Twilight - a Magia do Amor escrita por Sol Swan Cullen


Capítulo 17
14º Capítulo – O Convite


Notas iniciais do capítulo

Então ora aqui vai: Diferença entre este capítulo e o outro capítulo em que a Bella é convidada por todo o mundo!
É que ESTE convite é muito muito mas muito importante!
Vocês vão ver!
Jokinhas people!



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(Bella POV)

 

O resto da aula passou-se do mesmo modo como tínhamos começado, trocando pensamentos, respondendo a perguntas sobre as nossas espécies… tudo para tentar ignorar a corrente eléctrica que preenchia o espaço entre nós dois. Começava a ficar difícil de a ignorar e tanto eu como Edward mudámos a posição em que estávamos sentados.

Fechei as minhas mãos em punhos, tentando lutar contra a vontade que tinha de agarrar na mão de Edward no escuro da sala em que parecia que éramos só nós os dois presentes, e cruzei os braços em frente do peito; começava a ficar ridícula a necessidade que tinha de sentir a sua mão fria na minha como tinha sentido ao almoço e no jantar da noite passada e ainda mais ridícula era a necessidade de sentir os seus lábios nos meus. Olhei para Edward pelo canto do olho e reparei que também ele se encontrava numa posição idêntica à minha: os braços cruzados na frente do peito e as mãos cerradas em punhos debaixo dos braços.

Sorri-lhe compreensivamente e ele suspirou, parecia que eu me esquecera de ocultar os meus pensamentos e ele tinha ouvido o meu devaneio sobre os seus lábios nos meus e as mãos dadas. Ups. Foi a vez dele de me sorrir enquanto me via morder o lábio inferior.

Também queria. Ele pensou. Na sua mente surgiram imagens de nós a beijarmo-nos. Corei

Tens uma imaginação muito activa. Comentei, tentando aliviar a tensão que surgira.

Ele sorriu-me e focou-se no filme na frente da sala. Suspirei e protegi a minha mente novamente, não conseguiria suportar muito mais deixá-lo ouvir as minhas loucuras. Senti o seu olhar em mim, ele devia ter-se apercebido que eu voltei a colocar a minha protecção.

- Desculpa. – Sussurrei para que só ele me ouvisse. – Estou a ficar cansada.

Ele acenou com a cabeça, compreendendo. Para minha surpresa, ele libertou uma das suas mãos e pegou na minha mão que estava mais próxima, depois afagou-a levemente. O seu toque gelado lançou choques pelo meu corpo e eu mordi os lábios, saboreando a sensação, sabia bem de mais aquele toque frio na minha pele quente.

De repente, Edward libertou a minha mão e voltou à sua postura rígida e ao mesmo tempo que ele voltava a fechar as mãos em punhos, a luz da sala acendeu-se. Senti uma estranha sensação de desconforto quando a luz se acendeu, os meus olhos já se tinham habituado à escuridão e agora teriam que se habituar novamente à claridade. Rosnei baixinho, chamando à atenção de Edward que teve que abafar o riso quando me viu esfregar os olhos com ambas as mãos.

Quando finalmente consegui ver melhor na claridade, lancei-lhe um olhar irritado. Como podia ele rir-se de mim quando eu pura e simplesmente não era como ele? Visão perfeita… Fiquei feliz por ter ocultado a minha mente. Não queria dar-lhe mais motivos para se rir de mim. Queria levantar-me, doía-me o corpo pelo facto de ter estado tão rígida naquele último bocado da aula, claro que, por enquanto, tudo o que me era permitido era distender os músculos das mãos e dos braços. Rezei internamente para que esta noite não houvesse treinos com o meu pai, iria estar suficientemente dorida para fazer o que quer que fosse amanhã.

- Bem, foi interessante. – Murmurou ele.

A sua voz ainda continha o riso que ele tentar abafar anteriormente.

- Hum! – Foi tudo o que consegui dizer. Sentia a garganta seca e sabia que isso praticamente se devia ao facto de ter estado a “falar” com Edward pela mente.

- Vamos? – Perguntou, erguendo-se logo.

Quase soltei um lamento. Estava na hora da aula de Educação Física. Vamos lá, Bella, já só faltam alguns meses até deixares de ser tão desastrada, pensei, fixando na minha mente a transformação que eu iria sofrer quando alcançasse os meus dezoito anos e a primeira lua cheia com essa idade. Levantei-me com cuidado, preocupada com a possibilidade de o meu equilíbrio ter sido afectado pela nova e estranha intensidade que existia entre nós.

Acompanhou-me à aula seguinte em silêncio e deteve-se junto à porta; virei-me para me despedir, embora a minha mente gritasse para que Edward não me abandonasse (sentia um medo irracional de ficar na mesma sala de aula com apenas humanos e ouvir os seus pensamentos). O seu rosto assustou-me (ter-me-ia eu esquecido de levantar toda a minha protecção? Teria ele ouvido o meu medo irracional para com os pensamentos dos miúdos humanos?). Estava com uma expressão abatida, quase de sofrimento, e tão ferozmente bela que a dor provocada pela vontade de lhe tocar me assomou de forma tão intensa como antes. A minha despedida ficou presa na garganta. Tal como eu tentava desesperadamente prender os meus braços ao longo do corpo.

Levantou a mão, hesitante, com um conflito a assolar os seus olhos, e, então, acariciou rapidamente a maçã do meu rosto em toda a sua extensão com as pontas dos dedos, inclinei a minha cabeça na direcção do seu toque, querendo sentir mais. A sua pele estava gelada como sempre, mas o seu toque queimou-me. Não consegui impedir o meu braço de se levantar e fazer o mesmo ao rosto dele, sentindo a suavidade da sua pele contra as pontas dos meus dedos. Edward inclinou o seu rosto na direcção da minha mão, fechando os olhos e suspirando, na sua mente eu podia ouvir o contentamento e a agonia. Contentamento por poder sentir o meu toque e me poder tocar, e agonia por ter que me deixar. Mordi o lábio, sentindo o mesmo que ele.

Ele abriu os seus olhos (ainda verdes) e… deu meia volta sem proferir uma só palavra e afastou-se de mim a passos largos. Abri a minha mente e gritei-lhe. Vemo-nos mais logo!

Edward virou-se para mim, ainda a andar, levou as suas mãos aos seus lábios e mandou-me um beijo pelo ar. Podes crer! Respondeu-me por pensamentos. Sorri-lhe, “apanhando” o beijo e “colocando”-o na minha bochecha fazendo Edward sorrir-me.

Fiquei nas nuvens, tal como tinha acontecido mais cedo hoje, a minha expressão devia ser aquela mesma expressão que as adolescentes normais usam nos filmes quando estão apaixonadas e são retribuídas (uma parte muito louca da minha mente comparava-nos aos dois com esses adolescentes apaixonados, o único facto discordante era que Edward não era um adolescente de verdade e que eu não era uma adolescente normal). Entrei no ginásio, a minha mente continuava bem acima das nuvens, (se calhar, para lá da Lua), não reparava em ninguém, mas continuava ciente de que estava rodeada por gente que agora olhava para mim, da mente de todos tive a hipótese de me ver (e tal como previra, eu tinha a expressão que grita: Estou Apaixonada). Claro, mas tudo o que é bom, não dura muito (infelizmente) … e a minha felicidade não foi excepção.

Assim que sai dos balneários, senti a minha alegria cair por terra (horrivelmente, foi como se estivesse a voar, num momento, e, no seguinte, estava a aterrar de rabo no chão), quando me meteram uma raqueta de badmington nas mãos. Fiquei confusa, de onde é que aquilo tinha saído? Então, lembrei-me. Íamos começar com aquele desporto, oh Deus! Onde está a Ana ou a Emily quando precisamos delas? Ou até mesmo o Nick! Ele era bom a badmington.

O treinador mandou-nos formar pares e foi nessa altura que descobri que o cavalheirismo de Mike apenas desaparecia quando Edward estava metido na questão. Senti-me mal por estar sequer ao lado dele, já ouvira a imensa ideia de possessão, que ele achava que tinha sobre mim, na sua voz, mas pior era ouvir os seus pensamentos. Apercebi-me que o pensamento de alguém a chamar Edward de aberração na sala pertencia a Mike, senti-me ainda pior.

- Queres formar uma equipa? – Mike disse aproximando-se de mim assim que o treinador ordenou que nos organizássemos em pares. Claro que eu gostava de ser teu par em muitas outras coisas, ouvi Mike pensar, tive que me aguentar para não estremecer e afastar dele. Começava a ficar impossível ficar ao lado dele.

- Obrigada, Mike. – Agradeci, combatendo contra a minha vontade de me afastar dele e dizer que preferia ficar sozinha, ou então, juntar-me à detestável Lauren. – Sabes que não tens de fazer isto.

