Twilight - a Magia do Amor escrita por Sol Swan Cullen


Capítulo 12
11º Capítulo - Port Angeles (1ª Parte)




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(Bella POV)

 

Jess conduzia mais depressa do que o chefe e, por isso, chegámos a Port Angeles por volta das quatro da tarde. Já passara algum tempo desde que eu saíra à noite só com raparigas e o afluxo de estrogénio era vivificante. Ouvimos lamuriosas músicas rock enquanto Jessica tagarelava acerca dos rapazes com quem nos dávamos. O jantar de Jessica com Mike correra muito bem e ela esperava que, até sábado à noite, já tivessem evoluído para a fase do primeiro beijo. Sorri para dentro, satisfeita. Era tão bom ver quando as coisas corriam do modo como queria sem que tivesse que entrevir magicamente. Angela estava mais ou menos feliz por ir ao baile, mas não estava realmente interessada em Eric. Jess tentou levá-la a confessar qual era o rapaz que fazia o seu género, mas eu interrompi-as com uma pergunta sobre vestidos, de modo a poupá-la. Angela relanceou um olhar de agradecimento na minha direcção.

Port Angeles era uma bela armadilha para turistas, muito mais aprimorada e peculiar do que Forks, mas Jessica e Angela conheciam-na bem, não tencionando, portanto, perder tempo na pitoresca marginal junto à baía. Jess dirigiu-se imediatamente para a única grande loja da cidade, que ficava a algumas ruas de distância da zona da baía digna do olhar dos visitantes.

O baile fora publicitado como sendo semiformal e nenhuma de nós sabia ao certo o que isso significava. Tanto Jessica como Angela pareceram surpreendidas e quase incrédulas quando lhes disse que nunca fora a um baile em Phoenix. Não podia, de maneira nenhuma, revelar-lhes que em casa eu era aproximadamente o que os Cullen eram aqui.

- Nunca foste sequer com um namorado ou algo do género? – Perguntou Jess de forma duvidosa ao entrarmos pela porta da frente da loja.

- A sério. – Tentei convencê-la, não querendo também confessar as minhas dificuldades relacionadas com a dança. – Nunca tive um namorado nem nada parecido. Raramente saía.

- Porque não? – Interrogou Jessica.

- Ninguém me convidava. – Respondi com sinceridade.

Ela parecia céptica.

- Aqui há quem te convide para sair. – Relembrou-me ela. – E tu recusas.

Encontrávamo-nos agora na secção juvenil, esquadrinhando as prateleiras em busca de trajes de cerimónia.

- Bem, exceptuando o Tyler. – Corrigiu Angela tranquilamente.

- Desculpa! – Exclamei com voz arquejante. – Que disseste?

- O Tyler contou a toda a gente que vai acompanhar-te ao baile. – Informou-me Jessica com um olhar desconfiado.

- Contou o quê?

A minha voz soava como se eu estivesse a sufocar.

- Disse-te que não era verdade. – Segredou Angela a Jessica.

Fiquei calada, estando ainda perdida num sentimento de escândalo que começava a transformar-se em irritação. Dentro de mim, o monstro (ou monstrinho, como “amorosamente” me referia a ele) ronronou de contentamento com o pensamento de lançar uma maldição a Tyler. Havíamos, porém, encontrado as prateleiras dos vestidos e tínhamos trabalho a fazer.

- É por isso que a Lauren não gosta de ti. – Comentou Jessica, soltando risinhos, enquanto nós remexíamos as roupas.

Rangi os dentes. Furiosa pelas coisas que agora estava a descobrir.

- Achas que, se eu o atropelasse com a minha pick-up, ele deixava de se sentir culpado pelo acidente? Que talvez desistisse de me compensar e desse o assunto por encerrado?

- Talvez. – Disse Jessica, soltando um riso abafado. – Se for esse o motivo por que ele está a agir desta forma.

A variedade de vestidos não era muito grande, mas cada uma delas encontrou qualquer coisa para experimentar. Sentei-me numa cadeira baixa mesmo no interior do gabinete de prova, junto do espelho de três faces, tentando controlar a cólera.

Jess estava dividida entre dois vestidos – um comprido, sem alças, com o preto como cor de base e outro azul-eléctrico com alças fininhas, cujo comprimento se ficava pelos joelhos. Pessoalmente, não me agradava nenhum dos vestidos. Então, incentivei-a a optar pelo azul; porque não jogar com a cor dos olhos? (Esta era uma das partes boas de ter Ana como irmã e Emily como prima, tinha um leque de conselhos de moda disponíveis em todas as ocasiões.) Angela escolheu um vestido cor-de-rosa pálido que caía lindamente na sua estatura elevada e conferia cambiantes cor de mel aos seus cabelos castanho-claros. Elogiei ambas generosamente e ajudei-as a restituir os artigos rejeitados às respectivas prateleiras. Todo o processo foi muito mais breve e fácil do que certas viagens similares que eu efectuara com Renée em Phoenix ou com Ana em Salem (nesse aspecto, também, ninguém podia dizer que elas não eram mãe e filha). Suponho que a escassez de opções tinha algo a ver com este facto.

Dirigimo-nos para a secção de sapatos e acessórios. Enquanto elas experimentavam artigos sucessivamente, eu limitava-me a olhar e a dar a minha opinião (interferindo de vez em quando com alguns conselhos de Ana, que me mandava mensagens para o telemóvel dizendo o que ficaria melhor com o quê no que tocava às raparigas), não estando com disposição para fazer compras para mim, embora precisasse, de facto, de sapatos novos. O entusiasmo relativamente à saída com as raparigas estava a desvanecer-se na sequência do meu aborrecimento com Tyler, deixando espaço para que a melancolia voltasse a instalar-se.

- Angela? – Principiei, hesitante, enquanto ela experimentava um par de sapatos de salto alto cor-de-rosa com tiras.

Ela estava radiante por ter um acompanhante suficientemente alto para lhe permitir usar sapatos de salto alto. Jessica afastara-se até ao balcão da ourivesaria e nós estávamos sozinhas.

- Sim? – Respondeu ela enquanto esticava a perna, torcendo o tornozelo, de modo a poder ter um melhor ângulo de visão do sapato.

