Twilight - a Magia do Amor escrita por Sol Swan Cullen


Capítulo 15
13º Capítulo – Interrogações (1ª Parte)




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(Bella POV)

 

Foi muito difícil, de manhã, arrazoar com a parte de mim que aceitava a noite anterior como um sonho. A lógica não estava a meu favor, nem o senso comum. Agarrei-me ao que não poderia ter imaginado – como o cheiro dele. Tinha a certeza de que nunca poderia ter sonhado semelhante coisa a partir do nada. Nem os estranhos sonhos que tivera com Edward me poderia trazer o seu cheiro.

Do lado de fora da minha janela, o tempo estava sombrio e enevoado, algo absolutamente perfeito. Ele não tinha qualquer motivo para se ausentar da escola nesse dia. Vesti roupas pesadas, lembrando-me de que não tinha casaco. Outra prova de que a minha recordação era real.

Quando desci, Charlie já saíra – estava mais atrasada do que pensara. Engoli uma barra de muesli em três dentadas, empurrei-a com leite bebido directamente do pacote e, em seguida, precipitei-me porta fora. Com alguma sorte, a chuva aguentar-se-ia até eu conseguir encontrar Jessica. Era necessário ter sorte.

Havia muito nevoeiro, e o ar quase se tornava fumarento de tão cerrado que era. Sentia o frio glacial da neblina ao depositar-se na pele do meu rosto e do meu pescoço, arrefecendo-a ao ponto de quase ter a mesma temperatura que a pele de Edward. Mal podia esperar por ligar o aquecimento da pick-up. O nevoeiro era de tal forma denso que eu já avançara alguns metros ao longo da entrada quando me apercebi de que um automóvel se encontrava imerso nele: um automóvel prateado. Senti um baque no coração, que titubeou e, depois, recomeçou a bater de forma muito mais acelerada.

Não vi de onde ele viera, mas, de repente, ali estava, abrindo-me a porta para eu entrar.

- Queres ir comigo hoje? – Perguntou, achando graça à expressão estampada no meu rosto depois de me ter apanhado desprevenida uma vez mais.

Havia um tom de incerteza na sua voz. Estava, de facto, a dar-me a escolher – eu era livre de recusar e, por um lado, ele esperava que eu o fizesse. Era uma esperança vã. Esbocei um sorriso com o pensamento e avancei.

- Quero, obrigada. – Disse eu, tentando afastar o riso da minha voz.

Ele manteve-se ao pé da porta, mantendo-a aberta para que eu entrasse. Cheguei-me ao pé dele e como na noite anterior, estiquei-me para lhe chegar à face e encostei os meus lábios na sua bochecha gelada, não me importando com a sua temperatura visto que a minha pele no momento não estava com uma temperatura melhor. Ele ficou ainda mais quieto que uma estátua depois de eu ter afastado os meus lábios do seu rosto, um sorriso a desabrochar no meu rosto e a sombra de um a brincar com os cantos dos lábios do meu vampiro.

Sentei-me no lugar do passageiro, observando-o ainda com um sorriso no rosto. Ao entrar no carro quente, reparei que o seu casaco castanho-amarelado estava suspenso no apoio para a cabeça do lugar do passageiro. A porta fechou-se depois de eu ter entrado e, mais depressa do que deveria ser possível, já ele se encontrava sentado ao meu lado, a ligar a ignição. Pelos vistos já tinha recuperado do beijo surpresa. Sorri novamente com o pensamento.

- Trouxe o casaco para ti. Não queria que ficasse doente.

A sua voz transmitia cautela. Notei que ele não trazia nenhum casaco vestido, mas apenas uma camisola de malha cinzento-clara de mangas compridas com decote em V. Uma vez mais, o tecido ajustava-se ao seu peito perfeitamente musculado. Era um tributo colossal ao seu rosto o facto de este manter os meus olhos afastados do seu corpo.

- Não sou assim tão delicada. – Afirmei, mas puxei o casaco para o meu colo, enfiando os braços nas mangas demasiado compridas, curiosa por ver se o odor era, de facto, tão agradável como eu me lembrava. Era mais.

- Ai não? – Contestou ele, falando num tom de voz baixo que eu não sabia ao certo se pretendia que o ouvisse. Ri-me perante a sua pouca fé.

Percorremos as ruas envoltas em nevoeiro, sempre com demasiada velocidade, sentindo-nos pouco à vontade. Eu, pelo menos, sentia-me assim. Na noite anterior, havíamos derrubado todos os muros que nos separavam… quase todos. Não sabia se, neste dia, continuaríamos a ser francos um com o outro. Este facto deixou-me sem saber o que dizer. Esperei que ele falasse.

Virou-se e sorriu-me pretensiosamente.

- Então, hoje não tens duas dezenas de perguntas para me fazer?

Sorri, lembrando-me do nosso acordo. Por cada pergunta que eu fizesse, ele teria o direito de perguntar o que ele quisesse.

- As minhas perguntas incomodam-te? – Interroguei, aliviada. – Ou tens mais perguntas?

- Não tanto como as tuas reacções. – Parecia estar a gracejar, mas eu não tinha a certeza disso. Ele ignorou a minha segunda pergunta, o que me levou a entender que ele é que tinha duas dezenas de perguntas para me fazer.

Franzi o sobrolho.

- Eu reajo mal? – Na minha mente, passavam imagens de que tipo de reacção queria ele que eu tivesse.

- Não, o problema é esse. Encaras tudo com tanta frieza… não é natural. Faz com que me interrogue sobre o que estás realmente a pensar.

- Eu digo-te sempre o que realmente penso.

- És selectiva. – Acusou-me.

- Não muito.

- O suficiente para dar comigo em doido.

- Tu não queres ouvir tudo o que penso. – Avisei-o, sorrindo ligeiramente ao pensar exactamente nas minhas palavras. – Mas talvez um dia te mostre.

Ele olhou-me curioso. – Consegues?

Sorri ainda mais. – Se quiser.

Ele não me respondeu mais, fixando o seu olhar na estrada perdido em pensamentos. O silêncio era estranho entre nós dois, demasiado pesado. Então lembrei-me de algo.

- Onde está o resto da tua família? – Perguntei, bem contente por estar sozinha com ele, mas lembrando-me de que o seu carro costumava andar cheio. Ainda não estava pronta para me encontrar directamente com eles, ainda precisava de fazer mais umas pesquisas.

- Veio no carro da Rosalie. – Encolheu os ombros ao estacionar ao lado de um reluzente descapotável vermelho com a capota colocada. – É ostentoso, não é?

- Hum, ena. – Pronunciei baixinho. – Se ela tem aquela bomba, porque se desloca no teu carro?

Eu recusaria qualquer boleia que me oferecessem se tivesse um carro daqueles na minha garagem.

- Como já disse, é ostentoso. Nós tentamos passar despercebidos.

- Não conseguem. – Ri-me e abanei a cabeça ao sairmos do carro, satisfeita por não ter uma beleza sobrenatural que me pusesse nas luzes da ribalta como eles. Já não estava atrasada; a sua condução de loucos fizera com que eu chegasse à escola com bastante tempo de antecedência. – Porque é que Rosalie resolveu vir hoje a conduzir se dá mais nas vistas?

- Ainda não tinhas reparado? Agora, estou a quebrar todas as regras.

Juntou-se a mim em frente do carro, permanecendo a meu lado, bastante próximo, enquanto nos dirigíamos para o recinto da escola. Eu queria encurtar essa pequena distância, estender a mão e tocar-lhe, mas receava que ele não desejasse que eu o fizesse e não tinha a intenção de fazê-lo voltar a congelar sob o meu toque como acontecera anteriormente quando tinha havido apenas contacto entre os meus lábios e a sua bochecha.

