os carros estavam se saindo melhor do que eu esperava. Chapinhei entre os diversos veículos, quase correndo. Entrei na oficina e passei por Quil e seus clientes, sem nem me importar com as olhadas preocupadas de Quil e os comentários dos homens.

Pulei o balcão, passando as pernas pela madeira e cai do outro lado. Abri a porta em um rompante, fazendo com que ela batesse na parede do outro lado. Ela quase voltou para mim, pronta para bater no meu rosto.

Jacob estava na frente de uma mesa, cheia de ferramentas. Mas havia mais alguém com ele. Eu nunca achei que encontraria uma das mulheres que ele costumava sair, mas ali estava uma delas. Eu tinha certeza. A forma como ela estava inclinada na direção dele, ou como estava sorrindo antes de eu invadir a sala. Jacob estava encostado na mesa, os braços cruzados, mas não parecia incomodado com a presença pronunciante dela.

A garota – sim, não era tão mais velha do que eu – era alta, de pele rosada. Os cabelos desciam até o meio de suas costas em ondas bonitas e brilhosas, de um bronze curioso. Os olhos eram da cor de chocolate e transpareciam muitas emoções. No momento, ela estava entre a surpresa e o desafio – do que eu realmente não sabia. Suas roupas eram estilosas e caras, por mais que ela não estivesse muito emperiquitada.

– Gaele! – Jacob disse surpresa. Vi o momento em que seus olhos foram para meus lábios machucados para meus olhos inchados pelo choro. Vi o momento exato em que a fúria de Jacob preencheu a sala, fazendo a estranha se afastar dele.

– Eu vou deixar vocês conversarem. – ela disse, com uma voz angelical e doce de se ouvir. A garota não me olhava, estava claro que tentava me ignorar. – A gente termina de conversas depois, ok? Tenta passar lá em casa.

– Não sei, Renesmee. – Jacob disse, sem tirar os olhos de mim. – Mas te aviso qualquer coisa.

Ela não passou por mim. Foi até os fundos, abriu a porta de madeira e saiu. Dessa vez, a oficina de Jacob estava com dois carros esportivos e duas motos. Eu me senti sem graça, minha raiva passando por breves minutos. Até Jacob andar na minha direção e eu me lembrar o motivo por estar ali.

Fechei a porta atrás de mim.

Quando voltei meus olhos para ele, tive que dar um passo pra trás. Jacob estava a menos de um passo de mim, como em um piscar de olhos. Suas mãos foram até meu lábio cortado, e então viajaram para meus olhos inchados pelo choro. Suas mãos tremiam, os dedos quentes tremendo sob minha pele. Por um momento eu não consegui dizer nada, nem ele. Então meus olhos encheram de lágrimas e, por mais que eu tentasse reprimir, elas começaram a cair.

Jacob me puxou para um abraço quente e apertado, fazendo com que todo o peso em meu coração e ombros saísse. Parecia quase tolice eu estar chorando enquanto me sentia tão confortável. Suas mãos grandes passavam por minhas costas, ele tinha o nariz em meus cabelos.

– Onde isso aconteceu? – perguntou.

– Na floresta. – falei o mais alto que conseguia com a cara em seu peito. O cheiro de Jacob era extremamente dele, amadeirado, terroso. Algo que entrava em meu sistema e permanecia. Eu sentia sua camisa preta quente sob meu rosto. Seu peito parecia emanar ondas de calor, meu corpo naturalmente absorveu aquilo... Então eu estava quase suando.

– O que você estava fazendo lá? – ele disse se afastando um pouco para me olhar. Eu senti minhas bochechas esquentarem de vergonha, mas não disse nada. Nem precisei. – Achei que na madrugada já tinha sido o suficiente. O que mais você queria ver?

Como ele sabia que eu estava na floresta de madrugada? Lembrei de achar que Jacob havia me visto, mas isso não seria possível. Estava escuro e eu estava longe. Deixei isso de lado, focando no presente.

– Queria tirar algumas dúvidas. – falei baixo, voltando meus olhos para sua blusa preta.

– Quem fez isso? – seus dedos passaram suavemente sob meu queixo, erguendo meu rosto e fazendo com que eu o encarasse. Era errado eu me sentir tão bem, mesmo quando Jacob estava há alguns minutos com uma possível namorada?

– Farad. – notei que minha voz saiu com mais raiva do que eu esperava. Mas se tinha algo que Jacob não esperava era por isso. Seu corpo travou e sua máscara misteriosa caiu, revelando o quão chocado ele estava. – Me encontrou na floresta e disse que tinha outro recado para você. Quando perguntei o que era, ele me bateu.

