Depois do jantar, muitos grifinórios subiram apressados pelas escadarias. Um garoto quase caiu das escadas quando elas mudaram de lugar. Chegando no Salão Comunal, que estava decorado com bandeiras da Grifinória, quase não conseguimos andar.

                -O que é isso? – Rony perguntou para Simas.

                -Estamos só fazendo uma festinha. – Ele disse tentando posicionar corretamente um brasão da Grifinória.

                -Outra? – Harry perguntou desta vez. – Quer ajuda? – Perguntou quando viu que uma fumacinha começou a sair da ponta da varinha de Simas. Uma explosão ali não seria nada conveniente.

                -Okay... – Simas assentiu e depois prosseguiu – Aquilo foi apenas uma comemoração de leve. Sabe? Gostamos do Três Vassouras, mas não podemos ficar até tarde em Hogsmeade. Sem falar que o espaço aqui é maior.

                -Melhor assim, já que perdi a outra. – Falei um pouco alto quando um grupo começou a gritar por um motivo desconhecido.

                -Na verdade... – Gina me puxou pelo braço, deixando os garotos conversando – ...Vai agradecer por não ter ido.

                -O que houve? – Perguntei um pouco aflita

                -Coisas... – Olhei com cara de: “Sério, não me diga”, e ela percebeu - ...Do tipo, o Cormaco bêbado dizendo que Rony roubou o posto de goleiro, e você dele.

                -Oi?!

                -Não sei se você sabe, mas ele tem uma queda por você e ouviu a discussão entre Draco e Rony.

                -Eu sei! Mas ele falou alguma coisa sobre o Draco estar lá e sobre as insinuações do Rony?

                -Não... – Ela disse se segurando um pouco para não rir – ele vomitou e desmaiou. – Não pude deixar de achar um pouco de graça – Mas por que? Está preocupada com o Malfoy?

                -Não! Não... Só quis saber os detalhes... – Corei um pouco e tentei disfarçar

                -Sei...

                -Olha Gina, por mais que eu não goste do Malfoy, não quero confusão para ele, não mais do que eu já causei.

                -Oi gente! – Luna acenou para nós

                -Oi Luna! Como vai? – Perguntei

                -Estou animada, feliz pela Grifinória.

                -Mas amiga, foi só uma seleção... – Eu disse

                -Mas uma seleção muito boa por sinal! – Luna disse

                -Sim Hermione, tentamos selecionar os melhores este ano. Só Rony que ficou meio nervoso, mas acho que ele dá conta. As outras casas não têm chance. Sem ofensa, Luna – Gina disse

                -Tudo bem, vocês sabem que eu torço sempre para vocês, quando não é contra Corvinal. Mas a nossa seleção ainda não foi feita então, é possível que tenhamos melhores chances este ano.

                -Gente, eu realmente acho legal o entusiasmo, mas eu meio que sou leiga em quadribol.

                -Você que lê sobre tudo e todos? – Luna perguntou surpresa.

                -Ai Luna, eu sei como funciona, mas não entendo de posições, ataque, defesa e essas coisas. – Por um momento lembrei do jogo que o nosso time fez – ...Mas eu gosto de voar... – falei meio sonhadora

                -Sério? Por que não pediu nas férias? A gente dava uma volta, sem problemas – Gina perguntou

                -Porque eu não gosto de muita velocidade, e sinceramente Gina, morro de medo só de olhar você. Você é rápida de mais! – As duas riram de mim.

                -Enfim... – voltamos a conversar – Hermione? – Gina hesitou um pouco

                -Sim?

                -O que realmente aconteceu?

                -Como assim?

                -Na detenção! Por que Rony ficou tão furioso. – Eu senti que eu deveria desabafar de vez com alguém, e explicar o que estava acontecendo. Me sentiria melhor, e acho que teria apoio delas.

                -Vocês realmente querem saber?

                -Sim! – Elas berraram como crianças.

                -Então vamos para um lugar adequado?

                Elas assentiram com a cabeça e fomos até a Sala Precisa que estava vazia. Chegando lá, tranquei a porta e mandei elas se sentarem em cadeiras.