- Não te preocupes. Eu não te atrapalho. - Se ao menos eu ficasse contigo doutros modos. Os pensamentos de Mike já me estavam a irritar profundamente, tive que respirar fundo para me impedir de lançar um feitiço no rapaz e fugir do ginásio a gritar por Edward (não que houvesse realmente necessidade para isso, mas parecia que ao ouvir estes estúpidos pensamentos eu precisava muito mais do apoio dele do que antes).

Espero bem que não, pensei com humor negro. Eu gostava muito de Mike! Ele era meu amigo, defendeu-me da megera Lauren, mas raios! Ele não tinha o direito de tratar mal Edward, nem que fosse só por pensamentos! Ele não tinha!

Começámos a aula, eu estava a jogar incrivelmente bem (presumi que se devesse à minha irritação) mas ao ouvir um pensamento qualquer (um que me deixou bem confusa e desconcentrada da minha anterior irritação) fez-me bater com a raqueta na cabeça. Ponto alto da aula! Passei o resto do tempo a tentar focar-me no jogo em vez de me focar na porcaria dos pensamentos dos outros. Resultado da minha súbita boa coordenação: ganhámos três jogos de quatro (o qual perdemos deveu-se meramente à minha distracção). Claro que Mike foi o melhor durante todos os jogos, eu não era (nem sou, para que conste, nem mesmo a jogar com Ana ou com qualquer um dos meus primos) uma perita em badmington. Quando acabou ele deu-me uma palmada na mão, numa tentativa de celebrar a nossa vitória quando o treinador apitou para o final da aula.

Já não me lembrava da minha inicial irritação com Mike quando…

- Então…- Disse ele enquanto saíamos do campo.

- Então, o quê?

- Tu e o Cullen, hã? – Perguntou ele, com um tom de voz revoltado.

Olá, irritação! Ouvi o meu “monstrinho” pensar assim que os horríveis pensamentos de Mike me atingiram.

- Isso não te diz respeito, Mike. – Avisei-o, condenando, no meu íntimo, Jessica às profundezas ardentes de Hades.

- Não me agrada. – Murmurou, mesmo assim, por entre dentes. Por momentos, talvez um segundo ou pouco mais, desejei ser realmente vampira, não só bruxa, mas também vampira. Este humano idiota não tinha qualquer direito de pensar sequer em comandar a minha vida (que com toda a certeza iria durar milhões de vezes mais que a dele).

- Não tem nada que te agradar. – Disse eu com brusquidão, mas não era só a dizer, eu estava mesmo a rosnar.

Perguntei-me se seria assim que Edward se sentia sempre que ouvia a mente de Mike, talvez fosse. Com dez vezes mais força, acrescentou a minha consciência.

- Ele olha-te como… como se fosses algo de comer. – Continuou, ignorando-me.

Matá-lo ou não matá-lo… Eis a questão! A minha consciência pensou.

A ideia é distrair-me, não tentar-me mais! Ripostei para a minha vozinha interna, tentar recitar Shakespeare, então, estava totalmente fora de questão. Respirei fundo e olhei para Mike, através da mente dele vi a minha face: o olhar assassino que era tão característico das mulheres da minha família (aquele olhar até os vampiros calava, claro que os olhos azuis acinzentados de Emily tinham um impacto muito maior) no meu rosto, cortante, frio e furioso.

- Ouve-me, Michael. – Disse o nome todo dele para que ele percebesse que eu não ia tolerar que ele se metesse na minha vida. – Eu sou livre para andar com quem quiser, quando quiser e como quiser! E o modo como o Edward Cullen me olha só a mim e a ele diz respeito, tal como todas as coisas que nós os dois andamos a fazer! – Respondi ao seu pensamento de eu e Edward sermos mais íntimos do que mostrávamos. - Portanto, agradecia que te metesses na tua vida e me deixasses viver a minha em paz! Estamos entendidos?! Somos amigos e nada mais, Mike. Não queiras arruinar a minha simpatia e a amizade que sinto por ti.

Afastei-me dele, sentia a raiva a ferver-me nas veias, era impossível como um humano me conseguia tirar do sério. Fui para dentro do balneário e vesti-me depressa demais para um humano, mas parecia que ninguém reparava em mim, o que era bom, não queria ter que usar magia para apagar mentes, já estava demasiado stressada.

Quando sai do ginásio, ainda fervia de raiva, mas depressa encontrei Edward que se encontrava à minha espera, encostando-se de forma descontraída à parte lateral do ginásio, com o seu rosto deslumbrante agora sereno. Enquanto caminhava para junto dele, senti uma singular sensação de libertação, e a minha irritação para com Mike já estava totalmente esquecida.

- Olá! – Saudei, esboçando um enorme sorriso. Aposto que estava novamente com aquela expressão de apaixonada no rosto.

- Olá! – O sorriso com que ele me retribuiu era resplandecente. – Como correu a aula de Educação Física?

O meu rosto ficou um pouquinho mais desanimado. Mas porque é que eu tinha a impressão de que Edward não me estava a perguntar isto assim do nada?

- Correu bem. – Menti. Não era bem mentira, mas também não era bem verdade.

- Deveras?

Não estava convencido. Os seus olhos focaram um ponto ligeiramente distanciado, observando algo por cima do meu ombro e semicerrando-se. Foi quando ouvi… Eu odeio-o. Desejava que ele morresse. Espero que ele caia de um precipício com aquele carro brilhante. Porque é que ele não podia apenas deixá-la em paz? Ficar com os da sua espécie – os anormais. Olhei de relance para trás e vi as costas de Mike à medida que este se afastava. Senti um rugido formar-se no meu peito, e eu propriamente que tremia com a força que fazia para o conter.

Os olhos de Edward voltaram a fixar-se nos meus, ainda tensos.

- O Newton está a irritar-me.

- A mim também… E já está a ultrapassar a minha cota de paciência diária. – Respondi por entre dentes.

Os lábios de Edward abriram-se num sorriso único, parecia satisfeito, animado e divertido ao mesmo tempo. Olhei para ele, um pouco confusa. Então ele envolveu-me com um braço à volta da minha cintura (fazendo-me corar como é óbvio) e beijou-me a testa, exactamente aonde eu tinha batido com a raqueta. Então percebi.

- Estiveste a escutar a minha aula de Educação Física, não foi? – Perguntei com um suspiro.

Os seus olhos brilharam e então ele deu-me um sorriso como se pedisse desculpas. – Como está a tua cabeça? – Perguntou inocentemente. Rolei os olhos e tentei controlar-me para não me rir.

- És incrível. – Disse, tentando evitar rir-me, mas foi impossível.

Edward sorriu ainda mais. – Foste tu que referiste que eu nunca te vira na aula de Educação Física… Fiquei curioso. E, afinal, não és assim tão má.

- Estava irritada. – Respondi enquanto caminhava ainda com o braço dele envolto na minha cintura. – Os pensamentos do Mike estavam a deixar-me muito irritada.

Olhei de relance para Edward e vi um brilhozinho assassino nos seus olhos, percebi os seus pensamentos mesmo sem os ler. – Não, Edward.

Ele não disse nada. Caminhámos em silêncio até ao carro (ainda praticamente abraçados). Mas eu tive de parar a alguns passos de distância, um grande número de pessoas, só rapazes, cercavam-no. Então, apercebi-me de que não estavam a cercar o Volvo, estando, na verdade, reunidos em torno do descapotável vermelho de Rosalie, com inequívoca cobiça espelhada nos olhos. Nenhum deles ergueu o olhar para ver que nós tentávamos nos esgueirar por entre aquela multidão para chegar ao carro. Estávamos mesmo quase a conseguir quando…

- Hei! Tudo a dispersar! Já! – Uma voz que parecia um carrilhão de sinos dourados ao vento fez-se soar acima do burburinho, obviamente furiosa. – Desandem imediatamente.

Edward sorriu um pouco, o divertimento era óbvio no seu rosto, e eu virei-me para confirmar que aquela voz pertencia a Rosalie. Eu estava certa, tal como previra, Rosalie e os outros membros da família Cullen aproximavam-se, mas o olhar que se encontrava no rosto da loira, metia medo.

Espero bem que o meu carrinho não tenha nenhum risco feito por aqueles idiotas, senão… Que Deus tenha piedade deles, porque eu de certeza que não vou ter. Ouvi-a pensar, ri-me baixinho, mas isso não lhe passou despercebido, ela olhou-me e lançou-me um sorriso estranhamente cúmplice.

Vi todos os rapazes olharem para ela (não percebi se já se estavam a babar pelo carro ou foi só uma reacção ao verem a dona do carro) e depois para Emmett e Jasper que se encontravam atrás de Rose e Alice, parecendo dois guarda-costas. Tive que me esforçar imenso para não me rir e por isso agarrei-me a Edward. Todos dispersaram imediatamente e os Cullen aproximaram-se do carro rindo-se.

- Obrigado, Rose! Julguei que não íamos conseguir passar por aqueles loucos. – Riu-se Edward abrindo-me a porta do passageiro.

- Sempre um prazer! – Respondeu Rose dando a volta ao seu carro, claramente à procura de algum risco. Graças a Deus, ouvi-a pensar e ri-me outra vez.

