Twilight - a Magia do Amor escrita por Sol Swan Cullen


Capítulo 16
13º Capítulo - Interrogações (2ª Parte)




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(Edward POV)

 

A CNN apresentou a notícia primeiro.

Fiquei contente por isso ter dado nas notícias antes de eu ter saído para a escola, ansioso por ouvir como os humanos descreveriam o ocorrido, e quanta atenção receberia. Felizmente, era um dia de notícias pesado. Houve um terramoto na América do Sul e um rapto político no Médio Oriente. A noticia acabou recebendo alguns segundos, algumas frases, e uma fotografia a preto e branco.

- Alonzo Calderas Wallace, suspeito violador e assassino em série procurado nos estados do Texas e Oklahoma, foi apreendido na noite passada em Portland, Oregon graças a uma pista anónima. Wallace foi encontrado inconsciente num beco, cedo esta manhã, a apenas alguns metros de uma esquadra da polícia. Os oficiais não têm permissão para contar-nos por esta altura se ele vai ser extraditado para Houston ou para Oklahoma City para ser presente a tribunal.

A fotografia era pouco clara, uma fotografia desfocada, e ele tinha uma cabeleira espessa na altura em que fora tirada a fotografia. Mesmo que Bella visse, ela provavelmente não o reconheceria. Eu espera que ela não reconhecesse; deixá-la-ia assustada desnecessariamente.

- A cobertura aqui na cidade é pequena. É muito longe para ser considerado de interesse local. – Alice disse-me. – Foi um bom pressentimento do Carlisle tê-lo levado para fora do estado.

Assenti. A Bella não via muita televisão de qualquer maneira, e eu nunca tinha visto o pai dela a ver nada para além dos canais desportivos.

Eu fiz o que pude. Este monstro já não caçava, e eu não era um assassino. Não recentemente, de qualquer modo. Eu estava certo em confiar em Carlisle, por muito que eu continuasse a desejar que o monstro não se tivesse safado tão facilmente. Apanhei-me a desejar que ele fosse extraditado para o Texas, onde a pena de morte era tão popular…

Não. Isso não importava. Eu iria ultrapassar isto, e concentrar-me no que era mais importante.

Eu tinha deixado o quarto de Bella a menos de uma hora atrás. E já estava ansioso por vê-la outra vez.

- Alice, importas-te…

Ela cortou-me. – A Rosalie vai conduzir. Ela vai agir como se estivesse passada, mas tu sabes como ela vai apreciar a desculpa para exibir o seu carro. – Alice gargalhou.

Sorri-lhe. – Vemo-nos na escola.

Alice suspirou, e o meu sorriso tornou-se numa careta.

Eu sei, eu sei, ela pensou. Ainda não. Eu vou esperar até tu estares pronto para que a Bella me conheça. Tu devias saber, contudo, isto não sou só eu a ser egoísta. A Bella vai gostar de mim, também.

Ia para lhe responder mas ela interrompeu-me, empurrando-me para a porta.

- Sim, sim! Corre para ires ter com ela, passarinho! Senão ela ainda voa para longe na sua vassourinha.

- Elas não voam em vassouras! – Exclamei da garagem sabendo que ela ia ouvir-me. Teria que lhes contar tudo o que as bruxas eram para que eles não ofendessem Bella quando a apresentasse à família.

Apercebi-me dos meus pensamentos e fiz uma careta mais acentuada. Era praticamente isto que Alice queria, e a sua ideia começava a infiltrar-se no meu cérebro. Repeti as palavras de Alice enquanto ligava o carro. Era uma maneira diferente de ver a situação. Quereria Bella conhecer Alice? Ter uma vampira como amiga?

Conhecendo Bella… essa ideia provavelmente não a incomodaria minimamente. Ela era sobrinha de um vampiro afinal de contas!

Franzi as sobrancelhas para mim mesmo. O que Bella queria e o que era o melhor para ela eram duas coisas muito separadas.

Comecei a sentir-me desconfortável enquanto estacionava o meu carro à porta de Bella. Um ditado humano dizia que as coisas pareciam diferentes de manhã – as coisas mudavam quando se dormia sobre elas. Pareceria eu diferente a Bella na fraca luz de um dia de nevoeiro? Mais sinistro ou menos sinistro do que eu tinha estado na escuridão da noite? Teria a verdade assentado enquanto ela dormia? Teria ela finalmente medo?

Contudo, os seus sonhos tinham sido pacíficos na noite passada. Quando ela disse o meu nome, vez após vez, ela tinha sorrido. Mais do que uma vez ela tinha murmurado um apelo para que eu ficasse. Significaria isso nada hoje?

Esperei nervosamente, ouvindo os sons dela dentro da casa – o rápidos e arrastados passos nas escadas, o afiado som de um pacote a ser rasgado, os conteúdos do frigorífico a chocarem uns contra os outros quando a porta se fechou. Parecia que ela estava apressada. Ansiosa para chegar à escola? O pensamento fez-me sorrir, esperançoso outra vez.

Olhei para o relógio. Supus que – tendo em conta a velocidade a que a sua carrinha decrépita a devia limitar – ela estava um pouco atrasada.

Bella apressou-se para fora de casa, a sua mala dos livros escorregando do seu ombro, o seu cabelo reunido numa trança desarrumada que já estava a separar-se na base do seu pescoço. A espessa camisola verde que ela usava não era suficiente para impedir que os seus magros ombros se encolhessem contra o nevoeiro frio.

A longa camisola era demasiado grande para ela, pouco lisonjeira. Disfarçava a sua elegante figura, tornando todas as suas delicadas curvas e suaves linhas numa confusão sem forma. Eu apreciava isso quase tanto como eu desejava que ela tivesse usado algo mais como a suave blusa azul que ela tinha usado na noite passada… o tecido tinha-se colado à sua pele de um modo tão atraente, decote baixo o suficiente para revelar o maravilho modo como os ossos dos seus ombros se afastavam do vazio sobre a sua garganta. O azul tinha fluído como água pela subtil forma do seu corpo…

Era melhor – essencial - que eu mantivesse os meus pensamentos muito, muito longe daquela forma, então eu estava grato para com a irreconhecível camisola que ela usava. Eu não podia permitir-me a cometer erros, e seria um enorme erro divagar nas estranhas fomes que pensamentos dos seus lábios… da sua pele… do seu corpo… despertavam em mim. Fomes que tinham-me invadido por cem anos. Mas eu não podia permitir-me pensar em tocar-lhe, porque isso era impossível.

Eu parti-la-ia.

Bella afastou-se da porta, tão apressada que ela quase passou pelo meu carro sem reparar nele.

Então ela escorregou numa paragem, os seus joelhos bloqueando-se como um potro assustado. A sua mala deslizou mais a baixo no seu braço, e os seus olhos arregalaram-se enquanto se focavam no carro.

Saí, não me importando para me mexer a velocidade humana, e abri a porta do passageiro para ela. Eu não tentaria evitá-la mais – quando estávamos a sós, pelo menos, eu seria eu mesmo.

Ela olhou para mim, assustada outra vez assim que eu aparentemente me materializava do nevoeiro. E então a surpresa nos seus olhos mudou para algo mais, e eu já não estava com medo – ou esperançoso – que os seus sentimentos por mim tivessem mudado no decorrer da noite. Calor, maravilha, fascinação, tudo a nadar no chocolate derretido dos seus olhos.

- Queres ir comigo hoje? – Perguntei. Não como no jantar ontem à noite, eu deixei-a escolher. De agora em diante, deveria sempre ser a sua escolha.

- Quero, obrigada. – Ela murmurou. Aproximou-se de mim e antes de entrar, esticou-se na minha direcção e encostou os seus lábios à minha face como tinha feito na noite anterior e depois entrou no carro sem hesitar.

Fiquei completamente imóvel. Nem sequer me atrevia a respirar. Estava totalmente maravilhado. Iria ela alguma vez parar me fascinar? Iria alguma vez parar de animar-me, que eu era aquele a quem ela estava a dizer sim? Eu duvidava de ambas as perguntas. Tentei reprimir um sorriso que me queria surgir nos lábios.

Acelerei à volta do carro, ansioso por me juntar a ela. Ela não apresentou sinais de estar chocada pela minha súbita aparição.

A felicidade que eu senti quando ela se sentava ao meu lado deste modo não tinha precedentes. Por mais que eu apreciasse o amor e o companheirismo da minha família, apesar dos vários entretenimentos e distracções que o mundo tinha para oferecer. Eu nunca tinha sido tão feliz assim. Mesmo sabendo que isto era errado, que isto não poderia possivelmente acabar bem, não conseguia afastar o sorriso da minha cara por muito tempo.

O meu casaco estava dobrado sobre a cabeça do seu assento. Eu vi-a a mirá-lo.

- Trouxe o casaco para ti. – Disse-lhe. Esta era a minha desculpa, se eu precisasse de uma, por ter aparecido sem ser convidado esta manhã. Estava frio. Ela não tinha casaco. Certamente esta era uma forma aceitável de cavalheirismo. - Não queria que ficasse doente.

- Não sou assim tão delicada. – Ela disse olhando para o meu peito em vez de olhar para a minha cara, como se ela estivesse hesitante em encontrar o meu olhar. Mas ela pôs o casaco antes de eu ter que recorrer a mandar-lhe ou persuadi-la.

- Ai não? – Murmurei para mim mesmo.

Ela olhou para a estrada enquanto eu acelerei em direcção à escola. Eu conseguia apenas suportar o silêncio por alguns segundos. Eu tinha que saber quais eram os seus pensamentos esta manhã. Tanto tinha mudado entre nós desde a última vez que o Sol estava a pé.

- Então, hoje não tens duas dezenas de perguntas para me fazer? – Perguntei, ao de leve novamente.

Ela sorriu, parecendo feliz por eu ter tocado no assunto. - As minhas perguntas incomodam-te? Ou tens mais perguntas?

- Não tanto como as tuas reacções. – Disse-lhe sinceramente, sorrindo em resposta ao seu sorriso. Escolhi por ignorar a sua segunda pergunta, sabendo que eu teria sempre mais perguntas para lhe colocar.

O seu sorriso desapareceu. - Eu reajo mal?

- Não, o problema é esse. Encaras tudo com tanta frieza… não é natural. – Nem um grito até agora. Como poderia ser? - Faz com que me interrogue sobre o que estás realmente a pensar. – Claro que tudo o que ela fizesse ou não me fazia perguntar isso.

- Eu digo-te sempre o que realmente penso.

- És selectiva.

Os seus dentes pressionaram-se no seu lábio outra vez. Ela não parecia reparar quando ela fazia isto… era uma resposta inconsciente para a tensão. - Não muito.

Apenas aquelas palavras eram o suficiente para fazer-me arder de curiosidade. O que é que ela escondia propositadamente de mim?

- O suficiente para dar comigo em doido. – Disse.

Ela hesitou, e então sussurrou. - Tu não queres ouvir tudo o que penso. – Fez uma pausa, deixando-me ainda mais curioso. - Mas talvez um dia te mostre.

– Consegues? – As suas palavras tinham-me deixado cheio de esperança e curioso. Seria mesmo possível que ela conseguiria mostrar-me o que pensava?

O seu sorriso aumentou, como se estivesse orgulhosa ou mesmo muito satisfeita. – Se quiser.

Ficámos em silêncio, ambos perdidos em pensamentos. Eu perdia-me na esperança e alegria de poder saber o que ela pensava.

- Onde está o resto da tua família? – Ela perguntou subitamente.