- Porque é que têm carros como aquele? – Perguntei-me em voz alta. – Se estão à procura de privacidade?

- É uma forma de satisfazermos uma das nossas vontades. – Confessou com um sorriso endiabrado. – Todos nós gostamos de conduzir com velocidade.

- Já era de calcular. – Murmurei por entre dentes, recordando-me da condução do Tio Angel e justificando-a com o mesmo motivo que Edward acabara de dar.

Abrigada sob a aba do telhado da cantina, Jessica esperava com os olhos prestes a saltarem das órbitas, automaticamente, aproximei-me mais de Edward como tinha feito na noite anterior. Por cima do seu braço – graças a Deus -, estava o meu casaco.

- Olá, Jessica! – Exclamei quando estávamos a escassos metros de distância. – Obrigada por te teres lembrado.

Entregou-me o casaco sem falar. Teria que proceder a vários feitiços para me certificar que o casaco não fora um objecto utilizado para fazer vudu na casa de Jessica.

- Bom dia, Jessica. – Disse Edward educadamente.

Não tinha propriamente culpa de que a sua voz fosse de tal modo irresistível, nem do efeito que os seus olhos eram capazes de exercer, pelo menos, foi disso que me tentei convencer.

- Aah… viva! – Desviou o olhar na minha direcção, tentando colocar as ideias em ordem. – Suponho que nos vemos na aula de Trigonometria.

Lançou-me um olhar expressivo e eu reprimi um suspiro. Que iria dizer-lhe?

- Sim, vemo-nos lá.

Afastou-se, parando duas vezes para nos espreitar por cima do ombro. No meu peito, o monstrinho rosnou para com a rapariga.

- Que vais dizer-lhe? – Murmurou Edward.

- Eh, pensei que não conseguias adivinhar os meus pensamentos! – Exclamei, verificando todas as minhas defesas.

- E não consigo. – Retorquiu ele, sobressaltado, suspirei aliviada; então, a compreensão iluminou-lhe os olhos. – No entanto, consigo adivinhar os dela, ela vai estar à espera para te atacar de surpresa na aula.

Lamentei-me enquanto despia o casaco dele e lho entregava, trocando-o pelo meu. Ele dobrou-o e colocou-o por cima do braço.

- Então, que vais dizer-lhe?

- Que tal dares-me uma ajudinha? – Pedi. – Que quer ela saber?

Ele abanou a cabeça, esboçando um sorriso perverso.

- Isso não é justo. Tu é que és a bruxa.

- Não, o facto de tu não partilhares o que sabes, isso é que não é justo. E não sou eu que leio mentes nem vejo o futuro.

Ponderou por um momento enquanto caminhávamos. Parámos à entrada da sala onde eu iria assistir à minha primeira aula.

- Ela quer saber se nós andamos a namorar às escondidas. E quer saber o que sentes por mim. – Acabou por dizer.

- Ai, ai. O que devo dizer?

Tentei manter um ar muito inocente. As pessoas passavam por nós a caminho da aula, provavelmente olhando fixamente, mas eu mal notava a sua presença.

- Hum. – Deteve-se para apanhar uma madeixa desgarrada do meu cabelo que estava a escapar-se da trança junto do meu pescoço e devolveu-a ao seu devido lugar. O meu coração disparou hiperactivamente. – Suponho que podias responder afirmativamente à primeira questão… se não te importares, é mais fácil do que dar qualquer outra explicação.

- Não me importo. – Declarei com uma voz débil, começando rapidamente a pensar nas vantagens e privilégios que namorar com Edward teria.

- E quanto à outra questão… bem, ficarei à escuta para eu próprio ouvir a resposta.

Um dos lados da sua boca fez um trejeito, esboçando o meu sorriso assimétrico preferido. Não consegui recuperar o fôlego a tempo de retorquir àquela observação. Ele virou-se e ia começar a afastar-se, quando me apercebi que involuntariamente lhe tinha segurado no pulso, na esperança de o impedir de ir. Ele voltou-se para mim, curioso pelo meu súbito gesto.

- Se sou tua namorada às escondidas, creio que tenho direito a isto. – Disse sem me aperceber das palavras, estiquei-me novamente e beijei-lhe o canto dos lábios, causando já a conhecida reacção dele.

Quando me afastei e lhe olhei para o rosto, apercebi-me de que ele tinha fechado os olhos, voltou a abri-los, os seus olhos dourados brilhavam com alegria. Sorriu-me e voltou a virar-se e dessa vez afastou-se.

- Vemo-nos ao almoço! – Exclamou por cima do ombro, o seu sorriso reflectindo-se nas suas palavras.

Três pessoas que entravam na sala pararam para me olhar.

Apressei-me a entrar na sala de aula, corada e totalmente nas nuvens. A sensação eléctrica causada pela proximidade entre os seus lábios e os meus, provocava agora um formigueiro nos meus lábios que ansiavam obviamente por um contacto mais directo com os dele. Mas, então, caiu sobre mim a nossa conversa sobre o que Jessica queria saber e isso fez-me descer das nuvens para ficar extremamente irritada. Ele era tão batoteiro. Agora, eu estava ainda mais preocupada em relação àquilo que iria dizer a Jessica. Sentei-me no meu lugar habitual, pousando violentamente a mala com exasperação.

- Bom dia, Bella. – Disse Mike do lugar ao meu lado; ergui o olhar e vi uma expressão estranha, quase de resignação, estampada no seu rosto. – Como correu o passeio a Port Angeles?

- Correu… - não havia uma forma sincera de resumir aqueles acontecimentos. – Optimamente. – Conclui de forma medíocre, não querendo destroçar mais o meu amigo, mas não deixando de sentir a satisfação que sentia quando me lembrava do tempo que passara com Edward. – A Jessica comprou um vestido mesmo giro.

- Ela comentou algo a respeito da noite de segunda-feira? – Perguntou ele, com os olhos a iluminarem-se.

Sorri perante a mudança de rumo que a conversa tomara.

- Disse que se divertiu mesmo muito. – Assegurei-lhe.

- Ai disse! – Exclamou com impaciência. Humanos.

- Muito claramente.

O professor Mason impôs, então, a ordem na sala, pedindo-nos para entregarmos os nossos trabalhos. As aulas de Inglês e de Administração Pública passaram sem que nada ficasse retido na minha memória, enquanto me preocupava com a forma como haveria de explicar os factos a Jessica e me afligia a possibilidade de Edward estar realmente a ouvir o que eu diria por intermédio dos pensamentos de Jessica. Quão inconveniente podia ser a sua pequena faculdade – quando não estava a salvar-me a vida.

O nevoeiro quase se dissipara ao final do segundo tempo, mas o dia continuava sombrio devido às nuvens ameaçadores que pairavam pesadamente a baixa altitude. Sorri para o céu.

Edward tinha razão, como é evidente. Quando entrei na sala de Trigonometria, Jessica estava sentada na fila do fundo, quase saltando do seu lugar com tanta agitação, não era preciso ser-se bruxa para saber o motivo. Fui, com relutância, sentar-me a seu lado, tentando convencer-me de que seria melhor despachar o assunto o mais rapidamente possível.

- Conta-me tudo! – Exigiu antes de eu me sentar.

- O que queres saber? – Perguntei, procurando não me comprometer.

- O que aconteceu na noite passada?

- Ele pagou-me o jantar e, depois, levou-me a casa.

Ela fitou-me com uma expressão rígida de cepticismo. A verdade não lhe agradava, pelos vistos.

- Como é que chegaste a casa tão depressa?

- Ele conduz como um louco, Foi apavorante.

Esperei que ele tivesse ouvido aquelas minhas palavras.