- Rosalie… - Comecei.

- Podes tratar-me por Rose, Bella! – Ela respondeu-me levantando-se para me olhar.

- Rose, se descobrires algum risco… Eu posso tratar dele com magia ou, se quiseres, posso dar um pequeno “castigo” àqueles tontos. – Vi os olhos de Rose brilharem com a minha oferta.

- Oh! Iria ser muito giro! – Ouvi Alice dizer. Olhei para ela com um sorriso nos lábios, vendo na sua mente o que eu já optara por fazer. – A propósito de giro… Bella, tens a certeza de que não queres mesmo ir jantar connosco?

Sorri-lhe novamente. – Desculpa, Alice. Não posso mesmo.

Ela olhou para mim com um sorriso travesso no rosto. – Oh! Mas não te preocupes… Mais cedo ou mais tarde vais lá parar. – Ela sorriu ainda mais, deixando-me a pensar se devia sentir medo dela. – Ah! Edward!

- Sim, Alice? – A voz de Edward soava um pouco irritada, percebi pela mente dele que ele estava a ficar um pouco chateado com as interrupções de Alice.

- A Mãe quer que estejamos todos em casa em menos de três horas! – Ela olhou para Edward e depois dirigiu-me um olhar como se pedisse desculpa. – Temos visitas esta noite! Portanto, vai deixar a Bella em casa e depois aceleras para a nossa!

- Está bem! Está bem! – Resmungou Edward. – Mas quem é que vai lá a casa? – Ele parou por um bocado olhando para Alice, obviamente confuso e desconfiado. – Alice… Porque é que estás a recitar Hamlet?

- Vemo-nos mais logo, irmãozinho! – Exclamou Alice entrando no carro de Rose, sendo seguida pelos outros. – Ah! E, Bella? – Olhei para ela. – A Ana vai sugerir a camisola azul, usa a saia bege.

Tentei ver a que é que ela se referia na sua mente, mas tal como Edward, só ouvi frases citadas da obra de Shakespeare. Ergui uma sobrancelha olhando na direcção dela e depois virei-me para Edward que também olhava confuso para a sua irmã. Vi os irmãos de Edward arrancarem e entrei no carro, pouco depois, Edward estava ao meu lado, sentado no lugar do condutor.

- Aquilo foi estranho. – Comentei, quando Edward ligou o carro.

O som do seu riso encheu o carro e eu senti-me a derreter.

- Se achaste aquilo estranho, espera só até teres real contacto com ela. Vai ser ainda pior. – Ele respondeu-me, sorrindo. – Antes sequer de lhe perguntares alguma coisa, ela já vai saber e irá dar-te a resposta muito antes até de tu sequer saberes que lhe ias perguntar alguma coisa. Mas talvez para ti se torne mais fácil, como é para mim, por conseguirmos ler mentes, mas depois habituas-te, verás.

Sorri, parecia simples, fazer planos para conviver com a família dele. Lamentava que não pudesse realmente participar do serão com eles, desejava mesmo muito poder, mas tinha que ter em conta Charlie, afinal de contas, embora morar com ele fosse quase o mesmo que morar sozinha, ele continuava lá em casa… e precisava de mim.

- Lamento mesmo não poder ir jantar convosco. – Disse-lhe calmamente. – Gostava mesmo de poder ir.

- Oh, não te preocupes. – Ele assegurou-me. – Terás muitas mais oportunidades… e pelo que eu vi na mente da Alice e da Rosalie, elas vão fazer de tudo para que tu vás lá. E acredita em mim, quando a Rose e a Alice se juntam, Deus tenha piedade daqueles que se metem no seu caminho. Elas conseguem sempre o que querem… - Edward parou por momentos, repensando as suas palavras. – Bem, quase sempre.

Ele ficou com um ar pensativo e então parou o carro. Olhei para o lado de fora e vi a casa do meu pai. Suspirei, a viagem tinha sido curta de mais.

- Bem… Chegámos. – Edward virou-se para mim, novamente o ar triste no seu rosto, também a mim me doeu o facto de ter que me afastar dele. – Desculpa não poder ficar mais tempo… Não sei o que se passa em casa, mas se a Alice viu que a Esme nos quer em casa a todos, tenho que obedecer.

- É tua mãe… - Respondi, compreendia bem demais aquela situação. – Eu compreendo.

Ele sorriu-me, mas o seu sorriso não chegou aos seus olhos. Senti-me triste, mas também lhe sorri. Inclinei-me na sua direcção e beijei-lhe a face, mas desta vez ele surpreendeu-me ao colocar a sua mão no lado da minha cara e retribuir-me o beijo, colando os seus lábios frios à minha pele quente. Soube melhor do que eu podia esperar.

Afastámo-nos um do outro, mas ele não retirou a sua mão da minha face, acariciando-a calmamente.

- Vemo-nos amanhã. – Ele disse, mas eu podia notar no cunho de uma promessa na sua voz.

- Vemo-nos amanhã. – Confirmei, assentindo com a cabeça e saindo do carro.

Assim que cheguei à porta de casa, virei-me para ver Edward arrancar com o seu Volvo, suspirei tocando na minha face onde ele me tinha tocado com os lábios e então sorri. Virei-me para a minha mala para procurar as minhas chaves e abrir a porta, quando a abri, fiquei totalmente estupefacta.

Charlie encontrava-se no hall, bem vestido (de forma descontraída, mas mesmo assim, bem vestido) e arranjava o seu cabelo em frente ao espelho do hall.

- Pai? – Chamei-o, fazendo-o olhar para mim e ao ver-me sorriu-me. – O que estás a fazer?

- Bella, querida. Ainda bem que chegaste! – Charlie disse, saindo da frente do espelho e dirigindo-se para mim. – Vai-te arranjar, querida! Hoje vamos jantar fora à casa de uns amigos.

Olhei para ele com ar de parva, certamente. Não sabia o que havia de dizer assim muito de repente, por isso só me restava fazer o que ele me mandava. Subi as escadas rapidamente e então percebi o que Alice me dissera, ela referira-se à roupa que eu iria usar naquela noite.

 

 

(Edward POV)

 

Ouvir pensamento atrás de pensamento, antes era uma irritação; agora, eu não queria outra coisa que não fosse passar o dia a ouvi-los, passar o dia a ouvir os pensamentos de Bella parecia-me um plano maravilhoso. Mas claro que era um pouco complicado, não me podia permitir esquecer que ela era parte humana. Durante pouco tempo, sussurrou-me o meu lado egoísta. Sim, durante pouco tempo, mas ainda era e eu não podia esquecer desse facto.

Senti a corrente eléctrica, que se estava a desenvolver entre nós, a intensificar-se e a fazer-me desejar intensamente tocar no meu anjo. Eu praticamente que precisava do seu toque. Não! Foca-te noutra coisa. Ordenei-me e foi com este pensamento que fechei as minhas mãos em punhos apertados e cruzei os braços, tentando impedir-me de esticar a minha mão e tocar em Bella. Vi-a fazer o mesmo e tive vontade de sorrir, mas ao ouvir os pensamentos dela, acabou-se a minha diversão. Os mesmos desejos, os mesmos pensamentos, pelos vistos, partilhávamos muito mais do que teimosia e, agora, o dom de ouvir mentes.

Ela olhou-me naquele momento e sorriu-me, percebendo também o cómico da nossa postura idêntica. Suspirei quando me recordei do motivo que nos levava a ficarmos tão quietos e ela apercebeu-se do que tinha pensado, vi-a morder o lábio inferior (aquela sua expressão que ela fazia quando estava ou achava que estava metida em sarilhos) e sorri ao confirmar na sua mente que eu estava certo.

Também queria. Pensei, não consegui impedir que a minha mente fosse buscar as imagens que tinham aparecido na mente de Jessica, nas quais eu tinha substituído Jessica por Bella.

Tens uma imaginação muito activa. Ela pensou, fazendo-me sorrir.

Havia tanto que eu imaginava… Coisas que nós dois nunca poderíamos fazer, nunca. Não, Edward! Não penses assim, não podes pensar assim. Foca-te noutra coisa, outra coisa. Olhei para a frente da sala, procurando por uma distracção que me tirasse da mente a recordação dos lábios dela na minha pele e as fantasias impossíveis de concretizar.

Já estava habituado à sua dupla presença (tanto física como mental) quando voltei a encontrar o silêncio que caracterizava a sua mente. Isto surpreendeu-me, esperava poder ouvir os seus pensamentos durante o resto do dia, poder segui-la pela escola o resto do dia como eu conseguia fazer com todos os outros (fossem os humanos que nos rodeavam ou os meus irmãos). O meu olhar saltou da frente da sala para o rosto perfeito da rapariga ao meu lado, parecia cansada.

- Desculpa. – Ela cortou o silêncio entre nós, a sua voz estava tão baixa que para os ouvidos humanos seria quase comparada com o sussurro do vento nas folhas. - Estou a ficar cansada.