Respirei fundo – registando o odor no carro com verdadeira dor pela primeira vez; eu estava a ficar habituado a isto, percebi com satisfação – e forcei-me a ser casual outra vez.

- Veio no carro da Rosalie. – Estacionei no espaço aberto ao lado do carro em questão. Escondi o meu sorriso enquanto observava os seus olhos arregalarem-se. - É ostentoso, não é?

- Hum, ena. Se ela tem aquela bomba, porque se desloca no teu carro?

Rosalie teria apreciado a reacção de Bella… se ela estivesse a ser objectiva sobre Bella, o que provavelmente não aconteceria.

- Como já disse, é ostentoso. Nós tentamos passar despercebidos.

- Não conseguem. – Ela disse-me, e então ela gargalhou livremente.

O alegre e totalmente descontraído som da sua gargalhada aqueceu o meu peito todo mesmo enquanto isso fazia a minha cabeça flutuar com dúvida.

- Porque é que Rosalie resolveu vir hoje a conduzir se dá mais nas vistas? – Ela perguntou.

- Ainda não reparaste? Agora, estou a quebrar todas as regras.

A minha resposta deve ter sido um pouco assustadora – então, claro, Bella sorriu com isso.

Ela não esperou que eu lhe abrisse a porta, como na noite passada. Eu tinha que fingir normalidade aqui na escola – então eu não podia mover-me depressa o suficiente para prevenir isso de acontecer – mas ela ia apenas ter que se acostumar a ser tratada com mais cortesia, e acostumar-se a isso cedo.

Caminhei tão perto dela como me atrevia, observando cuidadosamente qualquer sinal de que a minha proximidade a aborrecia. A sua mão retorceu-se na minha direcção e então ela pararia. Parecia que ela queria tocar-me… A minha respiração acelerou.

- Porque é que têm carros como aquele? Se estão à procura de privacidade? – Ela perguntou enquanto caminhávamos.

- É uma forma de satisfazermos uma das nossas vontades. – Admiti. - Todos nós gostamos de conduzir com velocidade.

- Já era de calcular. – Ela balbuciou, o seu tom algo soturno. Parecia estar perdida em pensamentos.

Ela não olhou para cima para ver o meu sorriso de resposta.

Nuh-uh! Eu não acredito nisto! Como raio arranjou a Bella isto? Não percebo! Porquê?

O atolado mental de Jessica interrompeu os meus pensamentos. Ela estava à espera da Bella, refugiando-se da chuva debaixo do telheiro da cantina, com o casaco de Inverno de Bella sobre o seu braço. Os seus olhos arregalaram-se com descrença.

Bella reparou nela, também, no momento a seguir. O seu corpo aproximou-se do meu como se marcando território, mentalmente, não pude deixar de sorrir. Um claro rosa tocou as bochechas dela quando Bella registou a expressão de Jessica. Os pensamentos na cabeça de Jessica eram sinceramente claros na sua face.

- Olá, Jessica! Obrigada por te teres lembrado. – Bella cumprimentou-a. Ela alcançou o seu casaco e Jessica entregou-o sem dizer uma palavra.

Eu devia ser educado para as amigas de Bella, quer elas fossem boas amigas ou não. - Bom dia, Jessica.

Wow…

Os olhos de Jessica arregalaram-se ainda mais. Era estranho e divertido… e, sinceramente, um pouco embaraçoso… aperceber quanto estar perto de Bella me suavizava. Parecia que já ninguém tinha medo de mim. Se Emmett descobrisse isto, ele rir-se-ia pelo próximo século.

- Aah… viva! – Jessica balbuciou, e os seus olhos dirigiram-se para o rosto de Bella, cheios de significância. - Suponho que nos vemos na aula de Trigonometria.

Tu vais desembuchar. Eu não vou levar um não como resposta. Detalhes. Eu tenho que ter detalhes! O Edward CULLEN! A vida não é justa.

A boca de Bella torceu-se. - Sim, vemo-nos lá.

Os pensamentos de Jessica enlouqueceram enquanto ela se apressava para a sua primeira aula, olhando para nós de vez em quando.

A história toda. Não aceito nada mesmo que isso. Terão eles combinado encontrarem-se ontem à noite? Estarão a namorar? Há quanto tempo? Como conseguiu ela fazer disto segredo? Porque quereria ela? Não pode ser uma coisa casual – ela tem de estar mesmo caída por ele. Haverá outra opção? Eu vou descobrir. Eu não suporto não saber. Perguntou-me se ela já curtiu com ele? Oh, em breve… Os pensamentos de Jessica estavam subitamente desconjuntados, e ela deixou fantasias sem palavras passarem pela sua cabeça. Estremeci com as suas especulações, e não apenas porque ela tinha trocado ela própria por Bella na imagem mental.

Não podia ser assim. E ainda assim eu… eu queria…

Eu resisti a fazer a admissão, até a mim mesmo. De quantos modos errados poderia eu querer Bella? Qual iria acabar por matá-la?

Edward… Recorda-te do que ela disse acerca do veneno e as bruxas… Disse-me a minha consciência, recordando-se da nossa conversa na noite passada. Elas não morriam facilmente.

Abanei a cabeça, tentando manter aquele pensamento.

- Que vais dizer-lhe? – Perguntei a Bella.

- Eh! – Ela sussurrou ferozmente. - Pensei que não conseguias adivinhar os meus pensamentos!

- E não consigo. – Olhei para ela, surpreendido, tentando tirar algum significado das suas palavras. Ah – devíamos ter estado a pensar na mesma coisa ao mesmo tempo. Hum… Eu até gostava disso. - No entanto, - disse-lhe, - consigo adivinhar os dela, ela vai estar à espera para te atacar de surpresa na aula.

Bella gemeu, então deixou o casaco deslizar dos seus ombros. Eu não percebi logo que ela estava a entregá-lo – eu não lho teria pedido; eu preferiria que ela o guardasse com ela… uma recordação – então fui demasiado lento a oferecer-lhe a minha ajuda. Ela devolveu-me o casaco, e pôs os seus braços no seu, sem olhar para cima para ver que as minhas mãos estavam prontas para dar assistência. Franzi o sobrolho a isso, e então controlei a minha expressão antes que ela reparasse.

- Então, que vais dizer-lhe? – Pressionei.

- Que tal dares-me uma ajudinha? Que quer ela saber?

Sorri e abanei a cabeça. Eu queria ouvir o que ela estava a pensar sem ter de perguntar. - Isso não é justo. – Decidi brincar um pouco com a sua natureza. - Tu é que és a bruxa.

Os seus olhos estreitaram-se. - Não, o facto de tu não partilhares o que sabes, isso é que não é justo. – E então respondeu-me ainda mais à letra. - E não sou eu que leio mentes nem vejo o futuro.

Certo – ela não gostava de dualidades. E pelos vistos também não gostava do facto de não ter assim um destes dons irritantes.

Chegámos à porta da sua aula – onde eu teria que deixá-la; perguntei-me ociosamente se Miss Cope seria mais prestável sobre mudar o horário da minha aula de Inglês… Obriguei-me a focar-me. Eu seria justo.

- Ela quer saber se nós andamos a namorar às escondidas. – Disse lentamente. - E quer saber o que sentes por mim.

Os seus olhos estavam esbugalhados – não assustados, mas ingénuos agora. Eles estavam abertos para mim, legíveis. Ela estava a fazer-se de inocente.

- Ai, ai. – Ela murmurou. - O que devo dizer?

- Hum. – Ela sempre tentava fazer-me dar mais a entender do que ela. Ponderei em como responder.

Uma madeixa do seu cabelo, ligeiramente encaracolado do nevoeiro, caiu pelo seu ombro e encaracolou-se onde o seu osso do ombro estava escondido pela ridícula camisola. Atraiu os meus olhos… puxou-os pelas outras linhas escondidas…

Alcancei-o cuidadosamente, sem tocar na sua pele – a manhã já era fresca o suficiente sem o meu toque – e devolvi-o ao seu lugar na trança para que não me distraísse outra vez. Lembrei-me de quando Mike Newton tinha tocado no seu cabelo, e o meu maxilar cerrou-se com a memória. Ela tinha-se afastado dele na altura. A sua reacção agora não era nada parecida; em vez, houve um pequeno arregalo dos seus olhos, uma afluência de sangue sobre a sua pele e um súbito, desnivelado bater do seu coração.

Tentei esconder o meu sorriso enquanto lhe respondia à sua pergunta.

- Suponho que podias responder afirmativamente à primeira questão… se não te importares, - escolha dela, sempre escolha dela, - é mais fácil do que dar qualquer outra explicação.

- Não me importo. – Ela sussurrou. O seu coração ainda não tinha encontrado o seu ritmo normal.

- E quanto à outra questão… - Não conseguia esconder o meu sorriso agora. - Bem, ficarei à escuta para eu próprio ouvir a resposta.

Deixa a Bella considerar aquilo. Segurei o meu riso enquanto o choque atravessou o seu rosto.

Estava pronto para me ir embora, mas quando estava prestes a dar o meu primeiro passo em direcção à minha aula, a sua mão quente agarrou o meu pulso, fazendo-me virar instantaneamente para ver o que ela queria, o que ela poderia necessitar.

- Se sou tua namorada às escondidas, creio que tenho direito a isto. – Não percebi bem de onde surgira a certeza e confiança na sua voz, mas, como tinha acontecido de manhã à porta de sua casa, ela esticou-se e os seus lábios encostaram-se ternamente ao canto dos meus lábios.

O calor acolhedor dos seus lábios rosados espalhou-se pelos meus, fazendo-os desejarem estar em contacto directo com a sua boca para saboreá-la. Fechei os meus olhos para imaginar como seria se os meus lábios estivessem realmente colados aos seus e para saborear melhor o seu calor enquanto o meu corpo congelou sob o seu toque.

Senti-a afastar-se, mas o seu calor permaneceu, e abri os olhos deparando-me com os seus castanhos que brilhavam com alguma emoção. Consegui ler naqueles olhos lindíssimos a vontade que me atravessava no momento: ficar ali com ela e beijá-la a sério. Mas aquele beijo, tal como os outros dois, deixou em mim uma imensa onda de felicidade, quase incontrolável.

Virei-me rapidamente, antes que fosse tarde demais para a minha força de vontade e eu fizesse aquilo que realmente desejava. Ela não me agarrou no pulso desta vez e deixou-me afastar-me. Eu teria ficado aborrecido por ela não me ter impedido novamente de ir, se não soubesse que não tardava teríamos audiência e que era errado. Ainda mais, se ela me pedisse, eu teria muita dificuldade em negar-lhe o que ela queria (especialmente quando eu também queria).

- Vemo-nos ao almoço! – Exclamei já de costas viradas, não conseguindo esconder o sorriso que certamente ela teria visto nos meus olhos.

Enquanto me afastava, eu estava vagamente ciente dos pensamentos chocados e especulativos que rodavam à minha volta – olhos saltando entre a cara de Bella e a minha ameaçante figura. Prestei-lhes pouca atenção. Não conseguia concentrar-me. Era difícil o suficiente manter os meus pés a andarem a uma velocidade aceitável enquanto atravessava a relva molhada para a minha próxima aula. Eu queria correr – correr a sério, tão depressa que eu poderia desaparecer, tão depressa que pareceria que eu estava a voar. Parte de mim já estava a voar.

