Twilight - a Magia do Amor escrita por Sol Swan Cullen


Capítulo 13
11º Capítulo - Port Angeles (2ª Parte)




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(Edward POV)

 

Estava muito claro para que eu pudesse guiar dentro da cidade quando cheguei a Port Angeles; o sol ainda estava muito alto, e, embora as minhas janelas fossem escuras, não havia razão para tomar riscos desnecessários. Mais riscos desnecessários, devo dizer.

Eu estava certo de que conseguiria encontrar os pensamentos de Jessica à distância – os pensamentos de Jessica eram mais sonoros do que os de Angela, mas assim que encontrei a primeira, eu seria capaz de ouvir a segunda. Então, quando as sombras avançassem, eu poderia aproximar-me. Por agora, encostei na berma da estrada num caminho mesmo fora da cidade que parecia não ser usado frequentemente.

Eu sabia a direcção geral em que procurar – havia realmente apenas um lugar para a compra de vestidos em Port Angeles. Não foi muito antes de encontrar Jessica, girando à frente de três espelhos, e eu pude ver Bella na sua visão periférica, elogiando o longo vestido preto que ela usava.

A Bella ainda parece chateada. Ah ah. A Angela estava certa – o Tyler estava a mentir. Contudo, não acredito que ela esteja tão chateada por causa disso. Pelo menos ela sabe que tem alguém com quem ir ao baile de finalistas. E se o Mike não se divertir no baile, e não me convidar para sair outra vez? E se ele convidar a Bella para o baile de finalistas? Teria ela convidado o Mike para o baile se eu não tivesse dito nada? Será que ele acha que ela é mais bonita que eu? Pensará ela que é mais bonita que eu?

- Julgo que o azul é melhor. Ele realmente sobressai os teus olhos.

Jessica sorriu para a Bella com falso calor, enquanto ela a olhava desconfiada.

Será que ela pensa mesmo isso? Ou quererá ela que eu pareça uma vaca no Sábado?

Eu já estava cansado de ouvir Bella. Procurei Angela por perto – ah, mas Angela estava no processo de trocar de vestidos, e eu saltei rapidamente da mente dela para lhe dar alguma privacidade.

Bem, não havia muitos sarilhos em que Bella se pudesse meter numa loja. Deixei-as fazer as compras e então apanhá-las-ia quando estivessem despachadas. Não demoraria muito até escurecer – as nuvens estavam a começar a regressar, flutuando de oeste. Eu podia apenas apanhar alguns vislumbres delas através das espessas árvores, mas eu podia ver como elas apressavam o pôr-do-sol. Eu acolhi-as, desejando-as mais do que eu alguma vez tinha ansiado pelas suas sombras antes. Amanhã eu poderia sentar-me ao lado de Bella na escola outra vez, monopolizar a sua atenção ao almoço outra vez. Eu poderia fazer-lhe todas as perguntas que eu tinha estado a guardar…

Então, ela estava furiosa em relação à pressuposição de Tyler. Eu tinha visto aquilo na cabeça dele – que ele tinha falado mesmo a sério quando falou do baile de finalistas, que ele estava a marcar um direito. Eu relembrei-me da sua expressão daquela outra tarde – a descrença enraivecida – e ri-me. Perguntei-me o que lhe diria ela sobre isto. Eu não quereria perder a sua reacção.

O tempo passou lentamente enquanto eu esperava que as sombras se estendessem. Verifiquei periodicamente com Jessica, a sua voz mental era a mais fácil de encontrar, mas eu não gostava de lá permanecer durante muito tempo. Eu vi o lugar onde elas planeavam ir comer. Já estaria escuro na hora de jantar… talvez eu pudesse coicidentemente escolher o mesmo restaurante. Toquei no telemóvel no meu bolso, pensando em convidar Alice para jantar fora… Ela iria adorar isso, mas ela iria também querer falar com Bella. Eu não estava certo se eu estava pronto para ter Bella mais envolvida com o meu mundo. Não seria um vampiro problema suficiente?

Verifiquei prontamente com Jessica outra vez. Ela estava a pensar acerca da sua joalharia, perguntando a opinião de Angela.

- Talvez eu devesse devolver o colar. Tenho um em casa que provavelmente combinaria, e eu gastei mais do que devia… - A minha mãe vai-se passar. Em que estava eu a pensar?

- Eu não me importo de voltar à loja. Achas que a Bella irá à nossa procura?

O que era isto? Bella não estava com elas? Olhei pelos olhos de Jessica primeiro, então troquei para os de Angela. Elas estavam no passeio na frente de uma linha de lojas, apenas dando a voltando para trás. Bella não estava em lugar nenhum para ser vista.

Oh, quem se importa com a Bella? Jess pensou impacientemente, antes de responder à pergunta de Angela. – Ela está bem. Nós vamos chegar ao restaurante a tempo, mesmo se voltarmos. De qualquer maneira, penso que ela queria estar sozinha. – Apanhei o breve vislumbre de uma livraria que Jessica pensou a que Bella tinha ido.

- Vamo-nos apressar, então. – Angela disse. Espero que a Bella não pense que a abandonámos. Ela foi tão simpática comigo no carro antes… Ela é realmente uma doce pessoa. Mas ela parecia um pouco triste o dia todo. Pergunto-me se é por causa do Edward Cullen? Aposto que foi por isso que ela estava a perguntar sobre a família dele…

Eu devia ter estado a prestar melhor atenção. O que é que eu tinha perdido aqui? Bella andava por aí sozinha, e ela tinha estado a perguntar sobre mim antes? Angela estava a prestar atenção a Jessica agora – Jessica estava a tagarelar sobre aquele idiota do Mike – e eu não podia obter nada dela.

Julguei as sombras. O sol estaria atrás das nuvens dentro em breve. Se eu ficasse no lado ocidental da estrada, onde os edifícios iriam proteger a rua da luz fraca…

Comecei a sentir-me ansioso enquanto conduzi através do escasso tráfego para o centro da cidade. Isto não era algo que eu tinha considerado – Bella saído por sua conta – e eu não tinha ideia de como a encontrar. Eu devia tê-lo considerado.

Eu conhecia bem Port Angeles; eu conduzi directamente para a livraria na cabeça de Jessica, esperando que a minha busca fosse curta, mas duvidando que fosse fácil. Quando é que Bella iria tornar as coisas fáceis?

Certamente, a pequena loja estava vazia excepto pela mulher vestida invulgarmente atrás do balcão. Isto não parecia o tipo de sitio em que Bella estaria interessada em ir – demasiado nova era para uma pessoa prática. Perguntei-me se ela sequer se incomodou a entrar?

Havia um lugar à sombra onde eu poderia estacionar… Fazia um escuro caminho para a sobressaída da loja. Eu realmente não devia. Vaguear por aí nas horas de luz do sol não era seguro. E se um carro passageiro lançasse o reflexo do sol para a sombra exactamente no momento errado?

Mas eu não sabia de que outro modo procurar a Bella!

Estacionei e sai, mantendo-me no lado mais profundo da sombra. Corri rapidamente para a loja, reparando o fraco traço do cheiro de Bella no ar. Ela tinha estado aqui, no passeio, mas não havia rasto da sua fragrância no interior da loja.

- Bem-vindo! Posso ajudar… - A vendedora começou a dizer, mas eu já estava porta fora.

Segui o cheiro de Bella tão longe quanto a sombra podia permitir, parando quando cheguei ao limite da luz do sol.

Quão impotente isso me fazia sentir – cercado pela linha entre a escuridão e luz que se esticava pelo passeio à minha frente. Tão limitado.

Eu podia apenas adivinhar que ela continuou pela rua, em direcção a Sul. Não havia realmente grande coisa naquela direcção. Estaria ela perdida? Bem, isso possivelmente não soava inteiramente fora do comum.

Voltei ao carro e conduzi lentamente pelas ruas, procurando-a. Saí em outro poucos traços da sombra, mas eu apenas apanhei o seu cheiro mais uma vez, e a sua direcção confundiu-me. Onde é que ela estava a tentar ir?

Conduzi para trás e para a frente entre a livraria e o restaurante algumas vezes, esperando vê-la no seu caminho. Jessica e Angela já lá estavam, tentando decidir se pediam, ou esperavam por Bella. Jessica estava a insistir para pedirem imediatamente.

Comecei a passar pela mente de estranhos, procurando pelos seus olhos. Certamente, alguém deve tê-la visto algures.