Acobardei-me.

- Gosto desses.

- Acho que vou comprá-los – apesar de não condizerem com mais nada além daquele único vestido. – Reflectiu ela.

- Oh, compra-os, estão em saldo. – Incentivei-a.

Ela sorriu, voltando a colocar a tampa numa caixa que continha sapatos num tom branco-pérola com aspecto mais prático.

Nesse momento, o meu telemóvel vibrou no meu bolso e eu puxei-o para fora para ver que recebera uma mensagem de Ana.

“Cobarde!”

Fui mais rápida a digitar uma resposta do que alguma vez fora.

“Não te metas!”

Novamente, o telemóvel vibrou e vi que era Ana… outra vez.

“Pergunta-lhe!”

Engoli em seco e tentei novamente.

- Hum, Angela…

Ela ergueu o olhar com curiosidade.

- É normal que os… Cullen – mantive os olhos pregados nos sapatos – estejam muitas vezes ausentes da escola?

Falhei miseravelmente na minha tentativa de demonstrar desprendimento.

- É. Quando o tempo está agradável, eles partem muitas vezes em viagem, com a mochila às costas… até o médico. São todos grandes adeptos do ar livre. – Revelou-me ela tranquilamente, examinando também os seus sapatos.

Não fez uma única pergunta, ao contrário do que aconteceria com Jessica, que teria debitado centenas delas. Começava a gostar realmente de Angela.

- Ah!

Sem que eu estivesse preparada, o meu telemóvel voltou a dar sinais de vida com uma nova mensagem, não me apressei a retirar o telemóvel do bolso já sabendo de quem era.

“Não custou muito, pois não? Diverte-te e não te preocupes com o Edward! Voltarás a vê-lo não tarda! Bjs, Ana.”

Suspirei. Seria muito difícil para Ana dar-me as informações que eu precisava sem ser por enigmas? Começava a ficar cansada desses jogos.

Não insisti mais no assunto com Angela, pois Jessica voltou para nos mostrar as jóias de imitação de diamante que encontrara para combinarem com os seus sapatos prateados.

Tencionávamos ir jantar a um pequeno restaurante italiano situado na marginal, mas a compra do vestido não demorara tanto tempo como nós estávamos à espera. Jess e Angela iam levar as suas roupas para o carro e, depois, caminhar até à baía. Disse-lhes que me encontraria com elas no restaurante dentro de uma hora – queria procurar uma livraria. Ambas estavam dispostas a fazer-me companhia, mas instiguei-as a irem divertir-se – não sabiam quão abstraída eu podia ficar quando estava rodeada de livros; tratava-se de uma coisa que preferia fazer sozinha. Partiram em direcção ao carro, conversando alegremente e eu encaminhei-me no sentido que Jess me indicara.

Não tive qualquer dificuldade em encontrar a livraria, mas esta não era o que eu procurava. As montras estavam repletas de cristais, caçadores de sonhos e livros acerca de cura espiritual, tudo o que era necessário para afastar uma bruxa verdadeira! Apostava quanto fosse necessário que nem a dona da loja sabia para que serviam os cristais em exposição ou sequer os outros materiais. Não cheguei sequer a entrar. Através do vidro, consegui ver uma mulher de cinquenta anos com longos cabelos grisalhos que se lhe estendiam ao longo das costas, envergando um vestido característico dos anos sessenta e sorrindo de forma acolhedora de trás do balcão. Cheguei à conclusão de que podia prescindir daquela mulher. Devia haver uma livraria normal na cidade, para anormal já bastava eu!

Vagueei pelas ruas, que começavam a encher-se com o trânsito do final do dia de trabalho e esperei estar a dirigir-me para o centro da cidade. Não estava a prestar tanta atenção como devia ao rumo que estava a tomar; debatia-me com o desespero. Tentava com tanta veemência não pensar nele, naquilo que Angela dissera, naquilo que Ana escrevera na mensagem… e, acima de tudo, tentava reprimir as minhas esperanças quanto ao dia de sábado, temendo sofrer uma decepção ainda mais dolorosa do que o resto (desejava ardentemente poder contar-lhe o que eu era e mostrar-lhe Salem, deixá-lo entrar no meu mundo), quando olhei e deparei com o Volvo prateado de alguém estacionado na rua. Tudo desabou sobre mim. Vampiro estúpido, que não é digno de confiança, pensei para comigo.

Eu caminhava com um passo pesado para Sul, em direcção a algumas lojas com fachada de vidro que pareciam promissoras, mas, quando cheguei junto destas, não passavam de uma oficina de reparações ou de um espaço vago. Ainda dispunha de demasiado tempo para ir ter com Jessica e Angela, e tinha absoluta necessidade de controlar a minha disposição antes de voltar a encontrar-me com elas – não queria arruinar a noite delas, já que a minha não podia melhorar. Passei os dedos pelo cabelo um par de vezes e respirei fundo antes de prosseguir, contornando a esquina.

Comecei a aperceber-me, ao atravessar outra rua, de que estava a ir na direcção errada. Os poucos peões que vira dirigiam-se pra Norte e parecia que quase todos os edifícios que ali se encontravam era sobretudo armazéns. Decidi virar para Leste na esquina seguinte e, em seguida, dar umas voltas depois de ter percorrido alguns quarteirões e tentar a minha sorte numa rua diferente no caminho de volta para a marginal.

Um grupo de quatro homens, vestidos de forma demasiado descontraída para estarem a efectuar o percurso do escritório para casa, mas muito sujos de fuligem para serem turistas, contornou a esquina para a qual eu me dirigia. Ao aproximarem-se de mim, apercebi-me de que não eram muito mais velhos do que eu e que deles emanava o cheiro mais pútrido a álcool que eu alguma vez sentira. Gracejavam sonoramente entre si, rindo e socando os braços uns dos outros. Afastei-me o máximo que podia para o lado interior do passeio de modo a dar-lhes espaço, caminhando velozmente (de modo humano), olhando, ao passar por eles, para a esquina.

- Viva! – Exclamou um deles ao passarem, devendo estar a dirigir-se a mim, visto que não havia mais ninguém por perto.

