Heróis e Vilões - Um mundo de poderes escrita por Felipe Philliams


Capítulo 15
Entro na sala de limpeza


Notas iniciais do capítulo

Oiiii, não demorei muito, mas ainda sim, demorei :-( pelo menos esta aqui :D bem, vamos à historia



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Geraldo caminhou sobre o piso de mármore polido, desejoso de poder terminar logo o que haviam combinado. Ou melhor, o que o chefe havia combinado. O plano não tinha surgido com ele, mas sim com o chefe. O cara havia reunido os principais líderes dos grupos e falado tudo o que tinha em mente. Nem pedira opinião, somente dissera o que tinham de fazer, como fazer e quando fazer. Era normal da parte dele, fazer planos assim sem pedir nenhuma opinião. Uma grande parte dos Heróis não gostava de suas medidas, mas ele dava a desculpa de que aquelas eram mudanças necessárias e se fosse ouvir todos nada do que eram hoje teria acontecido.

Até fazia sentido. Eram bons planos os dele. Sabia preparar estratégias e aproveitar ao máximo as fraquezas inimigas. Ele, de tempos em tempos, sussurrava nos ouvidos de Ahsley algumas dicas. Geraldo não. Ele simplesmente obedecia, assim como metade da RM. Não por querer, não podia perguntar e não podia pedir. A pior parte é que ele sempre tinha tempo livre em casa. Os pais nunca estavam com ele, muito menos a escola. Eles não tinha condições de pagar a escola, por isso ele passava o tempo todo em casa, tentando arrumar ao máximo as coisas por lá, organizar papeis e limpar bagunças que os pais lhe deixavam....

Até que conheceu o Fabiano, um treinador de Heróis da RM. Geraldo, assim que ganhou uma corrida com um amigo seu na rua, percebeu que a habilidade de correr a mais de duzentos quilômetros por hora era a melhor coisa que lhe tinha acontecido.

E até isso lhe tiraram. Não o poder, mas sim a sensação de felicidade. Na RM era explorado ao máximo. Seus poderes haviam se transformado em um inferno. Era mandado em missões de resgate, expedições perigosas, à sala do chefe para organizar papéis e mais um milhão de coisas. E todas elas lhe deixavam morto de cansado. O suficiente para não conseguir mais organizar as coisas lá em seu casebre.

No entanto ele já estava cheio disso. Não podiam fazer aquilo com ele. Não era algo digno de Heróis. VILÕES eram assim, faziam o que queriam independente da vontade de seus servidores. Pelo menos era isso que lhe diziam os líderes. Vilões sempre foram a mais pura escória da maldade, terríveis por nascimento e irremediáveis. Precisavam ser exterminados, um a um...

No entanto aquela prática não estivera funcionando nos últimos dias. Como um grande amigo do chefe, amigo de outro chefe, que faz parte do grupo de Thiago Neves, Geraldo conseguia ter acesso a algumas informações. Entre as quais um relato sobre a entrada e saída de mutantes na RM. Em dezembro do ano passado tiveram um aumento de 5% no alistamento de mutantes na RM. No mês passado, somente 1%. A pesquisa mais recente, em março de 2015, revelou que a taxa de mutantes estivera diminuindo. Houve uma queda de 10%. Era sabido por quase todos que os mutantes estavam mais morrendo que matando ultimamente. Os Vilões estavam ativos como nunca, em sua grande parte buscando informações. Disfarçados e infiltrados em todo o tipo de lugar, eram como sombras.

Geraldo não sabia se devia ou não se preocupar com isso. Até porque uma queda na população poderia significar um aumento de Vilões... Mais pedras em seu caminho.

E, mesmo sabendo disso, Geraldo precisava seguir adiante com seu plano, o do chefe. Albert, Gary e Gustavo estiveram fazendo um ótimo trabalho quando entraram para a liderança do Refúgio Mutante... Há trinta anos. Geraldo não era nem nascido, mas, só de ver o estado atual do lugar, não havia porquê contestar o plano do chefe. Geraldo, quando criança, já havia passeado com seu pai por todo o lixão da Parte Três de Lancing Lord. Haviam algumas pessoas que moravam lá haviam construído casas com os melhores entulhos que conseguiam. Uma maioria casas eram sólidas, estáveis e sem previsões de que cairiam. Mas ainda sim eram feitas de entulho. Alguns dos moradores eram amigos de seu pai e Geraldo já havia explorado metade das casas...