Eu estava tremendo. Muito. Lembrar disso me deixava com raiva, fazia com que eu desejasse tudo o de mais horrível para Farad, mas eu nunca havia tremido assim antes.

Depois de um tempo percebi que não era eu, mas sim Jacob. Seus braços, que estavam ao meu redor me prendendo, fazia com que meu corpo sacudisse com seus tremores. Seu peito também tremia. Jacob estava tremendo por inteiro. Havia uma fúria que emanava em seu rosto e corpo que me assustaram. Eu queria me afastar, mas temia que quando o fizesse talvez essa sensação boa fosse embora e eu começaria a chorar novamente. Então segurei meu medo e esperei. Esperei para ver no que ia dar.

Jacob fechou os olhos por longos minutos, sua respiração voltando ao normal. Aos poucos, seu corpo também foi parando de tremer. Quando vi que ele destravou o maxilar, notei que já era seguro continuar em seus braços. Ele parecia ter retomado seu controle.

– Espere um minuto. – disse, a voz dura e fria. Eu estremeci. Era completamente o oposto de Jacob. Ele caminhou e abriu a porta, mas manteve um de seus braços ao meu redor, talvez por eu estar me agarrando a ele. – Quil?

Olhei pelo lado de seu braço. Quil parecia chocado, como se estivesse ouvindo por trás da porta, mas ele estava longe, mexendo em um dos carros usados. Quil já tinha começado a dispensar alguns dos homens, mas parou para ouvir Jacob.

– Encontre-o. – falou severo.

Quil assentiu e voltou a dispensar os homens, enquanto Jacob voltava a fechar a porta. Eu não sabia o que aquelas pequenas palavras poderiam significar no mundo confuso de Jacob, nem quais seriam as ordens obscuras, mas não me pareceu nada bom. E eu não queria que nada grave acontecesse, por mais que odiasse Farad.

– O que você vai fazer se encontrá-lo? – perguntei cautelosamente, não sabendo ao certo se queria saber.

Jacob me olhou e não respondeu, mas minha resposta estava ali. Tentei sentir o peso no meu peito quando confirmasse as intenções de Jacob, quando confirmasse que ele era capaz de matar alguém, se preciso. Embora isso me incomodasse, não consegui me sentir compelida a afastá-lo. De certa forma eu também queria aquilo, o lado mais malvado de meu cérebro incentivava Jacob a ir atrás da Farad e matá-lo. Mas geralmente eu estava meu lado melhor, aquele que se incomodava em ser a causa de óbito de alguém. Aquele lado chato que me dizia para ficar longe de Jacob e a bagunça de sua vida.

Mas ficar longe de Jacob parecia ser uma corrida impossível. Quanto mais eu tentava, mais eu permanecia.

– Não faça nada com ele. – me ouvi dizendo, não parecia a minha voz. Estava leve e sem mágoas, mas meu peito se apertava em contradição. – Não quero ser responsável por isso.

– Venha, vamos colocar um gelo ai. – ele disse e eu notei que preferiu ignorar a meu pedido.

Não saímos da sala, como imaginei que faríamos. Ele me levou por um corredor curto na lateral da oficina, onde tinha uma escada. Subiu na minha frente, seus dedos atrelados aos meus. Podia ser muita infantilidade minha, mas ter seus dedos entre os meus era uma sensação boa, quase me fazia sorrir. Todavia, há menos de alguns minutos, havia uma garota simplesmente irresistível ao seu lado. E então a vontade de sorrir passou.

Eu não tenho problemas de autoestima, vamos deixar isso bem claro. Sei dos meus defeitos e das minhas vantagens. Mas aquela garota não parecia ter nenhum defeito. E eu sou bem ciente dos que me envolvem. Um cara como Jacob poderia preferir, mil vezes, uma garota como àquela a mim. E por mais que isso me chateasse, eu não ia me virar contra ela. Então tentei não alimentar nenhum pré-julgamento ou ressentimento sobre Renesmee (acho que foi esse o nome que Jacob disse). Tentei não achá-la vulgar, oferecida ou qualquer outro estigma que mulheres “inimigas” carregam quando tem um homem no meio.

No entanto, outra parte da minha mente analisava: ele não estava assim com ela quando cheguei. Não a estava afastando, mas também não parecia fazer questão da presença dela. Alimentei o sentimento de que era diferente comigo, mas de maneira secreta, sem dar muita atenção. Um cara na idade de Jacob tinha outros pensamentos, outros objetivos. Provavelmente eu era a “donzela em perigo” e por isso ele era tão... Intenso? Eu não sabia a palavra.