- Foi um encontro amoroso? Disseste-lhe para se encontrar lá contigo?

Não pensara nisso. Mas não valia a pena mentir.

- Não – fiquei muito espantada ao vê-lo lá.

Os lábios dela franziram-se com a desilusão perante a sinceridade transparente patente na minha voz.

- Mas ele foi buscar-te para te trazer à escola hoje? – Indagou.

- Foi, isso também me espantou. Ele reparou que eu não tinha casaco na noite passada. – Expliquei, ainda estando de acordo com a verdade.

- Então, vão sair novamente?

- Ele ofereceu-se para ir comigo visitar os meus familiares no sábado, por pensar que a minha pick-up não está apta para fazer tal viagem. Isso conta?

- Conta. – Disse ela, acenando com a cabeça.

- Bem, então, vamos. – Pensei por um momento abrir a minha mente e baixar o escudo, apenas para que ele me pudesse ouvir.

- E-na! – Enfatizou a interjeição ao pronunciá-la por sílabas. – O Edward Cullen.

- Eu sei. – Concordei.

A interjeição “ena” não chegava sequer a fazer jus à realidade.

- Espera! – Levantou as mãos subitamente, virando as palmas na minha direcção, como se estivesse a parar o trânsito. – Ele beijou-te?

- Não. – Balbuciei, pensando no beijo na bochecha que eu lhe tinha dado antes de sair do carro e nos dois beijos agora de manhã, reprimi a vontade de me rir, ele não me beijara, mas eu beijara-o. – A nossa relação não é nada assim.

Ela pareceu desiludida. De certeza que eu também.

- Achas que no sábado…? – Ergueu a sobrancelha.

- Tenho as minhas dúvidas. – O meu pensamento virou-se para o Tio Angel, com a sua presença em Salem, era realmente duvidoso que Edward chegasse a atrever-se a tanto.

O descontentamento patente na minha voz foi mediocremente dissimulado.

- De que é que vocês falaram? – Insistiu com um sussurro, de modo a obter mais informação.

A aula já começara, mas o professor Varner não estava a prestar muita atenção e nós não éramos as únicas que ainda conversavam.

- Não sei, Jess. De muita coisa. – Sussurrei-lhe também. – Falámos um pouco sobre a dissertação de Inglês, muito, muito pouco. Penso que ele a mencionou de passagem.

- Por favor, Bella. – Implorou, - Dá-me alguns pormenores.

Já estava a ficar exasperada com a sua insistência.

- Bem… está bem, vou dar-te um. Devias ter visto a empregada de mesa a namoriscá-lo… foi de mais. Mas ele não lhe prestou atenção nenhuma.

Ele que interpretasse aquelas minhas palavras como entendesse.

- Esse é um bom sinal. – Ela disse, acenando com a cabeça. – Ela era bonita?

- Muito, e devia ter dezanove ou vinte anos.

- Ainda melhor. Ele deve gostar de ti.

- Julgo que sim, mas é difícil dizer. É sempre tão reservado. – Comentei suspirando para que ele ficasse a saber o que eu pensava.

- Não sei como tens coragem para ficar a sós com ele. – Murmurou Jessica.

- Porquê?

Fiquei escandalizada, mas ela não compreendeu a minha reacção.

- Ele é tão… intimidador. Eu não saberia o que lhe dizer.

Ela fez um ar relutante, lembrando-se provavelmente daquela manhã ou da noite anterior, quando ele utilizara a força avassaladora dos seus olhos sobre ela. Perguntei-me se ela desmaiaria mesmo se ele fizesse o mesmo quando estivesse com os olhos verdes, era uma questão de tentar e eu adoraria ver.

- De facto, tenho alguns problemas de incoerência quando estou perto dele. – Reconheci.

- Oh, bem, ele é incrivelmente lindo.

Jessica encolheu os ombros como se este facto compensasse quaisquer defeitos e, na sua cartilha, provavelmente compensava. Novamente, tive o impulso de rugir possessivamente perante a sua frase.

- Ele é muito mais do que isso.

- A sério? O quê, por exemplo?

Preferia não ter insistido naquela questão. Quase tanto como esperava que ele estivesse a brincar quando disse que ficaria à escuta.

- Não consigo explicar adequadamente… mas ele é ainda mais incrível por trás do rosto.

O vampiro que queria ser bom, que corria de um lado para o outro a salvar a vida às pessoas de modo a não ser um monstro… Fixei o olhar na parte da frente da sala.

- Isso é possível ?! – Exclamou ela, soltando risinhos.

Ignorei-a, tentando parecer que estava a prestar atenção ao professor Varner.

- Então, gostas dele?

Ela não queria desistir. O meu coração ficou mais pesado, batendo mais lentamente, o momento da verdade chegara. Boa sorte com isto, Bella.

- Sim. – Respondi concisamente.

- Quero dizer, gostas dele a sério? – Insistiu.

- Sim. – Repeti, ruborizando.

Esperei que aquele pormenor não ficasse registado nos pensamentos dela.

As respostas monossilábicas já haviam sido suficientemente esclarecedoras.

- A que ponto gostas dele?

Ao ponto de desejar dar a minha vida por ele, pensei sem lhe responder logo, ao ponto de não desejar sucumbir ao monstro que carrego no peito apenas para que ele esteja feliz e bem.

- Gosto demasiado. – Respondi-lhe, sussurrando. – Mais do que ele gosta de mim, mas não vejo como evitá-lo.

Suspirei, com um rubor contínuo. Então, felizmente, o professor Varner chamou Jessica para que respondesse a uma pergunta.

Ela não teve oportunidade para puxar novamente o assunto durante a aula e, assim que a campainha tocou, assumi uma postura evasiva.

- Na aula de Inglês, o Mike perguntou-me se tu comentaras algo a respeito da noite de segunda-feira. – Comuniquei-lhe.

- Estás a brincar! O que é que respondeste? – Disse ela, de forma ofegante, tendo sido completamente desviada dos seus intuitos.

- Disse-lhe que tu referiras que te divertiras muito – ele pareceu satisfeito.

- Diz-me exactamente quais foram as palavras dele e o que lhe respondeste!

Passámos o resto da caminhada a analisar estruturas sintácticas em pormenor e a maior parte da aula de Espanhol numa descrição minuciosa das expressões faciais de Mike. Não teria suportado que o assunto se prolongasse durante tanto tempo se não me preocupasse o facto de a conversa poder voltar-se para mim.

Então, a campainha tocou para a pausa do almoço. Ao saltar do lugar, enfiando com rudeza os livros na mala, o meu ar animado deve ter dado algo a entender a Jessica.

- Hoje, não vais sentar-te à nossa mesa, pois não? – Deitou-se a adivinhar.

- Não me parece.

Não podia estar certa de que ele não voltasse a desaparecer inoportunamente.

No entanto, à entrada da sala onde decorreu a nossa aula de Espanhol, encostado à parede – parecendo mais um deus grego do que deveria ser permitido a alguém -, Edward esperava-me. Jessica olhou, revirou os olhos e foi-se embora.

- Vemo-nos mais logo, Bella.

A sua voz estava carregada de implicações. Talvez tivesse de desligar a campainha do telefone.

- Viva!

Não me ocorreu mais nada que pudesse dizer e ele não falou – esperando a sua hora, depreendi -, tratando-se, portanto, de uma caminhada silenciosa até à cantina. Caminhar com Edward por entre a grande afluência de pessoas à hora de almoço assemelhou-se bastante ao meu primeiro dia de aulas naquela escola; todos olhavam.