Fiquei cada vez mais ansioso por quanto mais tempo ela estava desaparecida. Eu não tinha considerado antes quão difícil ela seria de encontrar uma vez, como agora, que ela estava fora da minha vista e no seu caminho normal. Eu não gostava disso.

As nuvens estavam a acumular-se no horizonte, e. em mais alguns minutos, eu estaria livre para persegui-la a pé. Não me demoraria muito então. Era apenas o sol que me tornava impotente agora. Apenas mais uns minutos, e então a vantagem seria minha outra vez e seria o mundo humano que era impotente.

Outra mente, e outra. Tantos pensamentos triviais.

… julgo que o bebé tem outra infecção nos ouvidos…

Terá sido 6-4-0 ou 6-0-4…?

Atrasada outra vez. Eu devo dizer-lhe…

Aqui vem ela! Aah!

Ali, por fim, estava a cara dela. Finalmente, alguém tinha reparado nela!

O alívio durou apenas por uma fracção de segundo, e então eu li mais completamente os pensamentos do homem que estava a regozijar-se sobre a cara dela nas sombras.

A mente dele era um estranho para mim, e ainda assim, não era totalmente desconhecida. Eu tinha uma vez caçado exactamente como esta.

- NÃO! – Rugi, e um conjunto de rugidos irrompeu da minha garganta. O meu pé carregou no acelerador até ao chão, mas aonde é que eu estava a ir?

Eu sabia a localização geral dos seus pensamentos, mas o conhecimento não era específico o suficiente. Algo, tinha que haver algo – um sinal de trânsito, a frente de uma loja, algo na sua vista que revelasse a sua localização. Mas Bella estava embrenhada na sombra, e os olhos dele estavam focados apenas na expressão assustada dela – apreciando o medo lá.

A face dela estava borrada na mente dele pela memória de outras faces. Bella não era a sua primeira vítima.

O som dos meus rugidos abanava a estrutura do carro, mas não me distraiu.

Não havia nenhuma janela na parede atrás dela. Algures industrial, longe do distrito comercial mais populado. O meu carro fez a curva apertada, passando rapidamente por outro veículo, direccionando-se no que eu esperava ser a direcção certa. Pelo tempo que o outro condutor buzinou, o som estava bem longe de mim.

Olha para ela a tremer! O homem riu-se em antecipação. O medo era um atraente para ele – a parte que ele apreciava.

- Eu se estivesse no vosso lugar, afastava-me e deixava-me passar. A voz dela era baixa e normal, não era um grito. E, mesmo pelos pensamentos do homem, eu conseguia ouvir uma certa confiança na voz dela.

- Não sejas assim, meu docinho!

Ele observou-a estremecer para uma rude gargalhada que veio de outra direcção. Ele estava irritado com o barulho – Cala-te, Jeff! Ele pensou – mas ignorou o modo como ela tremeu. Isso excitava-o. Ele começou a imaginar os seus pedidos, o modo como ela iria implorar…

Não me tinha apercebido de que havia outros com ele até ter ouvido a sonora gargalhada. Observei por ele, desesperado por algo que eu pudesse usar. Ele estava a tomar o primeiro passo na direcção dela, flectindo as suas mãos.

As mentes à volta dele não eram tão vazias quanto a dele. Elas estavam ligeiramente intoxicadas, nenhum deles percebendo quão longe o homem que eles chamavam de Lonnie planeava ir com isto. Eles seguiam a liderança de Lonnie cegamente. Ele tinha-lhes prometido alguma diversão…

Um deles olhou para o fim da rua, nervoso – ele não queria ser apanhado a violar a rapariga – e deu-me o que eu precisava. Reconheci o cruzamento da rua para onde ele olhava.

Passei por um sinal vermelho, deslizando por um espaço largo o suficiente entre dois carros no tráfego em movimento. Buzinas tocaram atrás de mim.

O meu telemóvel vibrou no meu bolso. Eu ignorei-o.

Lonnie moveu-se lentamente em direcção à rapariga, arrastando o suspance – o momento de terror que o agitava. Ele esperou que ela gritasse, preparando-se para o saborear.

Mas Bella cerrou o seu maxilar e abraçou-se. Ele estava surpreendido – ele esperava que ela tentasse fugir. Surpreendido e ligeiramente desiludido. Ele gostava de perseguir a sua presa, a adrenalina da caça.

Corajosa, esta. Talvez melhor, suponho… mais luta nela.

Eu estava a um quarteirão de distância. O monstro podia ouvir o rosnar do meu motor agora, mas ele não prestou atenção, demasiado entretido com a sua vítima.

Eu veria como ele apreciava a caça quando fosse ele a presa. Eu veria o que ele pensava do meu estilo de caça.

Num outro compartimento da minha cabeça, eu já estava a escolher entre as várias torturas que eu assisti nos meus dias de vigilância, procurando a mais dolorosa de todas. Ele iria sofrer por isto. Ele iria gritar com agonia. Os outros iriam meramente morrer pela parte deles, mas o monstro chamado Lonnie imploraria pela morte muito antes de eu lhe dar esse presente.

Ele estava na estrada, atravessando-a na direcção dela.

Eu girei avidamente pela esquina, os meus faróis lavando a cena e paralisando o resto deles no lugar. Eu teria atropelado o líder, que se atirou do caminho, mas isso seria uma morte demasiado fácil para ele.

Deixei o carro girar, deslizando de uma só vez para que eu estivesse a encarar o caminho de onde tinha vindo e a porta do passageiro estivesse mais perto de Bella. Abri a porta, e ela já estava a correr para o carro.

- Entra! – Gritei.

Mas que raio?

Sabia que isto era uma má ideia! Ela não está sozinha.

Devo fugir?

Acho que vou vomitar…

Bella saltou pela porta aberta sem hesitação, fechando a porta atrás dela.

E então ela olhou para mim com a expressão mais confiante que eu alguma vez tinha visto numa face humana, e todos o meus planos violentos esmoreceram.

Levou-me muito, muito menos que um segundo para ver que não podia deixá-la no carro com a intenção de lidar com os quatro homens na rua. O que lhe iria eu dizer, para não observar? Ah! Desde quando é que ela faz aquilo que eu lhe digo? Desde quando é que ela faz a coisa mais segura?

Puxá-los-ia eu para longe, para fora da sua vista, e deixá-la sozinha aqui? Era outra grande probabilidade que outro humano perigoso andasse a acelerar nas ruas de Port Angeles esta noite, mas era uma grande oportunidade que houvesse mesmo o primeiro! Como um íman, ela atraía todas as coisas perigosas para ela. Eu não a podia deixar fora da minha vista.

Isso sentiria do mesmo modo para ela enquanto eu acelerei, levando-a para longe dos seus perseguidores tão depressa que eles ficaram para trás de boca aberta com expressões incompreensíveis. Ela não reconheceria o meu instante de hesitação. Ela assumiria que o plano era fugir desde o princípio.

Eu nem podia bater nele com o meu carro. Isso iria assustá-la.

Eu queria a morte dele tão selvaticamente que a necessidade ecoava pelos meus ouvidos e enevoava a minha vista e era um sabor na minha língua. Os meus músculos estavam apertados com a urgência, o desejo, a necessidade disso. Eu tinha que matá-lo. Eu iria desmembrá-lo, membro a membro, a pele do músculo, o músculo do osso…

Excepto pela rapariga – a única rapariga no mundo – estava a agarrar-se ao assento com ambas as mãos, olhando para mim, os seus olhos ainda esbugalhados e cheios de confiança. Vingança teria que esperar.

- Coloca o cinto de segurança. – Ordenei. A minha voz estava dura com o ódio a sede de sangue. Não a sede de sangue comum. Eu não iria poluir-me levando alguma parte daquele homem dentro de mim.

Ela bloqueou o cinto de segurança no lugar, saltando levemente ao som que ele fez. Aquele pequeno som fê-la saltar, ainda assim ela não estremecia enquanto eu acelerava pela cidade, ignorando todos os sinais de trânsito. Eu podia sentir os seus olhos em mim. Ela parecia estranhamente relaxada. Isso não fazia sentido para mim – não com o que ela tinha acabado de passar.

- Estás bem? – Ela perguntou, a sua voz rouca com stress e medo.

Ela queria saber se eu estava bem?