Vesti o casaco quando cheguei à aula, deixando a sua fragrância flutuar espessa à minha volta. Eu queimaria agora – deixar o odor dessensibilizar-me – e então seria mais fácil de o ignorar depois, quando eu estivesse com ela novamente ao almoço…

Era uma coisa boa que os meus professores já não se incomodarem em chamar-me. Hoje poderia ser o dia em que eles me apanhassem desprevenido, não preparado e sem resposta. A minha mente estava em tantos lugares esta manhã; apenas o meu corpo estava na sala de aula.

Uma parte da minha mente estava colada aos acontecimentos da manhã, os beijos que Bella me dera (um na bochecha e outro no canto dos meus lábios que ainda formigavam com a memória do calor dos lábios dela); outra encontrava-se perdida nos meus planos para estar com ela ao almoço.

Claro que eu estava a observar Bella. Isso estava a tornar-se natural – tão automático como respirar. Ouvi a sua conversa com um Mike Newton desmoralizado. Ela rapidamente dirigiu a conversa para Jessica, e eu sorri tão abertamente que Rob Sawyer, que se sentava na secretária à minha direita, estremeceu visivelmente e escorregou mais no assento, afastando-se de mim.

Ugh. Assustador.

Bem, não tinha perdido totalmente o jeito.

Também estava a monitorizar Jessica descuidadamente, observando-a refinar as suas perguntas para Bella. Eu mal podia esperar pelo quarto tempo, dez vezes mais impaciente e ansioso do que a curiosa rapariga humana que queria rumores frescos.

E também estava a ouvir Angela Weber.

Eu não tinha esquecido a gratidão que sentia por ela – por pensar apenas coisas bondosas para com Bella em primeiro lugar, e então pela ajuda da noite passada. Então esperei pela manhã, procurando algo que ela quisesse. Assumi que seria fácil; como qualquer outro humano, devia haver qualquer coisa que ela quisesse particularmente. Várias, provavelmente. Eu entregaria algo anonimamente e ficávamos quites.

Mas Angela provou-se quase tão desfavorecedora como Bella com os seus pensamentos. Ela era invulgarmente contente para uma adolescente. Feliz. Talvez esta fosse a razão para a sua bondade pouco comum – ela era uma das raras pessoas que tinham o que queriam e queriam o que tinham. Se ela não estava a prestar atenção aos seus professores e as suas notas, ela estava a pensar a pensar nos irmãos gémeos mais novos que ela ia levar a praia este fim-de-semana – antecipando a excitação deles com quase um prazer maternal. Ela tomava conta deles regularmente, mas não se arrependia desse facto… Era muito doce.

Mas não realmente útil para mim.

Tinha que haver algo que ela quisesse. Eu teria apenas de continuar à procura. Mas mais tarde. Estava na hora da aula de Trigonometria de Bella com Jessica.

Eu não estava a ver para onde estava a ir enquanto me encaminhava para a aula de Inglês. Jessica já estava no seu lugar, ambos os seus pés a baterem impacientemente contra o chão enquanto ela esperava que Bella chegasse.

Contrariamente, uma vez que me sentei no meu lugar da planta da sala, fiquei completamente quieto. Tinha que me lembrar a mim mesmo de me mexer de vez em quando. Para manter a farsa. Era difícil, os meus pensamentos estavam tão focados nos de Jessica. Eu esperava que ela prestasse atenção, realmente tentasse ler a cara de Bella por mim.

O bater dos pés de Jessica intensificou-se quando Bella entrou na sala.

Ela parece… mal-humorada. Porquê? Talvez nada se esteja a passar com o Edward Cullen. Isso seria uma desilusão. Excepto se… então ele continua disponível… Se ele está subitamente interessado em sair, eu não me importo de o ajudar com isso…

A face de Bella não parecia mal-humorada, parecia relutante. Ela estava preocupada – ela sabia que eu ouviria tudo isto. Sorri para mim mesmo.

- Conta-me tudo! – Jess exigiu enquanto Bella estava ainda a retirar o seu casaco para o pendurar nas costas do assento. Ela estava a mexer-se com deliberação, contrafeita.

Ugh, ela é tão lenta. Passemos àquilo que interessa!

- O que queres saber? – Bella perguntou sentando-se.

- O que aconteceu na noite passada?

- Ele pagou-me o jantar e, depois, levou-me a casa.

E então? Vá lá, tem que haver mais que isso! Ela está a mentir de qualquer maneira, eu sei disso. Eu vou chamá-la à atenção.

- Como é que chegaste a casa tão depressa?

Observei Bella rolar os seus olhos perante a desconfiança de Jessica.

- Ele conduz como um louco, Foi apavorante.

Ela sorriu um pequeno sorriso, e eu gargalhei, interrompendo os anúncios de Mr. Mason. Tentei disfarçar a gargalhada por tosse, mas ninguém foi enganado. Mr. Mason lançou-me um olhar irritado, mas eu nem me incomodei em ouvir o pensamento por detrás disso. Eu estava a ouvir Jessica.

Huh. Ela parece estar a contar a verdade. Porque é que ela me está a obrigar a extrair isto dela, palavra a palavra? Eu estaria a desembuchar tudo com toda a força se fosse eu.

- Foi um encontro amoroso? Disseste-lhe para se encontrar lá contigo?

Jessica viu surpresa passar pela expressão de Bella, e estava desiludida por parecer tão genuína.

- Não – fiquei muito espantada ao vê-lo lá. – Bella disse-lhe.

O que é que se está a passar?? - Mas ele foi buscar-te para te trazer à escola hoje? – Tem que haver mais do que ela me está a contar.

- Foi, isso também me espantou. Ele reparou que eu não tinha casaco na noite passada.

Isso não é muito divertido, Jessica pensou, desiludida outra vez.

Eu estava cansado da sua linha de perguntas – eu queria ouvir algo que eu ainda não soubesse. Esperei que ela não estivesse tão insatisfeita que pudesse saltar perguntas que eu esperava.

- Então, vão sair novamente? – Jessica exigiu.

- Ele ofereceu-se para ir comigo visitar os meus familiares no sábado, por pensar que a minha pick-up não está apta para fazer tal viagem. Isso conta?

Hum. Ele sem dúvida vai deixar de fazer alguma coisa para… bem, tomar conta dela, mais ou menos. Deve haver qualquer coisa do lado dele, se não do dela. Como pode ISSO ser? A Bella é doida.

- Conta. – Jessica respondeu à pergunta de Bella.

- Bem, então, - Bella concluiu. - Vamos.

- E-na! O Edward Cullen. – Quer ela goste dele ou não, isto é único.

- Eu sei. – Bella suspirou.

O tom da sua voz encorajou Jessica. Finalmente – ela parece estar a perceber! Ela deve aperceber-se…

- Espera! – Jessica disse, subitamente lembrando-se da sua pergunta mais importante. – Ele beijou-te? – Por favor diz que sim. E então descreve cada segundo!

- Não. Bella balbuciou, um rápido lampejo de divertimento iluminou os seus olhos, mas Jessica não se apercebeu do divertimento nos seus olhos. Supus que aquele divertimento se tenha devido à lembrança dos beijos que ela me deu a mim e não o contrário. - A nossa relação não é nada assim. – A sua face ficou subitamente triste.

Raios. Eu gostava que… Ah. Parece que ela também desejava.

Franzi o sobrolho. Bella parecia estar aborrecida por causa de alguma coisa, mas não podia ser desilusão como Jessica assumia. Ela não podia querer isso. Não sabendo o que ela sabia. Ela não quereria estar assim tão perto dos meus dentes. O veneno que a magoaria.

Estremeci.

- Achas que no sábado…? – Jessica sondou.

Bella parecia ainda mais frustrada enquanto disse. - Tenho as minhas dúvidas.

Yeah, ela gostava mesmo. Isso é mesmo mau para ela.

Seria por eu estar a observar tudo isto pelo filtro das percepções de Jessica que parecia que Jessica estava certa?

Por meio segundo fui distraído pela ideia, a impossibilidade, de como seria tentar beijá-la. Como hoje de manhã, os meus lábios nos dela, pedra gelada para quente e suave seda…

E então ela morre.

“ Quer dizer, dizem que dói como um raio, mas que não acontece nenhuma alteração.” Lembrei-me das suas palavras na noite passada. Seria possível que o veneno não a matasse?

Abanei a cabeça, confuso com as perguntas, e obriguei-me a prestar atenção.

- De que é que vocês falaram? – Falaste com ele, ou obrigaste-o a extrair cada pedaço de informação de ti deste modo?

Sorri vagamente. Jessica não estava muito longe da verdade.

- Não sei, Jess. De muita coisa. Falámos um pouco sobre a dissertação de Inglês, muito, muito pouco. Penso que ele a mencionou de passagem.

Mesmo muito pouco. Sorri ainda mais.

Oh, VÁ LÁ. - Por favor, Bella. Dá-me alguns pormenores.

Bella deliberou por um momento.

- Bem… está bem, vou dar-te um. Devias ter visto a empregada de mesa a namoriscá-lo… foi de mais. Mas ele não lhe prestou atenção nenhuma.

Que detalhe tão estranho para se partilhar. Fiquei surpreendido por Bella ter sequer reparado. Parecia uma coisa muito inconsequente.

Interessante… - Esse é um bom sinal. Ela era bonita?

Hum. Jessica pensou mais disso do que eu. Deve ser uma coisa de mulheres.

- Muito, - Disse-lhe Bella. - E devia ter dezanove ou vinte anos.

Jessica estava momentaneamente distraída por uma memória de Mike no seu encontro de Segunda-feira à noite – Mike a ser um pouco simpático demais com a empregada que Jessica não considerava nada bonita. Ela afastou a memória e voltou, controlando a sua irritação, para a sua demanda por detalhes.

- Ainda melhor. Ele deve gostar de ti.

- Julgo que sim, - Bella disse lentamente, e eu estava à beira do meu lugar, o meu corpo rigidamente quieto. - Mas é difícil dizer. É sempre tão reservado.

Eu não devia ter sido tão transparentemente óbvio e fora do controlo como pensei. Ainda… observadora como ela era… Como não conseguia ela perceber que eu estava apaixonado por ela? Percorri a nossa conversa, quase surpreendido por não ter dito as palavras em voz alta. Tinha parecido que esse facto tinha sido o subtexto de cada palavra entre nós.

Wow. Como é que consegues sentar-te ao pé de um modelo masculino e fazer conversa? - Não sei como tens coragem para ficar a sós com ele. – Jessica disse.

Choque atravessou a face de Bella. - Porquê?

Que reacção estranha. O que julga ela que eu quis dizer? - Ele é tão… - Qual é a palavra certa? - Intimidador. Eu não saberia o que lhe dizer. – Eu nem podia falar inglês com ele hoje, e tudo o que ele disse foi bom dia. Eu devo ter soado como uma idiota.

Bella sorriu. - De facto, tenho alguns problemas de incoerência quando estou perto dele.

Ela deve estar a tentar fazer a Jessica sentir-se melhor. Ela era quase anormalmente na posse das suas capacidades quando estávamos juntos. Sim… o facto de ser bruxa tornava a tão perigosa como eu, pelas suas palavras.

- Oh, bem, - Jessica suspirou. - Ele é incrivelmente lindo.

A face de Bella estava subitamente mais fria. Os seus olhos relampejaram do mesmo modo como quando ela ressentia qualquer injustiça. Jessica não processou a mudança na sua expressão.

- Ele é muito mais do que isso. – Bella disse.

Oooh. Agora estamos a chegar a algum lugar. - A sério? O quê, por exemplo?