Ele seguiu à frente, em direcção à fila, continuando sem falar, ainda que os seus olhos voltassem a incidir continuamente sobre o meu rosto, com um ar especulativo. Afigurava-se-me que a irritação prevalecia sobre o divertimento em termos da emoção no seu semblante. Eu mexia nervosamente no fecho de correr do meu casaco. Estava a ficar louca com o silêncio cheio de significados da sua parte.

Dirigiu-se ao balcão e encheu o tabuleiro de comida.

- O que estás a fazer? – Protestei. – Não vais levar tudo isso para mim?

Ele abanou a cabeça, avançando para pagar a comida.

- Metade é para mim, como é evidente.

Ergueu uma sobrancelha.

Seguiu novamente à minha frente, em direcção ao mesmo lugar onde nos sentáramos da outra vez. De extremidade oposta da longa mesa, um grupo de estudante de um nível avançado lançou-nos um olhar pasmado quando nos sentámos um em frente do outro. Edward parecia não dar importância.

- Tira o que desejares. – Disse ele, empurrando o tabuleiro na minha direcção.

- Estou curiosa. – Afirmei ao pegar numa maçã, revolvendo-a nas minhas mãos. – O que farias se alguém te desafiasse a ingerir comida?

- Estás sempre curiosa.

- Também tu. – Ripostei.

- Fez uma careta, abanando a cabeça. Lançou-me um olhar irritado, fixando-o no meu enquanto retirava a fatia de pizza do tabuleiro e, de modo intencional, deu uma dentada, mastigou rapidamente e, em seguida, engoliu. Observei-o de olhos arregalados.

- Se alguém te desafiasse a comer terra, podias fazê-lo, não podias? – Perguntou condescendentemente.

Torci o nariz, lembrando-me de uma memória.

- Já comi… uma aposta. – Confessei. – Não foi assim tão mau.

Ele riu-se.

- Suponho que não estou surpreendido.

Por cima do meu ombro, algo pareceu chamar a atenção dele.

- A Jessica está a analisar tudo o que eu faço… há-de facultar-te a sua interpretação mais logo.

Empurrou o resto da pizza na minha direcção. A referência a Jessica fez com que um laivo da anterior irritação voltasse a manifestar-se nos traços do seu rosto.

Pousei a maçã e dei uma dentada na pizza, desviando o olhar, sabendo que ele estava prestes a principiar.

- Com que então a empregada de mesa era bonita? – Perguntou ele com indiferença. Engasguei-me com a surpresa de ser esta a sua primeira pergunta.

- Não reparaste mesmo?

- Não. Não estava a prestar atenção. Tinha muito em que pensar.

- Pobre rapariga!

Podia, agora, dar-me ao luxo de ser generosa.

- Algo que disseste à Jessica… bem, incomoda-me.

Recusava-se a ser distraído. A sua voz estava rouca e fitou-me com olhos inquietos.

- Não me admira que tenhas ouvido algo que não te agradou. Sabes o que se diz das pessoas que escutam as conversas alheias. – Lembrei-lhe.

- Eu avisei-te de que estaria à escuta.

- E eu avisei-te de que não querias saber tudo o que eu pensava.

- Pois avisaste. – Concordou, mas a sua voz continuava áspera. – No entanto, não estás bem certa. Eu quero, de facto, saber o que estás a pensar… tudo. Só gostaria… que não pensasses algumas coisas.

Lancei-lhe um olhar carregado.

- Grande diferença.

- Mas não é propriamente essa a questão neste momento.

- Então, qual é?

Estávamos, agora, inclinados na direcção um do outro sobre a mesa. Ele tinha as mãos unidas debaixo do queixo; inclinei-me para a frente, com a mão direita em concha à volta do pescoço. Tinha de manter presente no meu espírito que nos encontrávamos num refeitório a abarrotar de gente, provavelmente com muitos olhos curiosos pousados em nós. Era demasiado fácil deixar-me embrenhar no nosso enleio.

- Crês verdadeiramente que gostas mais de mim do que eu de ti? – Murmurou ele, aproximando-se mais à medida que falava, com os seus olhos dourado-escuros a trespassar-me.

Tentei lembrar-me de como se expirava. Tive de desviar o olhar para me recordar.

- Estás a fazê-lo novamente. – Disse por entre dentes.

Os olhos dele arregalaram-se de admiração.

- O quê?

- A deslumbrar-me. – Confessei, tentando concentrar-me ao voltar a olhar para ele.

- Ah! – Franziu o sobrolho.

- A culpa não é tua. – Afirmei, suspirando. – Não consegues evitar.

- Vais responder à pergunta?

Baixei o olhar.

- Sim.

- Referes-te a responder à pergunta ou ao facto de realmente pensares assim? – Estava novamente irritado.

- Sim, penso mesmo assim.

Mantive o olhar pregado na mesa, com os meus olhos a seguirem o motivo dos falsos veios de madeira impressos no laminado. O silêncio arrastou-se. Recusei-me teimosamente a ser a primeira a quebrá-lo desta vez, debatendo-me com ardor contra a tentação de espreitar o seu rosto.

Ele acabou por falar, com uma voz suave como veludo.

- Estás enganada.

Olhei-o de relance e vi que os seus olhos estavam ternos.

- Não podes saber isso. – Discordei num sussurro.

Abanei a cabeça em dúvida, apesar de o meu coração ter palpitado ao ouvir as suas palavras e de eu desejar ardentemente acreditar nelas.

- O que te leva a pensar assim?

Os seus olhos cristalinos cor de topázio eram penetrantes, tentando em vão, presumi eu, arrancar a verdade directamente da minha mente.

Retribui-lhe o olhar, esforçando-me por manter o pensamento lúcido apesar do seu rosto, para encontrar uma forma de me explicar. Enquanto procurava as palavras adequadas, via-o a ficar impaciente; sentindo-se frustrado com o meu silêncio, começou a olhar-me com um ar carregado. Tirei a mão do pescoço e coloquei um dedo no ar.

- Deixa-me pensar. – Insisti.

Tentei pensar o mais depressa que podia naquilo que lhe ia dizer, mas então a minha concentração foi interrompida por alguém.

- Olá! Importam-se que me sente? – Uma voz belíssima fez-se ouvir do meu lado.

Olhei para Edward e o seu rosto demonstrava descrença e uma certa fúria. Virei-me para ver quem falara e o porquê da reacção dele, quando vi quem era, a minha boca praticamente que se abriu com o espanto. Na minha frente estavam os restantes Cullen – Rosalie, Jasper, Alice e Emmett -, com Alice na frente do grupo com o seu tabuleiro nas mãos, nos seus lábios um sorriso brilhante.

- Claro que não… Estejam à vontade. – Acabei por dizer, desconhecendo a súbita onda de confiança que me invadia.

Alice sorriu ainda mais e os outros abriram pequenos sorrisos. Fiquei novamente chocada quando vi Rosalie sorrir-me. Todos se sentaram junto de mim e Edward, ficando Alice num dos meus lados e Rosalie no outro e Jasper e Emmett sentando-se na frente da respectiva namorada, um de cada lado de Edward. Este último ainda não se compusera da surpresa e lançou um olhar mortífero a Alice.

- O que é que pensas que estás a fazer, Alice?! – Ele sibilou, baixo o suficiente para que só nós o ouvíssemos.

Estiquei a minha mão pela mesa e toquei na mão dele, fazendo-o olhar para mim surpreendido. Baixei as minhas protecções e tentei algo.

Não sejas assim com ela, pensei olhando-o nos olhos. Tal como eu esperara, os seus olhos arregalaram-se com espanto e ele depois assentiu com a cabeça. Sorri-lhe e esfreguei-lhe um pouco a mão.