                -Gente. Isso é uma longa história. Têm certeza que estão dispostas a ouvir?

                -Não sei como uma detenção pode gerar tanta “história”, mas tudo bem. – Gina riu.

                -Bem. Eu estava brava com o Rony, por causa das acusações dele contra mim. Quando estava a sós com o Draco, eu desabafei...

                -Espera um minuto? – Gina acenou bruscamente as mãos. – Como assim? Ele ouviu o que você tinha a dizer? Desde quando ele se importa?

                -Eu disse que seria uma longa história. – Falei impaciente. – Em seguida ele ficou estranho porque contei a ele que Rony estava com ciúmes de mim e Harry. Eu disse que não tínhamos nada, e ele veio em minha direção, tropeçou e caiu em cima de mim. Um monitor apareceu e Draco resolveu fugir e me trazer para cá. Só sei que acabamos nos beijando, mas paramos quando eu disse que não iria perdoá-lo tão fácil.

                -Perdoá-lo? – Luna perguntou.

                -E é aí que eu devo voltar ao passado para contar de vez o que aconteceu entre nós...

                “Como vocês sabem, no terceiro ano, escolhemos até duas aulas opcionais, pois algumas são no mesmo horário. Vocês sabem que eu amo estudar e a professora Minerva já esperava que eu escolheria todas. Com isso eu ganhei o Vira-Tempo, um objeto capaz de me fazer voltar no tempo e assistir mais de uma aula.
                Uma delas era Aritmância, o estudo das propriedades mágicas dos números. Draco escolheu essa junto com Trato das Criaturas Mágicas. Vocês sabem que alguns professores adoram unir pessoas de casas diferentes para promover ‘harmonia’, e não foi diferente com a professora Vector. Ela me juntou com Draco. O problema é que essa dupla seria fixa para o resto do ano.

                Foi aí que as coisas mudaram. Ele mostrou outro lado dele. Em meio a muitas brigas, acabamos nos dando muito bem. Ele é realmente muito bom na matéria, e mesmo quando não nos uníamos, conseguíamos ser os melhores da turma, colocando as diferenças de lado.

                Essa relação começou a crescer de forma tão significativa, que nem parecíamos odiar um ao outro, porque realmente o ódio já não existia entre nós. Pelo contrário: começamos a ver pontos em comum um no outro. Ele me confortou quando eu ficava frustrada com as pessoas, e com a enorme pilha de deveres. Foi o primeiro a saber que eu frequentava todas as aulas, e por incrível que pareça, não hesitou em me ajudar. Mas obviamente escondemos nossa relação de amizade, por causa de meus amigos e os dele.

                Um dia estávamos em uma sala que ninguém visitava, conversando e fazendo as tarefas de Aritmância. Eu fui tirar uma dúvida com ele, sobre um certo feitiço, e ele levantou-se e ficou tão próximo de mim, que meu coração disparou, parecendo estar ansioso para saltar do meu peito. Foi quando eu o beijei por impulso. Não foi nada demais, é claro. Eu era tão inexperiente que apenas dei um selinho. Eu me desculpei já arrumando minhas coisas, achando que ele nunca mais iria querer olhar para mim, quando ele me puxou para perto e me beijou. Foi um beijo doce e carinhoso. Não foi algo extraordinário: éramos muito jovens.

                Ele me pediu em namoro alguns dias depois, que ficaríamos em segredo se eu quisesse e entenderia se eu não quisesse. Eu aceitei. Todos os dias no café, nos encontrávamos no pátio que fica em frente ao Salão Principal, pois ninguém suspeitava. Harry e Rony achavam que eu estava exausta por conta da carga de deveres, sem saber do Vira-Tempo. Um dia eu cheguei no pátio e o esperei por uma grande quantidade de tempo, mas ele não apareceu. Fiquei preocupada, mas logo entrei para me juntar aos garotos, quando o vi beijando a Parkinson. Eu tentei disfarçar as lágrimas e disse que ia buscar umas anotações no quarto. Ele foi atrás de mim, me pedindo desculpas, dizendo que foi ela quem o beijou, e que ele não teve culpa. Eu mandei ele esquecer de mim de vez e que eu sabia que ele sempre foi um galanteador. Eu o enfeiticei para ganhar tempo e fugir. Eu fiquei sem nenhuma vontade de ir para a aula, e peguei no sono. Foi quando você me acordou Gina, e eu dei aquela desculpa.