Bella, não pares. Informou-me a minha consciência, sentindo perigo iminente.

Relanceei o olhar automaticamente. Dois deles haviam-se detido, enquanto os outros dois estavam a abrandar o passo. O que se encontrava mais próximo de mim, um homem moreno, de constituição pesada, com vinte e poucos anos, parecia ser o que falara. Envergava uma camisa de flanela aberta por cima de uma camisola de mangas curtas suja, calças de ganga cortadas pelo joelho e sandálias. Deu meio passo na minha direcção.

Mordi o lábio para me impedir de falar.

Em seguida, desviei rapidamente o olhar e caminhei mais depressa em direcção à esquina. Conseguia ouvi-los a rirem-se a plenos pulmões atrás de mim.

- Eh, espera! – Exclamou um deles, dirigindo-se a mim novamente.

Eu, porém, mantive a cabeça baixa e contornei a esquina com um suspiro de alívio. Ainda conseguia ouvi-los rirem-se às gargalhadas atrás de mim.

Dei por mim num passeio que se estendia ao longo das traseiras de vários armazéns de cor sombria, cada um deles com grandes portas salientes da parede para a descarga de camiões, fechadas a cadeado para a pernoita. O lado Sul da rua não tinha passeio, mas apenas uma vedação de rede metálica encimada por arame farpado que protegia de algum tipo de recinto de armazenamento de peças de motos. Distanciara-me significativamente da zona de Port Angeles que eu, enquanto convidada, devia visitar. Apercebi-me de que começava a escurecer, com nuvens a acumularem-se no horizonte a Ocidente, originando um pôr-do-sol prematuro. A Oriente, o céu continuava limpo, mas começava a ficar cinzento, raiado de laivos de tons cor-de-rosa e cor-de-laranja. Deixara o casaco no carro e um súbito arrepio fez-me cruzar os braços com firmeza contra o peito. Uma única carrinha passou por mim e, depois, a estrada ficou vazia.

De repente, o céu escureceu ainda mais e, ao olhar por cima do ombro para observar a ofensiva nuvem, apercebi-me, com um sobressalto, de que dois homens caminhavam silenciosamente atrás de mim a uma distância de seis metros.

Pertenciam ao mesmo grupo por que eu passara na esquina, embora nenhum deles fosse o moreno que me falara. Virei logo a cabeça para a frente, acelerando o passo. Um calafrio que nada tinha a ver com o tempo fez-me tremer novamente. A minha mente processou rapidamente a informação de que estava a ser perseguida enquanto apertava mais a minha mala contra o peito. Sabia exactamente o que NÃO devia fazer: usar magia contra humanos; mas também sabia exactamente o que me ajudaria e que, de momento, não se encontrava na minha posse: o gás pimenta.

Embora estivesse assustada com a presença perturbadora dos homens, pensei que fossem meros ladrões e que se deixasse cair a mala (na qual não transportava muito dinheiro) talvez me deixassem em paz. Claro que quando tentamos pensar positivo havemos de ter sempre “alguém” a fazer-nos pensar negativamente, no meu caso, a minha consciência tratou exactamente do assunto.

Escutei com atenção os seus discretos passos, que eram demasiado silenciosos quando comparados com a ruidosa agitação que haviam protagonizado há pouco, e não parecia estarem a acelerar ou a aproximar-se mais de mim. Grande erro, murmurou o meu monstrinho pessoal. Não deviam estar a andar silenciosamente atrás da sobrinha de um vampiro… Pode ser ofensivo. Continuei a andar, acelerando o passo o mais que podia, sem correr, concentrando-me na curva para a direita que estava agora a apenas alguns metros de distância. Conseguia ouvi-los, ficando tão para trás como haviam estado antes. Um automóvel azul virou para a rua vindo do lado Sul e passou por mim a grande velocidade. Pensei em saltar-lhe para a frente (como uma humana desesperada), mas hesitei, inibida, não estando certa de que estava mesmo a ser perseguida e, então, já era tarde de mais.

E esta tarde que prometia ser tão tranquila… Suspirou a minha consciência ao ver que a esquina dava acesso a um beco sem saída. Inspirei fundo. Era inevitável o confronto.

O meu telemóvel vibrou na mala, apressei-me a tirá-lo para ler a mensagem, esperava que fosse Ana a dizer-me como me ver livre dos homens, qual não foi o meu espanto ao ver que a mensagem não era dela.

Go get them, tiger! Bjs, Nick

Ele estava com Ana, obviamente, e ela ter-lhe-ia mostrado o meu futuro certamente. Inspirei novamente, se este era o único modo de me ver livre de dois possíveis violadores… então que seja!

Concentrei-me em ouvir os passos quase inaudíveis atrás de mim, dando à minha mente duas hipóteses: a primeira, a que me agradava pessoalmente e desagradava ao monstrinho que ansiava por uma luta, fugir, e a segunda, a que agradava ao monstrinho e, de certo modo, à consciência, lutar. Uma escolha difícil, mas que acabou por ser facilmente decidida. Optei por dar primeiro uso à primeira opção, não podia expor-me sem antes ter a certeza de que não havia outra hipótese. Precipitei-me para o lado oposto da estreita estrada, voltando para o passeio. A rua chegou ao fim na esquina seguinte, onde se encontrava um sinal de “Stop”. Voltei a dar atenção aos passos atrás de mim, pareciam estar mais longe e eu sabia que eles, de qualquer modo, poderiam correr mais depressa que eu… se eu assim o permitisse. Lutei contra o ímpeto de me relembrar daquele pequeno detalhe que era a “super” velocidade hereditária, em nada me servia ser super veloz quando eu era super desastrada. O som das passadas ficara, decididamente, mais para trás. Aventurei-me a relancear o olhar por cima do ombro e verifiquei, com alívio, que eles se encontravam, agora, talvez a doze metros de distância, mas ambos tinham o olhar fixado em mim.