Mas ele havia dito que queria me beijar. O pensamento veio antes que eu pudesse impedir. E era um fato. Na festa de Drew, Jacob tinha dito que preferia me beijar sóbria.

Meu coração acelerou por algum motivo racional desconhecido. Eu foquei em seus pés, que subiam as escadas apertadas na minha frente. Tentei eliminar os pensamentos bobos. Não era hora para isso. Eu tinha levado uma bofetada na cara de um Farad-escroto. Eu estava sendo atingida por algo que nem sabia de onde vinha. E não podia deixar de encontrar o culpado disso: Jacob.

Jacob abriu uma porta tão estreita quanto a escada, a sala era pequena e tinha só uma mesa muito arrumada, com algumas pilhas de papeis ao lado e um computador velho. Parecia ser onde Quil e Jacob administravam o negócio. Era simples, sem muito conforto. No canto do escritório havia uma pequena copa, com mesa para duas pessoas. Talvez eles almoçassem aqui.

Jacob puxou a cadeira para que eu sentasse, em silencio. Ele não parecia muito a fim de conversas. Seus labios se pressionavam a cada dez segundos e seus olhos pareciam distantes. Jacob parecia estar agindo no automático, mas prestando atenção em outras coisas. Ele pegou o gelo e um pano limpo na gaveta, enrolou e puxou a cadeira para se sentar na minha frente. Com muito cuidado, pressionou o gelo no canto de minha boca. Recuei um pouco, pela temperatura tão diferente – meu rosto ainda estava quente do peito de Jacob.

Ele ainda estava concentrado em outra coisa. Seu cenho começou a franzir também. Seus olhos em algum ponto acima de meu ombro. No início eu não me importei, sei que minha presença aqui lhe daria muito no que pensar, mas depois, quando suas mãos começavam a tremer e depois paravam, eu notei que, fosse qual fosse o rumo de seus pensamento, não estava fazendo nenhum bem no momento.

Toquei sua mão que segurava o gelo em meu lábio inferior. Jacob despertou com um piscar de olhos. Então voltou a me olhar. Havia muitas coisas ali, coisas que ele estava tentando esconder. Parecia que comecei a entender como Jacob funcionava com seus segredos. Não pareciam ser segredos, pareciam ser fantasmas do passado que voltavam para assombrá-lo de tempos em tempos.

Quando o processo dele de fechar-se concluiu, permiti soltar sua mão. Minha calça estava quase molhada, pois o gelo começara a derreter. Como da última vez em que Jacob segurou um gelo sob minha pele, eu tomei o pano de suas mãos e comecei o segurei. Havia algo de estranho na temperatura de Jacob, mas não era hora para isso.

– Ele disse que o conflito entre vocês vinha de muitos, muitos anos. – falei com a voz baixa. Não entendi o motivo de sussurrar, mas parecia que falar mais alto do que isso quebraria a pequena calmaria que se instalou em mim.

Eu estava com Jacob, de alguma forma isso me fazia bem.

Jacob franziu o cenho, pensando sobre isso. A minha pergunta soou como uma brincadeira, mas, no fundo, eu estava realmente curiosa:

– Quantos inimigos você fez ao longo da vida, Jacob Black?

Jacob sorriu para mim, um sorriso curto e sem muita emoção, mas ainda assim era um sorriso. Ele não respondeu minha pergunta e eu senti o peso de sua vida oculta pairando sobre mim. Não era certo, ele estava envolvido com coisas que não eram certas. Mas como se afastar dele? Como simplesmente ir embora? Parecia algo tolo agora, pensar que um dia eu não veria mais Jacob.

Não precisava ser no modo romântico da coisa. Eu não era assim. Não era como se nunca mais vê-lo fosse me fazer sofrer horrores e querer me matar. Eu era muito racional para, algum dia, pensar dessa forma. Mas a presença dele em minha vida parecia tão normal, tão constante, que era quase impossível não colocar Jacob em um quadro mental da minha vida em La Push.

Ele tinha um papel-toalha na outra mão e se ocupou de limpar o sangue que tinha escorrido até meu queixo e secado. Deixei que o silencio se prolongasse, mas minha mente já estava fervilhando com questões mal resolvidas. Após passado o susto e a raiva, eu estava pronta para outra.

E acho que ele notou isso.