Bella mordeu os seus lábios por um momento. - Não consigo explicar adequadamente… - Ela finalmente disse. - Mas ele é ainda mais incrível por trás do rosto. – Ela afastou o olhar de Jessica, os seus olhos ligeiramente desfocados como se ela estivesse a olhar para algo muito longe.

O sentimento que eu senti agora era folgadamente familiar a como eu me sentia quando Carlisle ou Esme me elogiavam para além do que eu merecia. Semelhante, mas mais intenso, mais consumidor.

Vende estupidez em algum lugar – não há nada melhor que aquela cara! A não ser que seja o seu corpo. - Isso é possível?! – Jessica riu-se.

Bella não se virou. Ela continuou a olhar para a distância, ignorando Jessica.

Uma pessoa normal estaria a babar-se. Talvez se eu mantiver as questões simples. Ah ah. Como se estivesse a falar para uma criança. - Então, gostas dele?

Fiquei rígido novamente.

Bella não olhou para Jessica. - Sim.

- Quero dizer, gostas dele a sério?

- Sim.

Olha para ela a corar!

Eu estava.

- A que ponto gostas dele? – Jessica exigiu.

A sala de Inglês poderia estar em chamas e eu não iria reparar.

A face de Bella estava rubra agora – eu podia quase sentir o calor da imagem mental.

- Gosto demasiado. – Ela sussurrou. - Mais do que ele gosta de mim, mas não vejo como evitá-lo.

Merda! O que é que o Mr. Varner acabou de perguntar? – Hum… que número, Mr. Varner?

Era bom que Jessica não pudesse mais interrogar Bella. Eu precisava de um minuto.

O que na terra estava aquela rapariga a pensar agora? Mais do que ele gosta de mim? Como é que ela inventou aquilo? Mas não vejo como evitá-lo? O que era isso suposto significar? Não conseguia ajustar uma explicação racional para as palavras. Elas eram praticamente insensatas.

Parecia que eu não podia tomar nada por garantido. Coisas óbvias, coisas que faziam pleno sentido, de alguma forma eram misturadas e tornadas no contrário no seu bizarro cérebro. Mais do que ele gosta de mim? Talvez eu não devesse excluir já o internamento.

O meu maxilar estava cerrado por toda a lição de trigonometria de Mr. Varner. Ouvi mais dela do que da minha própria aula. Bella e Jessica não falaram novamente, mas Jessica olhou para Bella várias vezes, e uma vez a sua face estava vivamente rubra novamente sem razão aparente.

O almoço não vinha depressa o suficiente.

Eu não estava certo se Jessica conseguiria algumas das respostas que eu estava à espera quando a aula terminou, mas Bella foi mais rápida do que ela.

Assim que a campainha tocou, Bella virou-se para Jessica.

- Na aula de Inglês, o Mike perguntou-me se tu comentaras algo a respeito da noite de segunda-feira. – Bella disse, um sorriso levantando os cantos dos seus lábios. Percebi isto pelo que era – o ataque é a melhor defesa.

O Mike perguntou por mim? Alegria desarmou a mente de Jessica subitamente, mais suave, sem a sua habitual beira de fofoca. - Estás a brincar! O que é que respondeste?

- Disse-lhe que tu referiras que te divertiras muito – ele pareceu satisfeito.

- Diz-me exactamente quais foram as palavras dele e o que lhe respondeste!

Aquilo era tudo o que eu conseguiria de Jessica hoje, claramente. Bella estava a sorrir como se estivesse a pensar o mesmo. Como se ela tivesse vencido a ronda. Aquela bruxinha maléfica. Ainda nem conhecia Alice e já conseguia acabar com as minhas intenções como a minha irmã.

Bem, o almoço seria outra história. Eu teria melhor sucesso em obter respostas dela do que Jessica, eu certificar-me-ia disso.

Eu mal conseguia suportar verificar ocasionalmente com Jessica pelo quarto tempo. Eu não tinha paciência para os seus pensamentos obsessivos com Mike Newton. Eu já tinha tido mais do que suficiente dele nas duas últimas semanas. Ele tinha sorte em estar vivo.

Movi-me apaticamente na aula de E.F. com Alice, o modo como sempre nos mexíamos quando estava relacionado com actividade física com humanos. Ela era a minha colega de equipa, naturalmente. Era o primeiro dia de Badmington. Suspirei com aborrecimento, balançando a raquete em câmara lenta para bater na pena para o outro lado. Lauren Mallory estava na outra equipa; ela falhou. Alice girava a sua raquete como uma batuta, olhando para o tecto.

Todos nós odiávamos ginástica, o Emmett especialmente. Jogos de arremesso eram uma afronta para a sua filosofia pessoal. Ginástica parecia pior hoje mais do que o costume – eu sentia-me tão irritado como Emmett sempre se sentia.

Antes que a minha cabeça pudesse explodir com impaciência, o treinado Clapp terminou os jogos e dispensou-nos mais cedo. Eu estava ridiculamente grato por ele ter saltado o pequeno-almoço – uma nova tentativa para uma dieta – e a fome consequente o deixasse com pressa para sair da escola para encontrar um bom almoço algures. Ele prometeu-se que começaria outra vez amanhã…

Isto deu-me tempo o suficiente para chegar ao edifício de matemática antes da aula de Bella acabar.

Diverte-te, Alice pensou enquanto se afastava para se encontrar com Jasper. Apenas mais alguns dias para ser paciente. Suponho que não vás dizer olá à Bella por mim, vais?

Abanei a minha cabeça, exasperado. Seriam todos os psíquicos tão convencidos?

FYI, vai estar Sol em ambos os lados do estado este fim-de-semana. Poderás querer rearranjar os teus planos.

Suspirei enquanto continuei na direcção oposta. Convencida, mas definitivamente útil. Perguntei-me se Bella estaria realmente disposta a não ir a Salem como tínhamos combinado.

Lembrando-me disto (da nossa viagem a Salem), lembrei-me de Angel, o tio super-protector dela, e lembrei-me também da sua cara aborrecida quando Jessica lhe perguntou se havia hipóteses de eu a beijar no sábado. Se íamos a Salem, íamos estar sob o olhar observador de Angel todos os minutos do dia. Teria sido esta linha de raciocínio que a teria deixado ainda mais aborrecida?

Encostei-me contra a parede ao pé da porta, esperando. Eu estava perto o suficiente para conseguir ouvir a voz de Jessica através dos tijolos tão bem como os seus pensamentos.

- Hoje, não vais sentar-te à nossa mesa, pois não? – Ela parece toda… animada. Aposto que há muito mais que ela não me contou.

- Não me parece. – Bella respondeu, invulgarmente insegura.

Não tinha eu prometido sentar-me ao almoço com ela? Em que estava ela a pensar?

Saíram da aula juntas, e os olhos de ambas as raparigas se arregalaram quando me viram. Mas eu apenas podia ouvir Jessica.

Boa. Wow. Oh, sim, há muito mais a passar-se aqui do que ela me está a contar. Talvez eu lhe ligue hoje à noite… Ou talvez eu não devesse encorajá-la. Huh, Eu espero que passe por ela com pressa. O Mike é giro, mas… Wow.

- Vemo-nos mais logo, Bella.

Bella caminhou na minha direcção, parando a uma passo de distancia, ainda insegura. A sua pele estava rosa sobre as suas maçãs do rosto.

Eu conhecia-a bem o suficiente agora para estar certo de que não havia medo por detrás da sua hesitação. Aparentemente, isto era algum abismo que ela imaginou entre os seus sentimentos e os meus. Mais do que ele gosta de mim. Absurdo!

- Olá! – Disse, a minha voz um breve cumprimento.

A sua face corou mais. – Viva.

Ela não pareceu inclinada a dizer mais alguma coisa, então guiei o caminho para a cantina e ela caminhou silenciosamente ao meu lado.

O casaco tinha funcionado – o seu odor não era o murro que normalmente era. Era apenas uma intensificação da dor que eu já sentia. Eu podia ignorá-la mais facilmente do que eu já poderia ter acreditado possível.

Bella estava inquieta enquanto esperávamos na linha, brincando distraidamente com o fecho do seu casaco e trocando o seu peso de pé para pé. Ela olhava para mim às vezes, mas quando ela encontrava o meu olhar, ela olhava para baixo como se estivesse envergonhada. Seria isto porque havia tanta gente a olhar para nós? Talvez ela pudesse ouvir os altos sussurros – a fofoquice era verbal tanto quanto mental hoje.

Ou talvez ela percebesse, pela minha expressão, que ela estava em sarilhos.

Ela não disse nada até eu estar a reunir o seu almoço. Eu não sabia o que ela gostava – ainda não – então agarrei uma coisa de cada.

- O que estás a fazer? – Ela silvou em voz baixa. – Não vais levar tudo isso para mim?

Abanei a cabeça, e empurrei o tabuleiro para a registadora. - Metade é para mim, como é evidente.

Ela ergueu uma sobrancelha cepticamente, mas não disse mais nada enquanto eu pagava pela comida e a encaminhava para a mesa onde nos tínhamos sentado na semana passada antes da sua desastrosa experiência com a tipificação de sangue. Parecia ter sido há muito mais que alguns dias. Agora tudo era diferente.

Ela sentou-se à minha frente outra vez. Empurrei o tabuleiro na sua direcção.

- Tira o que desejares. – Encorajei.

Ela escolheu uma maçã e retorceu-a nas suas mãos, um olhar especulativo no seu rosto.

- Estou curiosa.

Que surpresa.

- O que farias se alguém te desafiasse a ingerir comida? – Ela continuou numa voz baixa que os ouvidos humanos não conseguiriam captar. Ouvidos imortais eram outro caso, se esses ouvidos estivessem a prestar atenção. Eu provavelmente deveria ter mencionado algo para eles mais cedo…

- Estás sempre curiosa. – Queixei-me. Oh bem. Não era como se eu já não tivesse tido que comer antes. Era parte da charada. Uma parte desagradável.

- Também tu. – Ela retorquiu com os olhos repletos de falsa acusação.

Alcancei a coisa que estava mais próxima, e segurei o seu olhar enquanto trincava uma pequena parte do que quer que fosse. Sem olhar, eu não sabia dizer. Era tão viscoso e gorduroso e repulsivo como qualquer outra comida humana. Mastiguei velozmente e engoli, tentando afastar a careta do meu rosto. O pedaço de comida moveu-se lenta e desconfortavelmente pela minha garganta a baixo. Suspirei enquanto pensava de como teria que vomitá-lo mais tarde. Nojento.

A expressão de Bella era chocada. Impressionada.

Queria rolar os meus olhos. Claro, nós teríamos aperfeiçoado tal desilusões.

- Se alguém te desafiasse a comer terra, podias fazê-lo, não podias?

Ela franziu o nariz e sorriu. - Já comi… uma aposta. Não foi assim tão mau.

Ri-me. - Suponho que não estou surpreendido.

Eles parecem confortáveis, não parecem? Boa linguagem corporal. Eu vou dar a minha opinião mais tarde. Ele está a inclinar-se na direcção dela do exacto modo que devia, se ele estivesse interessado. Ele parece interessado. Ele parece… perfeito. Jessica pensou. Yum.

Encontrei o olhar curioso de Jessica, e ela afastou o olhar nervosamente, rindo-se para a rapariga ao lado dela.

Hum. Provavelmente é melhor ficar com o Mike. Realidade, não fantasia…

- A Jessica está a analisar tudo o que eu faço… - Informei Bella. - Há-de facultar-te a sua interpretação mais logo.