O tempo que levei a chegar à esquina pareceu uma eternidade. Mantive um ritmo de andamento regular, ficando os homens que se encontravam atrás de mim ligeiramente mais afastados a cada passo que eu dava. Talvez se tivessem apercebido de que me haviam assustado e lamentassem tê-lo feito. Deviam lamentar-se de se terem metido connosco em primeiro lugar, ronronou o monstrinho de maneira ameaçadora. Vi dois carros dirigirem-se para Norte ao passarem pelo cruzamento para o qual me encaminhava e respirei de alívio. Haveria mais pessoas por perto logo que eu saísse daquela rua deserta. Contornei a esquina de um pulo com um suspiro de agradecimento.

Escorreguei até parar.

A rua era ladeada de paredes despidas, sem portas nem janelas. Ao longe, conseguia avistar, a cerca de dois cruzamentos de distância, candeeiros de iluminação pública, automóveis e mais peões, mas tudo estava demasiado longe. Isto porque, encostados ao edifício ocidental, na zona intermédia da rua, encontravam-se os outros dois homens do grupo, assistindo com sorrisos de entusiasmo, enquanto eu ficava paralisada de morte no passeio. Apercebi-me subitamente de que não estava a ser seguida.

Estava a ser direccionada.

Por momentos, deixei a minha mente pensar nas clientes do Tio Angel e da Tia Isabel, será que era assim que elas se sentiam? Muito provavelmente sim. Teria que perguntar depois aos meus dois padrinhos se nenhum deles se sentia inclinado a abrir uma empresa em Port Angeles…

Detive-me apenas por um instante, mas tive a sensação de que tal se prolongara por muito tempo. Então, virei-me e precipitei-me para o lado oposto da estrada. Tive a desanimadora impressão de que tal tentativa era vã. Os passos vindos de trás de mim eram agora mais sonoros.

- Aí estás tu!

A voz tonitruante do homem entroncado de cabelo escuro quebrou o intenso silêncio e fez-me estremecer de súbito. Na crescente escuridão, parecia que o seu olhar se fixava além de mim.

- Pois! – Exclamou sonoramente uma voz vinda de trás de mim, fazendo-me estremecer enquanto me apressava a descer a rua. – Fizemos apenas um pequeno desvio.

E era agora que aparecia o herói… Murmurou a minha consciência, arrancando um rugido baixo do monstro.

Abrandei o passo. Estava a encurtar a distância que me separava da indolente parelha demasiado depressa. Tinha uma boa e sonora capacidade vocal e aspirei ar, preparando-me para fazer uso dela, mas a garganta estava tão seca que não sabia ao certo qual a intensidade que aquela conseguiria atingir. Com um movimento rápido, coloquei a minha mala acima da cabeça, segurando a alça com uma mão, pronta para entregá-la ou utilizá-la como arma se a necessidade a tal obrigasse.

Bella, pára de te comportar como uma humana medricas, tu és uma bruxa! Usa os teus poderes e desanda daí! Rosnou o monstrinho, querendo vir à tona e dar uma lição àqueles que me rodeavam.

O homem atarracado afastou-se da parede quando me detive com cautela e avancei lentamente pela rua. Sem sequer reparar, soltei um suspiro.

- Eu se estivesse no vosso lugar, afastava-me e deixava-me passar. – Murmurei com uma estranha confiança, uma confiança que eu desconhecia ter no momento.

- Não sejas assim, meu docinho! – Exclamou ele. Então, o riso rouco desencadeou-se novamente atrás de mim.

Dos meus lábios escapou o mais pequeno rosnar, sentia o meu sangue ferver e o meu coração batia mais depressa, adrenalina espalhava-se pelo meu corpo, desencadeando a magia. Era um lado bom de ser bruxa (sem grande controlo sobre os seus poderes), fosse qual fosse a situação, um pouco de adrenalina e eu estava pronta para usar magia. Aproximaram-se os quatro, todos com sorrisos maliciosos no rosto. Mordi o interior da bochecha para me impedir a mim de sorrir também, eles tinham-se metido com a pessoa errada… e estavam prestes a lamentá-lo.

De repente, surgiram luzes de faróis na esquina e o carro quase atingiu o sujeito entroncado, obrigando-o a recuar com um salto na direcção do passeio. Saindo do meu modo super confiante, atirei-me para a estrada – este carro iria parar ou teria de me atingir. No entanto, o carro prateado fez um pião, derrapando até se imobilizar com a porta do passageiro aberta a escassos metros de distância de mim.

- Entra! – Ordenou uma voz furiosa.

Foi espantosa a forma como o medo sufocante, que havia tomado o lugar da confiança absurda, desapareceu instantaneamente, como, de súbito, uma sensação de segurança se apoderou de mim – mesmo antes de ter entrado no carro – assim que ouvi a voz dele. Saltei para o banco, batendo com a porta depois de ter entrado.

No interior do carro, estava escuro – nenhuma luz se acendera quando a porta fora aberta – e os meus olhos demoraram pouco a habituarem-se à pouca luminosidade emanada do tablier para poder ver o seu rosto. Os pneus chiaram quando ele rodopiou para ficar virado para Norte, acelerando demasiado, guinando em direcção aos homens estupefactos que se encontravam na rua. Vi-os de relance a atirarem-se para o passeio enquanto nós retomávamos o rumo e acelerávamos em direcção ao porto.

- Coloca o cinto de segurança. – Ordenou ele.

Então, apercebi-me de que estava a agarrar-me ao assento com ambas as mãos. Apressei-me a obedecer-lhe; o estalido produzido quando o cinto se prendeu foi sonoro na escuridão. Virou à esquina numa curva apertada, avançando em grande velocidade, passando como um raio por vários sinais de “Stop” sem a menor quebra de velocidade.

No entanto, sentia-me completamente a salvo, sem querer saber para onde íamos. Fitava o seu rosto com um profundo alívio, um alívio que transcendia o meu súbito salvamento. Sabem aquela expressão: Nunca me senti tão feliz por te ver? Sentia isso mesmo neste momento. Examinei os seus traços impecáveis na claridade limitada, esperando que a minha respiração voltasse ao normal, até que me apercebi de que ele tinha estampada no rosto uma expressão de raiva assassina. Embora soubesse que aquela expressão representava perigo, não consegui deixar de me sentir tranquila. Ele estava aqui.

- Estás bem? – Perguntei, espantada com a forma como a minha voz estava enrouquecida.