- Olá, Bella! – Alice disse fazendo-me virar para ela. – Sou a Alice! Este é o Jasper, - ela apontou para o loiro à sua frente que me lançou um sorriso acanhado – aquele é o Emmett – apontou para o grandalhão ao lado de Edward que me exibiu um sorriso com direito a duas covinhas nas bochechas – e esta é a Rosalie. – Apontou para a loira sentada à minha direita.

- Olá, Bella! – Rosalie disse num modo muito cordial e sorriu-me.

Algures na mesa ouvi uma boca a abrir-se e olhei instintivamente para Edward, ele olhava para Rosalie com um ar ainda mais surpreendido e tinha realmente a boca aberta.

O que é que ela está a pensar?! Uma voz fez-se ouvir na minha cabeça, uma voz que eu conhecia muito bem como sendo a de Edward.

- Olá, Rosalie. – Respondi à loira também sorrindo para ela. – É um prazer conhecer-vos.

- A ti também, Bella! – Disse Emmett, a sua voz era incrivelmente forte, quase que soava como um trovão. – Ouvimos falar muito de ti.

Sorri envergonhada e baixei a minha cabeça corando. Ouvi um rosnado baixo e levantei logo a cabeça para ver quem o fizera. Vi Edward olhar para Jasper muito zangado.

- Importas-te de parar? – Ele perguntou, olhando para o loiro com um ar assassino.

- Desculpa. – Jasper murmurou baixando a cabeça.

Olhei para o loiro e retirei a minha mão da mão de Edward, então senti Alice ao meu lado conter um gritinho de excitação, supus. Edward olhou para mim surpreendido novamente e depois lançou um olhar irritado a Alice.

- Jasper. – Chamei-o insegura, mas ele olhou para mim. – Importas-te que te toque na mão? – Perguntei olhando-o ainda insegura de que ele me fosse responder não.

- Bella, o que é que estás a fazer? – Edward perguntou, olhando-me confuso.

Confia em mim, pensei olhando para ele. Ele voltou a assentir, depositando a sua confiança em mim. Obrigada.

Mas o que raio vai ela fazer? Uma nova voz soou na minha cabeça, desta vez a voz parecia a de Emmett.

 Será que ela vai fazer magia? A Alice disse-me que ela era uma bruxa, outra voz, esta era mais parecida com a de Rosalie, mas eu não tinha a certeza.

Eu nem acredito! Obrigada, Bella! Obrigada! Uma voz cheia de felicidade, supus que aquela voz fosse a de Alice.

Jasper esticou a sua mão, olhando para mim um pouco desconfiado e depositou-a na minha mão aberta. O seu toque gelado não provocava a sensação eléctrica que o toque de Edward provocava, nem sequer despertava arrepios pela diferença de temperatura.

Procurei saber se o meu monstro estava controlado e para meu espanto, reparei que também ele se concentrava no feitiço para ajudar Jasper. Deixei os meus lábios formarem um sorriso e fechei os olhos, novamente ouvi um pequeno rugido e soube que era Edward, senti uma onda de ciúmes tocar-me na pele e abri os olhos, Jasper olhava de mim para Edward e parecia estar a passar-lhe alguma mensagem.

Calma, Edward! Ela está a sentir confiança em mim, confiança em ti… Ela é estranha, ouvi os pensamentos de Jasper. Espera lá. Desde quando é que eu oiço pensamentos?

Foca-te, Bella! Disse-me a minha consciência. Foca-te no Jasper e na cura para ele. Depois o resto.

Fiz como a minha consciência me disse, voltei a focar-me em Jasper e deixei a magia começar a fluir. Ao começo, o ar à minha volta tornou-se pesado, como se todos os cheiros que estavam no refeitório se intensificassem; comecei a ouvir os corações de todos a baterem, por momentos, senti-me sedenta como uma vampira. Inspirei fundo deixando que os cheiros me tocassem em cada pupila gustativa. Depois foi fácil, a sede fazia despertar os meus impulsos mais sombrios, direccionei a força bruta para a magia e dirigi essa magia para o corpo de Jasper. Proferi umas palavras em latim e senti o fluxo de magia começar a acalmar-se, sorri assim que já não sentia mais a sede e quando levantei os olhos para olhar para o loiro, fiquei surpreendida com o que vi.

Tinha noção de que os olhos de todos eles à minha volta eram dourados, mas quando me deparei com os olhos de Jasper já não eram da cor dourada de antes, agora caracterizavam-se por um tom de azul intenso. Olhei rapidamente para Edward e lá estavam os olhos verdes que me fizeram prender a respiração da primeira vez que os vi. Edward olhava para mim e sorria, era óbvio que ele tinha sentido a magia. Ele estendeu a sua mão e agarrou na minha, esfregando-a levemente.

- Jasper, inspira fundo. – Ele fez como lhe disse e então segurou a respiração. – O que sentes?

- Já não sinto sede. – Ele murmurou e olhou-me, os seus olhos azuis cintilando com felicidade. – Já não sinto a tentação do sangue deles, nem do teu. Os cheiros fazem a minha garganta arder, mas é tolerável e não me faz ter vontade de… tu sabes.

Sorri, tinha resultado. Suspirei, subitamente cansada.

- Bella? – Ouvi Edward chamar-me. – Estás bem?

Sentia-me levemente tonta, mas então senti umas mãos frias de cada um dos meus lados. Abri lentamente os olhos e deparei-me com uma Rosalie de olhos azuis-claros que brilhavam com preocupação e com uma Alice de olhos esverdeados que também me encaravam repletos de preocupação.

- Sentes-te bem? – Perguntou-me Alice colocando a sua mão na minha testa.

Sentia-me atordoada, não conseguia encontrar a minha voz e sentia a minha respiração ofegante. Olhei para a minha frente para procurar Edward, mas ele não estava lá, mal esta informação se fez presente no meu cérebro, o meu coração começou a bater mais depressa.

- Bella, consegues andar? – Disse-me a sua voz de veludo ao ouvido.

Virei-me, ainda a ser suportada pelas mãos de Rosalie e Alice, e lá estava ele. Os seus olhos verdes estavam ansiosos e cheios de preocupação. Edward estava agachado junto de mim, uma das suas mãos nas minhas costas e outra sob as suas pernas como se procurasse manter-se equilibrado.

Fechei os olhos com força e respirei fundo, tentando afastar a súbita onda de cansaço que me abalara.

- Bella… - Edward chamou-me outra vez, agora mais ansioso.

- Espera, Edward. – Disse Alice. – Ela está a tentar recompor-se.

- Se calhar é melhor eu levar-te ao colo lá para fora, para apanhares um pouco de ar. – Disse Edward.

- Não. – Consegui finalmente dizer. – Não. Não podemos chamar as atenções.

- Deixa-me ajudar-te, Bella. – Pediu Jasper.

Subitamente já não me sentia tão cansada, parecia que uma onda de calma e energia me tinha invadido. Já conseguia respirar melhor e já não era tão difícil manter os meus olhos abertos.

- Obrigada, Jasper.

Ouvi Edward sussurrar algo para Rosalie e, no momento a seguir, já não era ela que se sentava ao meu lado, Edward sentara-se no lugar de Rosalie e encostara-me a ele, suportando o meu peso. Aninhei-me contra o seu corpo, tentando a todo o custo não fechar os olhos.

- O que raios é que se passou? – Perguntou Emmett, olhando para mim com um misto de preocupação e confusão no olhar.

- Vocês sabem que eu sou uma bruxa, certo? – Vi-os acenar com a cabeça e continuei. – Ainda não tenho força suficiente para andar a fazer muitos feitiços, mas quando faço, por mais pequenos que sejam, os feitiços tiram-me um pouco de energia, deixam-me um pouco cansada. Mas isto nunca aconteceu antes, então suponho que tenha excedido um pouco o meu limite.