Empurrei o prato de comida novamente na direcção dela – pizza, reparei – perguntando-me qual seria a melhor maneira de começar. A minha frustração inicial voltou enquanto as palavras se repetiam na minha cabeça: Mais do que ele gosta de mim, mas não vejo como evitá-lo.

Ela deu uma dentada da mesma fatia de pizza. Maravilhava-me quão confiante ela era. Claro, ela sabia que eu era venenoso (ela mesma o dissera) – não que partilhar comida a fosse magoar. Ainda assim, esperava que ela me tratasse de modo diferente (por estar habituada a estar rodeada por humanos com mais frequência do que com vampiros). Como outra coisa. Ela nunca o fez – pelo menos, não de um modo negativo…

Eu começaria gentilmente.

- Com que então a empregada de mesa era bonita?

Ela ergueu uma sobrancelha novamente. - Não reparaste mesmo?

Como se qualquer mulher pudesse esperar capturar a minha atenção da Bella. Absurdo, outra vez.

- Não. Não estava a prestar atenção. Tinha muito em que pensar. – Nada menos que tinha sido a suave aderência da sua blusa fina…

Uma coisa boa que ela estivesse a usar aquela horrível camisola hoje.

- Pobre rapariga! – Bella disse, sorrindo.

Ela gostava que eu não tivesse achado a empregada interessante de qualquer maneira. Eu conseguia entender isso. Quantas vezes tinha eu imaginado a aleijar Mike Newton na sala de biologia?

Ela não podia sinceramente acreditar que os seus sentimentos humanos, a posse de dezassete curtos anos mortais, pudessem ser mais fortes do que as paixões imortais que tinham estado a crescer em mim por um século.

- Algo que disseste à Jessica… - Eu não conseguia manter a minha voz casual. - Bem, incomoda-me.

Ela estava imediatamente na defensiva. - Não me admira que tenhas ouvido algo que não te agradou. Sabes o que se diz das pessoas que escutam as conversas alheias.

As pessoas que escutam as conversas alheias nunca ouvem bem delas próprias, era o que se dizia.

- Eu avisei-te de que estaria à escuta. – Relembrei-a.

- E eu avisei-te de que não querias saber tudo o que eu pensava.

Ah, ela estava a pensar de quando eu a fiz chorar. Remorso tornou a minha voz mais espessa. - Pois avisaste. No entanto, não estás bem certa. Eu quero, de facto, saber o que estás a pensar… tudo. Só gostaria… que não pensasses algumas coisas.

Mais meias mentiras. Eu sabia que eu não devia querer que ela se preocupasse comigo. Mas eu queria. Claro que eu queria.

- Grande diferença. – Ela resmungou, mostrando-se-me carrancuda.

- Mas não é propriamente essa a questão neste momento.

- Então, qual é?

Ela inclinou-se na minha direcção, a sua mão envolveu-se levemente à volta do seu pescoço. Isso atraiu o meu olho – distraiu-me. Quão suave aquela pele deve ser…

Foca-te, comandei-me.

- Crês verdadeiramente que gostas mais de mim do que eu de ti? – Perguntei. A pergunta soava ridícula para mim, como se as palavras estivessem remexidas.

Os seus olhos estavam arregalados, a sua respiração parara. Então ela afastou o olhar, piscando rapidamente. A sua respiração voltou num baixo arquejo.

- Estás a fazê-lo novamente. – Ela murmurou.

- O quê?

- A deslumbrar-me. – Ela admitiu, encontrando o meu olhar secamente.

- Ah! – Hum. Eu não estava muito certo sobre o que fazer acerca daquilo. Nem estava certo que eu não queria deslumbrá-la. Eu estava ainda animado por conseguir. Mas não estava a ajudar no progresso da conversa.

- A culpa não é tua. – Ela suspirou. - Não consegues evitar.

- Vais responder à pergunta? – Exigi.

Ela olhou para a mesa. - Sim.

Foi tudo o que ela disse.

- Referes-te a responder à pergunta ou ao facto de realmente pensares assim? – Perguntei impacientemente.

- Sim, penso mesmo assim. – Ela disse sem olhar para cima. Havia um leve tom subjacente de tristeza na sua voz. Ela corou outra vez, e os seus dentes moveram-se inconscientemente para morder o seu lábio.

Abruptamente, eu percebi que isto era muito difícil para ela admitir, porque ela realmente acreditava nisso. E eu não era melhor que aquele covarde, Mike, a pedir-lhe para confirmar os seus sentimentos antes de confirmar os meus. Não importava que eu sentia que ia fazer o meu lado abundantemente claro. Não tinha passado para ela, e então eu não tinha desculpa.

- Estás enganada. – Prometi. Ela deve ouvir a ternura na minha voz.

Bella olhou para cima para mim, os seus olhos opacos, não dando nada a entender. - Não podes saber isso. – Ela sussurrou.

Ela pensava que eu estava a desvalorizar os seus sentimentos por eu não conseguir ouvir os seus pensamentos. Mas, na verdade, o problema era que ela estava a desvalorizar os meus.

- O que te leva a pensar assim? – Perguntei.

Ela olhou para mim, a ruga entre as suas sobrancelhas, mordendo o seu lábio. Pela milionésima vez, eu desejei desesperadamente poder apenas ouvi-la.

Eu estava prestes a implorar-lhe que me dissesse com que pensamento se estava ela a debater, mas ela ergueu um dedo para me impedir de falar.

- Deixa-me pensar. – Ela pediu.

Enquanto ela estava simplesmente a organizar os seus pensamentos, eu podia ser paciente.

Ou podia fingir que era.

Ele vai-me matar, mas que importa… A ideia não foi minha mesmo. Um pensamento chamou à minha atenção.

Olhei para cima e não conseguia acreditar no que estava a ver. Como podia ela ser tão… tão… nem conseguia encontrar uma palavra má o suficiente para aquela… Grr!

- Olá! Importam-se que me sente? – Como é que ela sequer tinha a cara de perguntar aquilo! Os meus olhos saltaram para as figuras que a seguiam. Jasper, Emmett e até mesmo Rosalie.

Senti os olhos de Bella poisarem-se em mim. Não sei o que viu, mas eu estava ao ponto de matar a minha irmã. Então, ouvi o seu coração escapar um batimento para depois voltar a bater mais depressa. Olhei para ela e vi o seu rosto repleto de surpresa.

Desculpa, Edward… Tentei impedi-la. Ouvi os pensamentos de Jasper.

- Claro que não… Estejam à vontade. – Ouvi Bella dizer. Ela só estava a encorajar a pequena fada à nossa frente.

Vi ainda chocado toda a minha família sentar-se junto de nós, ainda fiquei mais surpreendido quando Rosalie se sentou do lado direito de Bella ficando de frente para Emmett que estava do meu lado esquerdo e Alice se sentava sem cerimónias do lado esquerdo da rapariga e Jasper ao meu lado direito. Alice teve o descaramento de abrir um sorriso, recebendo um olhar mortífero da minha parte. O que raios pensava ela?

- O que é que pensas que estás a fazer, Alice?! – Disse baixo o suficiente para que só eles me ouvissem. Depois de ouvir as minhas próprias palavras reparei como elas estava cheias de raiva.

Ainda não tinha tirado o olhar da minha irmã quando Bella me surpreendeu. Na minha mão gelada senti o toque quente e suave da sua pele quando ela poisou a sua mão sobre a minha. Na mente de todos ouvi o espanto, mas quem ficou totalmente sem palavras fui eu.

Olhei para ela. Não sejas assim com ela, a sua voz fez-se ouvir na minha cabeça. Arregalei os olhos com a surpresa. Ela tinha-me dito que iria mostrar-me um dia os seus pensamentos, nunca pensei que mos mostrasse no dia. Ela esfregou-me a mão com a sua, aquecendo tanto a minha mão como o meu coração.

- Olá, Bella! – Alice voltou a chamar a atenção para si. - Sou a Alice! Este é o Jasper, aquele é o Emmett e esta é a Rosalie. – Apontou para cada um enquanto dizia os respectivos nomes e Jasper cumprimentou-a com um pequeno sorriso enquanto Emmett a presenteava com um dos seus habituais sorrisos que mostravam as suas covinhas.

- Olá, Bella! – Disse Rosalie, sorrindo para Bella e fazendo-me olhar para ela completamente chocado.

O que é que ela está a pensar?! Foi o primeiro pensamento que me veio à mente quando tentei, em vão, ler a mente da minha outra irmã. Rosalie estava a bloquear-me.

- Olá, Rosalie. – Bella respondeu ao sorriso e depois virou-se para os outros. - É um prazer conhecer-vos.

Quem lhe respondeu foi Emmett, que não perdeu uma oportunidade de obviamente a fazer corar… e se eu pudesse, também estaria da cor de um tomate.

- A ti também, Bella! Ouvímos falar muito de ti.

Tal como eu previra, a pele de Bella tomou a mais bonita tonalidade de rosa que alguém alguma vez poderia tomar. Eu estava a perder-me nos meus pensamentos quando os pensamentos de Jasper reflectiram a imagem de Bella, chamando-me à atenção e fazendo-me rosnar possessivamente.

- Importas-te de parar? – Olhei para Jasper, sabendo que o meu olhar estava repleto de fúria.

- Desculpa. – Jasper respondeu-me baixando a cabeça, obviamente embaraçado por ter sido apanhado a pensar em quem ele sabia que me faria ficar furioso.

Foi muito de repente que senti Bella retirar a sua mão de cima da minha, olhei para ela para procurar perceber o que se passara para que ela me largasse e então Alice lançou uma visão para a minha mente. Não quis perceber realmente o que era a visão e por isso lancei um olhar irritado a Alice que apenas vibrou ainda mais no seu lugar ao lado de Bella.

- Jasper. – Bella chamou o meu irmão, a sua voz estava estranhamente insegura, como se temesse a rejeição. - Importas-te que te toque na mão? – Aquela pergunta apanhou-me desprevenido, tanto a mim como a todos.

- Bella, o que é que estás a fazer? – Expressei a minha confusão.

Confia em mim. Ela pensou e eu apenas assenti, ela sabia o que fazia. Pelo menos eu achava que ela sabia. Obrigada.

Mas o que raio vai ela fazer? Emmett estudava todos os gestos de Bella.

Será que ela vai fazer magia? A Alice disse-me que ela era uma bruxa, Rosalie pensou, escorregando na sua protecção e deixando-me ver o que ela me tinha ocultado.

Rosalie aceitava Bella. Alice dissera-lhe que Bella era quase como nós. Quase. E Rosalie aceitara-a por também Bella não ter hipótese de escolha no que era. Rose continuou a recordar-se de uma conversa com Alice, mas pelos vistos apercebeu-se que eu estava à escuta e voltou a envolver os seus pensamentos com aquela espessa protecção.

Eu nem acredito! Obrigada, Bella! Obrigada! Alice estava feliz. Ela sabia o que Bella iria fazer e sabia qual seria o resultado.

Jasper esticou a sua mão, entregando-a a Bella. Ela agarrou-a, fechou os olhos e sorriu. Novamente senti ciúmes, de um modo mais intenso do que sentira quando se tratava do desprezível Mike Newton. Bella abriu os olhos e olhou para mim. Jasper olhava para mim e depois para ela, parecendo confuso pela minha súbita mudança de humor.

Calma, Edward! Ela está a sentir confiança em mim, confiança em ti… Ela é estranha, os pensamentos de Jasper sossegaram-me, mas quando ele “disse” as suas últimas palavras, lancei-lhe um olhar que sem dúvida dava significado ao ditado “Se o olhar matasse”.