Era óbvio que não estava habituada a ter a sua mente desprotegida, seria necessário que repetisse aquilo que aconteceu hoje muitas mais vezes. E esta ideia agradava-me imenso!

Tirei a minha mão direita do seu estado rígido sob o meu braço e estiquei-a na direcção de Bella, agarrando na sua mão que estava mais próxima de mim e afaguei-a. Pelo canto do olho, vi-a morder o lábio, senti a curiosidade queimar-me mais do que o fogo na garganta. Em que estava ela pensar?

Antes que pudesse sequer perguntar-lhe em voz alta, vi na mente do professor que o nosso tempo já estava a acabar. Contive um suspiro e larguei a mão de Bella para voltar à minha posição rígida. Assim que fechei as minhas mãos, as luzes acenderam-se. A minha visão não se incomodava com a claridade, mas, pelos vistos, a de Bella deve ter ficado um pouco confusa, pois ouvi-a rosnar mesmo muito baixinho e tive que tentar conter o riso quando a vi esfregar os olhos com as duas mãos. Pouco depois (quando já estava habituada à claridade, supus), olhou-me com um olhar irritado (parecia que os seus profundos olhos faiscavam com aquela raiva de gatinha que se acha um tigre) e tive que me conter para não me rir mesmo na sua cara (não queria deixá-la furiosa comigo, isso não fazia parte dos planos).

Ela começou a esticar os braços e a abrir e fechar as mãos, como se ter estado assim tão quieta naqueles momentos lhe tivesse custado imenso. Claro que lhe havia de custar, ela estava habituada a poder mover-se à vontade, ficar estática durante tempo algum iria ter algum resultado nos seus músculos, o contrário de mim.

- Bem, foi interessante. – Murmurei, embora não me tivesse rido, o riso era evidente na minha voz.

- Hum! – Ela respondeu-se enquanto ainda esticava os seus braços.

Tinha que sorrir com os pensamentos de ela realmente parecer um gatinho a espreguiçar-se. Enternecedor e engraçado.

- Vamos? – Perguntei, levantando-me.

Ela fez uma careta (lembrei-me de que aula ela ia ter a seguir e percebi) e levantou-se cuidadosamente, estudando o seu equilíbrio.

Eu podia oferecer-lhe a minha mão. Ou podia colocar a minha mão sob o seu cotovelo – apenas levemente – e equilibrá-la. Seria compreensível para ela (e para mim), mas não para os humanos que nos rodeavam (tinha que me recordar que apenas um pequeno grupo deles julgava que eu e Bella andávamos).

Saímos da sala de aula e começámos a dirigir-nos para a aula dela. No caminho, passámos por Angela, parada no passeio, discutindo um trabalho com um rapaz da sua aula de Trigonometria. Relembrei-me da minha “missão” para agradecer a Angela a ajuda da noite passada e ouvi os seus pensamentos, esperando mais desilusão, apenas para ser surpreendido pelo seu tom desejoso.

Ah, então havia algo que Angela queria. Infelizmente, não era algo que pudesse ser facilmente entregue.

Senti-me estranhamente confortado por um momento, ouvindo os pensamentos sem esperança de Angela. Um sentimento de camaradagem de que Angela nunca chegaria a saber passou por mim, e eu estava, naquele segundo, aliado à bondosa rapariga humana.

Era invulgarmente confortante saber que eu não era o único a viver uma trágica história de amor. Os corações partidos estavam por todo o lado.

No segundo seguinte, eu estava abruptamente e excessivamente irritado. Porque a história de Angela não tinha que ser trágica. Ela era humana e ele era humano e a diferença que parecia tão incomensurável na sua cabeça era ridícula, verdadeiramente ridícula comparada com a minha própria situação. Não havia razão para o seu coração partido. Que tristeza desperdiçada, quando não havia razão válida para ela não estar com aquele que ela queria. Porque não devia ela ter o que queria? Porque não devia esta história ter um final feliz?

Eu queria dar-lhe um presente… Bem, eu dar-lhe-ia o que ela queria. Sabendo o que eu sabia da natureza humana, provavelmente até não seria muito difícil. Eu naveguei pela consciência do rapaz ao lado dela, o objecto dos seus afectos, e ele não parecia involuntário, ele estava apenas preso pela mesma dificuldade que ela. Sem esperança e resignado, do modo como ela estava.

Tudo o que eu teria que fazer era plantar a sugestão…

O plano formou-se facilmente, o guião escreveu-se sem esforço da minha parte. Eu precisaria da ajuda de Emmett – fazê-lo participar nisto era a única real dificuldade. A natureza humana era tão mais fácil de manipular do que a natureza vampírica.

Eu estava satisfeito com a minha solução, com o meu presente para Angela. Era uma simpática distracção para os meus próprios problemas. Será que os meus seriam tão facilmente resolvidos?

O meu humor tinha melhorado em pouco tempo. Talvez eu devesse ser mais optimista. Talvez havia alguma solução para nós que me estava a escapar, do modo como a óbvia solução para Angela lhe era invisível. Pouco provável… Mas porque desperdiçar tempo a ficar sem esperança? Eu não tinha tempo para desperdiçar quando se referia a Bella. Cada segundo importava.

A minha onda de bom humor acabou no momento em que me apercebi de que tínhamos chegado ao edifício de Educação Física. Eu tinha razão cada segundo com Bella importava, mas, no momento, ela teria que ficar longe de mim.

Ela tinha estado muito calada no caminho para o ginásio. A ruga estava em evidência entre os seus olhos, um sinal de que ela estava perdida em pensamentos. Eu, também, estava a pensar profundamente.

Um toque na sua pele não a magoaria, o meu lado egoísta comentou.

Eu podia facilmente moderar a pressão da minha mão. Não era exactamente difícil, enquanto eu estava firmemente controlado. O meu sentido de tacto estava melhor desenvolvido que o de um humano; eu podia agarrar uma dúzia de globos de cristal sem partir nenhum; eu podia afagar uma bolha de sabão sem a rebentar. Enquanto eu estivesse firmemente controlado…

Bella era como uma bolha de sabão – frágil e efémera. Temporariamente.

Durante quanto tempo ser-me-ia possível justificar a minha presença na sua vida? Quanto tempo tinha eu? Teria eu outra hipótese como esta, como este momento, como este segundo? Ela não estaria sempre ao alcance do meu braço…

Bella virou-se para mim à porta do ginásio, e os seus olhos arregalaram-se com a expressão na minha cara. Ela não falou. Olhei-me no reflexo dos seus olhos e vi o conflito a lutar nos meus. Vi a minha face mudar enquanto o meu melhor lado perdeu a discussão.

A minha mão ergueu-se sem uma ordem consciente para o fazer. Tão gentilmente como se ela fosse feita do mais fino vidro, como se ela fosse frágil como uma bolha, os meus dedos afagaram a pele quente que cobria a sua bochecha. Aqueceu sobre o meu toque, e eu podia sentir o pulsar do sangue acelerar sob a sua pele transparente. Ela inclinou o seu rosto na direcção da minha mão, os seus olhos nunca deixando os meus (vi neles uma batalha épica de desejos, mas não consegui compreender quais desejos combatiam e qual havia vencido).

Ela elevou a sua mão até à minha face também e tocou-me no rosto, do mesmo modo como eu a tocava. Os seus dedos suaves a tocarem-me na minha pele despertavam em mim sentimentos que nem eu sabia que tinha capacidade de sentir, inclinei a cabeça na direcção do seu toque, queria sentir mais da sua suavidade. Fechei os olhos, apreciando cada choque da corrente eléctrica que o seu toque lançava pelo meu corpo e a minha mente divagou, uma centena de diferentes possibilidades correram pela minha mente num instante – uma centena de diferentes maneiras de tocá-la. A ponta do meu dedo a desenhar a forma dos seus lábios. A minha palma em concha sob o seu queixo. Tirando o gancho do seu cabelo e deixá-lo espalhar-se pela minha mão. Os meus braços a envolverem a sua cintura, abraçando-a contra a largura do meu corpo.

Chega.

Suspirei e tive que me contentar com o facto de poder tocar-lhe (por mais pequeno que o toque fosse, eu podia tocar-lhe e isso devia bastar-me), mas senti-me agoniado quando me recordei que deveria deixá-la (ela tinha aula e eu também).

Abri os olhos e encontrei os dela a fitar-me cheios de tristeza. Pelos vistos, ela pensava no mesmo que eu e isso também a magoava. O meu lado egoísta ficou satisfeito por ver que ela também não se queria ir embora, ele teria arranjado mil e um motivos para nos fazer aos dois baldarmo-nos às aulas se eu não me tivesse virado para me ir embora (ia contra a minha vontade, mas tinha que o fazer).

Vemo-nos mais logo! O pensamento de Bella reverberou na minha mente, tão nítido e claro como se fosse meu.