- Não. – Disse ele secamente, mas com um tom de voz que transmitia fúria.

Permaneci sentada em silêncio, observando-lhe o rosto enquanto os seus olhos ardentes se mantinham fixos no que se encontrava à sua frente, até que o carro parou de repente. Olhei em redor, mas estava demasiado escuro para conseguir ver além do indefinido contorno das árvores sombrias que juncavam a berma da estrada. Já não estávamos na cidade.

- Bella? – Interrogou ele, com a voz tensa e controlada.

- Sim? – Respondi com a voz ainda rouca.

Tentei aclarar a garganta de forma discreta.

- Estás bem?

Continuava sem olhar para mim, e por isso a minha mente implorava que o fizesse, mas a fúria era evidente no seu semblante.

- Estou. – Respondi com uma voz gutural.

- Distrai-me, por favor. – Ordenou.

- Desculpa, o que disseste? – Eu tinha percebido bem?

Expirou bruscamente.

- Fala apenas sobre algo sem importância até que eu acalme. – Esclareceu, fechando os olhos e beliscando a cana do nariz com o polegar e o dedo indicador.

- Hum. – Dei voltas à cabeça em busca de um assunto banal. Lembrei-me de algo rapidamente. – Amanhã, antes das aulas, vou atropelar o Tyler Crowley.

Ele ainda comprimia as pálpebras, mas o canto da boca contraiu-se-lhe. Com que então ele também achava piada? Isso era bom.

- Porquê?

- Anda a dizer a todos que vai acompanhar-me ao baile de finalistas, ou está louco ou ainda anda a tentar compensar-me por quase me ter matado no outro dia… bem, tu recordas-te, e julga que o baile é, de algum modo, a maneira adequada de o fazer. Logo, calculo que, se eu colocar a vida dele em perigo, ficamos quites e ele não poderá continuar a tentar compensar-me. Não preciso de inimigos e talvez a Lauren sossegasse se ele me deixasse em paz. Talvez tenha, todavia, de destruir o Sentra dele. Se não tiver um meio de transporte, não pode levar ninguém ao baile… - Tagarelei. Ponderando sobre isso. Era uma boa ideia.

- Ouvi falar disso. – Parecia um pouco mais calmo.

- Ouviste? – Perguntei incredulamente, com a irritação de há pouco a inflamar-se. Tudo bem que ter os meus amigos humanos a comentar isso era uma coisa, agora, ter o meu amigo vampiro a saber e não me informar… era outra que me deixava ainda mais irritada. – Se estiver paralisado do pescoço para baixo, também não pode ir ao baile de finalistas… - Murmurei aperfeiçoando o meu plano. – Queres ajudar-me?

Ainda de olhos fechados, Edward riu-se, então, suspirou e, por fim, abriu os olhos.

- Estás bem?

- Nem por isso.

Aguardei, mas ele não voltou a falar. Encostou a cabeça ao banco, olhando para o tejadilho do automóvel. O seu rosto estava austero. E eu tinha vontade de o acariciar para fazer com que aquele ar desaparecesse.

- O que é que se passa? – As minhas palavras saíram sussurradas.

- Por vezes, tenho problemas com o meu temperamento, Bella. – Também ele sussurrava e, enquanto olhava para o vidro, os seus olhos semicerraram-se, transformando-se em meras frechas. – Mas não adiantaria de nada se eu desse meia volta e perseguisse aqueles… - não terminou a frase, desviando o olhar, esforçando-se por um momento, por controlar novamente a sua raiva. – Pelo menos – continuou – é disso que tento convencer-me.

Por algum motivo, as palavras dele desencadeavam em mim um sentimento de preocupação. Não por aqueles miseráveis, mas sim por ele.

– Eu não queria que fosses atrás deles. – Murmurei, fazendo-o olhar para mim. Os seus olhos dourados brilhavam intensamente, como se conseguissem perceber a minha preocupação.

Ficámos novamente sentados em silêncio. Olhei para o relógio que se encontrava no tablier. Já passava das seis e meia da tarde. Como eu odiava ter pessoas à minha espera.

- A Jessica e a Angela vão ficar preocupadas. – Murmurei. – Devia ir encontrar-me com elas. – Mas não te quero deixar, pensei.

Ligou o motor sem voltar a proferir uma única palavra, procedendo a uma suave inversão de marcha e acelerando de novo em direcção à cidade. Num ápice, já estávamos debaixo das luzes dos candeeiros de iluminação pública, avançando ainda com demasiada velocidade e passando pela marginal. Estacionou paralelamente aos restantes veículos, junto da borda do passeio, num lugar que eu considerava demasiado pequeno para o Volvo, mas ele ocupou-o sem o mínimo esforço à primeira tentativa. Olhei pelo vidro e vi as luzes de La Bella Itália, assim como Jess e Angela a irem-se embora, distanciando-se ansiosamente de nós.

- Como é que sabias onde…? – Principiei, mas, depois, limitei-me a abanar a cabeça. Não estava realmente interessada em saber.

Ouvi a porta a abrir-se e virei-me, vendo-o a sair.

- O que estás a fazer? – Interroguei.

- Vou levar-te a jantar.

Esboçou um ligeiro sorriso, mas tinha os olhos duros. Saiu do carro e bateu com a porta. Tentei desajeitadamente libertar-me do cinto de segurança e, em seguida, apressei-me também a sair do carro. Ele esperava-me no passeio.

Falou antes de eu ter tido oportunidade de o fazer.

- Vai atrás da Jessica e da Angela antes que eu tenha também de seguir no seu encalço. Acho que não conseguiria refrear-me se desse outra vez de caras com aqueles teus amigos.

Abri um sorriso sarcástico para ele e tremi perante o tom de ameaça patente na sua voz.

- Jess! Angela! – Gritei, seguindo atrás delas e acenando-lhes quando olharam.

Precipitaram-se na minha direcção, com a nítida expressão de alívio estampada no rosto de ambas a transformar-se simultaneamente em surpresa ao verem quem se encontrava a meu lado. Hesitaram em avançar a escassos metros de distância de nós. Reprimi a vontade de revirar os olhos. Oh, vá lá, aproximem-se! Ele não morde… muito, pensei mordendo os lábios para evitar sorrir.