Bella voltou a fechar os olhos e as suas sobrancelhas uniram-se, ela estava a concentrar-se em algo. Foi então que senti um formigueiro por todo o meu corpo e soube que Bella estava a usar magia, soube que ela devia estar a tratar de alguma coisa em Jasper.

Inspirei fundo quando senti o meu estômago responder ao formigueiro e estremecer, como se pela primeira vez num século eu fosse humano novamente e o pedaço de pizza que ingerira momentos antes estivesse a ser digerido. Ao inspirar, senti o ar carregado, quase como se estivesse envolto em electricidade, mas não era a corrente eléctrica que carregava o ar, era o cheiro de sangue e o som forte dos corações a bater, senti o veneno a encher-me a boca enquanto cada cheiro me fazia ficar sedento.

De repente, o formigueiro deixou de o ser para se tornar numa estranha e forte onda de poder, arrebatadora que me deixou sem ar. Fechei os olhos, deixando que a corrente de magia que emanava de Bella me percorresse o corpo. Ouvi Bella proferir uma palavra qualquer em latim e a corrente de magia voltou a ser apenas um formigueiro que se tornava cada vez mais fraco até desaparecer.

Abri os olhos e olhei para Bella, ela também olhou para mim e o seu coração disparou, batia agora mais depressa do que antes; estiquei a minha mão e agarrei a dela, não impedindo o sorriso que me despoletou nos lábios. Sabia que aquela reacção tresloucada do seu coração se devia à reacção que o meu corpo tinha quando ela usava magia, tinha a certeza de que se me olhasse ao espelho poderia ver os meus olhos verdes de quando eu era humano. Pela mente dos outros vi que tinha-lhes acontecido o mesmo, todos voltáramos a ter a cor dos nossos olhos quando humanos, esfreguei a mão de Bella num gesto encorajador.

- Jasper, inspira fundo. – Bella ordenou a Jasper, no entanto, não consegui evitar obedecer-lhe também, embora a ordem não fosse dirigida à minha pessoa. - O que sentes?

Tanto eu como Jasper inspirámos o ar que nos envolvia, cheio dos diferentes odores dos humanos e o mais forte, o de Bella. Prendi a respiração, sentindo a minha garganta arder levemente, mas nada como antes, quando o cheiro de Bella me tocou na língua, continuava a ser o cheiro mais delicioso que eu já havia sentido em todos os meus anos de existência, mas não me dava aquele desejo de a magoar que antes trazia e para meu espanto o monstro não se incomodou sequer com o cheiro. Compreendi o que Bella tinha feito, ela “curara”-nos.

- Já não sinto sede. – Jasper respondeu depois de chegar à mesma conclusão que eu. - Já não sinto a tentação do sangue deles, nem do teu. Os cheiros fazem a minha garganta arder, mas é tolerável e não me faz ter vontade de… tu sabes.

Bella sorriu com a confirmação do seu sucesso, mas, então, fechou os seus olhos e um suspiro longo escapou por entre os seus lábios, o seu corpo ficou estranhamente sem estrutura, parecia que ela não se conseguia manter direita.

- Bella? – Chamei-a, sentindo a preocupação começar a espalhar-se pelo meu corpo. - Estás bem?

Bella não me respondeu e o seu corpo começou a descair-se para trás, foi como se Alice me estivesse a mostrar uma visão, eu vi Bella a cair, desmaiada. Eu ia levantar-me e correr para o seu lado à velocidade vampírica, mas Alice e Rosalie mexeram-se mais depressa que eu, colocando as duas uma mão de cada lado de Bella, segurando-a e impedindo-a de cair. Eu estava demasiado preocupado para me importar com as mentes dos meus irmãos, mas não deixei de ouvir a preocupação da mente de todos eles.

Bella abriu os olhos muito devagar, parecendo confusa e fraca, na sua testa eu conseguia ver pequenas gotas de suor a colarem alguns fios do seu perfeito cabelo castanho à sua testa.

- Sentes-te bem? – Perguntou Alice ainda suportando parte do peso de Bella com uma mão enquanto a outra mão lhe limpava o suor ao mesmo tempo que lhe tirava a temperatura.

A respiração de Bella saía em pequenas golfadas de ar, consegui perceber que ela não conseguia encontrar a sua voz para responder a Alice. Levantei-me, tentando andar a uma velocidade razoável para os humanos, mas a velocidade deles parecia-me tão lenta agora que eu tinha real necessidade de chegar rapidamente ao lado de Bella. Ouvi o seu coração disparar novamente quando ela dirigiu o seu olhar ao lugar à sua frente onde eu estava antes sentado.

- Bella, consegues andar? – Perguntei, metendo-me de cocas ao seu lado.

Ela virou-se para trás, com a ajuda das minhas irmãs, e os seus olhos encontraram os meus. O seu coração acalmou, mas a sua respiração ainda não estava controlada. Bella fechou os olhos e inspirou fundo, aquela acção ter-me-ia deixado mais descansado se não fosse o facto de eu estar demasiado preocupado com a possibilidade de ela poder desmaiar a qualquer momento.

- Bella… - Chamei-a novamente, até eu conseguia notar na ansiedade que se fazia presente na minha voz.

- Espera, Edward. – Disse-me Alice, olhando para mim com um ar ligeiramente irritado. – Ela está a tentar recompor-se.

- Se calhar é melhor eu levar-te ao colo lá para fora, para apanhares um pouco de ar. – Afirmei ignorando a minha irmã, eu estava demasiado preocupado para sequer me importar com o que os humanos iriam pensar se me vissem a carregar Bella nos meus braços para fora do refeitório.

- Não. – Bella disse finalmente, a sua voz não estava muito mais alta que um murmúrio. - Não. Não podemos chamar as atenções. – Ela estava a seguir a minha linha de raciocínio. Ao contrário de mim, ela preocupava-se mais com o facto de podermos chamar à atenção de todos os humanos à nossa volta do que propriamente com a sua saúde.

- Deixa-me ajudar-te, Bella. – Pediu Jasper lançando ondas de calma e energia para ela.

A sua respiração estabilizou e ela já não parecia tão cansada, no entanto, continuava a parecer demasiado fraca para se levantar ou falar sequer.

- Obrigada, Jasper. – Ela agradeceu, dando um sorriso fraco.

Virei-me para Rose e pedi-lhe que ela fosse para o meu antigo lugar para me deixar ficar sentado ao lado de Bella em caso ela se sentisse mal outra vez, Rose fez como eu lhe disse e saiu de lá rapidamente. Foi fácil sentar-me sem a largar, assim que já estava sentado no lugar de Rosalie, encostei a frágil forma de Bella contra o meu corpo gelado, senti-a aninhar-se melhor ao meu corpo e reprimir um bocejo. Ela estava bastante cansada.

- O que raios é que se passou? – Perguntou Emmett com a sua incrível sensibilidade, depois de já eu e Bella estarmos aconchegados um ao outro, mas olhando para Bella com um ar preocupado.

- Vocês sabem que eu sou uma bruxa, certo? – Ela certificou-se de que os outros sabiam, fazendo-me sentir ligeiramente mal por ter sido Alice a contar-lhes e não eu. - Ainda não tenho força suficiente para andar a fazer muitos feitiços, mas quando faço, por mais pequenos que sejam, os feitiços tiram-me um pouco de energia, deixam-me um pouco cansada. Mas isto nunca aconteceu antes, então suponho que tenha excedido um pouco o meu limite. – Ela explicou com muita calma, ainda obviamente cansada da sua exibição.

Ela sorriu aos outros e eu esfreguei-lhe o seu braço, tentando evitar que ela enregelasse contra a minha pele gelada.

- Bella, tens a certeza de que te sentes bem? – Perguntei-lhe ainda a esfregar o seu braço. Se calhar devia levá-la para casa, ela não está nada com bom ar, pensei.

Ela afastou-se de mim, deixando-me absolutamente confuso. Os seus olhos estavam preocupados, confusos e cansados. Não compreendi o que se estava a passar.

– Sim. Estou bem, não preciso que me leves para casa agora. – Ela assegurou-me e a sua última frase respondeu aos meus pensamentos.

Ela levantou-se, mas as suas pernas falharam-lhe e ela ia caindo se não a tivesse agarrado no braço. Olhei-a preocupado.

- Bella… - Comecei a dizer, queria insistir que me deixasse levá-la a casa, pois ela obviamente não estava em condições de continuar na escola.

- Vamos para a aula. – Ela interrompeu-me, parecendo que sabia exactamente o que eu ia fazer a seguir. - Desculpem, malta. Foi bom conhecer-vos. – Ela despediu-se dos meus irmãos e ia começar a afastar-se comigo atrás quando Jasper a chamou.

- Bella! Obrigado, outra vez. – Os olhos azuis de Jasper cintilaram com agradecimento. Ele estava realmente grato pelo feitiço que Bella fizera.

Ela sorriu-lhe e ia voltar a andar mas Alice (pela segunda vez) interrompeu-a.

- Bella, eu e a Rose tínhamos estado a pensar e… Queríamos convidar-te para ires jantar lá a casa hoje! – Eu nunca tinha gostado tanto da minha irmã como naquele momento, ela às vezes até tinha umas ideias muito boas.

Seria perfeito ter Bella a jantar lá em casa. Esme iria poder finalmente conhecê-la e eu estava certo que a minha mãe iria ficar totalmente deleitada de poder finalmente conhecer a mulher que me tinha mudado. E Carlisle poderia falar com Bella sem ser como nas condições em que se conheceram. Estremeci internamente ao recordar-me do que acontecera daquela vez.

Ela deu um sorriso constrangido a Alice e a Rosalie, devia estar a lembrar-se de alguma coisa.

- Desculpem, meninas, mas não posso ir. – Desculpou-se Bella, parecendo realmente pesar o facto de estar a recusar o convite delas. - É só que o meu pai deve estar a contar comigo em casa para o jantar, percebem? – Explicou, fazendo-me perceber o que ela pensara.

Ela sorriu-lhes e então fomo-nos embora. Estávamos a caminhar em direcção ao edifício de Biologia, eu ao lado dela e sempre a olhá-la, esperando pelo pior. Então ela virou-se para mim e surpreendeu-me.

- Como te sentes? – Ela perguntou, a sua voz estava repleta de preocupação e isso confundiu-me. Ela é que tinha quase desmaiado e estava a perguntar-me a mim como é que me sentia?

- O quê?

- Sentes-te bem? Fraco? Diz-me, Edward! – A sua voz estava marcada pela impaciência.

Ela parecia pensar que eu lhe estava a esconder a verdade.

- Sinto-me óptimo. Nem o teu sangue me está a incomodar, penso que nos curaste a todos.

- De certeza? Por favor, Edward, diz-me a verdade! – Ela implorou. Tal como eu previra, ela julgava que eu lhe estava a mentir para a despreocupar de qualquer coisa.

- Bella, do que é que estás a falar?

Eu já estava preocupado, que se passaria com ela? Olhei para ambos os lados, procurando sinais de que alguém nos ouvia. Olhei para Bella, os seus olhos estavam marejados e era óbvio que ela estava a lutar contra as lágrimas, a sua respiração voltou a ficar ofegante e o seu coração voltou a bater descompassado.

- Bella? – Chamei-a, aproximando-me dela para tentar acalmá-la. - Bella, fala comigo, estás a assustar-me!

Ela não disse nada, apenas continuava com o ar desesperado no seu rosto. Dei um passo na sua direcção e ela deu um passo para trás distanciando-se mais de mim. Aquele pequeno gesto despoletou uma dor que eu não imaginava ser possível de existir. Então era aquela a dor que muito provavelmente eu sentiria se ela tivesse decidido fugir quando descobriu que eu era um vampiro?