Pensei na pergunta dela por uma fracção de segundo. Não por demasiado tempo para ela perceber a hesitação. Eu estava bem?

- Não. – Apercebi-me, e o meu tom soou com raiva.

Levei-a para o caminho inutilizado aonde eu tinha passado a tarde na mais fraca vigilância de todas. Estava escuro agora por debaixo das árvores.

Eu estava tão furioso que o meu corpo congelou no sítio, totalmente imóvel. As minhas geladas e fechadas mãos ansiavam por matar o atacante dela, para desfazê-lo em pedaços tão desfeitos que o seu corpo nunca poderia ser reconhecido…

Mas isso significaria deixá-la aqui sozinho, desprotegida na noite escura.

Claro… Que desculpa lhe daria eu para poder fazer o que eu realmente queria? Desculpa, Bella, querida. Vou só ter que me ausentar por alguns minutos para acabar com aqueles miseráveis que te tentaram fazer mal! Oh sim… Seria a minha melhor deixa desde que me tentei escapulir da Tanya há uma década.

- Bella? – Perguntei por entre dentes.

- Sim? – Ela respondeu roucamente. Ela aclarou a sua garganta.

- Estás bem? – Essa era certamente a coisa mais importante, a primeira prioridade. Retribuição era secundária. Eu sabia disso, mas o meu corpo estava tão cheio de raiva que era difícil pensar.

- Sim. – A voz dela ainda estava rouca – com medo, sem dúvida.

E então eu não podia deixá-la.

Mesmo que ela não estivesse em risco constante por alguma razão enfurecedora – alguma piada que o universo me estava a pregar – mesmo que eu pudesse estar certo de que ela estaria perfeitamente segura na minha ausência. Eu não podia deixá-la sozinha no escuro.

Ela deve estar tão assustada.

Ainda assim eu não estava em condições de confortá-la – mesmo que eu soubesse exactamente como isso se devia fazer, o que eu não sabia. Certamente ela podia sentir a brutalidade a irradiar de mim, certamente isso é óbvio. Eu assustá-la-ia ainda mais se eu não conseguisse acalmar a sede de matança que fervia dentro de mim.

Eu precisava de pensar noutra coisa.

- Distrai-me, por favor. – Pedi.

- Desculpa, o que disseste?

Eu mal tinha controlo o suficiente para explicar o que eu precisava.

- Fala apenas sobre algo sem importância até que eu acalme. – Instrui, o meu maxilar ainda cerrado. Apenas o facto de que ela precisava de mim me segurava dentro do carro. Eu podia ouvir os pensamentos do homem, o seu desapontamento e raiva… Eu sabia onde encontrá-lo… Fechei os meus olhos, desejando que eu não pudesse ver de qualquer maneira…

- Hum. – Ela hesitou – tentando tirar algum sentido do meu pedido, imagino. - Amanhã, antes das aulas, vou atropelar o Tyler Crowley. – Ela disse isto como se fosse uma pergunta.

Sim – era disto que eu precisava. Claro que Bella viria com algo inesperado. Como tinha sido antes, a ameaça de violência vinda pelos seus lábios era hilariante – tão cómico que era discordante. Se eu não tivesse estado a arder com a necessidade de matar, eu ter-me-ia rido.

- Porquê?

- Anda a dizer a todos que vai acompanhar-me ao baile de finalistas, - Disse ela, a sua voz estava cheia com a sua indignação de gatinha feroz. - Ou está louco ou ainda anda a tentar compensar-me por quase me ter matado no outro dia… bem, tu recordas-te, - ela acrescentou secamente - e julga que o baile é, de algum modo, a maneira adequada de o fazer. Logo, calculo que, se eu colocar a vida dele em perigo, ficamos quites e ele não poderá continuar a tentar compensar-me. Não preciso de inimigos e talvez a Lauren sossegasse se ele me deixasse em paz. Talvez tenha, todavia, de destruir o Sentra dele. – Ela continuou, pensativa agora. - Se não tiver um meio de transporte, não pode levar ninguém ao baile…

Era encorajante ver que ela às vezes não entendia algumas coisas. A persistência de Tyler nada tinha a ver com o acidente. Ela não parecia compreender a atracção que tinha para os rapazes humanos no liceu. Não via ela a atracção que ela tinha para mim, também?

Ah, estava a funcionar. Os enlouquecedores processos da sua mente eram sempre cativantes. Eu estava a começar a ganhar controlo de mim próprio, para ver algo além de vingança e tortura…

- Ouvi falar disso. – Contei-lhe. Ela tinha parado de falar, e eu precisava que ela continuasse.

- Ouviste? – Ela perguntou incredulamente. E então a sua voz estava mais enfurecida que antes. - Se estiver paralisado do pescoço para baixo, também não pode ir ao baile de finalistas… - Ela parou, pensando nas suas palavras. Como se realmente as considerasse. - Queres ajudar-me? – Perante aquilo, não consegui evitar que os cantos dos meus lábios subissem.

Eu desejava que houvesse algum modo de lhe pedir para continuar com as ameaças de morte e os danos físicos sem parecer louca. Ela não podia ter escolhido um melhor modo de me acalmar. E as suas palavras – apenas sarcasmo no seu caso, hipérbole – eram um lembrete que eu carinhosamente precisava neste momento.

Suspirei, e abri os olhos.

- Estás bem?

- Nem por isso.

Não, eu estava mais calmo, mas não melhor. Porque eu tinha acabado de perceber que eu não podia matar o monstro chamado Lonnie, e eu ainda queria isso mais que qualquer coisa no mundo. Quase.

A única coisa neste momento que eu queria mais do que cometer um assassínio altamente justificável, era esta rapariga. E, embora não a pudesse ter, apenas o sonho de a ter tornava impossível para mim ir numa matança esta noite – não importa quão justificável fosse.

Bella merecia muito melhor que um assassino.

Eu tinha passado sete décadas tentando ser algo diferente disso – qualquer outra coisa que um assassino. Aqueles anos de esforço nunca me tornariam merecedor da rapariga sentada ao meu lado. E ainda assim, eu sentia que se eu voltasse àquela vida – a vida de um assassino – por uma só noite, eu estaria certamente a pô-la fora do meu alcance para sempre. Mesmo que eu não bebesse do sangue deles – mesmo que eu não tivesse essa prova ardente nos meus olhos – iria ela sentir a diferença?

Eu estava a tentar ser bom o suficiente para ela. Era um objectivo impossível. Eu continuaria a tentar.

- O que é que se passa? – Ela murmurou.

A sua respiração encheu-me o nariz, e eu fui relembrado do porquê de eu não poder merecê-la. Depois de isto tudo, mesmo com tanto quanto eu a amava… ela ainda me metia água na boca.

         Eu iria dar-lhe tanta honestidade quanta conseguia. Eu devia-lhe isso.

- Por vezes, tenho problemas com o meu temperamento, Bella. – Olhei para a escura noite, desejando ambos que ela pudesse ouvir o horror inerente nas minhas palavras e também que ela não ouvisse. Especialmente que ela não pudesse. Corre, Bella, corre. Fica, Bella, fica. - Mas não adiantaria de nada se eu desse meia volta e perseguisse aqueles… - Apenas pensando acerca disso quase me fez sair do carro. Inspirei fundo, deixando o seu cheiro queimar-me a minha garganta. - Pelo menos é disso que tento convencer-me.

- Eu não queria que fosses atrás deles. – Ela murmurou tão baixo que por momentos julguei que não era para eu ouvir.      Olhei para ela para ter a certeza de que tinha estado a falar comigo e quando a vi olhar para mim com um brilho de preocupação nos seus grandes olhos castanhos…

Ficámos em silêncio por uns momentos. Olhando-a, perdendo-me na belíssima profundidade dos seus olhos.

- A Jessica e a Angela vão ficar preocupadas. – Ela disse calmamente. A sua voz estava muito calma, e eu não estava certo de como podia ser isso. Estava ela em estado de choque? Talvez os acontecimentos desta noite ainda não tivessem descido sobre ela. - Devia ir encontrar-me com elas.

Queria ela estar longe de mim? Ou estava ela apenas preocupada com a preocupação das suas amigas?

Eu não lhe respondi, mas liguei o carro e levei-a de volta. A cada centímetro que eu me aproximava da cidade, mais difícil se tornava agarrar-me ao meu motivo. Eu estava tão próximo dele…

Se era impossível – se eu nunca podia ter ou merecer esta rapariga – então não havia motivo para deixar aquele homem partir impune? Certamente eu podia permitir-me isso…

Não. Eu não estava a desistir. Ainda não. Eu queria-a muito para desistir.