- Onde estiveste? – A voz de Jessica transmitia desconfiança.

- Perdi-me. – Confessei timidamente. – E, depois, encontrei-me com o Edward por acaso. – Disse as últimas palavras com mais entoação para deixar bem claro que não fora propositado.

Fiz um gesto na direcção dele.

- Não se importam que eu vos faça companhia? – Perguntou com a sua voz suave e irresistível.

Pelo ar espantado de ambas, percebi que ele nunca antes usara os seus encantos com elas… Tão típico dos vampiros que não se dão totalmente com os humanos.

- Aah… claro que não. – Afirmou Jessica suavemente.

Inconscientemente, o meu corpo aproximou-se de Edward e no meu peito, o monstrinho rosnava baixinho, como se estivesse a marcar território. Só podia estar a ficar louca.

- Hum, na verdade, Bella, nós já comemos enquanto estávamos à espera; desculpa. – Confessou Angela, tirando-me do meu transe.

- Tudo bem, não tenho fome. – Disse eu encolhendo os ombros.

- Julgo que devias comer alguma coisa. – Edward falava em voz baixa, mas com muita autoridade. Olhou para Jessica e falou com um tom de voz ligeiramente mais elevado. – Importas-te que eu leve a Bella a casa esta noite? Deste modo, não terão de esperar enquanto ela come.

- Hum, suponho que não há problema…

Ela mordeu o lábio, tentando perceber, através da minha expressão facial, se era aquilo que eu queria. Pisquei-lhe o olho. Nada mais queria no mundo senão estar a sós com o meu eterno salvador. Havia imensas perguntas com que só podia bombardeá-lo quando estivéssemos sozinhos.

- Está bem! – Disse Angela mais rápida do que Jessica. Teria que arranjar uma maneira de lhe agradecer. – Até amanhã, Bella… Edward.

Pegou na mão de Jessica e puxou-a na direcção do carro, que eu conseguia avistar a uma curta distância, estacionado do outro lado da First Street. Ao entrarem, Jess voltou-se e acenou, com o rosto a transparecer uma curiosidade ávida. Retribui-lhe o aceno, esperando que elas se afastassem antes de me virar de frente para ele.

- A sério, não tenho fome. – Insisti, erguendo o olhar para lhe perscrutar o rosto. A sua expressão facial era indecifrável.

- Faz-me a vontade.

Dirigiu-se para a porta do restaurante e manteve-a aberta com um ar de obstinação. Obviamente, não haveria mais discussões (e nisto ele até me fazia lembrar o Tio Angel). Passei por ele, entrando no restaurante, com um suspiro de resignação.

O restaurante não estava muito cheio – vivia-se a época baixa em Port Angeles. Quem recebia os clientes era uma mulher e eu percebi o seu olhar enquanto examinava Edward. Recebeu-o de uma forma mais calorosa do que o necessário. Novamente, o meu corpo reagiu possessivamente em relação a Edward perante a atitude da mulher e fiquei espantada com o modo como tal me incomodava. Ela era vários centímetros mais alta do que eu e artificialmente loura.

- Tem uma mesa para dois?

A voz dele era sedutora, quer fosse essa a sua intenção ou não. Vi o olhar dela incidir em mim e, depois, desviar-se, tendo ficado satisfeita com a minha óbvia vulgaridade e com a cautelosa distância que Edward mantinha entre nós. Olhei para Edward com um olhar acusador depois de a rapariga ter desviado o seu olhar. Conduziu-nos até uma mesa suficientemente grande para acomodar quatro pessoas, no centro da zona mais apinhada da sala de jantar. Estúpida.

Estava prestes a sentar-me (contrariada), mas Edward abanou a cabeça. E esse seu simples gesto fez o meu coração levitar de contentamento. Ele queria tanto estar a sós comigo como eu queria estar com ele.

- Talvez num local mais íntimo? – Insistiu tranquilamente junto da anfitriã.

Não tinha a certeza, mas parecera que ele lhe dera uma gorjeta de forma subtil. Nunca vira ninguém recusar uma mesa, a não ser nos filmes antigos. Mas, no momento, também, não estava interessada nisso, estava mais interessada em apreciar a sensação que tinha ao saber que Edward queria estar mesmo a sós comigo.

Bella, comporta-te como uma bruxa normal. Ordenou a minha consciência.

- Com certeza. – Anuiu ela, mais surpreendida do que eu. Conduziu-nos, passando por uma divisória, até um pequeno recinto com cabinas, todas elas vazias. – O que lhe parece?

- Perfeito.

Concordo plenamente. Pensei olhando em redor.

Ele exibiu o seu sorriso resplandecente, deslumbrando-a por momentos. No meu peito, o monstrinho rosnou com um estranho sentimento… talvez… ciúme?

- Hum! – Exclamou ela, abanando a cabeça e pestanejando. – A empregada que irá servir-vos não demorará.

- Não devias mesmo fazer isso às pessoas. – Critiquei. Com uma pontada de ciúme, que esperei ardentemente que ele não reparasse, na voz. – Não é muito justo.

- Fazer o quê?

- Deslumbrá-las dessa forma; neste preciso momento, ela deve estar na cozinha a respirar de forma ofegante.

Ele parecia confuso.

- Oh, vá lá! – Disse com hesitação. – Tu deves ter noção do efeito que exerces nas pessoas.

Inclinou a cabeça para um dos lados e os seus olhos expressaram curiosidade. Não vinha aí coisa boa.

- Eu deslumbro as pessoas?

Não era possível que os vampiros fossem tão tapadinhos. – Ainda não reparaste? Julgas que todos conseguem alcançar o que pretendem com tanta facilidade?

Ignorou as minhas perguntas.

- E a ti, deslumbro-te?

Constantemente… - Frequentemente. – Confessei.

Então, a nossa empregada de mesa chegou, com um ar expectante. A anfitriã havia, decididamente, embelezado os factos nos bastidores e a nova rapariga não parecia decepcionada. Colocou um fio de cabelo negro curto atrás de uma das orelhas e sorriu com desnecessário entusiasmo.