- Desculpa… - Ela murmurou, a sua voz era sofrida, como se ela estivesse a experimentar a mesma dor que eu. - Eu não queria…

- Diz-me o que se passa. – Acabei por dizer-lhe, tentando que ela não reparasse na dor que me envolvia a voz.

O que ela sussurrou deixou-me ainda mais surpreendido do que tudo o que ela já me tinha dito.

- Eu estou a ouvir pensamentos. – Uma pequena lágrima caiu dos seus olhos, escorregando pela sua bochecha até aos seus lábios rosados. - Eu estou a ouvir os pensamentos de todos.

Não pensei sequer no que estava a fazer. Num momento, eu estava afastado dela, a sofrer pela sua rejeição; no outro, eu tinha os meus braços a envolverem o seu frágil corpo contra o meu, Senti a minha camisola a ficar molhada, mas não me importei, ela precisava de mim e se era só para chorar nos meus braços, também não me importaria.

- Desculpa-me, desculpa-me. – Ela dizia tão baixo que só eu a ouviria. - Eu não queria tirar-te os poderes, eu não queria…

- Shh, Bella! Shh! Está tudo bem… Vai tudo ficar bem…

Continuei a reconfortá-la enquanto a guiava na direcção do meu carro. Precisávamos de estar num lugar sozinhos para que ninguém nos ouvisse. Encaminhei-nos para o Volvo e quando lá cheguei, abri a porta do passageiro e sentei-a, voltando a agachar-me na frente dela, esperando que ela estivesse pronta para me explicar o que se passava.

- Explica-me tudo, Bella. – Pedi-lhe quando ela parou de chorar.

- Lembras-te do que eu te disse acerca do lado negro das bruxas? – Lembrei-me daquilo que ela me contara sobre a sua espécie e assenti. - Naquele primeiro dia, quando eu me sentei ao teu lado em Biologia, o meu lado negro despertou e queria os teus poderes. Eu não queria tocar-te, eu não queria magoar-te. Comecei a entrar em pânico e os meus poderes fizeram com que houvesse aquela rajada de vento que abriu as janelas. – A sua voz não passava de um sussurro.

Recordei-me daquele dia, da sede, do monstro a implorar-me que bebesse o sangue maravilhoso que me chamava. Abanei a cabeça tentando afastar a memória. Tínhamos estado em pé de igualdade naquele dia.

- Foste tu que abriste as janelas? – Perguntei-lhe, também a minha voz não estava alta o suficiente para ser considerada normal.

Ela assentiu, baixando o rosto, escondendo-o de mim com vergonha, supus. Não consegui evitar rir-me perante a ironia da situação. Tanto ela quanto eu nos queríamos matar um ao outro e, no entanto, eu amava-a e ela também nutria algo muito forte por mim. Poderia isto ficar melhor? Um vampiro apaixonado pela bruxa que queria matar e a bruxa também apaixonada pelo vampiro que também queria matar. Melhor que isto impossível.

- De que te estás a rir?! – Ela perguntou-me, consegui detectar descrença na sua voz.

- Tu podes não ter noção, mas como eu já te disse, naquela altura eu estava a controlar-me imenso para não te matar, o teu cheiro estava a deixar-me louco. Quando aquelas janelas se abriram, foi o momento de sanidade que eu precisava para pensar numa solução para não te matar. – Disse-lhe, conseguindo parar de rir. – Não estás a perceber? Foste tu que nos salvaste aos dois. Quando os teus poderes se manifestaram, quando tu te revoltaste contra o teu lado negro, tu deste-nos tempo aos dois para conseguirmos sair vivos daquela sala de aula.

Ela inclinou a cabeça ligeiramente, parecendo estar a pensar naquela situação pelo modo como eu estava a dizer. No entanto, a ruga entre as suas sobrancelhas apareceu, denotando a sua preocupação.

- Mas… não sentiste nada? Nem uma espécie de choque nem nada quando te toquei?

A pergunta dela era inocente, totalmente inocente, repleta de preocupação pelo meu estado. Senti-me satisfeito e… embaraçado. Eu tinha que lhe responder… Mas como responder-lhe sinceramente sem dizer que eu a amava com todas as letras? Gostaria de saber a sua reacção… Gostaria de ter este facto na mesa. Ser totalmente sincero com ela.

E porque não? Perguntou-me a minha consciência. Ela já te disse que gostava de ti… Imagina que ela também não to queria dizer? Não achas justo que ela saiba como te sentes realmente em relação a ela?

Sim, era justo.

- Não senti choque nenhum. – Respondi-lhe olhando-a directamente nos seus belos olhos castanhos chocolate. - Na verdade, senti-me nas nuvens quando me tocaste na mão.

Ela corou, se eu também pudesse corar… de certeza que também estaria totalmente vermelho. Bella tentou esconder o rosto com os seus cabelos, mas estiquei a minha mão e toquei-lhe na face, impedindo-a de se esconder. Não queria perder aquela bela imagem.

- Não. Por favor. Ficas ainda mais linda quando coras. – Levantei o seu rosto com o meu dedo indicador debaixo do seu queixo.

Ela sorriu-me, certamente envergonhada, e corou ainda mais com o meu comentário. Sorri, adorava ver a tonalidade rosa no seu rosto, fazia-a parecer o anjo que ela realmente era… o meu anjo. Limpei-lhe uma das pequenas gotas cristalinas que ainda teimavam em cair dos seus olhos.

- Agora, temos que ir para a aula. – Murmurei oferecendo-lhe a minha mão para a ajudar a levantar-se, a qual ela aceitou sem hesitar. - Será que me podias fazer um favor?

- Qual? – Ela ergueu uma das sobrancelhas mas eu podia dizer que ela estava a tentar disfarçar o facto de que ela iria aceitar de qualquer maneira.

- Será que podias deixar a tua mente desprotegida? Gosto de te ouvir… E agora que também tu ouves pensamentos, podemos tentar “conversar” durante a aula. – Pedi, fazendo o meu sorriso enviesado. - Eu sei que não te devia sequer pedir isto, mas pensa nisto como um treino. Pode ser bastante confuso nos primeiros tempos, mas depois habituaste.

Ela sorriu, deixando-me saber que aceitava o meu pedido.

Foca-te na minha voz, pensei para a sua mente quando chegámos ao edifício de Biologia.

Ela olhou-me e sorriu-me, pelos vistos tinha conseguido ouvir-me mesmo. Entrámos na sala, sendo o alvo de todos os olhares. Eu caminhava atrás dela.

Olha só para o modo como ele olha para ela, ouvi Mike Newton pensar. Era bom que ele não abusasse muito da sorte. Aberração.

Chegámos à nossa mesa e puxei o banco dela para que ela se sentasse.

Eles até ficam bem juntos, ele parece ficar mais social junto dela. Estes pensamentos pertenciam a Angela e eu recordei-me novamente de que tinha que lhe agradecer de algum modo, mas no momento não poderia prestar-lhe atenção. Sentei-me ao lado de Bella, observando todos os seus traços enquanto ouvia mais pensamentos.

Hum… Ele ficava tão melhor comigo… Não vejo o que é que ele viu nela, sempre os pensamentos maldosos de Lauren. Rugi baixinho para ela, odiei os pensamentos dela e odiei ainda mais os pensamentos que incomodaram a mente do anjo ao meu lado.

Bella, foca-te em mim, disse a Bella, não queria que ela se importasse com aqueles pensamentos.

Desculpa… Ouvi os pensamentos dela e vi-a baixar a cabeça. Não consegui afastá-los.

Só tens de ignorá-los, respondi-lhe, assegurando-a que estava tudo bem. Não te preocupes, eu mantenho-te entretida.

O professor entrou na sala arrastando um televisor e um leitor de cassetes, iríamos ver um filme… Vi na mente do professor Banner que o filme não poderia transmitir-me nada de novo, já na mente de Bella, descobri que ela já vira este filme antes. Queria rir-me por Bella ser muito mais evoluída que os humanos que nos rodeavam.

Bom saber que este filme não te vai ocupar a mente, então. Brinquei. Quero saber mais sobre vocês.

Vi os seus olhos brilharem com um sorriso que não se apresentou nos seus lábios.

Quando ele apagar as luzes, ainda vou ser capaz de te ver na perfeição. Ela disse-me, parecendo indiferente.

Hum… Super visão? Que mais? Aquilo deixava-me ainda mais curioso para aquilo que ela pudesse ter mais em comum comigo.

Temos um bom olfacto, na minha família, as bruxas mais velhas também têm uma velocidade louca como vocês vampiros. Bem… para ser mais fácil digo-te que nós somos vampiros com sangue nas veias e um coração a bater. Ela parecia achar aquela explicação mais simples… e eu também a achava.

Bella, o que é o teu Avô? Se ela era uma bruxa por descendência da sua Avó, então eu estava curioso por saber o que é que o Avô dela era.

Se queres saber, nunca o conheci. Pessoalmente, quero dizer. Mas sei que não é bruxo… O pai e os meus tios comportam-se demasiado como vampiros para o meu Avô ser um bruxo. A sua resposta não satisfez a minha curiosidade totalmente, afinal nem ela conhecia toda a sua família.

Supões, então, que és neta de um vampiro? Isso é interessante.

Imagino que sim. Mas isso importa? Não é por o meu avô ser vampiro ou deixar de o ser que muda o que eu sou! Ela parecia preocupada com o facto de que se ela fosse semi-vampira, eu mudasse a minha opinião acerca dela.

Abanei a minha cabeça, tentando afastar da minha mente a imagem de uma Bella vampira. Não me agradava particularmente pensar nela sem poder ver as suas bochechas corarem.

Olhei para a sua mente e reparei que ela estava a pensar na sua família, mais especificamente, nos seus Avós. A casa deles em Salem. As fotos de família que a Avó dela possuía na sala. Saí momentaneamente da sua mente e relembrei-me da nossa conversa antes de Alice nos interromper.

Ela interrompeu-te. Pensei, fazendo-a despertar dos seus pensamentos. Não me chegaste a explicar porque é que acreditavas que gostavas mais de mim do que eu de ti.

Ela engoliu em seco, nos seus pensamentos eu podia ver que ela ficara agradecida a Alice pela interrupção.

O que te leva a pensar assim, Bella? Insisti.

Ela inspirou fundo e explicou-me tudo.

Bem, além do óbvio, por vezes… Não posso ter a certeza, pois não consigo adivinhar pensamentos… ou melhor, não conseguia adivinhar pensamentos. Ela respondeu. Mas, por vezes, parece que estás a tentar despedir-te quando estás a dizer outra coisa. Ela não olhou para mim.

Ela tinha percebido aquilo, não tinha? Teria ela percebido que era só fraqueza e egoísmo que me mantinham aqui? Pensava ela menos de mim por isso?

És muito perspicaz. Pensei e então ouvi a angústia na sua mente, por isso apressei-me a contradizer a sua suposição. É, porém, exactamente por isso que estás enganada. Comecei, e então parei, relembrando-me das primeiras palavras da sua explicação. Elas incomodavam-me, embora eu não estivesse certo de que as entendia exactamente. A que te referes quando falas do “óbvio”?

Olha para mim. Na sua mente surgiu uma imagem dela e outra minha. Eu estava a olhar. Tudo o que eu sempre fazia era olhar para ela. O que queria ela dizer? Sou absolutamente vulgar, à excepção de todos os aspectos negativos, como as experiências de morte iminente, o facto de ser tão desastrada que quase chego a ser inválida e o facto de ser uma bruxa. Ela parou. Agora olha para ti!