Não pude evitar que o meu humor melhorasse um pouco ao confirmar que ela queria estar comigo. Não parei de andar, para não ter motivos para voltar para trás e ficar com ela, mas virei-me na sua direcção (passando a andar de costas ou “a ensinar o caminho ao Diabo” como aqueles ridículos humanos geralmente pensavam) e levei as mãos aos lábios para lhe mandar um beijo pelo ar. Podes crer, pensei, vendo-a levantar a mão como se agarrasse no beijo que lhe mandei e o colocasse na bochecha, sorrindo-me. Tive que lhe sorrir em resposta, sentindo o meu corpo ficar muito mais leve e o meu humor ficar muito melhor.

Deixei a minha mente a vaguear atrás de mim para vigiá-la enquanto eu me afastava contrafeito, quase fugindo da tentação. Apanhei os pensamentos de Mike Newton – eles eram os mais altos – enquanto ele observava Bella passar por ele alheia a tudo, os seus olhos sem qualquer foco, as suas bochechas vermelhas e um sorriso (o mais bonito de todos os sorrisos que eu já tivera hipótese de ver), segundo ele, tonto (ou como ele também pensou, apaixonado). Vi na mente dele, a comparação entre as expressões dos adolescentes apaixonados dos filmes e a expressão de Bella, fiquei curioso e então dei alguma atenção aos pensamentos que me rodeavam, aqueles que reparavam faziam uma comparação idêntica à que Mike Newton fizera à expressão de Bella (e eu tinha que admitir que nem me importava com o que eles pensavam, eu sentia-me um autêntico adolescente apaixonado).

Voltei a prestar atenção à mente do miúdo Newton, ele olhava irritado para a rapariga e subitamente o meu nome estava misturado com maldições na sua cabeça; não pude evitar sorrir ligeiramente em resposta.

A minha mão estava em formigueiro, ainda com a sensação de tê-la tocado, e estava quente, tal como a minha face ficara ligeiramente mais quente no sítio onde ela tinha tocado.

Sentia-me bem, mas sabia que estava a cometer erros. Erro atrás de erro. Aproximar-me dela representava um perigo constante para ambos. Não! Gritou-me a minha mente. Só para ti e para a tua sanidade mental. Senti os cantos dos meus lábios tremerem para conterem um sorriso. De facto, ela já não corria assim grande risco, a sede pelo seu sangue fora curada, ela própria tratou disso, mas eu continuava a sentir aquela outra fome, aquela inexplicável fome que me fazia querer ficar cada vez mais próximo dela.

Da próxima vez que eu estivesse perto dela, seria eu capaz de parar-me de tocar-lhe novamente? E se lhe tocasse uma vez, seria eu capaz de pará-lo?

Sem mais erros. Era isso. Aprecia a memória, Edward, disse-me com uma careta, e guarda as tuas mãos para ti. Isso, ou eu teria que me forçar a partir… de algum modo. Porque eu não podia permitir-me a estar perto dela se eu insistia em cometer erros.

Eu realmente parecia um adolescente da minha época em que não era permitido tocar na rapariga que amávamos, pelo menos, não do modo como a minha consciência queria.

Inspirei fundo e tentei estabilizar os meus pensamentos.

Emmett apanhou-me fora do edifício de Inglês.

- Hey, Edward. – Ele parece melhor. Estranho, mas melhor. Feliz. Não… Não é isso. Talvez…

- Hey, Em. – Eu parecia feliz? Supus, descontando o caos dentro da minha cabeça, que me sentia assim.

Aquilo ao almoço foi fantástico, Não julguei que ela fosse logo fazer magia assim que nos conhecesse. A Rose pode não mostrar, mas eu sei que ela queria já ter conhecido a Bella há algum tempo.

A reacção de Rosalie para com Bella ainda me era estranha e… a reacção de Emmett era tão infantil. Suspirei. – Desculpa não ter sido eu a contar-vos. Mas… A Alice deve vos ter dito que só fiquei a saber ontem à noite, juro que tinha tenções de contar-vos assim que pudesse. Estão zangados comigo?

- Nah. A Rose ficou um pouco aborrecida, mas acho que ela só queria mesmo era ficar a saber da verdade. – Também com a Alice… Era de se esperar que a Rose ou qualquer um de nós ficasse a saber antes de tu nos dizeres ou coisa assim.

Emmett tinha razão, afinal Alice, embora conseguisse guardar segredos, tinha alguma dificuldade em ficar calada quando as notícias eram grandes.

Enquanto avançávamos para a sala, vi Ben Cheney entrando na sala de Espanhol à nossa frente. Ah – aqui estava a minha hipótese de dar a Angela Weber o seu presente.

Parei de andar e apanhei o braço de Emmett. – Espera um segundo.

O que foi?

- Eu sei que não mereço, mas podias fazer-me um favor?

- O que é? – Ele perguntou, curioso.

Sob a minha respiração – e a uma velocidade que tornaria as palavras incompreensíveis para um humano não importa a que volume fossem ditas – expliquei-lhe o que eu queria.

Ele olhou para mim sem expressão quando acabei, os seus pensamentos tão incompreensíveis como a sua face.

- Então? – Perguntei. – Ajudas-me?

Levou-lhe um minuto a responder. – Mas, porquê?

- Vá lá, Emmett. Porque não?

Quem és tu e o que fizeste ao meu irmão?

- Não és tu que se queixa de que a escola é sempre a mesma coisa? Isto é algo um pouco diferente, não é? Considera-o uma experiência – uma experiência na natureza humana.

Ele olhou para mim por outro momento antes de ceder. – Bem, isto é diferente, admito… Ok, está bem. – Emmett respondeu e depois estremeceu. – Eu vou ajudar-te.

Sorri-lhe, sentindo-me mais entusiasmado sobre o meu plano agora que ele estava a bordo. Rosalie era uma chata, mas eu dever-lhe-ia sempre por ter escolhido Emmett; ninguém tinha um irmão melhor que o meu.

Emmett não precisou de praticar. Sussurrei-lhe as suas deixas uma vez sob a minha respiração enquanto andámos para a sala de aula.

Bem já estava no seu lugar atrás do meu, arrumando o seu trabalho para entregar. Emmett e eu ambos nos sentamos e fizemos o mesmo. A sala de aula ainda não estava em silêncio; o murmúrio das conversas sussurradas continuaria até Mrs. Goff chamar à atenção. Ela não tinha pressa, arrumando os questionários da aula passada.

- Então, - Emmett disse, a sua voz mais alta do que o necessário – se ele estivesse realmente a falar só para mim. – Já convidaste a Angela Weber para sair?

O som de papéis a serem mexidos atrás de mim fez uma abrupta paragem enquanto Ben congelou, a sua atenção subitamente concentrada na nossa conversa.

Angela? Estavam a falar sobre a Angela?

Boa. Eu tinha o seu interesse.

- Não. – Disse, abanando a minha cabeça lentamente para aparentar estar com remorsos.

- Porque não? – Emmett improvisou. – És medricas?

Fiz-lhe uma careta. – Não. Ouvi dizer que ela estava interessada noutra pessoa.

O Edward Cullen ia convidar a Angela para sair? Mas… Não. Eu não gosto disso. Eu não o quero perto dela. Ele não… é certo para ela. Não é… seguro.

Eu não tinha antecipado a coragem, o instinto protector. Eu tinha estado a trabalhar para os ciúmes. Mas qualquer coisa servia.

- Vais deixar que isso te impeça? – Emmett perguntou (?), improvisando outra vez. – Não estás à altura da competição?

Olhei para ele furioso, mas aproveitei o que ele me deu. – Olha, eu julgo que ela gosta realmente deste Ben. Não vou tentar convence-la do oposto. Há outras raparigas.

A reacção na cadeira atrás de mim foi eléctrica.

- Quem? – Emmett perguntou, de volta ao guião.

- A minha parceira de laboratório disse que era algum rapaz chamado Cheney. Não tenho a certeza de saber quem ele é.

Contive o meu sorriso. Apenas os estranhos Cullens se podiam safar pretendendo não conhecer todos os alunos desta pequena escola.

A cabeça de Ben estava às voltas com o choque. Eu? Acima do Edward Cullen? Mas porque gostaria ela de mim?

- Edward. – Emmett murmurou num tom mais baixo, rolando os seus olhos na direcção do rapaz. – Ele está mesmo atrás de ti. – Ele disse silenciosamente mas tão obviamente que o humano podia facilmente ler as palavras.

- Ah. – Murmurei de volta.

Virei-me no meu lugar e olhei uma vez para o rapaz atrás de mim. Por um segundo, os olhos negros atrás dos óculos estavam assustados, mas então ele estremeceu e endireitou os seus estreitos ombros, afrontado pela minha claramente desempatada avaliação. O seu queixo elevou-se e um rubor zangado escureceu a sua pele bronzeada.

- Huh. – Disse arrogantemente enquanto me virava de novo para Emmett.

Ele pensa que é melhor do que eu. Mas a Angela não pensa assim. Eu vou mostrar-lhe…

Perfeito.