                Eu esqueci daquilo e evitei ele. Não rolava nenhuma interação entre nós dois, nem mesmo brigávamos. O problema é que depois daquilo, me tornei mais estourada em relação a ele. Como por exemplo, quando soquei seu nariz ao vê-lo assistindo à execução do pobre Bicuço. Eu estava triste pelo Hipogrifo, mas estava guardando a raiva que sentia dele, e descontei de uma vez.

                Mas esse ano ele resolveu tentar se reaproximar, de forma mais ‘brusca’, digamos assim. Não somos mais crianças, então ele me agarrou de uma forma quente no trem. Até esqueci de que estava procurando Harry, e por sorte, Luna voltou para procurar o casaco e o achou. Depois, quando eu o ataquei na entrada do Grande Salão, estava fazendo por causa do que ele havia feito com o Rony, mas novamente descontando aquela raiva. Ele gesticulou: ‘desisto de você’ e daí tive um pesadelo horrível, no mesmo dia, quando você me acordou preocupada, Gina. Depois disso, apenas o encontrei na detenção, ele me perdoou por ataca-lo. Quando voltamos para falar com Minerva, o monitor nos acusou, e foi aí que o Rony explodiu. ”

                Eu terminei de falar. Elas pareciam completamente estupefatas, absorvendo aos poucos a informação. Elas se olharam e depois olharam para mim:

                -Isso é verdade? Mesmo? – Gina perguntou

                -Por que eu me daria o trabalho de inventar tudo isso?

                -Por que nunca me contou? Você e Luna ainda não se conheciam direito, mas se eu soubesse, poderia ter lhe apoiado quando ele fez a burrada.

                -Eu pensei que você não olharia mais para mim, por saber que eu namorava o filho de um Comensal da Morte, que colocou a sua vida em risco com o aquele diário. Não me sinto confortável, nem agora. Mesmo sendo maduras, fiquei com medo de você ficar com raiva de mim por “iludir” o Rony, novamente, com o arqui-inimigo dele.

                -Por favor, Hermione. Eu defendi meu irmão pateta, porque ele inventou aquilo. Continuo odiando o Malfoy, com certeza. Mas você consegue enxergar o bem nos outros, e se diz que ele pode ser diferente do que é, eu acredito. E quanto ao meu irmão, eu não me meto mais, até porque odeio quando ele se mete na minha vida também, e antes o Malfoy que foi gentil, do que meu irmão que te tratou como propriedade dele. – Ela fez uma pausa – E que fique claro: Sou sua amiga. Nós somos suas amigas. – Ela abraçou Luna. – Olha por quanto tempo poderíamos ter lhe apoiado.

                -Mas vocês apoiaram sim! Indiretamente, mas sim! Vocês me distraíram, e não consigo achar melhores pessoas que vocês para serem minhas melhores amigas. Eu amo vocês.

                -De agora em diante, não hesite em nos contar qualquer que seja a sua angustia, combinado? – Luna se manifestou e segurou minha mão e em seguida sinalizou Gina para segurar também.

                -Tudo bem. Obrigada, meninas. Vocês prometem não contar?

                -O quê?

                -Toda essa história.

                -Não! – Gina falou. – Vou correndo voltar para a festa para contar para todos que você nos traiu. Deixa de ser boba, Mione! Claro que guardaremos segredo.

                Nos abraçamos e eu estava quase chorando, de alívio por desabafar para alguém. Gina, porém, não resistiu e chorou, fazendo com que eu e Luna chorássemos também.

                -Vamos voltar para a festa? – Luna perguntou em meio aos soluços.

                -Vamos! – E saímos da Sala Precisa rindo.