Acabei por sorrir como se lhes pedisse desculpa e então senti a mão de Edward esfregar-me o braço que não estava encostado a ele.

- Bella, tens a certeza de que te sentes bem? – Edward voltou a perguntar-me. Se calhar devia levá-la para casa, ela não está nada com bom ar, ouvi Edward pensar e a minha anterior preocupação voltou.

Afastei-me dele e, então, olhei para ele para o assegurar de que estava realmente bem. – Sim. Estou bem, não preciso que me leves para casa agora.

Ele olhou para mim, confuso. Levantei-me sentindo as minhas pernas fraquejar e teria caído se Edward não me tivesse agarrado. Ele voltou a olhar-me preocupado.

- Bella…

- Vamos para a aula. – Cortei-o e, então, olhei para os outros. – Desculpem, malta. Foi bom conhecer-vos.

Todos me sorriram e antes que eu pudesse ir-me mesmo.

- Bella! – Chamou-me Jasper. – Obrigado, outra vez.

Sorri para Jasper, mas, então, Alice chamou-me.

- Bella, eu e a Rose tínhamos estado a pensar e… Queríamos convidar-te para ires jantar lá a casa hoje!

Sorri-lhe um pouco constrangida. Por um lado queria aceitar, isso significaria passar mais tempo com Edward, mas por outro, sempre havia Charlie a contar comigo em casa quando chegasse do trabalho.

- Desculpem, meninas, mas não posso ir. – Disse, recebendo um olhar de cachorrinho sem dono de Alice e um olhar triste de Rosalie. – É só que o meu pai deve estar a contar comigo em casa para o jantar, percebem?

Sorri-lhes e virei costas, dirigindo-me para a sala de Biologia. Edward vinha ao meu lado, sentia o seu olhar posto em mim e antes de chegarmos à sala, parei e virei-me para ele.

- Como te sentes? – Perguntei, olhando-o preocupada, sabia que se eu realmente lhe tivesse tirado os poderes, ele sentir-se-ia um pouco fraco.

- O quê? – Ele estava confuso.

- Sentes bem? Fraco? Diz-me, Edward! – Eu já estava a ficar impaciente.

- Sinto-me óptimo. Nem o teu sangue me está a incomodar, penso que nos curaste a todos. – Ele respondeu-me.

- De certeza? Por favor, Edward, diz-me a verdade! – Pedi-lhe.

- Bella, do que é que estás a falar? – Ele já estava a ficar preocupado e começava a olhar em volta para ver se a nossa conversa não estava a chamar às atenções dos poucos humanos que passavam à nossa volta.

Eu sentia os meus olhos arderem com as lágrimas que queriam cair, a minha respiração estava ofegante e o meu coração batia como um louco.

- Bella? – Edward chamou-me e senti-o a aproximar-se. – Bella, fala comigo, estás a assustar-me!

Não lhe conseguia responder mesmo, nem sequer conseguia pensar. Ele deu um passo em frente e eu recuei. Os seus olhos espelharam dor e eu senti-me mal por o estar a magoar.

- Desculpa… - Murmurei, ainda lutando contra as lágrimas que queriam cair. – Eu não queria…

- Diz-me o que se passa. – Ele pediu-me, tentando conter a dor que ele estava a sentir. Odiei-me por isso.

- Eu estou a ouvir pensamentos. – Sussurrei, sabendo que ele me ia ouvir. Uma lágrima caiu-me dos olhos. – Eu estou a ouvir os pensamentos de todos.

Senti os seus braços gelados a envolverem-me, lágrima atrás de lágrima caía dos meus olhos, encostei-me ao seu peito chorando silenciosamente.

- Desculpa-me, desculpa-me. – Sussurrei contra o seu peito. – Eu não queria tirar-te os poderes, eu não queria…

- Shh, Bella! Shh! – Ele murmurou esfregando-me as costas. – Está tudo bem… Vai tudo ficar bem…

Sabia que estávamos a andar, mas não sabia para onde estávamos a ir até que avistei o Volvo. Ele encaminhou-me até ao carro, abriu a porta do passageiro e sentou-me no banco.

- Explica-me tudo, Bella. – Ele pediu.

Inspirei fundo. Então olhei para ele e suspirei.

- Lembras-te do que eu te disse acerca do lado negro das bruxas? – Perguntei-lhe, recordando a nossa conversa da noite anterior, ele acenou. – Naquele primeiro dia, quando eu me sentei ao teu lado em Biologia, o meu lado negro despertou e queria os teus poderes. – Sussurrei, lembrando-me daquele dia. – Eu não queria tocar-te, eu não queria magoar-te. Comecei a entrar em pânico e os meus poderes fizeram com que houvesse aquela rajada de vento que abriu as janelas.

- Foste tu que abriste as janelas? – Ele perguntou-me, a sua voz não estava muito mais alta do que um murmúrio.

Acenei com a cabeça e baixei o rosto, a vergonha impedia-me de olhá-lo nos olhos. Foi então que o ouvi rir-se, um riso abafado.

- De que te estás a rir?! – Perguntei-lhe intrigada. Como é que ele se podia estar a rir quando eu tinha acabado de dizer que o tinha querido matar?

- Tu podes não ter noção, mas como eu já te disse, naquela altura eu estava a controlar-me imenso para não te matar, o teu cheiro estava a deixar-me louco. Quando aquelas janelas se abriram, foi o momento de sanidade que eu precisava para pensar numa solução para não te matar. – Ele disse-me. – Não estás a perceber? Foste tu que nos salvaste aos dois. Quando os teus poderes se manifestaram, quando tu te revoltaste contra o teu lado negro, tu deste-nos tempo aos dois para conseguirmos sair vivos daquela sala de aula.

Vendo as coisas por essa perspectiva, não era assim tão mau, mas isso não me retirava a culpa de eu poder ter-lhe retirado nem que seja só um bocado dos seus poderes. Isso não mudava o facto de eu estar a ouvir os pensamentos de todos.

- Mas… não sentiste nada? Nem uma espécie de choque nem nada quando te toquei? – A minha pergunta fê-lo ficar envergonhado, ou pelo menos assim me pareceu. Ele mordeu o lábio e desviou o olhar, esperei que me respondesse.

- Não senti choque nenhum. – Ele acabou por dizer, olhando-me nos olhos. – Na verdade, senti-me nas nuvens quando me tocaste na mão.

Senti as minhas bochechas aquecerem com a afluência de sangue à minha face, tentei desviar a face para me esconder atrás do meu cabelo, mas ele não o permitiu.

- Não. Por favor. Ficas ainda mais linda quando coras. – Ele disse levantando-me o queixo com o dedo indicador.

Sorri-lhe envergonhada e corei mais, ele sorriu-me também e então limpou-me uma lágrima do rosto.

- Agora, temos que ir para a aula. – Ele murmurou ajudando-me a levantar. – Será que me podias fazer um favor?

- Qual? – Perguntei tentando fazer-me difícil.

- Será que podias deixar a tua mente desprotegida? Gosto de te ouvir… E agora que também tu ouves pensamentos, podemos tentar “conversar” durante a aula. – Ele disse, sorrindo o meu sorriso favorito. – Eu sei que não te devia sequer pedir isto, mas pensa nisto como um treino. Pode ser bastante confuso nos primeiros tempos, mas depois habituaste.

Sorri-lhe e dirigimo-nos para a aula.

Foca-te na minha voz, ouvi a voz de Edward dizer-me pela mente quando chegámos perto da sala. Não seria difícil concentrar-me apenas em ouvir a sua voz, era algo que eu podia fazer de bom grado.

Olhei para ele e sorri, encaminhámo-nos para a nossa mesa habitual, estando ambos sobre os olhares de alguns alunos (para não dizer todos).