– Tenho a impressão de que um milhão de perguntas estão por vir. – ele disse brincando, com um sorriso um pouco mais animado nos lábios grossos, mas eu notei a tensão por trás.

– Sabe que ele já está longe, a essa hora, não é? – falei estreitando meus olhos. – Não há como achá-lo. A floresta é grande demais.

– Temos nossos meios.

Rolei os olhos.

– Ah, além da gangue temos também equipamentos de espião? Vamos lá, Jacob! – bufei. – O cara é um escroto, mas não posso deixar de admitir que é muito esperto. Tem aparecido debaixo dos narizes de vocês, me vigiado e mesmo assim não foi pego. Não é algo que está na alçada de uma cidade pequena. Deveríamos dar parte no FBI. Sei lá, vai que esse cara é procurado pela Interpol e nem sabemos?

Jacob começou a rir tão de repente que eu tomei um susto. Sua risada ecoava pelo ambiente. Por mais que eu estivesse irritada por ele ter rido de mim – era óbvio que estava rindo de mim –, não consegui evitar um pequeno sorriso. Não era pela situação, mas por que sua risada me fez querer rir. Quando parou, com os olhos um pouco úmidos, Jacob tocou meu rosto com um sorriso grande.

– Não estou brincando. – falei um pouco mais séria. – Não é algo no qual você possa lidar Jacob. Admitir isso é mais fácil.

– Posso lidar com isso. – em sua voz, havia uma certeza tão grande que me deu a impressão de Jacob ter um trunfo na manga. Mas ele dificilmente ia me dizer.

– Não, não pode. – falei mais insistente. – Será que você não entendeu? Jacob, ele está me vigiando. Sabe mais sobre mim do que meu próprio pai! E ele deixou isso bem claro. Estava lá ontem de noite. Disse que me viu saindo da floresta com Austin.

As feições de Jacob pareciam se obscurecer a cada palavra que eu dizia. Até que, por fim, ele tinha o cenho franzido em uma careta de desgosto. Soltei o ar, mal notando que o tinha prendido enquanto falava. Meus ombros caíram também, quando tentei relaxá-los.

– Sinto muito por você estar envolvida nisso. – seus olhos ferviam de arrependimento. – Não acho que, algum dia, vou me perdoar por ter colocado você nessa situação.

Rolei os olhos. Há alguns meses eu queria um pedido de desculpas, uma reparação pública por ser sub-alvo de alguém. Mas não nos dias atuais. Embora me preocupava o conhecimento de Farad sobre mim, eu não culpava inteiramente Jacob. Sim, ele era a razão central, mas não tinha culpa do cara ser um psicopata. No momento, eu só queria respostas.

– Não precisa pedir desculpas. – falei, dando voz aos meus pensamentos. – O cara é um maluco, não é inteiramente sua culpa. Mas eu ficaria feliz em saber o motivo disso tudo. Estar no meio do fogo cruzado às cegas não faz bem o meu estilo.

Jacob abriu um sorriso cansado. Acho que eu estava vendo muitas faceta de Jacob em um só dia. Isso parecia ser raro. Geralmente ele mantinha a maioria das pessoas distantes, até mesmo seus amigos e familiares.

– Não posso contar.

– Por que?

– Por que você não acreditaria. É racional demais. Preciso que descubra por si mesma. Só assim você vai entender.

Franzi o cenho. Eu não era tão racional assim, poderia entender o motivo de alguém entrar em uma gangue, ou ser líder dela. Podia entender o motivo de tantos carros esportivos, caros e delicados em sua oficina dos fundos. Ou o motivo por ter um louco perseguindo ele. Eu podia entender essas coisas.

– Não me leva a mal. – disse interpretando minhas feições. – Mas você é do tipo que precisa de todas as variáveis para poder acreditar em algo. Se eu lhe dissesse, você duvidaria de mim.

O fato dele me conhecer tão bem, e ter passado tão pouco tempo comigo, me fez estremecer. Não de um jeito bom. Parece que eu não tinha só um observador na minha vida. Tinha Jacob também.

– É tão ruim assim?

– Muito ruim. – abriu seu sorriso travesso característico. – Mas você vai entender. Um dia.

Isso parecia tão longínquo. E talvez eu não estaria aqui quando esse dia chegasse. Por um momento eu deixei que a tristeza se abatesse sobre mim, o pensamento de um dia ir embora. Então expulsei isso enquanto colocava o gelo pingando em cima da mesa, meu lábio já estava dormente o suficiente e eu não queria me passar de boba.