E então as palavras dela… o brilho no seu olhar… Ela não queria que eu fosse um monstro… Por ela, eu não iria ser um monstro…

Nós estávamos no restaurante onde ela era suposto encontrar-se com as amigas antes de eu sequer começar a dar sentido aos meus pensamentos. Jessica e Angela tinham acabado de comer, e agora ambas se preocupavam realmente com Bella. Estavam no seu caminho para procurá-la, direccionando-se pela rua escura.

Não era uma boa noite para elas andarem a vaguear…

- Como é que sabias onde…? – A pergunta inacabada de Bella interrompeu-me, e eu apercebi-me de que tinha cometido outra gafe. Eu tinha estado muito distraído para me lembrar de lhe perguntar onde era suposto ela encontrar-se com as amigas.

Mas, em vez de terminar a pergunta e pressionar nesse ponto, Bella apenas abanou a cabeça e deu um meio-sorriso.

O que queria aquilo dizer?

Bem, eu não tinha tempo de questionar a sua estranha aceitação sobre o meu conhecimento ainda mais estranho. Abri a minha porta.

- O que estás a fazer? – Ela perguntou, parecendo assustada.

A não deixar-te fora da minha vista. A não me permitir a ficar sozinho esta noite. Por essa ordem. - Vou levar-te a jantar.

Bem isto devia ser interessante. Parecia outra noite totalmente diferente quando eu tinha imaginado trazer Alice e fingir escolher o mesmo restaurante que Bella e as suas amigas por acidente. E agora, aqui estava eu, praticamente num encontro com a rapariga. Apenas que não contava, porque eu não estava a dar-lhe a hipótese de dizer não.

Ela já tinha a sua porta meia aberta antes de eu ter dado a volta ao carro – não era normalmente tão frustrante ter que me mexer a uma velocidade insuspeita – em vez de esperar que eu a abrisse por ela. Seria isto porque ela não estava habituada a ser tratada como uma senhora, ou porque ela não pensava em mim como um cavalheiro?

Esperei que ela se juntasse a mim, ficando mais ansioso enquanto as suas amigas continuavam em direcção à escura esquina.

- Vai atrás da Jessica e da Angela antes que eu tenha também de seguir no seu encalço. – Ordenei rapidamente. - Acho que não conseguiria refrear-me se desse outra vez de caras com aqueles teus amigos. – Não, eu não seria forte o suficiente para isso.

Ela lançou-me um sorriso visivelmente sarcástico e então estremeceu um pouco, e então rapidamente se recompôs. Ela tomou meio passo atrás delas, chamando. – Jess! Angela! – Numa voz alta. Elas viraram-se, e ela acenou com o seu braço acima da sua cabeça para lhes chamar à atenção.

Bella! Oh, ela está a salvo! Angela pensou com alívio.

Tão atrasada? Jessica resmungou para si, mas ela, também, estava grata por Bella não estar perdida ou magoada. Isto fez-me gostar dela mais um bocadinho do que antes.

Elas apressaram-se a voltar, e então pararam, chocadas, quando me viram ao lado dela.

Uh-uh! Jess pensou, espantada. Nem pensar!

Edward Cullen? Ela foi sozinha para se encontrar com ele? Mas porque perguntaria ela sobre eles estarem fora da cidade se ela sabia que ele estava aqui… Apanhei um breve vislumbre da expressão mortificada de Bella quando ela perguntou a Angela se a minha família se ausentava frequentemente da escola. Não, ela não podia ter sabido, Angela decidiu.

Os pensamentos de Jessica estavam a passar de surpreendidos para desconfiados. A Bella andou a esconder-me algo.

- Onde estiveste? – Ela exigiu, olhando para Bella, mas espreitando-me pelo canto do seu olho.

- Perdi-me. E, depois, encontrei-me com o Edward por acaso. – Bella disse, enfatizando as últimas palavras e acenando com uma mão em direcção a mim. O seu tom era incrivelmente normal. Como se isso fosse de facto o que tinha acontecido.

Ela deve estar em estado de choque. Essa era a única explicação para a sua calma.

- Não se importam que eu vos faça companhia? – Perguntei – para ser educado; eu sabia que elas já tinham comido.

Raios me partam mas ele é tão bom! Jessica pensou, a sua cabeça subitamente ligeiramente incoerente.

Angela não estava muito mais composta. Gostava que não tivéssemos comido. Wow. Apenas. Wow.

Agora porque não conseguia eu fazer aquilo com Bella?

- Aah… claro que não. – Jessica concordou.

Inconscientemente, reparei em Bella a aproximar-se mais de mim, nos seus olhos um brilho estranho que me fez ficar demasiado curioso.

Angela fez uma careta. - Hum, na verdade, Bella, nós já comemos enquanto estávamos à espera. – Ela admitiu. - Desculpa.

O quê? Cala-te! Jess queixou-se internamente.

Bella encolheu os ombros casualmente. Tão à vontade. Definitivamente em estado de choque. - Tudo bem, não tenho fome.

- Julgo que devias comer alguma coisa. – Discordei. Ela precisava de açúcar na sua corrente sanguínea – embora cheirasse doce o suficiente como estava, pensei secamente. O horror ia embater nela momentaneamente, e um estômago vazio não iria ajudar. Ela era uma pessoa fácil de desmaiar, como eu sabia por experiência.

Estas raparigas não estariam em perigo se fossem directas para casa. O perigo não perseguia cada passo delas.

E eu preferia estar sozinho com Bella – enquanto ela estivesse disposta a estar sozinha comigo.

- Importas-te que eu leve a Bella a casa esta noite? – Disse para Jessica antes que Bella pudesse responder. - Deste modo, não terão de esperar enquanto ela come.

- Hum, suponho que não há problema… - Jessica olhou intencionalmente para Bella, procurando por algum sinal de que era isso que ela queria.

Eu quero ficar… mas ela provavelmente quer ficar a sós com ele. Quem não quereria? Jess pensou. Ao mesmo tempo, ela observou Bella piscar-lhe o olho.

Bella piscou-lhe o olho?

- Está bem! – Angela disse rapidamente, com pressa para estar fora do caminho se era isso que Bella queria. E parecia que era isso que ela queria. - Até amanhã, Bella… Edward. – Ela esforçou-se para dizer o meu nome num tom casual. Então ela agarrou na mão de Jessica e começou a arrastá-la consigo.

Eu teria que encontrar um modo de agradecer a Angela por isto.

O carro de Jessica estava perto e num circulo iluminado de um candeeiro de rua. Bella observou-as cuidadosamente, uma pequena ruga de preocupação entre os seus olhos, até elas estarem no carro, então ela deve estar inteiramente ciente do perigo em que tinha estado. Jessica acenou enquanto conduzia para baixo, e Bella acenou de volta. Não foi até o carro desaparecer que ela inspirou fundo e se virou para olhar para mim.

- A sério, não tenho fome. – Ela disse.

Porque é que ela tinha esperado até elas se terem ido embora antes de falar? Queria ela realmente ficar a sós comigo – mesmo agora, depois de testemunhar a minha raiva homicida?

Quer esse fosse o caso ou não, ela ia comer alguma coisa.

- Faz-me a vontade. – Disse.

Segurei a porta do restaurante aberta para ela e esperei.

Ela suspirou, e passou por mim.

Caminhei ao seu lado até ao pódio onde a anfitriã esperava. Bella ainda parecia inteiramente composta. Eu queria tocar na mão dela, na testa, para verificar a sua temperatura. Mas a minha mão fria iria repugná-la, como já tinha feito antes.

Oh, Deus. A bastante alta voz mental da anfitriã intrometeu-se na minha consciência. Deus. Oh, Deus.

Parecia ser a minha noite para virar cabeças. Ou estava eu só a notar tanto porque desejava que Bella me visse assim? Nós éramos sempre atraentes para a nossa presa. Nunca tinha pensado muito nisso antes. Normalmente – a não ser, como com pessoas como Shelly Cope e Jessica Stanley, havia repetição para o horror – o medo que aparecia bastante rapidamente depois da atracção inicial…

- Tem uma mesa para dois? – Eu perguntei quando a anfitriã não falou.