E, comparadas à atual RM, as casas eram lindas.

Mal governada, mal administrada e com os Heróis ali presentes mais inúteis que nunca, já estava mais do que na hora de por em prática um plano arquitetado há anos. O plano que colocaria uma ordem na casa, revelando os verdadeiros mutantes que fariam o futuro exército da RM. Um exército de Heróis, os mutantes que lutaram desde sempre pela paz geral.

Passando por entre mutantes caminhando aflitos, Geraldo resolveu adotar seu disfarce, um figurante, alguém sem importância, que também estava agitado para levar informações. Mais um entre centenas. A vasta multidão de Mutantes que espalhava-se tanto pela esquerda quanto pela direita, em um movimento contínuo e geral, começava a liberar ondas de calor e, logo, Geraldo sentiu as gotas de suor rolarem-lhe têmporas abaixo. "Não sou o único", percebeu, correndo os olhos sobre o aglomerado de pessoas que estavam atentas aos monitores, um milhão de metros a sua direita. Todos suavam. Provavelmente eles suavam por outros motivos, mas Geraldo não.

A multidão barulhenta e movimentada de Heróis seguiu uniformemente seu caminho até chegar perto da sala que levava à Gary. Ali o grupo se dividia aleatoriamente tanto para a direita quanto para a esquerda, que era para onde Geraldo ia. Virou-se para onde a maioria dos Heróis ia, seguindo um agora menor grupo de mutantes. Seu caminho, no entanto, não ia prosseguir por muito tempo, pois logo virou para a direita.

Quase tão bem iluminado quanto o sol, aquele corredor tinha luzes pequenas em formatos de bolinhas, que seguiam sua linha pontilhada através do caminho. Ali, levariam para a sala com veículos, onde a RM guardava seu abrangente estoque de carros e tanques de guerra. Aviões, jatos, helicópteros, motocicletas, veículos de disfarce e até mesmo um trem, mesmo já parado. Eram inúmeras coleções de meios de transporte que se estendiam pelo infinito naquela sala igualmente grande.

Isso na memória de Geraldo. Talvez aquela sala estivesse escassa ou cheia de teias. Provavelmente não, mas era assim que imaginava encontrar lugar assim que entrasse nele após o plano ter sido efeituado. Por enquanto os únicos conhecimentos que Geraldo tinha sobre a Área Móvel do Refúgio Mutante só estavam vivos em sua memória.

Perto dessa área havia um dormitório e, próximo a ele, havia um elevador que levava ao segundo andar, onde haviam mais dois dele, em lados opostos. Um terceiro estava usando metade dos mutantes que tinha a mente inclinada a engenharia, que trabalhavam vinte horas por dia. Faziam o que era capaz, mas a construção era demasiado grande para que fizessem em pouco tempo. E esse era um dos motivos pelo qual Geraldo executava seu plano.

Percebeu que havia passado da porta que levava aos utensílios de limpeza quando já estava a uns metros consideráveis. Forçou-se a dar um cavalo-de-pau, virando brutalmente à esquerda e encostando-se na parede branca de gesso polido, arrastando-se e testando não gerar uma avalanche de ossos esmagados quando um só Herói tropeçasse.

Quando entrou na sala de limpeza, o silêncio ergueu-se, súbito e poderoso. A cabeça de Geraldo latejava, o coração palpitava brutalmente quando o único som veio de seus ouvidos, latejando. Afastou com brusquidão a dor de cabeça. "Especialmente hoje não", murmurou em seus pensamentos. A sala estava escura, no entanto, Geraldo mexeu no interruptor escondido detrás da porta. A luz era fraca e parecia que ia queimar, mas isso era proposital. Por que um canto escuro debaixo de uma mini mesa chamaria a atenção de mutantes despreocupados indo pegar um simples remove manchas? No entanto incomodava a Geraldo, que, levando a mão para debaixo da mesa, deixou-a parada por tempo suficiente para emitir uma luz vermelha. A mão dele já estava cansada depois de quatro tensos minutos ali, parado, mas a espera valeu.

– Geraldo Philliams - murmurou, a voz mais cansada que o costume e lembrando-se de quando era jovem. A voz nunca lhe sairia cansada.