Sequei a boca com o papel-toalha que ele tinha nas mãos. Meus pensamentos se voltaram para outro assunto.

– Quem era aquela menina? – a pergunta escapou.

Por um momento ele não parecia saber do que eu estava falando. Entao, com um sorriso malicioso, se encostou na cadeira e me encarou de maneira enigmática. Eu me senti desconfortável. Ele parecia estar percebendo a minha curiosidade sobre sua vida amorosa. Eu tinha me exposto e não estava ok com isso.

– Renesmee Carlie Cullen.

Ual. Não precisava me dizer o nome inteiro dela. Não é como se eu fosse reconhecer. E, de fato, não significava nada para mim. Eu não sabia quem ela era quando a vi e continuava não sabendo depois de descobrir seu nome inteiro.

– Filha de uma amiga minha. – explicou ele. – Está na cidade desde o início do ano. Passou para dizer um oi. – então inclinou seu corpo na minha direção, com um olhar astuto. – Não precisa sentir ciumes, ela é como minha irmã mais nova.

Empinei meu queixo, completamente indignada que ele supôs, por algum motivo desconhecido, que eu estaria com ciumes. Não era ciúmes, eu só queria saber quem era. Apenas.

– Você é muito cheio de si, não é mesmo? – falei estreitando meus olhos. – Não é ciúmes, eu só quis mudar de assunto antes que você abrisse o bico demais.

Jacob riu curtamente e bem baixo.

– Eu ia abrir o bico?

– Estava muito próximo de me dar tudo o que eu quero. – pisquei astutamente, como quem se garante com sua mão de cartas. Mas a verdade era que eu não me garantia. Era um blefe.

– E o que é que você quer?

Havia, um caps lock e neon, um duplo sentido muito claro ali. O modo como ele pronunciou, de forma arrastada, ou como seus olhos cravaram nos meus como costumava fazer. Isso tudo eram características de Jacob flertando, mas não só isso. Era claro o prazer que ele sentia me deixando desconfortável, testando até onde eu poderia ir.

– Respostas.

– Posso oferecer muito mais.

– Tenho certeza disso – murmurei rolando os olhos. – Mas não vai rolar. Sinto muito. – e empurrei seu peito, para que ele se afastasse um pouco e me libertasse do magnetismo que me puxava para ele.

Jacob sorriu novamente.

– Não foi isso o que disse na festa.

– Eu não disse nada na festa que poderia dar a entender que vai rolar alguma coisa. – sim, eu já tinha a resposta na ponta da língua. Não sei em qual momento suspeito que Jacob fosse comentar sobre a festa, mas aí estava minha resposta. – E eu não estava em meu juízo perfeito.

– Você deveria ficar menos em seu juízo perfeito.

Fingi que não ouvir, embora minhas bochechas corassem com isso. O silêncio entrou novamente, mas dessa vez com Jacob fora do momento. Novamente ele parecia estar se concentrando em outra coisa, seu rosto ficando inexpressivo. Perguntei-me se havia dito algo errado, mas não consegui encontrar o que.

– Acho melhor eu ir embora. – falei de repente. Talvez ele precisasse ficar sozinho e eu só estivesse atrapalhando.

Jacob não pediu para que eu ficasse mais, e talvez, só talvez, isso tenha me chateado mais do que deveria. Por isso procurei sair o mais rápido que eu podia. Mas Jacob não permitiu que eu saísse pela entrada normal. Ele abriu a porta dos fundos e me guiou até meu carro.

Quando me virei para me despedir, ele estava entrando no banco do motorista. Eu abri a boca para negar, para dizer que não precisava que me levasse para casa. Mas algo dentro de mim, algo mais forte do que eu no momento, não me permitiu ser tão tola. Então dei a volta a sentei no banco do passageiro.

Ele não estava exatamente falante. Seus olhos pareciam prontos para captar qualquer movimento estranho e suspeito. Mas perguntou sobre quando as aulas acabavam, suspeitei que era só para manter o papo rolando. Era estranho falar da escola com Jacob, fazia com que eu me sentisse... Na exata idade que eu tinha.

– Quantos anos você têm? - perguntei

– 26

– Não parece.

– Mais novo? – sorriu malicioso.

– Mais velho. – desafiei. Ele riu e eu consegui abrir um sorriso. Isso quebrou um pouco da tensão que tinha se instalado desde que eu saíra do carro.