- Oh, hum, sim. Bem-vindos à La Bella Italia. – Hum! Que voz! – Por favor, sigam-me. – Os seus pensamentos estavam preocupados – a calcular.

Talvez ela seja prima dele. Ela não pode ser irmã dele, eles não se parecem nada. Mas família definitivamente. Ele não pode estar com ela.

Os olhos humanos estavam enevoados; eles não viam nada claramente. Como podia esta mulher de pequena mente julgar os meus traços físicos – atracções para as presas – tão atraentes, e ainda assim ser incapaz de ver a suave perfeição da rapariga ao meu lado?

Bem, não preciso de a ajudar a sair, apenas no caso, a anfitriã pensou enquanto nos guiava para uma mesa de tamanho familiar no meio da parte mais populada do restaurante. Posso dar-lhe o meu número enquanto ela está lá…? Ela continuou.

Puxei de uma nota do meu bolso de trás. As pessoas eram invariavelmente cooperativas quando dinheiro estava envolvido.

Bella já estava a tomar o assento, no seu olhar um pequeno brilho de irritação, que a anfitriã indicou sem objecções. Abanei a minha cabeça para ela, e ela hesitou, inclinando a sua cabeça para um lado com curiosidade. Sim, ela estaria muito curiosa esta noite. Uma multidão não era o lugar ideal para esta conversa.

- Talvez num local mais íntimo? – Requisitei à anfitriã, entregando-lhe o dinheiro. Os seus olhos arregalaram-se com surpresa, então estreitaram-se enquanto a sua mão se fechou à volta da nota.

- Com certeza.

Ela espreitou para a nota enquanto nos guiava à volta de uma divisão.

Cinquenta dólares por uma mesa melhor? Rico, também. Faz sentido… Aposto que o seu casaco custou mais que o meu último ordenado. Raios. Porque quer ele privacidade com ela?

Ela ofereceu-nos uma mesa num canto silencioso do restaurante onde ninguém seria capaz de nos ver – para ver as reacções de Bella para o que quer que eu lhe fosse contar. Eu não tinha pistas para o que ela quereria de mim esta noite. Ou o que eu lhe ia dar.

Quanto é que ela tinha adivinhado? Que explicação dos acontecimentos desta noite ela se tinha contado?

– O que lhe parece? – A anfitriã perguntou.

- Perfeito. – Disse-lhe e, sentindo-me levemente irritado pela sua amarga atitude para com Bella, sorri amplamente para ela, mostrando os meus dentes. Deixando-a ver-me claramente.

Wow. - Hum! A empregada que irá servir-vos não demorará. – Ele não pode ser real. Eu devo estar a dormir. Talvez ela desapareça… Talvez eu escreva o meu número no prato dele com ketchup… Ela afastou-se, inclinando-se levemente para o lado.

Estranho. Ela ainda não estava assustada. Eu subitamente lembrei-me de Emmett a picar-me na cantina, há tantas semanas atrás. Aposto que eu podia tê-la assustado melhor que isso.

Estava eu a perder as minhas capacidades?

- Não devias mesmo fazer isso às pessoas. – Bella interrompeu os meus pensamentos num tom desaprovador. - Não é muito justo.

Olhei para a sua expressão crítica. O que queria ela dizer? Eu não tinha assustado a anfitriã de todo, apesar das minhas intenções. - Fazer o quê?

- Deslumbrá-las dessa forma; neste preciso momento, ela deve estar na cozinha a respirar de forma ofegante.

Hum. Bella estava muito proximamente certa. A anfitriã estava apenas semi-coerente no momento, descrevendo o seu incorrecto tributo de mim à sua amiga no local dos empregados.

- Oh, vá lá! – Bella exclamou impaciente quando eu não respondi imediatamente. - Tu deves ter noção do efeito que exerces nas pessoas.

- Eu deslumbro as pessoas? – Era uma maneira interessante de expressá-lo. Adequado o suficiente para esta noite. Perguntei-me o porquê da diferença…

– Ainda não reparaste? – Ela perguntou, ainda crítica. - Julgas que todos conseguem alcançar o que pretendem com tanta facilidade?

- E a ti, deslumbro-te? – Dei voz à minha curiosidade impulsivamente, e então as palavras estavam fora, e era demasiado tarde para as retirar.

Mas antes que eu tivesse tempo para profundamente me arrepender de falar as palavras em voz alta, ela respondeu. - Frequentemente. – E as suas bochechas tomaram um leve brilho rosa.

Eu deslumbrava-a.

O meu coração silencioso inchou com uma esperança mais intensa do que eu podia ter-me lembrado de já ter sentido antes.

- Olá. – Alguém disse, a empregada, apresentando-se. Os seus pensamentos eram altos, e mais explícitos do que os da anfitriã, mas eu ignorei-a. Olhei para a cara de Bella em vez de ouvir, observando o sangue espalhar-se sob a sua pele, reparando não como aquilo fazia a minha garganta arder, mas como aquilo iluminava a sua bela face, como aquilo sobressaía o creme da sua pele…

Edward! Rosnou a minha consciência. Onde pára o cavalheiro que tens sido durante todos estes anos? Foi então que me apercebi de que na minha mente passavam as mais tentadoras imagens de Bella a beijar-me.

A empregada estava à espera de alguma coisa de mim. Ah, ela tinha perguntado o que queríamos beber. Continuei a olhar para Bella, e a empregada rabugentamente virou-se para olhar para ela, também.

- Eu quero uma Coca-Cola. – Bella disse, como se perguntando se aprovava.

- São duas Coca-Colas. – Corrigi. Sede – normal, sede humana – era um sinal de estado de choque. Eu certificar-me-ia de que ela tinha o açúcar extra do refrigerante no seu sistema.

Contudo, ela parecia saudável. Mais do que saudável. Ela parecia radiante.

- O que foi? – Ela exigiu – perguntando porque estava eu a olhar, supus. Eu estava vagamente ciente de que a empregada tinha saído.

- Como te sentes? – Perguntei.

Ela piscou os olhos, surpreendida pela pergunta. - Estou óptima.

- Não te sentes tonta, enjoada, com frio…?

Ela estava ainda mais confusa agora. - Devia sentir?

- Bem, na verdade, estou à espera de que entres em estado de choque. – Dei um meio-sorriso, esperando a sua negação. Ela não iria querer que tomassem conta dela.

Levou-lhe um minuto para me responder. Os seus olhos estavam ligeiramente desfocados. Ela ficava assim às vezes, quando eu sorria para ela. Estava ela… deslumbrada?

Adoraria acreditar nisso.

- Não creio que isso vá acontecer. Sempre fui bastante boa a reprimir coisas desagradáveis. – Ela respondeu, um pouco ofegante.

Tinha ela muita prática com coisas desagradáveis, então? Era a vida dela sempre assim tão azarenta?

- Mesmo assim, - Disse-lhe - ficarei mais descansado quando ingerires algum açúcar e comida.

A empregada voltou com as Coca-Colas e um cesto de pão. Ela pô-los à minha frente, e perguntou-me o que ia pedir, tentando encontrar o meu olhar no processo. Eu indiquei que ela devia atender Bella, e então voltei a ignorar os seus pensamentos. Ela tinha uma mente vulgar.

- Hum… - Bella olhou para o cardápio rapidamente. - Quero o ravioli de cogumelos.

A empregada voltou-se para mim ansiosamente. - E o senhor?

- Eu não quero nada.

Bella fez uma leve careta. Hum. Ela deve ter reparado que eu nunca como. Ela reparava em tudo. E eu esquecia-me sempre de ser cuidadoso ao pé dela.

- Bebe. – Insisti.

Eu fiquei surpreendido quando ela obedeceu imediatamente e sem nenhuma objecção. Ela bebeu até o copo estar inteiramente vazio, então empurrei a segunda Coca-Cola na sua direcção, pensando um pouco. Sede, ou estado de choque?

Ela bebeu um pouco mais, e então estremeceu uma vez.

- Tens frio?

- É só a Coca-Cola. – Ela disse, mas arrepiou-se outra vez, os seus lábios tremendo ligeiramente como se ela estivesse prestes a bater os dentes.

A bonita blusa que ela usava parecia demasiado fina para protegê-la adequadamente; ajustava-se a ela como uma segunda camada de pele, quase tão frágil como a primeira. Ela era tão frágil, tão mortal. - Não tens um casaco?