Naquele momento ela voltou o seu olhar para mim. Ela julgava-se vulgar? Ela pensava que eu era de algum modo preferível a ela? Na estima de quem? Mentes tontas e limitadas como a de Jessica ou Miss Cope? Como podia ela não perceber que ela era a mais bonita… mais requintada… Aquelas palavras nem eram suficientes.

E ela nem tinha ideia.

Sabes, não tens uma imagem muito clara de ti mesma. Disse-lhe. Admito que estás absolutamente certa quanto aos aspectos negativos, abafei um riso sem humor. Eu não achava o cruel destino que a assombrava cómico. O facto de ela ser desastrada, de qualquer maneira, até era engraçado. Enternecedor. Iria ela acreditar em mim se eu lhe dissesse que ela era bonita, por dentro e por fora? Talvez ela achasse a corroboração mais persuasiva, mas não ouviste o que cada humano do sexo masculino pensou no teu primeiro dia de aulas. Pensando bem, ainda não ouviste os pensamentos que eles têm contigo.

Ah, a esperança, a animação, a impaciência daqueles pensamentos. A velocidade com que eles se tornavam em impossíveis fantasias. Impossíveis porque ela não queria nenhum deles.

Eu era aquele a quem ela disse sim.

O meu sorriso deve ter sido convencido.

A sua cara ficou branca com a surpresa. Não acredito…

Confia em mim só desta vez… Mesmo nas qualidades dos humanos, és o contrário de vulgar.

Só a sua existência era uma desculpa suficiente para justificar a criação de todo o mundo.

Ela não estava habituada a receber elogios, eu podia ver isso. Outra coisa que ela teria apenas que se habituar. Ela corou, e mudou de assunto. Mas não me vou despedir de ti.

Será que não vês? É isso que prova que eu tenho razão. Os meus sentimentos são muito mais fortes, pois, se eu consigo fazê-lo… Comecei a passar imagens dos dias em que eu tinha estado no Alasca para fugir dela. Iria eu alguma vez ser altruísta o suficiente para fazer a coisa certa? Abanei a cabeça em desespero. Eu teria que ser forte o suficiente. Ela merecia uma vida. Não o que Alice vira para ela. Se partir for a atitude correcta a tomar… E tinha que ser a escolha certa, não tinha? Não havia um anjo descuidado. Bella não pertencia ao meu lado. Magoar-me-ei a mim mesmo para evitar magoar-te, para manter-te a salvo.

Enquanto pensava nestas palavras, desejei que elas fossem verdadeiras.

Ela olhou furiosa para mim. De alguma forma, as minhas palavras enfureceram-na. E tu julgas que eu não faria o mesmo? Ela exigiu furiosamente.

Tão furiosa… tão suave e tão frágil. Como poderia ela alguma vez magoar alguém? - Jamais terias de tomar tal decisão. – Disse-lhe, deprimido outra vez pela ampla diferença entre nós.

Estás enganado. Ela pensou, também com a tristeza a toldar-lhe os pensamentos. Imagens de ela a partir invadiram-me a mente. A dor que aquelas imagens despertaram no meu peito era tanto ou quanto maior que a dor que eu sentira quando Bella se afastou de mim quando estava com medo de me ter retirado os meus “poderes”.

Havia algo seriamente errado com a ordem do universo se alguém tão bom e tão quebrável não merecia um anjo da guarda para a manter fora de sarilhos.

Bem, a minha consciência pensou com humor negro, pelo menos ela tem um vampiro da guarda.

Sorri. Como eu adorava a minha desculpa para ficar. É claro que manter-te a salvo começa a revelar-se uma ocupação a tempo inteiro que requer a minha presença constante.

Ela sorriu, também. Ninguém tentou livrar-se de mim hoje. Ela recordou-se do mesmo que eu: o seu quase desmaio ao almoço. Tirando a situação do almoço.

Ficámos em silêncio durante algum tempo.

Tenho outra pergunta para te fazer, pensei.

Pensa… Ela respondeu-me, ambos sorrimos com a piada.

Quando disseste que ias visitar os teus familiares no próximo fim-de-semana era porque precisas mesmo ou tal não passou de um pretexto para evitares recusar os convites de todos os teus admiradores?

Ela fez-me uma careta. Sabes, ainda não te perdoei por causa do Tyler. Foi por tua culpa que ele se iludiu,

Oh, ele teria arranjado uma oportunidade para te convidar sem a minha ajuda, eu só queria mesmo ver a tua cara.

Abafei outro riso, relembrando-me a sua expressão furiosa. Nada que eu tenha, alguma vez, lhe contado sobre a minha história sombria tinha alguma vez a feito parecer tão horrorizada. A verdade não a assustava. Ela queria estar comigo. Tagarelice mental.

Se eu te tivesse convidado, tu ter-me-ias rejeitado?

Provavelmente não, ela pensou. Mas muito provavelmente teria cancelado o compromisso mais tarde, inventando uma doença ou uma entorse num tornozelo. Ela parou por um momento lembrando-se de outra coisa… ou de alguém. Mas creio que se o meu pai aprovasse o meu par, não teria quaisquer hipóteses de não ir. Sendo a minha entorse verdade ou mentira.

Que estranho. Porque farias isso?

Ela abanou a cabeça, como se ela estivesse desiludida por eu não ter entendido logo. Suponho que nunca me viste na aula de Educação Física, mas julgava que compreenderias.

Ah. Estás a referir-te ao facto de não conseguires percorrer uma área plana e estável sem encontrar algo em que tropeçar?

Óbvio.

Isso não constituiria um problema. Tudo tem a ver com a forma como a dança é conduzida. Pensei nos bailes a que fui com os meus pais quando ainda era humano.

Por uma breve fracção de segundo, eu recordei-me de como o seu corpo tinha sentido sobre o meu depois de a ter tirado do caminho da carrinha. Mais fortemente do que o pânico ou o desespero ou o azar, eu podia lembrar-me daquela sensação. Ela tinha sido tão quente e tão suave, encaixando facilmente na minha própria forma de pedra… Tal como hoje ao almoço quando ela se aninhou a mim.

Puxei-me das memórias.

Mas nunca chegaste a dizer-me… Pensei rapidamente, prevenindo-a de discutir comigo sobre o seu desequilíbrio, como ela claramente pretendia fazer. Precisas de ir visitar mesmo a Salem ou importas-te que nós façamos algo diferente?

Errante – dando-lhe uma escolha sem lhe dar a opção de fugir de mim no dia. Pouco justo para mim. Mas eu tinha lhe feito uma promessa na noite passada… e eu gostava da ideia de cumpri-la – quase tanto como a ideia me aterrorizava.

O sol estaria a brilhar no Sábado. Eu poderia mostrar-lhe a minha pele a brilhar, se eu fosse corajoso o suficiente para aguentar o horror e o nojo. Eu conhecia o lugar ideal para tomar tal risco…

Estou aberta a outras opções. Bella pensou. Mas tenho um favor a pedir-te em troca.

Um sim qualificado. O que quereria ela de mim?

E esse seria…

Posso conduzir?

Era esta a ideia dela de humor? Porquê?

Bem, principalmente porque, quando disse ao Charlie que ia visitar a malta em Salem, ele perguntou-me especificamente se ia sozinha e, na altura, ia. Se ele voltasse a perguntar, eu, provavelmente, não mentiria, mas não me parece que ele o faça e o facto de deixar a minha pick-up em casa só contribuiria para que o assunto viesse à baila desnecessariamente. Além disso, também porque como conduzes me assusta.

Rolei os olhos. De todas as coisas em mim que podiam assustar-te, preocupas-te com a minha maneira de conduzir. Mesmo a sério, o seu cérebro funcionava ao contrário. Abanei a minha cabeça, desgostoso.

Na sua mente surgiu um carro preto com um homem, que não aparentava ter mais de 35 anos, a conduzi-lo, depois surgiu eu e o meu Volvo. A tua assusta-me, a dele deixa-me apavorada. Tive que me segurar para não me rir.

Obriguei-me a ficar sério e depois olhei para ela. Não queres contar ao teu pai que vais passar o dia comigo?

Acredita, tratando-se do Charlie, quanto menos souber, melhor. E tu não haverias de gostar da sua reacção quando eu lhe contasse. Na sua mente surgiram imagens de ela a conversar com o seu pai na cozinha da casa dele e mais tarde, do pai dela a falar com Carlisle. O mistério dos dois. Já agora, aonde vamos? Ela trouxe-me de volta dos meus pensamentos.

O tempo estará agradável, disse-lhe lentamente, esperando que ela chegasse à conclusão sozinha, portanto, evitarei aparecer em público… e tu podes ficar comigo, se assim desejares.

Ela pareceu pensar sobre as minhas palavras, parecia que estava a decidir. Pobre Charlie. Pensou alertando-me.

Olhei para ela, preocupado e confuso com o que ela poderia querer dizer com aquilo. Que queres dizer?

Na minha mente, ela mostrou-me o pai dela no jardim da parte de trás da casa deles, estava sol na sua recordação e a pele do seu pai brilhava como se tivesse pequenos diamantes. Depois aquela memória foi reposta por outra, mas dessa vez na recordação só estava ela, junto à janela do seu quarto, apreciando o sol matinal, mais surpreendente foi o efeito da sua pele quando um raio de sol lhe tocou.

Também brilhas… Eu estava maravilhado com o leve brilho que a sua pele emitia, iria ela alguma vez parar de me maravilhar? Eu sinceramente esperava que não. Mas ela ainda não me respondera. Mas ficas comigo, ou não?

Ela pareceu lutar contra o riso, mas os seus olhos brilharam. Por acaso, não me importo de ficar a sós contigo. Como se aquilo fosse só por acaso.

Se calhar devias informar o Charlie. Pensei, não me agradava muito a ideia de que ela se quisesse ver assim tão livre do pai. Deveria ser realmente o facto de eu ter nascido numa época em que uma mulher não sairia sozinha com um homem sem ter a autorização do pai.

Ela pareceu conter uma gargalhada. Confia em mim quando te digo que tu não queres que eu faça isso.

Agora eu não conseguia perceber o que ela queria dizer. Porquê?

Ele vai ficar em casa! Se eu lhe disser que vou sair contigo num dia de Sol, ele vai ficar… digamos que preocupado! Ele sabe o que tu és, Edward. E também sabe perfeitamente que eu brilho ao Sol! Imagens dela a conversar com o pai passaram-lhe pela mente. Ele deve ir caçar! E não acredito que ele sabendo que eu estou contigo não vá à nossa procura. Confia em mim, Edward. Tu não queres que ele saiba.

Vendo as coisas por essa perspectiva… Ela era capaz de ter razão. Ter o pai dela atrás de nós o tempo todo não seria agradável. Perguntei-me o que seria pior, ter o Chefe Swan atrás de nós ou um ex-guarda dos Volturi a observar-nos. Definitivamente, andar com Bella era ter uma escolta policial sempre atrás de nós.

Durante o resto da aula, trocávamos pensamentos de vez em quando. O filme passava na televisão, todos prestavam atenção, menos nós os dois.

No meio da escuridão, como só eu e Bella víamos sem as luzes, parecia que estávamos sozinhos. Apenas nós os dois. Sentia uma electricidade a percorrer o espaço entre nós, mas Bella parecia não lhe estar a dar atenção alguma, portanto, eu também não me distrairia do meu anjo.


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