- Olá. Chamo-me Amber e vou ser a sua empregada de mesa esta noite. O que deseja beber?

Não me escapou o facto de ela se dirigir unicamente a ele. Ele olhou para mim. Fazendo-me vibrar, interiormente, de satisfação.

- Eu quero uma Coca-Cola.

A entoação da frase levou a que parecesse tratar-se de uma pergunta.

- São duas Coca-Colas. – Disse ele.

Olhei para ele com um olhar, que eu tinha a certeza tratar-se de um olhar questionante. Julgava que vampiros não comiam nem bebiam coisas humanas.

- Trá-las-ei de imediato. – Asseverou-lhe ela com outro sorriso desnecessário, mas ele não o viu. Estava a observar-me. Ainda.

- O que foi? – Interroguei quando ela se foi embora.

Os olhos dele permaneceram fixos no meu rosto.

- Como te sentes?

- Estou óptima. – Retorqui, surpreendida com a sua veemência. Senti ainda vontade de acrescentar que estava ainda melhor que óptima apenas por estar ao pé dele.

- Não te sentes tonta, enjoada, com frio…?

- Devia sentir?

Ele soltou um riso abafado perante o meu tom de perplexidade. Talvez tivesse dito algo engraçado e não tivesse reparado.

- Bem, na verdade, estou à espera de que entres em estado de choque.

O seu rosto contorceu-se, dando origem àquele perfeito sorriso de través. O meu sorriso.

- Não creio que isso vá acontecer. – Declarei depois de conseguir voltar a respirar e de tirar aqueles pensamentos da minha mente. – Sempre fui bastante boa a reprimir coisas desagradáveis.

- Mesmo assim, ficarei mais descansado quando ingerires algum açúcar e comida.

Nesse preciso instante, a empregada de mesa apareceu, trazendo as nossas bebidas e um cesto de gressinos. Posicionou-se com as costas voltadas para mim enquanto os colocava em cima da mesa. Outra vez, o monstrinho rosnou cheio de ciúmes.

- Está pronto para pedir? – Perguntou a Edward.

- Bella? – Interrogou ele.

Ela virou-se de má vontade para mim. Escolhi o primeiro prato que vi na ementa. Sentindo-me incrivelmente satisfeita com a atenção a mim dirigida pelo deus na minha frente.

- Hum… Quero o ravioli de cogumelos.

- E o senhor? – Perguntou ela, virando-se novamente para ele com um sorriso no rosto.

- Eu não quero nada. - Afirmou ele.

Claro que não queria. Já lhe devia bastar ter que suportar o cheiro da minha comida. Por momentos, até senti pena dele.

- Se mudar de ideias, avise-me.

Percebi a mensagem dos seus pensamentos escondida por detrás daquela frase tão comum. Não era tão mais fácil colocar logo o número de telemóvel no guardanapo?

O sorriso delico-doce continuava no mesmo lugar, mas ele não estava a olhar para ela, pelo que se foi embora descontente. Fazendo aumentar a minha satisfação.

- Bebe. – Ordenou ele. Sim, senhor.

Sorvi o meu refrigerante de modo obediente e, em seguida, bebi mais avidamente, surpreendida com a sede que sentia. Apercebi-me de que o consumira até ao fim quando ele empurrou o seu copo na minha direcção. Sempre conveniente trazer um vampiro connosco a um restaurante.

- Obrigada. – Murmurei por entre dentes, estando ainda sequiosa.

A sensação de frio que derivava do refrigerante gelado estava a difundir-se pelo meu peito, de um modo agradável, e eu arrepiei-me.

- Tens frio?

- É só a Coca-Cola. – Expliquei, sentindo outro arrepio.

- Não tens um casaco?

O seu tom de voz era recriminador.

- Tenho.

Olhei para o banco vazio a meu lado.

- Oh! Deixei-o no carro da Jessica. – Constatei.

Edward estava a despir o casaco. De repente, apercebi-me de que não reparara uma única vez nas roupas que ele vestia – não só nesta noite, mas nunca. Simplesmente não conseguia tirar os olhos do seu semblante. Obriguei-me a olhar agora, concentrando-me. Estava a tirar um casaco de pele bege-claro; por baixo, tinha uma camisola de gola alta cor de marfim. Assentava-lhe confortavelmente, realçando-lhe o musculado peito.

Deu-me o casaco, interrompendo o meu olhar amoroso.

- Obrigada! – Exclamei, com os braços a deslizarem pelas mangas do seu casaco.

Estava frio (agradavelmente frio) – como o meu quando pegava nele de manhã, na entrada repleta de correntes de ar, onde estava pendurado. Senti outro arrepio, mas desta vez de prazer. Exalava um odor fantástico. Inspirei, tentando identificar a deliciosa fragrância. Não cheirava a água-de-colónia. As mangas eram demasiado compridas; arregacei-as de modo a libertar as mãos.

- Essa cor azul condiz maravilhosamente com a tua pele. – Disse ele, observando-me.

Fiquei surpreendida; baixei o olhar, ruborizando, como é evidente. Empurrou o cesto do pão na minha direcção. Por momentos tinha me esquecido realmente de onde estávamos ou de sequer porque é que estávamos aqui.

- A sério, não vou entrar em estado de choque. – Protestei. Mas ele deu-me aquele olhar (incrivelmente, o mesmo olhar que o Tio Angel dava quando não estava aberto a discussões) que me dizia que não havia discussão possível naquela matéria.

- Mas devias; a uma pessoa normal era isso que aconteceria. Nem sequer pareces abalada.

- Talvez eu não seja uma pessoa normal! – Retorqui.

Ele parecia inquieto. Olhava-me fixamente nos olhos e eu consegui ver quão claros os seus estavam, mais claros do que alguma vez os vira, do tom dourado dos caramelos de manteiga. Ele tinha ido caçar.

- Sinto-me muito protegida na tua companhia. – Confessei, ficando novamente hipnotizada e sendo outra vez induzida a dizer a verdade.

A minha afirmação desagradou-lhe; a sua testa de alabastro enrugou-se. Abanou a cabeça, franzindo o sobrolho.