- Tenho. – Ela olhou à sua volta, um pouco perplexa. - Oh! Deixei-o no carro da Jessica.

Tirei o meu casaco, desejando que o gesto não fosse desprezado pela minha temperatura corporal. Teria sido bom ser capaz de lhe oferecer um casaco quente. Ela olhou para mim, as suas bochechas aquecendo outra vez. Em que estava ela a pensar agora?

Entreguei-lhe o casaco através da mesa, e ela vestiu-o, e então estremeceu outra vez.

Sim, seria muito bom que estivesse quente.

- Obrigada! – Ela disse. Ela inspirou fundo, e então puxou as mangas demasiado compridas para trás para libertar as suas mãos. Inspirou fundo outra vez.

Estava a noite finalmente a cair-lhe na consciência? A sua cor ainda estava boa; a sua pele era creme e rosada contra o azul profundo da sua camisola.

- Essa cor azul condiz maravilhosamente com a tua pele. – Elogiei-a. Apenas sendo sincero.

Ela corou, melhorando o efeito.

Ela parecia bem, mas não havia razão para deixar que houvesse a hipótese de não estar. Empurrei o cesto do pão na sua direcção.

- A sério. – Ela rejeitou, adivinhando os meus motivos. - Não vou entrar em estado de choque.

- Mas devias; a uma pessoa normal era isso que aconteceria. Nem sequer pareces abalada. – Olhei para ela, reprovadoramente, perguntando-me porque ela não podia ser normal e então perguntando-me se realmente queria que ela fosse assim.

- Talvez eu não seja uma pessoa normal! – Ela retorquiu fazendo-me questionar se ela também ouvia mentes.

- Sinto-me muito protegida na tua companhia. – Ela disse, os seus olhos, novamente, cheio de confiança. Confiança que eu não merecia.

Os seus instintos estavam todos errados – baralhados. Esse deve ser o problema. Ela não reconhecia o perigo do modo que um ser humano devia ser capaz de reconhecer. Ela tinha a reacção oposta. Em vez de fugir, ela ficava por perto, aproximava-se do que devia assustá-la…

Como podia eu protegê-la de mim mesmo quando nenhum de nós queria isso?

- Isto é mais complicado do que eu imaginara. – Murmurei.

- Podes crer. – Ela murmurou em concordância. Olhei para ela, confuso.

Pude ver ela a revolver as minhas palavras na sua cabeça, e perguntei-me que sentido lhes teria ela dado. Ela pegou num gressino e começou a comê-lo sem parecer ciente da sua acção. Ela mastigou por um momento, e então inclinou a sua cabeça para um lado pensativamente.

- Normalmente, estás mais bem-disposto quando os teus olhos estão assim claros. – Ela disse num tom casual.

A sua observação, uma marcação para matéria de facto, deixou-me confuso. - O quê?

O seu rosto pareceu iluminar-se com a sombra de um sorriso. - Estás sempre mais rabugento quando os teus olhos estão negros; nessa altura, já sei o que esperar. Tenho uma teoria a esse respeito. – Ela acrescentou levemente.

Então ela tinha inventado a sua própria explicação. Claro que tinha. Eu senti um profundo sentimento de ansiedade enquanto me perguntava quão perto ela tinha chegado da verdade.

- Mais teorias?

- Sim. – Ela mastigou outro pedaço, inteiramente desinteressada. Como se ela não estivesse a discutir os aspecto de um monstro com o próprio monstro.

- Gostaria que, desta vez, fosses mais criativa… - Menti quando ela não continuou. O que eu realmente esperava era que ela estivesse errada – a milhas da verdade. - Ou continuas a inspirar-te nos livros de banda desenhada?

- Bem, não, não me baseei num livro de banda desenhada. – Ela disse, um pouco envergonhada. - Mas também não a elaborei sozinha.

- E então? – Perguntei entre dentes.

Certamente não deveria falar tão calmamente se ela estava prestes a gritar.

Enquanto ela hesitou, mordendo o seu lábio, a empregada reapareceu com a comida de Bella. Prestei pouca atenção à empregada enquanto ela colocou o prato em frente de Bella e então perguntou se eu queria alguma coisa.

Recusei, mas pedi mais Coca-Cola. A empregada não tinha reparado no copo vazio. Ela pegou-se e foi-se embora.

- O que estavas a dizer? – Principiei ansiosamente assim que estávamos sozinhos outra vez.

- Digo-te no carro. – Ela disse numa voz baixa. Ah, isto seria mau. Ela não estava disposta a dizer as suas suspeitas ao pé de outros. - Se… - Ela parou subitamente.

- Há condições? – Eu estava tão tenso que quase rugi as palavras.

- Tenho, de facto, algumas questões a colocar, evidentemente.

- Evidentemente. – Concordei, a minha voz dura.

As suas perguntas seria provavelmente o suficiente para me dizer em que direcção se encaminhavam os seus pensamentos. Mas como lhes poderia eu responder? Com mentiras responsáveis? Ou iria eu contar-lhe a verdade? Ou não diria nada, incapaz de decidir?

- Bem, continua. – Disse, maxilar cerrado, quando ela parou.

- Porque estás em Port Angeles?

Esta era demasiado fácil – para ela. Não desvendava nada, enquanto a minha resposta, se verdadeira, desvendaria demasiado. Deixa-a desvendar algo primeiro.

- A seguinte. – Disse.

- Mas esta é a mais fácil.

- A seguinte. – Repeti.

Ela estava frustrada com a minha recusa. Ela afastou o olhar de mim, olhou para a sua comida. Lentamente, pensando muito, ela deu uma dentada e mastigou com deliberação. Ela engoliu com mais um gole de bebida, e então finalmente olhou para mim. Os seus olhos estreitos com suspeita.

- Então, muito bem. – Ela disse. - Digamos, hipoteticamente, como é evidente, que… alguém… podia adivinhar os pensamentos das pessoas, ler a mente, tu sabes… com algumas excepções.

Podia ser pior.

Isto explicava aquele pequeno meio-sorriso no carro. Ela era rápida – mais ninguém tinha adivinhado isto sobre mim. Excepto Carlisle, e tinha sido bastante óbvio naquela altura, no começo, quando eu respondia a todos os seus pensamentos como se ele mos tivesse dito. Ele compreendeu antes mim…

Esta pergunta não era tão má. Enquanto fosse óbvio que ela sabia que havia algo de errado comigo, não era tão sério como podia ser. Ler mentes era, apesar de tudo, não uma faceta muito comum dos vampiros. Alinhei nas suas hipóteses.

- Com apenas uma excepção. – Corrigi. - Hipoteticamente.

Ela lutou contra um sorriso – a minha vaga honestidade agradava-lhe. - Muito bem, que seja, então, uma excepção. Como é que isso funciona? Quais são as limitações? Como é que… essa pessoa… encontraria outra exactamente no momento certo? Como poderia ele saber que ela estava em apuros?

- Hipoteticamente?

- Claro. – Os seus lábios torceram-se, e os seus olhos castanhos líquidos estavam ansiosos.

- Bem. – Hesitei. - Se… essa pessoa…

- Chamemos-lhe Joe. – Ela sugeriu.

- Joe, então. – Concordei, sentindo uma estranha nostalgia com este nome… Como se este nome pertencesse àquele passado que eu não me lembrava. - Se o Joe estivesse a prestar atenção, o sentido de oportunidade não teria tido de ser assim tão exacto. – Abanei a cabeça e reprimi estremecer com o pensamento de chegar tarde demais hoje. - Só tu poderias arranjar sarilhos numa cidade assim tão pequena. Terias arrasado as estatísticas referentes à taxa de criminalidade da cidade por uma década, sabes.

Os cantos dos seus lábios descaíram-se, e ela fez beicinho. - Estávamos a referir-nos a um caso hipotético.

Ri-me com a sua irritação.

Os seus lábios, a sua pele… Eles pareciam tão suaves. Eu queria tocar-lhes. Eu queria pressionar os meus dedos contra o canto dos seus lábios e levantá-los. Impossível. A minha pele seria repelente para ela.

- Pois estávamos. – Disse regressando à conversa antes de me conseguir deprimir demasiado obviamente. - Chamamos-te Jane?

Ela fez uma careta, algo me dizia que ela não gostava do nome.

Ela encostou-se pela mesa na minha direcção, todo o humor e irritação desapareceram dos seus grandes olhos.