Olha só para o modo como ele olha para ela, ouvi uma voz familiar pensar. Aberração.

Eles até ficam bem juntos, ele parece ficar mais social junto dela. Uma outra mente pensou, fazendo-me corar. Ouvi Edward sentar-se ao meu lado.

Hum… Ele ficava tão melhor comigo… Não vejo o que é que ele viu nela, outra mente e esta fez-me ficar com raiva, por um lado, mas por outro fez-me questionar o mesmo.

Bella, foca-te em mim, Edward. Sim, ele era a minha óptima distracção.

Desculpa… Pensei, baixando a minha cabeça. Não consegui afastá-los.

Só tens de ignorá-los, ele respondeu-me mentalmente. Não te preocupes, eu mantenho-te entretida.

O professor entrou na sala arrastando um televisor e um leitor de cassetes, senti-me estranhamente animada. Fiz algo que eu nunca julguei que viria a fazer, entrei na mente do professor para saber que vídeo iríamos ver, acabei por descobrir que era um que já tinha visto em Phoenix. Ao meu lado ouvi Edward abafar uma gargalhada.

Bom saber que este filme não te vai ocupar a mente, então. Ele brincou. Quero saber mais sobre vocês.

Tentei reprimir um sorriso, mas este veio-me aos lábios na mesma.

Quando ele apagar as luzes, ainda vou ser capaz de te ver na perfeição. Informei-o, nunca tirando os meus olhos da frente da sala.

Hum… Super visão? Que mais? A curiosidade na sua mente era espantosa.

Temos um bom olfacto, na minha família, as bruxas mais velhas também têm uma velocidade louca como vocês vampiros. Bem… para ser mais fácil digo-te que nós somos vampiros com sangue nas veias e um coração a bater. De facto era uma maneira muito mais fácil de explicar o que éramos.

Bella, o que é o teu Avô? A sua pergunta pegou-me desprevenida, não tinha uma resposta certa para aquilo.

Se queres saber, nunca o conheci. Pessoalmente, quero dizer. Mas sei que não é bruxo… O pai e os meus tios comportam-se demasiado como vampiros para o meu Avô ser um bruxo. Respondi-lhe.

Supões, então, que és neta de um vampiro? Isso é interessante.

Imagino que sim. Pensei para ele. Mas isso importa? Não é por o meu avô ser vampiro ou deixar de o ser que muda o que eu sou!

Vi pelo canto do olho ele acenar com a cabeça, era óbvio que nenhum de nós se preocupava realmente com a espécie a que o meu Avô pertencia, isso não passava apenas de curiosidade. Perdi-me em pensamentos, sabendo perfeitamente que Edward seria capaz de ouvi-los, não me importei pois estava apenas a pensar na minha Avó e no meu Avô, recordava-me de algumas fotos que a Avó tinha espalhadas pela sala, apenas fotos de família. Enquanto uma parte da minha mente se recordava da nossa mansão em Salem, outra parte prestava atenção à mente de Edward. Ele estava apenas a pensar na nossa conversa ao almoço antes de Alice aparecer.

Ela interrompeu-te. Ele pensou surpreendendo-me. Não me chegaste a explicar porque é que acreditavas que gostavas mais de mim do que eu de ti.

Engoli em seco. Na altura em que Alice me interrompera ficara deveras agradecida por não ser obrigada a responder a Edward, não lhe sabia explicar aquilo que sentia, não como deve ser. Senti os seus olhos no meu rosto, logo sabia que não havia como fugir desta.

O que te leva a pensar assim, Bella?

Respirei fundo, lá teria que lhe explicar.

Bem, além do óbvio, por vezes… Não posso ter a certeza, pois não consigo adivinhar pensamentos… ou melhor, não conseguia adivinhar pensamentos. Pensei, aligeirando a tensão que eu começava a sentir. Mas, por vezes, parece que estás a tentar despedir-te quando estás a dizer outra coisa.

Sabia que ele ia ficar aborrecido. Não precisava do poder de Ana para prever isso. Eu tinha deixado bem claro nos meus pensamentos a angústia que sentia sempre que me deparava com as suas palavras a antecederem uma despedida. Ele ficou em silêncio, nem a sua mente processava qualquer pensamento coerente para que eu percebesse a sua reacção, apenas revirava as minhas “palavras”.

És muito perspicaz. Ele comentou mentalmente, senti novamente a angústia que a iminente despedida despertava em mim. Vi-o olhar-me pelo canto do olho. É, porém, exactamente por isso que estás enganada. Ele ia explicar-se, mas a parte da sua mente que continuava a revirar a minha explicação apercebeu-se de algo. A que te referes quando falas do “óbvio”?

O óbvio… Claro… Esforcei-me por mostrar-lhe o que eu queria dizer. Na minha mente surgiu uma imagem minha e outra dele. Olha para mim. Sou absolutamente vulgar, à excepção de todos os aspectos negativos, como as experiências de morte iminente, o facto de ser tão desastrada que quase chego a ser inválida e o facto de ser uma bruxa. Fiz uma pausa, esperando que ele percebesse aonde queria chegar. Agora olha para ti!

Olhei para ele, não conseguia concentrar-me em olhar para o professor a tentar arranjar o material audiovisual. A sua testa enrugou-se em sinal de cólera por um momento e, em seguida, alisou-se à medida que os seus olhos se revelaram sabedores. Na sua mente passavam imagens minhas, não conseguia tirar quaisquer significados delas devido à velocidade em que passavam.

Sabes, não tens uma imagem muito clara de ti mesma. Na sua mente parou uma imagem minha, não conseguia perceber por que luz ele me via, mas naquela imagem eu parecia muito mais bonita do que realmente era. Admito que estás absolutamente certa quanto aos aspectos negativos, ele deu um riso abafado, mas não ouviste o que cada humano do sexo masculino pensou no teu primeiro dia de aulas. Pensando bem, ainda não ouviste os pensamentos que eles têm contigo.

Paralisei um momento, na minha mente as palavras dele não faziam realmente sentido.

Não acredito… Pensei, sabendo que ele me iria ouvir.

 Confia em mim só desta vez… Mesmo nas qualidades dos humanos, és o contrário de vulgar.

Tentei encobrir parte da minha mente para esconder o meu embaraço que era imensamente mais intenso que o meu deleite perante o olhar que recebi dele ao pensar tais palavras. Não sabia se havia resultado, mas apressei-me a recordar-me do motivo por ter começado esta conversa.

Mas não me vou despedir de ti.

Será que não vês? É isso que prova que eu tenho razão. Os meus sentimentos são muito mais fortes, pois, se eu consigo fazê-lo, imagens dos dias em que ele não esteve na escola depois do nosso primeiro encontro passaram-lhe pela mente e ele abanou a cabeça para as afastar, se partir for a atitude correcta a tomar, magoar-me-ei a mim mesmo para evitar magoar-te, para manter-te a salvo.

Senti a raiva espalhar-se pelo meu corpo e lancei-lhe um olhar furioso.

 E tu julgas que eu não faria o mesmo? Não consegui evitar pensar nisto, era verdade. Se tivesse que o fazer, se não conseguisse aguentar-me ao seu lado, eu partiria. Na minha mente passaram-se imagens de mim a partir. Ouvi-o suster a respiração e da sua mente senti dor. A ideia de ver-me partir magoava-o.

- Jamais terias de tomar tal decisão. – Ele disse baixo o suficiente para que ninguém além de mim ouvisse.

Aquelas palavras magoaram-me mais do que deveriam, especialmente por serem mentira. Estás enganado.