Assim que o eco de sua voz dissipou-se, Geraldo aguardou alguns segundos a mais, até que o ar pareceu comprimir-se em um único ponto. Então os restos de poeira formaram a figura de um humano, que logo apareceu na sua frente. Geraldo sempre foi baixo, mas perto de Jhon parecia um anão. O cara tinha uns vinte centímetros a mais que ele, na sua altura de 1,87 metros.

– Oi, Jhon. Diga-lhes que é chegada a hora - a voz deve ter saída orgulhosa, como pretendia. Uma nova era começava na RM agora.

O rosto de Jhon e suas finas feições curvaram-se na região perto dos lábios, que revelaram aquilo que pareceu a Geraldo um semblante triste. Imediatamente Geraldo sentiu-se perdido. Sentiu os pulsos latejarem brutalmente onde lhe fora colocada a marca de Leatrice. Havia algo de errado. Terrivelmente errado. Devia ser uma hora de triunfo e regozijo por parte de todos os membros daquele grupo secreto, mas o semblante triste de Jhon sugeria outra coisa.

– Jhon? O que houve?

O homem deu-lhe as costas, alto como um gigante, e virou-se, tão rápido que Geraldo pode fazer nada que não fosse assustar-se ainda mais. Sentiu um desconforto apertando-lhe na barriga, onde agora uma lâmina mortalmente afiada lhe penetrara a barriga, atravessando-o e deixando-o sem fôlego.

Caiu no chão, contorcendo-se. Não entendia, não sabia o porquê daquilo. Seria Jhon um traidor? Alguém tentando fazer essa informação não chegar aos outros ouvidos? Por qual motivo Jhon havia lhe feito aquilo? Tinha milhares de perguntas, mas nenhuma lhe saía, pois de seus pulmões o ar fugira.

– Desculpe, cara... - Jhon falou, naquela sua voz pesada e cheia de culpa. - Eu realmente gostava de você. Se tinha um Herói nessa merda de lugar que valia a pena era você. Sempre segui seus conselhos, e prometo nunca ignorá-los. Eu tentei falar com meus amigos, tentar fazê-los mudar de ideia, mas... Você não era confiável a eles. Sempre foi a mim, mas a eles... Era só mais um Herói babaca. Eu sei que você não é, mas ainda sim tive de fazer isso. Era eu ou outro e não acho que outro lhe daria uma morte limpa... Desculpe-me, Geraldo, mas... Isso foi necessário. A causa deve prevalecer.

Tendo dito isto, Geraldo arquejou, ao passo que observava as costas daquele que um dia havia sido um bom amigo.

Muito tempo havia se passado desde que Jhon fora. A dor agonizante em sua barriga o havia feito gemer por horas, mas ninguém aparecera. Apenas o profundo e lúgubre silêncio, que uma vez fora apaziguador, agora afiado como uma navalha. A memoria, antes potente como o sol, agora só lhe levava ao último relance que deitou sobre os olhos de Jhon, o vermelho vivo e poderoso, que irradiava poder.

De repente entendeu. Havia pretendido gritar, mas a sala era à prova de sons externos. Tentou achar algum lugar, mas a porta estava no canto oposto à mesa. Tudo havia sido planejado. Como pôde ser tão cego? Estivera o tempo todo na frente dele! A arquitetura da sala, projetada para fazê-lo morrer sem ter como pedir ajuda, os nomes, os olhos, os modos... E as mortes. Aquele não era um grupo de Heróis tentando apenas revolucionar. Era um grupo de Vilões tentando fazer isso e dizimar os Heróis.

Geraldo tentou pensar na sua vida, mas os únicos e últimos relances lhe levaram à sua filha, a quem perdera quando partira para a guerra, a literalmente dois séculos atrás. Seu nome pairava no ar, mas a dor que Geraldo sentia era forte demais para que ele conseguisse se concentrar em um nome, um rápido e furtivo nome. Aquele que lhe faria dormir em paz, acabando com a inquietação de sua alma.

Olhando para o teto de gesso, Geraldo Philliams viu as feições delicadas e finas de seu bebê curvarem-se em um sorriso. "Marcela", pensou, entendendo o sentido da vida quando começou a fechar os olhos. Juntando o resto de força que tinha, seus lábios em um sorriso desenhou-se. Um sorriso lúgubre.


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Notas finais do capítulo

Talvez eu demore, de novo, até porque nunca se tem certeza de algo quando se trata do amanhã ^_^. Estou tendo uma boa ideia do que vou fazer e talvez isso acelere a historia :p até mais, gente linda :-)



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