- Como é que sabias? – Ela perguntou, a sua voz baixa e intensa.

Devia eu contar-lhe a verdade? E, se o fizesse, que porção?

Eu queria contar-lhe. Eu queria merecer a confiança que eu ainda podia ver na sua cara.

- Sabes que podes confiar em mim. – Ela sussurrou, e ela esticou uma mão para a frente como se para tocar nas minhas mãos onde elas descansavam sobre a mesa vazia à minha frente.

Puxei-as para trás – odiando o pensamento da sua reacção para a minha pele frígida como pedra – e ela deixou cair a sua mão.

Eu sabia que eu podia confiar nela para proteger os meus segredos; ela era inteiramente merecedora de confiança, boa até ao interior. Mas eu não podia confiar nela para não ficar horrorizada com eles. Ela devia estar horrorizada. A verdade era um horror.

- Não sei se ainda tenho alternativa. – Murmurei. Relembrei-me que eu a tinha uma vez provocado dizendo-lhe que ela tinha “excepcional falta de poder de observação”. Ofendendo-a, se eu tinha julgado bem a sua expressão. Bem, eu podia corrigir essa injustiça, pelo menos. - Estava enganado, tu és muito mais observadora do que eu julgava. – E, ainda que ela pudesse não se aperceber disso, eu já lhe tinha dado todo o mérito por isso. Não lhe falhava nada.

- Pensava que tinhas sempre razão. – Ela disse, sorrindo enquanto me provocava.

- Costumava ter. – Eu costumava saber o que estava a fazer. Eu costuma estar sempre certo do meu caminho. E agora tudo estava em caos e tumulto.

Ainda assim eu não trocaria isto. Eu não queria que a vida fizesse sentido. Não se o caos significasse que eu podia estar com Bella.

- Também me enganei a teu respeito acerca de outro aspecto. – Continuei, destacando outro ponto. - Tu não atraís acidentes, esta definição não é suficientemente abrangente. Tu atraís sarilhos. Se houver alguma situação de perigo num raio de quinze quilómetros, acabará invariavelmente por te envolver. – Porque ela? O que é que ela tinha feito para merecer alguma coisa destas?

A cara de Bella ficou séria outra vez. - E tu inseres-te nessa categoria?

Sinceridade era mais importante no que tocava a esta pergunta do que qualquer outra. - Inequivocamente.

Os seus olhos estreitaram-se ligeiramente – não estavam desconfiados agora, mas estranhamente preocupados. Ela esticou a sua mão pela mesa outra vez, lenta e deliberadamente. Eu afastei as minhas mãos das dela um centímetro, mas ela ignorou esse gesto, determinada a tocar-me. Segurei a respiração – não pelo seu cheiro agora, mas pela súbita e inesperada tensão. Medo. A minha pele iria repugná-la. Ela fugiria.

Primeiro, ela passou os seus dedos levemente nas costas da minha mão, então, ao ver que eu não fugia ao toque, colocou a sua mão toda sobre a minha. O calor do seu gentil e voluntário toque eram como algo que eu nunca tinha sentido antes. Era quase puro prazer. Teria sido, excepto pelo meu medo. Observei a sua cara enquanto ela sentia o frio pétreo da minha pele, ainda incapaz de respirar.

Um meio-sorriso levantou o canto dos seus lábios e um brilho carinhoso encheu os seus profundos olhos.

- Obrigada. – Ela disse, encontrando o meu olhar, ela própria com um olhar intenso. - Já é a segunda vez.

A sua mão suave continuou a aquecer a minha como se achasse confortável o sítio onde estava.

Respondi-lhe tão casualmente quanto conseguia. - Não vamos experimentar a terceira, de acordo?

Ela fez uma careta perante isso, mas assentiu.

Tirei as minhas mãos sob as dela. Por mais delicado que o toque dela fosse, eu não ia esperar que a magia da sua tolerância passasse, que se tornasse em revolta. Escondi as minhas mãos sob a mesa.

Li os seus olhos; embora a sua mente fosse silenciosa, eu podia reconhecer ambas confiança e maravilha neles. Apercebi-me nesse momento que eu queria responder às suas perguntas. Não porque eu lhe devia isso. Não porque eu queria que ela confiasse em mim.

Eu queria que ela me conhecesse.

- Segui-te até Port Angeles. – Disse-lhe, as palavras a saírem muito depressa de mim para que eu as pudesse editar. Eu sabia o perigo da verdade, o risco que eu estava a tomar. A qualquer momento, a sua calma não natural tornar-se-ia em histerismo. Contrariamente, sabendo isto só me fez falar mais depressa. - Nunca tentei manter viva uma pessoa em especial, e é muito mais problemático do que eu imaginara, mas, provavelmente, é por essa pessoa seres tu. As pessoas normais parecem conseguir chegar ao fim do dia sem tantas catástrofes.

Observei-a, esperando.

Ela sorriu. Os seus lábios abertos ao máximo, e os seus olhos cor de chocolate aqueceram.

Eu tinha acabado de admitir que a andava a seguir, e ela estava a sorrir? Eu muito sinceramente não a compreendo!

- Já te ocorreu a ideia de que talvez tivesse chegado a minha vez naquela primeira ocasião, com a carrinha, e tu tens estado a interferir no destino? – Perguntou ela.

- Não foi essa a primeira vez. – Disse, olhando para a escura toalha de mesa, os meus ombros curvaram-se com vergonha. As minhas barreiras estavam em baixo, a verdade ainda a sair livre e descuidadamente. - A tua vez chegou quando te conheci.

Era verdade, e isso enfurecia-me. Eu tinha sido posicionado sobre a sua vida como a lâmina de uma guilhotina. Era como se ela tivesse sido marcada para a morte por algum cruel e injusto destino, e – desde que me tinha mostrado uma ferramenta que não queria ajudar – esse mesmo destino continuava a tentar executá-la. Eu imaginei o destino personificado – um sujeito alto e invejoso, um monstro vingativo.

Eu queria algo, alguém, que fosse responsável por isto – para que eu tivesse algo concreto contra o que lutar. Algo, qualquer coisa para destruir, para que Bella estivesse segura.

Bella estava muito calada, a sua respiração tinha acelerado.

Olhei para ela, sabendo que veria finalmente o medo que eu esperava. Não tinha eu acabado de admitir o quão perto estive de matá-la? Mais perto do que a carrinha que tinha estado a escassos centímetros de a esmagar. E ainda assim, a sua cara ainda estava calma, os seus olhos ainda apertado com preocupação.

- Lembras-te? – Ela tinha que se lembrar daquilo.

- Lembro. – Ela disse, a sua voz nivelada e grave. Os seus profundos olhos estavam cheios de alerta.

Ela sabia. Ela sabia que eu tinha querido matá-la.

Onde estavam os gritos? Porque é que ela não estava a fugir de mim?

- E, no entanto, aqui estás tu sentada. – Disse, apontando a inerente contradição.

- Sim, aqui estou eu sentada… por tua causa. – A sua expressão alterou-se, tornou-se curiosa, enquanto ela pouco subtilmente mudou de assunto. - Porque, de alguma forma, tu sabias como encontrar-me hoje…

Desesperadamente, esforcei-me contra a barreira que protegia os seus pensamentos mais uma vez, desesperado para compreender. Não fazia nenhum sentido lógico para mim. Como podia ela preocupar-se com o resto com aquela horrenda verdade exposta?

Ela esperou, apenas curiosa. A sua pele estava pálida, o que era natural para ela, mas ainda me preocupava. O seu jantar estava quase intocado na sua frente. Se eu continuasse a contar-lhe demasiado, ela iria precisar de reforço quando o choque se espalhasse.

Dei voz às minhas condições. - Tu comes e eu falo.

Ela processou isto por meio segundo, e então atirou uma dentada para a sua boca com uma velocidade que abalava a sua calma. Ela estava mais ansiosa pela minha resposta do que os seus olhos mostravam.

- É mais difícil do que deveria ser – localizar-te. – Disse-lhe. - Normalmente, consigo encontrar uma pessoa com muita facilidade quando já auscultei a sua mente antes.

Observei a sua face cuidadosamente enquanto disse isto. Adivinhar acertadamente era uma coisa, tê-la confirmada é outra.

Ela estava quieta, os seus olhos arregalados. Eu senti os meus dentes cerrarem-se enquanto esperava pelo seu pânico.