- Não tinhas dito que ela vai com o Yorkie ao baile? – Emmett perguntou, fazendo uma careta quando disse o nome do rapaz que tanto ajudava para a sua estranheza.

- Essa foi uma decisão de grupo aparentemente. – Eu queria ter a certeza de que Ben estava esclarecido nisto. – A Angela é tímida. Se a B- bem, se um gajo não tem coragem de a convidar para sair, ela nunca o há-de convidar.

- Tu gostas de raparigas tímidas. – Emmett disse, de volta ao improviso. Raparigas quietas. Raparigas como… hum, não sei. Talvez Bella Swan?

Sorri-lhe. – Exactamente. – Então voltei à actuação. – Talvez a Angela fique cansada de esperar. Talvez a convide para o baile de finalistas.

Não, não vais, Ben, endireitando-se na sua cadeira. Então e se ela é muito mais alta que eu? Se ela não se importa, então eu também não. Ela é a mais simpática, mais esperta, mais bonita rapariga desta escola… e ela quer-me.

Eu gostava deste Ben. Ele parecia inteligente e bem-intencionado. Talvez até merecedor de uma rapariga como Angela.

Eu fiz um sinal positivo a Emmett erguendo os meus polegares debaixo da mesa quando Mrs. Goff se levantou e cumprimentou a turma.

Ok, vou admitir – isto até foi divertido, Emmett pensou.

Sorri para mim mesmo, satisfeito que eu tinha sido capaz de moldar um final feliz para uma história de amor. Estava certo de que Ben seguiria em frente, e Angela receberia o meu presente anónimo. A minha divida estava paga.

Como os humanos eram tolos, por deixar seis centímetros de altura de diferença confundir a sua felicidade.

O meu sucesso pôs-me de bom humor. Sorri outra vez enquanto me ajeitava na minha cadeira e me preparava para ser entretido. Depois de tudo, como a Bella tinha referido na aula de Biologia, eu nunca a tinha visto em acção na sua aula de Educação Física antes.

Os pensamentos de Mike eram os mais fáceis de encontrar no tagarelar de vozes que se expandia pelo ginásio. A sua mente tinha se tornado demasiado familiar nas últimas semanas. Com um suspiro, resignei-me a ouvir por ele. Pelo menos eu podia estar seguro de que ele iria prestar atenção a Bella.

Eu cheguei a tempo de o ouvir oferecer-se para ser o seu parceiro de badmington; assim que ele fez a sugestão, outras parcerias correram pela mente dele. O meu sorriso desapareceu, os meus dentes cerraram-se, e eu tinha que me recordar de que assassinar Mike Newton não era uma opção permitida.

- Obrigada, Mike. Sabes que não tens de fazer isto. – Consegui ouvir na voz dela algum sentimento que me pareceu irritação e inquietação.

Lamentei imenso que Bella tivesse que estar sozinha (leia-se: sem nenhum Cullen ou alguém de minha confiança junto dela) junto de Mike Newton.

- Não te preocupes. Eu não te atrapalho.

Sorriram um para o outro, e flashes de inúmeros acidentes – sempre de algum modo ligados a Bella – passaram pela cabeça de Mike. Mas eu pude ver nos olhos de Bella o brilhozinho de ameaça e tive que me impedir de sorrir imaginando que coisas lhe podiam estar a passar pela cabeça naquele momento.

Para meu espanto, o rosto de Bella estava com um ar irritado (ou pelo menos assim me parecia) quando Mike olhou para ela e surpreendeu-me (e ao Newton também) quando demonstrou uma habilidade nata para o jogo, ela movia-se de um lado para o outro, acertando na pena sempre. Ao vê-la assim, nem sequer conseguia dizer que ela era a rapariga desastrada que andava sempre a tropeçar. Pensei que ela se estivesse a concentrar demasiado no jogo para tentar ignorar os pensamentos à sua volta, mas era apenas uma suposição que eu poderia confirmar mais tarde com ela.

Mas sendo a Bella de que estamos a falar, era óbvio que tinha que acontecer alguma coisa. Jennifer Ford serviu a pena directamente para Bella com uma reviravolta convencida nos seus pensamentos. Mike viu Bella atirar-se na sua direcção; num momento, ela estava a jogar bem, no momento a seguir, o seu rosto perdeu o foco e ela inclinou ligeiramente a cabeça para o lado (ela tinha sofrido um distracção, certamente devido a algum pensamento), Mike também se apercebeu ligeiramente da distracção de Bella e correu para tentar salvar aquele serviço.

Bella pareceu recuperar da distracção e moveu a sua raqueta para atingir na pena, mas falhou e acabou por bater com a raqueta na sua cabeça e… no braço de Mike.

Au. Au. Ungh. Vai deixar marca.

Bella estava agarrada à sua testa. Foi difícil de permanecer no meu lugar onde eu pertencia, sabendo que ela estava magoada. Mas que podia eu fazer, se estivesse lá? E não parecia ser sério… hesitei, observando. Se ela pretendia continuar a jogar, eu teria de fazer uma desculpa para a tirar daquela aula.

O treinador riu-se. – Desculpa, Newton. Ela estava a jogar tão bem. Aquela miúda tem a pior sorte que eu alguma vez vi. Não devia infligi-la nos outros…

Ele virou as suas costas deliberadamente e moveu-se para observar outro jogo. Bella voltou-se para Mike, segurando a sua raqueta de modo confiante (mas parecia também ter um quê de envergonhada na sua postura).

Au, Mike pensou outra vez, massajando o seu braço. Virou-se para Bella. – Estás bem?

- Sim, e tu? – Ela perguntou amigavelmente, corando.

- Pensou que sobrevivo.Não quero parecer um mariquinhas. Mas, meu, isto dói!

Mike girou o seu braço num circulo, estremecendo.

- Eu vou tentar prestar mais atenção. – Bella disse, embaraço e uma careta na sua cara em vez de dor. Talvez o Mike tivesse ficado com o pior do incidente. Eu certamente esperava que esse fosse o caso. Pelo menos ela já estava novamente pronta para jogar. Ela segurava a sua raqueta tão cuidadosamente a postos nas suas mãos, os seus olhos ligeiramente arregalados com remorso… tive que disfarçar a minha gargalhada como tosse.

O que é tão engraçado? Emmett queria saber.

- Depois digo-te. – Murmurei.

Bella voltou a jogar, novamente com grande destreza. Eles venceram o jogo.

Fiz o questionário num instante ao fim da hora, e Mrs. Goff deixou-me sair mais cedo. Eu estava a ouvir intencionalmente Mike enquanto andava através do campus. Ele decidiu confrontar Bella sobre mim.

A Jessica jura que eles andam. Porquê? Porque é que ele tinha que a escolher?

Ele não reconhecia o fenómeno real – que ela me tinha escolhido.

- Então…

- Então, o quê? – Ela perguntou.

- Tu e o Cullen, hã?Tu e o anormal. Acho, se um gajo rico é assim tão importante para ti…

Cerrei os meus dentes perante a sua suposição tão degradante.

- Isso não te diz respeito, Mike. – Acho que não preciso de dizer o quanto aquilo me agradou.

Defensiva. Então é verdade. Merda. - Não me agrada.

- Não tem nada que te agradar. – Ela atirou.

Porque é que ela não consegue ver a aberração de circo que ele é? Como eles todos são. O modo como ele olha para ela. Dá-me arrepios de ver. - Ele olha-te como… como se fosses algo de comer.

Estremeci, esperando a sua resposta. Mike analisou o seu rosto, reparou que os seus olhos estavam zangados (com vontade de matar para ser mais preciso) mas não reparou na raiva patente nos seus olhos, o auto-controlo que ela estava a reunir para não lhe lançar um feitiço.

- Ouve-me, Michael. – A sua voz estava repleta de raiva e os seus olhos faiscavam com o mesmo sentimento, presumi. - Eu sou livre para andar com quem quiser, quando quiser e como quiser! E o modo como o Edward Cullen me olha só a mim e a ele diz respeito, tal como todas as coisas que nós os dois andamos a fazer! – Ela respondeu a um pensamento de Mike e foi óbvio que aquele pequeno pensamento a deixou ainda mais irritada. - Portanto, agradecia que te metesses na tua vida e me deixasses viver a minha em paz! Estamos entendidos?! Somos amigos e nada mais, Mike. Não queiras arruinar a minha simpatia e a amizade que sinto por ti.

O Newton não disse nada, apenas continuou a olhar para ela enquanto ela se afastava, o modo como ela andava reflectia perfeitamente a sua irritação.

Encostei-me contra a parede do ginásio e tentei compor-me.

Eu não tinha esperado aquela reacção dela, esperava que ela virasse costas e o ignorasse, mas não aquela reacção. Era… inesperada e satisfatória a sua reacção e ainda mais a sua resposta. Inesperada porque… bem, em primeiro, a afirmação do Newton dava a entender o que Forks parecia estar mais ciente da nossa natureza do que nós julgávamos; em segundo, ela sabia da verdade e devia perceber o risco que corríamos, e em terceiro, era inesperada a sua reacção porque ela sabia que Mike estava certo e no entanto, ela defendia-me! Melhor, ela defendia-nos! E satisfatória porque ela estava a demonstrar que não se importava com o que os outros diziam sobre nós os dois, ela estava a afirmar que preferia a mim acima dos outros todos.