Afastei o olhar da sua cara por momentos, tentando controlar as lágrimas que faziam os meus olhos arder. Mas, de repente, o seu humor imprevisível voltou a alterar-se sem se revelar nos seus pensamentos antes; um sorriso malicioso e arrebatador recompôs os traços do seu rosto.

É claro que manter-te a salvo começa a revelar-se uma ocupação a tempo inteiro que requer a minha presença constante. Ele pensou, da sua mente ondas de satisfação reverberavam na minha. Senti-me satisfeita também por isso.

 Ninguém tentou livrar-se de mim hoje. Pensei alegremente, tentando provocá-lo. Mas depressa me lembrei da minha recaída ao almoço. Tirando a situação do almoço.

Ele fez uma careta ao recordar-se. A minha imagem de como estava ao almoço surgiu nos seus pensamentos. De facto, não estava nada com bom aspecto.

Ficámos em silêncio outra vez. Sem assunto para debater mentalmente. Foi quando ele se voltou a manifestar.

Tenho outra pergunta para te fazer.

Voltei a dirigir o meu olhar para ele, estudando o seu rosto indiferente.

Pensa… Sorri com a minha piada e ele acompanhou-me.

Quando disseste que ias visitar os teus familiares no próximo fim-de-semana era porque precisas mesmo ou tal não passou de um pretexto para evitares recusar os convites de todos os teus admiradores?

Fiz uma careta ao lembrar-me dos meus planos.

Sabes, ainda não te perdoei por causa do Tyler. Foi por tua culpa que ele se iludiu, pensando que eu vou ao baile com ele.

Vi-o encolher os ombros, a indiferença a ser consumida por um súbito divertimento. Oh, ele teria arranjado uma oportunidade para te convidar sem a minha ajuda, eu só queria mesmo ver a tua cara. Ele pensou na minha cara quando eu respondi ao desgraçado, que agora espalhara pela escola que eu iria com ele, e riu-se por entre dentes.

A vontade de lhe bater sucumbiu perante aquele riso. No entanto, fiz ar de zangada, sabendo que não adiantava muito, visto ele saber que eu não estava de facto zangada.

Se eu te tivesse convidado, tu ter-me-ias rejeitado?

Pensei na sua pergunta por um bocado, ainda ciente de que ele ouvia todos e quaisquer pensamentos que me passassem pela mente no momento. Tê-lo-ia eu rejeitado?

Provavelmente não, acabei por pensar. Mas muito provavelmente teria cancelado o compromisso mais tarde, inventando uma doença ou uma entorse num tornozelo. Mas creio que se o meu pai aprovasse o meu par, não teria quaisquer hipóteses de não ir. Sendo a minha entorse verdade ou mentira.

Ele ficou abismado. Consegui perceber isso tanto na sua mente como na sua expressão facial.

Porque farias isso?

Fiz uma careta triste e depois reprimi um gemido ao recordar-me.

Suponho que nunca me viste na aula de Educação Física, mas julgava que compreenderias.

Estás a referir-te ao facto de não conseguires percorrer uma área plana e estável sem encontrar algo em que tropeçar?

Revirei os olhos. Óbvio.

Ele riu-se da minha expressão. Isso não constituiria um problema. Os seus pensamentos estavam confiantes demais para o meu gosto. Tudo tem a ver com a forma como a dança é conduzida. Na sua mente passavam diversas imagens de bailes da sua época, comecei a perguntar-me a que época ele realmente pertencia. Ia reclamar acerca da dança, mas ele voltou a manifestar-se. Mas nunca chegaste a dizer-me… precisas de ir visitar mesmo Salem ou importas-te que nós façamos algo diferente?

Mordi a bochecha para evitar o sorriso de satisfação que aquela pergunta me fizera. Desde que a parte do “nós” se mantivesse, nada mais me interessava. Desde que eu pudesse estar com ele, não me importava que não fosse passar um dia com a Madrinha e a Avó.

Estou aberta a outras opções. Mas tenho um favor a pedir-te em troca.

Na sua mente despertou a suspeita, ele ficou subitamente cauteloso perante o meu pedido. Ou melhor, condição.

E esse seria…

Posso conduzir?

Ele franziu o sobrolho. Obviamente confuso.

Porquê?

Bem, principalmente porque, quando disse ao Charlie que ia visitar a malta em Salem, ele perguntou-me especificamente se ia sozinha e, na altura, ia. Se ele voltasse a perguntar, eu, provavelmente, não mentiria, mas não me parece que ele o faça e o facto de deixar a minha pick-up em casa só contribuiria para que o assunto viesse à baila desnecessariamente. Além disso, também porque como conduzes me assusta.

Foi a vez dele de revirar os olhos. De todas as coisas em mim que podiam assustar-te, preocupas-te com a minha maneira de conduzir.

Mostrei-lhe a maneira de conduzir do Tio Angel, comparando a sua condução com a dele. A tua assusta-me, a dele deixa-me apavorada.

Abanou a cabeça com um sorriso nos lábios, mas então os seus olhos voltaram-se para mim, sérios.

Não queres contar ao teu pai que vais passar o dia comigo? Havia algo por detrás da sua pergunta que eu não percebi.

Acredita, tratando-se do Charlie, quanto menos souber, melhor. E tu não haverias de gostar da sua reacção quando eu lhe contasse. Pensei, lembrando-me da minha conversa com ele sobre os Cullen e então mais tarde, no hospital, o modo como falava com o pai de Edward. Já agora, aonde vamos?

O tempo estará agradável, portanto, evitarei aparecer em público… e tu podes ficar comigo, se assim desejares.

Uma vez mais, deixou-me decidir o que eu queria fazer. Revirei as suas palavras na minha mente, o tempo estaria agradável… Pobre Charlie.

Edward olhou-me preocupado e surpreendido. Que queres dizer?

Mostrei-lhe uma imagem do meu pai ao Sol, a sua pele brilhava como se tivesse infinitas quantidades de pequeníssimos diamantes encrostados. Então deixei a minha mente mostrar-lhe o que acontecera quando um raio de Sol tocara a minha pele naquele sábado em que descobri o que ele era.

Também brilhas… Olhei-o nos olhos, estes estavam agora repletos de admiração e espanto, não deixei de corar com a intensidade que os seus olhos tinham. Assenti com a cabeça depois de desviar o olhar do seu. Mas ficas comigo, ou não?

Tentei não me rir com a insegurança presente na sua mente.

Por acaso, não me importo de ficar a sós contigo.

Por momentos, pareceu-me que ele suspirou aliviado, mas decidi ignorar. Se calhar devias informar o Charlie.

Abafei o riso. Ele continuava a teimar naquela empreitada. Confia em mim quando te digo que tu não queres que eu faça isso.

Porquê? Ele tinha ficado novamente desconfiado.

Ele vai ficar em casa! Se eu lhe disser que vou sair contigo num dia de Sol, ele vai ficar… digamos que preocupado! Ele sabe o que tu és, Edward. E também sabe perfeitamente que eu brilho ao Sol! Comecei a mostrar-lhe cenários de mim a dizer ao meu pai. Ele deve ir caçar! E não acredito que ele sabendo que eu estou contigo não vá à nossa procura. Confia em mim, Edward. Tu não queres que ele saiba.

Edward pareceu conformar-se com aquilo que eu lhe contara. Vi-o, pelo canto do olho, estremecer ao pensar em Charlie a seguir-nos para onde quer que fôssemos.

Ficámos o resto da aula a trocar pensamentos sem nada de importante. Fazíamos aquilo apenas para não prestarmos atenção ao filme que tinha agora começado a passar na televisão. As luzes estavam apagadas e, enquanto trocávamos pensamentos, havia-se estabelecido uma corrente eléctrica entre nós, a qual tentámos ignorar.


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