Mas ela apenas piscou os olhos uma vez, engoliu sonoramente, e então meteu outra garfada na sua boca. Ela queria que eu continuasse.

- Andava a vigiar a Jessica, - Continuei, observando cada palavra enquanto elas assentava. - Sem grandes cuidados – como já referi, só tu podias arranjar sarilhos em Port Angeles… - Não resisti a adicionar aquilo. Apercebia-se ela de que a vida dos outros humanos não era tão povoada com experiências de quase morte, ou pensava ela que era normal? Ela é a coisa mais longe do normal que eu alguma vez encontrei. - E, a princípio, não reparei que partiras sozinha. Então, quando me apercebi de que já não estavas com elas, fui à tua procura à livraria que eu vira na cabeça dela. Percebi que não tinhas entrado e te deslocavas para Sul… e sabia que terias de voltar para trás em breve. Assim, estava apenas à tua espera, perscrutando aleatoriamente os pensamentos das pessoas que passavam na rua – para ver se alguém reparara em ti, de modo a poder saber onde estavas. Não tinha motivos para estar preocupado… mas estava estranhamente ansioso… - A minha respiração acelerou enquanto me lembrava de sentir o pânico. O seu cheiro chegou-me à garganta e eu fiquei contente. Era uma dor que significava que ela estava viva. Enquanto eu ardesse, ela estava segura.

- Comecei a andar às voltas, ainda… à escuta. – Eu esperava que a palavra fizesse sentido para ela. Isto tinha que ser confuso. - O Sol estava finalmente a pôr-se e eu prestes a sair do carro e a seguir-te a pé. Então…

Quando a memória me apanhou – perfeitamente nítida e vivida como se eu estivesse naquele momento novamente – senti a mesma fúria assassina trespassou-me o corpo, paralisando-o.

Eu queria-o morto. Eu precisava dele morto. O meu maxilar apertou-se com força enquanto eu me concentrava em ficar aqui à mesa. Bella ainda precisava de mim. Era isso que importava.

- Então o quê? – Ela sussurrou, os seus olhos escuros arregalados.

- Ouvi o que eles estavam a pensar. – Disse por entre dentes, incapaz de impedir que as palavras saíssem como um rugido. - Vi o teu rosto na mente dele.

Eu mal conseguia resistir à urgência de o matar. Eu ainda sabia precisamente onde encontrá-lo. Os seus negros pensamentos sugando o céu nocturno, puxando-me para ele…

Tapei a minha cara, sabendo que a minha expressão era a de um monstro, um caçador, um assassino. Fixei a imagem dela por detrás dos meus olhos fechados para me controlar, focando-me apenas na face dela. A delicada estrutura dos seus ossos, a fina camada da sua pálida pele – como seda esticada sobre vidro, incrivelmente suave e quebrável. Ela era demasiado vulnerável para este mundo. Ela precisava de um protector. E, através de algum arranjo mal feito do destino, eu era a coisa mais próxima disponível.

Tentei explicar a minha violenta reacção para que ela entendesse.

- Foi muito… difícil para mim… não imaginas quanto… simplesmente levar-te dali e deixá-los… vivos. – Sussurrei. - Podia ter-te deixado ir com a Jessica e a Angela, mas receava que, se me deixasses sozinho, eu fosse à procura deles.

Pela segunda vez esta noite, eu confessei que tencionava cometer um assassinato. Pelo menos este era justificável.

Ela estava muito quieta enquanto eu me esforçava por me controlar. Ouvi o bater do seu coração. O ritmo estava irregular, mas desacelerou enquanto o tempo passava até voltar ao normal novamente. A sua respiração, também, estava baixa e nivelada.

Eu estava perto do limite. Precisava levá-la a casa antes…

Iria eu matá-lo, então? Iria eu tornar-me um assassino outra vez quando ela confiava em mim? Havia algum modo de me impedir?

Ela tinha prometido contar-me a sua última teoria quando estivéssemos sozinhos. Queria eu ouvi-la? Eu estava ansioso por isso, mas seria a recompensa pela minha curiosidade pior do que não saber?

A qualquer nível, ela já devia ter demasiada verdade por uma noite.

Olhei para ela outra vez, e a sua cara estava mais pálida do que antes, mas calma.

- Estás pronta para ir para casa? – Perguntei.

- Estou pronta para me ir embora. – Ela disse, escolhendo as suas palavras cuidadosamente, como se um simples “sim” não fosse suficiente para expressar o que ela queria dizer.

Frustrante.

A empregada voltou. Ela tinha ouvido a última frase de Bella enquanto vagueava do outro lado da partição, perguntando-se o que mais me poderia oferecer. Eu queria rolar os meus olhos para algumas das ofertas que ela tinha em mente.

- Está tudo bem? – Ela perguntou-me.

- Já pode trazer-nos a conta, obrigado. – Disse-lhe, os meus olhos em Bella.

A respiração da empregada elevou-se e ela estava momentaneamente – para usar o termo de Bella – deslumbrada pela minha voz.

Num súbito momento de percepção, ouvindo o modo como a minha voz soava na cabeça desta humana inconsequente, apercebi-me do porquê eu parecer estar a atrair tanta admiração esta noite – em vez do medo usual.

Era por causa de Bella. Tentando tanto ser seguro para ela, para ser menos assustador, para ser humano, eu verdadeiramente tinha perdido o meu limite. Os outros humanos viam apenas beleza agora, com o meu horror interior tão cuidadosamente controlado.

Olhei para a empregada, esperando que ela se recomposse. Era mais ou menos cómico, agora que eu compreendia a razão.

- C… Com certeza. – Ela tartamudeou. - Aqui tem.

Ela entregou-me a pasta com a conta, pensando no cartão que ela tinha escondido atrás do recibo. Um cartão com o seu nome e o seu número de telemóvel.

Sim, até que era engraçado.

Eu já tinha o dinheiro pronto novamente. Devolvi-lhe a pasta, para que ela não perdesse tempo esperando por um telefonema que nunca chegaria.

- Não é necessário dar-me troco. – Disse-lhe, esperando que o tamanho da gorjeta lhe apagasse a desilusão.

Levantei-me, e Bella rapidamente seguiu-me, eu queria oferecer-lhe a minha mão, mas pensei que isso seria abusar demasiado da minha sorte por uma noite. Agradeci à empregada, os meus olhos nunca deixando a cara de Bella. Bella parecia estar a achar algo divertido, também.

Saímos; eu andava tão perto dela quanto me atrevia. Perto o suficiente para que o calor que emanava do seu corpo ser como um toque físico contra o lado esquerdo do meu corpo. Enquanto segurei a porta para ela, ela suspirou baixinho, e eu perguntei-me que arrependimento a tinha feito ficar triste. Olhei nos seus olhos, prestes a perguntar, quando ela subitamente olhou para o chão, parecendo envergonhada. Isso fez-me ficar mais curioso, mesmo que isso me fez relutante em perguntar. O silêncio entre nós continuou enquanto eu abri a porta do passageiro para ela e então entrar no carro.

Liguei o ar condicionado – o tempo quente tinha acabado abruptamente; o carro frio deve a fazer ficar desconfortável. Ela aninhou-se no meu casaco, um pequeno sorriso nos seus lábios.

Esperei, sem fazer conversa até as luzes do passeio desaparecerem. Isso fazia-me sentir mais sozinho com ela.

Era isso a coisa certa? Agora que eu estava focado apenas nela, o carro parecia muito pequeno. O seu cheiro espalhava-se por ele com a corrente do ar condicionado, crescendo e fortalecendo. Cresceu na sua própria força, como outra entidade no carro. Uma presença que exigia reconhecimento.

Já a tinha; eu queimava. O fogo era aceitável, contudo. Parecia estranhamente apropriado para mim. Eu tinha recebido tanto esta noite – mais do que eu esperava. E aqui estava ela, ainda voluntariamente ao meu lado. Eu devia algo em retorno por isso. Um sacrifício. Uma oferenda ardente.

Agora se eu conseguisse apenas manter isso a esse ponto; apenas queimar, e nada mais. Mas o veneno enchia-me a boca, e os meus músculos ficaram tensos em antecipação, como se eu estivesse a caçar…

Eu tinha que afastar pensamentos como estes da minha mente. E eu sabia o que poderia distrair-me.

- Agora. – Disse-lhe, o medo da sua resposta ficando acima do fogo. - É a tua vez.


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