Só me restava uma pergunta: deveria eu gostar da sua reacção?

O meu lado racional (o lado que sabia que ainda tínhamos que fingir em frente dos humanos) dizia que não, porque acima de tudo, embora fosse óptimo aquela demonstração de afecto, ela ainda era demasiado humana e sabia que a minha natureza era perigosa, não importava há quanto tempo ela estivesse rodeada pela minha espécie ou que a natureza dela também fosse perigosa. No entanto, o meu lado emocional (por esse lado dizer: a minha consciência e o meu lado egoísta, que pareciam juntar-se à minha vontade) dizia que sim, não só porque isso significava (melhor dizer, afirmava) que ela nutria algo muito forte por mim (e eu atrevia-me a pensar que era amor) mas também porque eu desejava que assim fosse, desejava que ela fosse capaz de negar a tudo e a todos por mim, tal como, eu era capaz de o fazer por ela.

Sentimentos contraditórios vagueavam por mim, lutando uns contra os outros. Os quatro mais fortes: a felicidade e satisfação pela sua reacção e o medo e a confusão do que poderia realmente significar aquela reacção (no entanto, eu tinha para mim que Bella dar-me-ia razão desta vez). A resposta para a minha pergunta foi simples de encontrar com o resultado final da batalha de sentimentos. Não importava a sua reacção, eu estava apenas feliz que ela tivesse respondido daquele modo a Mike Newton.

Quando ela saiu pelas portas do ginásio, os seus ombros estavam rígidos e o seu lábio inferior estava entre os seus dentes novamente – um sinal de ansiedade. Mas assim que os seus olhos encontraram os meus, os seus ombros rígidos relaxaram e um grande sorriso surgiu no seu rosto. Era uma invulgar expressão pacífica. Ela andou directamente para o meu lado sem hesitar, apenas parando quando ela estava tão perto que o seu calor corporal se abateu sobre mim como uma onda.

- Olá! – Ela sussurrou.

A felicidade que já sentia anteriormente aumento drasticamente, fazendo-me quase levitar.

- Olá! – Disse, e então – porque com o meu humor subitamente tão leve eu não podia resistir a provocá-la – acrescentei. - Como correu a aula de Educação Física?

O seu sorriso esmoreceu. - Correu bem.

Embora aquilo não fosse mentira, e eu sabia, não era inteiramente verdade. Ela era uma má mentirosa.

- Deveras? – Perguntei, prestes a pressionar a questão – eu ainda estava preocupado com a sua cabeça; estaria em com dores? – mas então os pensamentos de Mike Newton estava tão altos que quebraram a minha concentração.

Eu odeio-o. Desejava que ele morresse. Espero que ele caia de um precipício com aquele carro brilhante. Porque é que ele não podia apenas deixá-la em paz? Ficar com os da sua espécie – os anormais.

Os meus olhos estavam focados em Mike, mas através da minha visão periférica vi que ela seguiu o meu olhar e o seu focou-se também nas costas do Newton.

Os meus olhos voltaram a focar-se na sua face, vi-a tremer enquanto ouvia um rosnar baixo que julguei ser proveniente dela (isto surpreendeu-me, não esperava que ela também tivesse instintos animalescos como nós), e então ela voltou a olhar para mim.

- O Newton está a irritar-me. – Admiti. Não deveria ser-lhe difícil acreditar naquilo que eu dizia quando também ela ouvia aquilo que eu ouvia.

- A mim também… E já está a ultrapassar a minha cota de paciência diária. – Ela disse por entre dentes, ela estava furiosa e disto eu estava certo.

Era novamente aquela fúria de gatinho que crê ser um tigre. Não pude evitar sorrir, estava extremamente satisfeito por ela começar a sentir desprezo em relação ao Newton (uma estúpida reacção ao ciúme que me queimava quando não a tinha por perto de mim) e aquela fúria enternecedora dela deixava-me divertido. Ela lançou-me um olhar confuso, não consegui evitar sorrir ainda mais. Então o meu corpo estava em piloto automático, os gestos surgiram tão naturais como se eu fosse igual a ela. O meu braço envolveu a sua cintura, aproximando-a de mim de forma possessiva mas ao mesmo tempo carinhosa (muito carinhosa), e os meus lábios dirigiram-se à sua testa onde eu julgava ela estar magoada. Neste momento, senti o calor emanar do seu rosto e julguei que ela estivesse corada.

- Estiveste a escutar a minha aula de Educação Física, não foi? – Ela perguntou e suspirou em seguida, parecendo derrotada.

Voltei a sorrir-lhe, tencionando que o meu sorriso parecesse apologético. – Como está a tua cabeça?

Vi-a rolar os olhos e os cantos dos seus lábios tremeram como se ela estivesse a controlar-se para não se rir.

- És incrível. – Ela reclamou, mas a sua voz estava tocada pelo riso que ela tentava conter.

Eu só podia sorrir ainda mais, adorava ser a causa da animação dela e enquanto o fosse, eu estaria ainda mais feliz.

– Foste tu que referiste que eu nunca te vira na aula de Educação Física… Fiquei curioso. – E porque não elogiá-la? - E, afinal, não és assim tão má.

Começámos a caminhar em direcção ao Volvo, comigo nunca a largando.

- Estava irritada. – Ela disse, como se comentasse um facto óbvio. - Os pensamentos do Mike estavam a deixar-me muito irritada.

E eu seria capaz de o fazer pagar por isso. Tinha alguns planos que poderiam magoá-lo e que de certeza lhe ensinariam algumas boas maneiras para com uma senhora.

– Não, Edward. – Ouvir Bella dizer, por momentos esqueci-me que ela lia mentes (também).

Eu deveria ter antecipado a multidão que se iria reunir à volta do carro de Rosalie quando estacionei o Volvo. Eu bem que deveria saber que aquele carro tão ostentoso iria chamar demasiado à atenção, eu pensava nestas coisas quando senti Bella hesitar ao meu lado quando alcançámos o lugar em que havíamos estacionado o carro. Era apenas uma multidão de rapazes… e todos eles cercavam o BMW de Rosalie com olhos cobiçosos.

Tentei ignorar os pensamentos dos rapazes que cercavam o carro enquanto tentava puxar Bella pela multidão sem utilizar a minha força sobre-humana. Tentei fixar-me nos pensamentos silenciosos de Bella enquanto sentia o seu calor contra o meu corpo. Tentava alcançar o meu carro quando uma voz familiar (tanto física como mental) se fez ouvir acima do murmúrio de admiração dos adolescentes que babavam pelo descapotável vermelho.

- Hei! Tudo a dispersar! Já! Desandem imediatamente. – Nunca pensei vir a divertir-me tanto no Liceu como hoje. Primeiro, a ajuda de Emmett a criar um final feliz para uma história de amor, e agora, Rosalie a expulsar, “ao pontapé”, uma cambada cobiçosa de adolescentes. Não consegui impedir que um sorriso divertido me surgisse nos lábios quando ouvi os pensamentos da minha irmã. - Espero bem que o meu carrinho não tenha nenhum risco feito por aqueles idiotas, senão… Que Deus tenha piedade deles, porque eu de certeza que não vou ter.

Quando Rose tinha surgido, Bella tinha olhado para cima e senti-a estremecer levemente quando viu o rosto furioso de Rose, julguei que fosse de surpresa, e depois, quando ambos ouvimos o pensamento de Rosalie, ela riu-se baixo o suficiente para o som passar despercebido aos ouvidos humanos, mas não aos nossos. Vi Rosalie sorrir-lhe cheia de cumplicidade e senti-me bem, tinha ouvido anteriormente na mente de Rose a inveja e o ciúme contra Bella mas agora a aceitação e todas as outras coisas que fluíam na mente da vampira loira, faziam-me achar que eu estava a receber muito mais do que pedira.

Quando a voz de Rosalie chegou aos ouvidos dos humanos que rodeavam o seu carro, vi o olhar maravilhado que eles lhe dirigiram e senti-me ligeiramente enojado com a imaginação de alguns deles. Era uma coisa boa que quem ouvia mentes era eu e Bella e não Emmett. Bella reparou no ar estúpido de alguns deles e depois ao lançar um olhar aos meus irmãos posicionados atrás das esposas como dois “armários”, o seu corpo tremeu com o riso que tentou conter e agarrou-se a mim como se tentasse controlar-se. Claro que não tardou a que os humanos obedecessem a Rosalie afastando-se rapidamente do veículo.

- Obrigado, Rose! – Agradeci-lhe, chegando-me à porta do passageiro e abrindo-a para que Bella entrasse. - Julguei que não íamos conseguir passar por aqueles loucos. – E quando me referia a eles como loucos, não era apenas no sentido figurado.