Jacob tinha quase 30 anos. O quão velho demais ele se achava? O quão velho demais era para mim? Parei com esses pensamentos, não permitindo que me atingissem por que não havia nada para atingir. Não era como se eu já estivesse pensando na probabilidade de um relacionamento com Jacob. Ele era velho demais para mim. Provavelmente já formado, enquanto eu ainda estava no colegial.

Não havia nada de interessante em uma garota no colegial. Não para caras como Jacob e não para garotas como eu.

– Como está o projeto da faculdade?

Dei de ombros, não querendo realmente entrar nesse assunto com ele.

– Já estou encaminhando meus formulários. – falei, na verdade, eu já tinha começado bem antes da temporada certa, tamanho desespero para sair de La Push. Mas isso tinha sido antes de descobrir as preciosidades daqui. – Devo receber as respostas no início de janeiro. Talvez mais tarde.

– Tem alguma em mente?

Eu soltei uma risada descompromissada.

– O sonho de todo biólogo é o MIT, mas não sei se consigo. Depende de muitos fatores. – dei de ombros. – Cambridge é uma boa opção também. Se não conseguir no MIT, acho que vou abrir meu leque para a Europa.

Jacob ergueu as sobrancelhas.

– Nada de Harvard, Princeton? Ivy League?

Eu ri.

– São boas faculdades, mas não são meu foco. – dei de ombros. – Também não reclamaria se me dessem uma bolsa integral.

Jacob estacionou na garagem. O luz da sala estava acesa, então Jane ou Austin provavelmente já teriam chego. Jacob desligou o motor e saiu do carro. Antes que eu pudesse pensar em abrir minha porta, ele o fez. Não era a primeira vez que ele fazia essas coisas de aparecer rápido demais. Saí do carro franzindo o cenho.

– Eu diria para você não ir mais à floresta. Mas tenho a impressão de que você me mandaria para o inferno. – ele sorriu de canto.

– Me conhece bem. – fechei meu carro.

– Só tome cuidado. Qualquer problema, sabe onde me encontrar.

Ele estava se colocando à disposição novamente, como fez ao me receber em sua casa. Eu não sabia como interpretar isso, se Jacob se sentia culpado o suficiente para me manter por perto e evitar futuras dores de cabeça, ou se realmente me queria em seu pé.

Assenti, sem ter mais o que falar. Por um momento achei que ele fosse me beijar, a forma como se aproximou de mim – parecendo testar o caminho na sua frente. Mas seus lábios não tocaram os meus. Eles tocaram minha testa. Quentes, macios e um pouco úmidos.

Minha garganta travou com a emoção que me atingiu, assim como meu coração começou a disparar. E então eu estava arfando e suando um pouco. As roupas de frio sendo um pouco desconfortáveis.

Jacob abriu um sorriso grande e parecia ser capaz de ouvir as reações de meu corpo. Mas disso eu tinha certeza que ele não podia, então me acalmei esses pensamentos. Ele só estava me zoando, como sempre fazia. Testando meus limites. Bom, ele que se decepcionasse. Eu não ia fazer nada de estúpido.

Sem dizer mais nada, Jacob se virou e saiu. As mãos socadas nos bolsos da calça, a postura ereta de alguém que sabia que mandava no pedaço. Rolei os olhos, não conseguindo evitar o sorriso com aquilo e constatar algumas coisas.

Que ele realmente mandava no pedaço.


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Notas finais do capítulo

Oláaaa!! Eaeee? O que acharam? Eu tinha dito que odeio a ação do Farad com a Gaele, mas como disse também é importante para a construção do Farad.
Quero saber o que acharam e o que acham que vai acontecer! Já preparei mais capítulos (estou bem feliz pq consegui adiantar muitas coisas essenciais) e tenho o prazer de informar que daqui a pouquinho Gaele vai descobrir tudo!! :OO
Queria agradecer imensamente aos comentários de: Terumy M W Lahote (amo seus coomentários desde o início da fanfic, super obrigada por continuar a acompanhar); Amando (obrigada pela lealdade, flor! Amo seus comentários!); Isabella Black (seja bem-vinda, flooor! Espero que continue conosco!); Lilian Blackwell (Acertei dessa vez! rs, obrigada por sempre comentar e acompanhar a história!) e Lee Girlrock (obrigada pelos comentários espirituosos e por acompanhar a fic!)
Obrigada também por aqueles que passam por aqui e não comentam, mas que leem. Fico muito feliz com esse retorno de todos. São todos extremamente importantes, essa fanfic não é só uma história minha, é uma história para vocês - especialmente.
Hiper obrigada!
Até a próxima!



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