- Sempre um prazer! – Ela respondeu-me distraidamente enquanto circundava o seu carro, procurando qualquer risco na pintura com a sua óptima visão. Novamente não consegui conter um sorriso com os pensamentos da minha irmã, Graças a Deus. Mas para além dos pensamentos aliviados de Rose, o som que me fez querer sorrir ainda mais foi o do riso de Bella.

- Rosalie… - Bella chamou a minha irmã, mas a sua voz estava receosa.

Aquele chamado despertou algo na mente de Rose, parecia alguma ansiedade, não consegui perceber, mas tenha sido o que quer que fosse, fez Rosalie tirar a sua atenção do carro para dirigi-la a Bella.

- Podes tratar-me por Rose, Bella! – Outra entrada de Rosalie que me surpreendeu.

- Rose, se descobrires algum risco… Eu posso tratar dele com magia ou, se quiseres, posso dar um pequeno “castigo” àqueles tontos. – O meu amor ofereceu despertando o lado vingativo de Rosalie, isso era óbvio até para quem não lia mentes, os seus olhos obtiveram um brilho que dizia tudo.

- Oh! Iria ser muito giro! – Alice comentou, estando parte da sua mente perdida na visão do que Bella iria optar por fazer como “castigo” de quem poderia ter riscado o carro de Rosalie. - A propósito de giro… Bella, tens a certeza de que não queres mesmo ir jantar connosco? – Era óbvio que ela não iria desistir do que ela queria.

O sorriso que passou pelo rosto de Bella era cheio de pesar quando ela teve que negar novamente a oferta de Alice.

– Desculpa, Alice. Não posso mesmo.

No rosto de Alice, o sorriso que surgiu até a mim me deixou temeroso do que ela poderia estar a planear, mas os seus pensamentos estavam confusos demais para perceber alguma coisa. – Oh! Mas não te preocupes… Mais cedo ou mais tarde vais lá parar. – Como se fosse possível, o sorriso no rosto de Alice ainda se abriu mais antes de se dirigir a mim. -Ah! Edward!

- Sim, Alice? – A minha voz soou irritada, não que fosse minha intenção que assim fosse, mas já estava a ficar irritado com as suas interrupções.

- A Mãe quer que estejamos todos em casa em menos de três horas! – Ela olhou para mim muito séria e depois dirigiu um olhar apologético rápido a Bella para depois se voltar a focar em mim -Temos visitas esta noite! Portanto, vai deixar a Bella em casa e depois aceleras para a nossa!

- Está bem! Está bem! – Respondi-lhe, eram-me indiferentes as ordens, mas quando impostas por Alice ou Esme, eu não as podia ignorar. - Mas quem é que vai lá a casa? – Acabei por perguntar, sendo vencido pela curiosidade. A baixinha não me respondeu e eu tive que lhe entrar na mente para encontrar a resposta, mas o que encontrei surpreendeu-me demasiado e até me deixou confuso. - Alice… Porque é que estás a recitar Hamlet?

- Vemo-nos mais logo, irmãozinho! – Foi a sua única resposta enquanto entrava no carro vermelho. - Ah! E, Bella? – Bella olhou para a minha irmã, os seus olhos reflectindo curiosidade. - A Ana vai sugerir a camisola azul, usa a saia bege.

Vi a pequena ruga formar-se na testa de Bella, demonstrando que ela estava a concentrar-se em algo (algo esse que eu julguei ser a invasão da mente de Alice para descobrir o motivo da sua sugestão de moda). Mas a outra parte da minha mente, que perscrutava as mentes dos outros, apanhou a imagem daquela camisola azul que eu tanto adorava em Bella e a minha mente toldou-se ligeiramente com confusão, porque iria Ana, a irmã gémea de Bella, sugerir-lhe que usasse aquela magnífica blusa? O meu olhar continuava fixo em Alice quando o BMW vermelho arrancou do parque de estacionamento. Ouvi Bella entrar para o carro e segui-lhe o exemplo, entrando para o lado do passageiro.

- Aquilo foi estranho. – Ela disse como se comentasse o tempo que fazia.

Ri-me. Não havia nada em Bella que não me parasse de surpreender e agora o que mais o fazia era o seu comportamento junto da minha família.

- Se achaste aquilo estranho, espera só até teres real contacto com ela. Vai ser ainda pior. – O pensamento da animação de Alice fez-me sorrir, embora eu começasse realmente a temer que Bella fosse sofrer nas mãos da minha irmã. - Antes sequer de lhe perguntares alguma coisa, ela já vai saber e irá dar-te a resposta muito antes até de tu sequer saberes que lhe ias perguntar alguma coisa. Mas talvez para ti se torne mais fácil, como é para mim, por conseguirmos ler mentes, mas depois habituas-te, verás.

Pelo canto do olho, vi Bella sorrir, um sorriso ligeiramente triste e desejoso. Perguntei-me que teria dito que a tivesse deixado triste.

- Lamento mesmo não poder ir jantar convosco. – Ela disse com pesar, como se respondesse aos meus pensamentos. - Gostava mesmo de poder ir.

Então era isso? Ela estava triste por não poder ir ao jantar na minha casa esta noite? Era uma estupidez ela ficar triste por uma oportunidade que iria surgir novamente e muito em breve.

- Oh, não te preocupes. – Assegurei-a, não valia a pena deixar o meu anjo preocupado com coisas parvas. - Terás muitas mais oportunidades… e pelo que eu vi na mente da Alice e da Rosalie, elas vão fazer de tudo para que tu vás lá. E acredita em mim, quando a Rose e a Alice se juntam, Deus tenha piedade daqueles que se metem no seu caminho. Elas conseguem sempre o que querem… - Bem, isto não era totalmente verdade. Havia algo que a minha irmã loira queria e que nunca seria possível, por muito que ela quisesse, ela conseguir. - Bem, quase sempre.

Uma nova pergunta surgiu no meu pensamento, seria possível (realmente possível) vampiros e bruxas terem filhos? Será que… tal como Bella nos tinha “curado” da sede, ela pudesse “curar” aquela característica vampírica que impedia as vampiras de terem crianças? Deus, porque é que estas perguntas surgiram?

Parei o carro em frente à casa do pai dela e parte da minha mente reparou na presença inesperada do carro-patrulha do pai de Bella.

- Bem… Chegámos. – Disse-lhe virando-me para ela. Sentia-me triste e julgo que ela deve tê-lo percebido no meu rosto, pois o seu reflectiu a minha tristeza. - Desculpa não poder ficar mais tempo… Não sei o que se passa em casa, mas se a Alice viu que a Esme nos quer em casa a todos, tenho que obedecer.

Era verdade, Alice nunca me escondia as coisas que via quando elas estavam relacionadas com a família, a não ser que essas visões estivessem relacionadas com algo que ela não queria que eu soubesse… e era óbvio que ela não me queria a saber quem eram os nossos convidados.

- É tua mãe… - Ela disse simplesmente. - Eu compreendo.

E ela compreendia, de facto. Era a filha que tomava conta da mãe e que, no entanto, obedecia como filha que era. Este pensamento fez-me sorrir por ela me compreender, mas mesmo assim, não era um sorriso propriamente feliz, pelo que não melhorou o meu humor. Ela inclinou-se na minha direcção e beijou-me a cara, novamente, o meu corpo entrou praticamente em piloto automático e a minha mão ergueu-se para se colocar na bochecha dela para acariciá-la e eu beijei-lhe a face, despedindo-me por pouco tempo.

Afastámo-nos ligeiramente, mas eu recusava-me a parar as carícias que fazia no seu rosto.

- Vemo-nos amanhã. – Prometi-lhe, ainda acariciando o seu rosto.

- Vemo-nos amanhã. – Ela assentiu com os seus olhos brilhando.

Então, Bella saiu do carro e dirigiu-se à porta de casa, quando a vi chegar ao alpendre, arranquei com o carro, quanto menos tempo demorasse aqui menos tentado me sentiria a voltar para trás.

A viagem até casa não demorou nem dez minutos e quando lá cheguei, tinha Alice vestida de maneira elegante e descontraída à minha espera no alpendre.

- Ainda não estás atrasado. – Ela disse-me olhando para o delicado relógio no seu pulso. – Mas os nossos convidados chegam dentro de uma hora. – Informou-me com um certo tom de reprovação na sua voz. – A tua roupa está em cima da cama, vai tomar banho e despacha-te. – Disse-me enquanto passava por ela.

- Sim, Alice.

Ter a minha irmã a dar-me ordens era como andar no exército. E julgava eu que o único general que tínhamos na casa era o seu marido!

Dirigi-me ao meu quarto, passando por Esme na entrada da sala de jantar e cumprimentando-a com um beijo no rosto. Fiz-lhe o dia. Os pensamentos da minha mãe antes preocupados e ansiosos ficaram simplesmente felizes e radiantes, ela pareceu pensar que eu iria apreciar imenso o “jantar”. Já eu, não julgava o mesmo.


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