- Isto é mais complicado do que eu imaginara. – Murmurou para consigo mesmo.

- Podes crer. – Murmurei, sem intenção de ser ouvida, também.

Ele olhou-me, confuso. Peguei num gressino e comecei a mordiscar a respectiva extremidade, analisando a sua expressão facial (do mesmo modo, estou certa, de que ele observava a minha). Perguntei-me quando seria o momento indicado para começar a interrogá-lo.

Isabella, nunca haverá um momento indicado para o interrogares sobre a sua natureza! Ralhou-me a minha consciência. Optei por ignorá-la.

- Normalmente, estás mais bem-disposto quando os teus olhos estão assim claros. – Comentei, tentando distraí-lo do pensamento que o fizera franzir o sobrolho e ficar melancólico.

Fitou-me estupefacto.

- O quê?

Adoro quando apanho as pessoas desprevenidas.

- Estás sempre mais rabugento quando os teus olhos estão negros; nessa altura, já sei o que esperar. – Prossegui. – Tenho uma teoria a esse respeito.

Os seus olhos semicerraram-se.

- Mais teorias?

Muitas mais.

- Sim.

Eu mastigava um pequeno pedaço de pão, tentando parecer indiferente. De facto, estava ansiosa, pensando se lhe deveria também revelar o que eu era.

- Gostaria que, desta vez, fosses mais criativa… ou continuas a inspirar-te nos livros de banda desenhada?

O seu ténue sorriso era escarnecedor; os seus olhos continuavam tensos. Sentia necessidade de lhe tocar, de fazer com que também os seus olhos relaxassem.

Abri um sorriso, tentando esconder a irritação e de reprimir a súbita vontade de baixar a voz a um nível bom para os seus ouvidos, falar tão depressa que qualquer humano teria dificuldade em compreender o que eu teria dito e dizer-lhe que sabia exactamente o que ele era.

- Bem, não, não me baseei num livro de banda desenhada, mas também não a elaborei sozinha. – Confessei. Continuar com a ideia das teorias era uma boa maneira de o fazer sentir-se à vontade.

- E então? – Incitou-me.

No entanto, nesse momento, a empregada de mesa contornou a divisória a passos largos, trazendo a minha comida. Apercebi-me de que estávamos inconscientemente inclinados na direcção um do outro, por cima da mesa, pois ambos nos endireitámos quando ela se aproximou. Contive uma gargalhada com o pensamento que me passou a mente (nós os dois éramos dois ímanes atraindo-nos um ao outro), mas não consegui evitar que o canto dos meus lábios subisse, chamando à atenção de Edward. Ela colocou o prato à minha frente – tinha um aspecto bastante apetitoso – e virou-se rapidamente para Edward. Contive um rugido para a mulher, não precisava de ter um comportamento digno de um vampiro em frente de um.

- Mudou de ideias? – Perguntou ela. Julguei que ela tivesse falado comigo quando comecei a rosnar baixo demais para os seus ouvidos. – Não quer que lhe traga nada?

Eu podia estar a imaginar o duplo significado das suas palavras, mas estava certa que se pudesse ouvir pensamentos, estaria a ouvir ou a ver uma outra oferta na sua mente. Olhei para ele, esperando que ele dissesse alguma coisa.

- Não, obrigada, mas convinha que trouxesse mais refrigerante.

Ele fez um gesto com a mão longa e branca na direcção dos copos vazios que se encontravam diante de mim.

- Com certeza.

Ele retirou os copos vazios e afastou-se. O rugido no meu peito tornou-se subitamente num ronronar satisfeito pela ausência da mulher.

- O que estavas a dizer? – Perguntou.

- Digo-te no carro. Se…

Detive-me. Deixando no ar a sugestão. Iria pôr condições, uma pelo menos, mas não seria eu a dizer que assim seria.

- Há condições?

Ele levantou a sobrancelha, falando num tom de voz sinistro.

- Tenho, de facto, algumas questões a colocar, evidentemente.

- Evidentemente.

A empregada voltou com mais duas Coca-Colas. Desta vez pousou-as na mesa sem proferir uma única palavra, o que me deixou muito satisfeita, e voltou a ir-se embora.

Sorvi um trago.

- Bem, continua. – Instigou, ainda com uma voz ríspida.

Comecei pela menos exigente. Ou assim pensava eu.

- Porque estás em Port Angeles?

Baixou o olhar, unindo lentamente as suas mãos grandes sobre a mesa. O seu olhar incidiu sobre mim de baixo das suas pestanas, com o indicio de um sorriso pretensioso a surgir-lhe no rosto. Eu conhecia aquela cara… E não estava a gostar.

- A seguinte.

- Mas esta é a mais fácil. – Protestei. Era mesmo aquilo que eu esperava. Ele ia tentar convencer-me a passar à pergunta seguinte sem reclamar e esquecer a primeira. Temos pena, querido, já ando com vampiros há muito mais tempo e já sei decore as vossas ideias!

- A seguinte. – Repetiu. Estúpido.

Baixei o olhar, frustrada. Desenrolei o guardanapo que envolvia os meus talheres, peguei no garfo e espetei cuidadosamente um pedaço de ravioli. Coloquei-o na boca lentamente, ainda com o olhar baixo, mastigando enquanto pensava. Os cogumelos eram bons. Engoli e sorvi outro trago de Coca-Cola antes de o olhar.

- Então, muito bem. – Lancei-lhe um olhar feroz e prossegui lentamente. – Digamos, hipoteticamente, como é evidente, que… alguém… podia adivinhar os pensamentos das pessoas, ler a mente, tu sabes… com algumas excepções.

- Com apenas uma excepção. – Corrigiu ele. – Hipoteticamente.

- Muito bem, que seja, então, uma excepção. – Estava radiante por verificar que ele iria cooperar, mas tentei mostrar indiferença. – Como é que isso funciona? Quais são as limitações? Como é que… essa pessoa… encontraria outra exactamente no momento certo? Como poderia ele saber que ela estava em apuros?

Perguntei-me se as minhas perguntas intrincadas chegavam sequer a ter nexo.

- Hipoteticamente? – Interrogou ele.

- Claro.

- Bem, se… essa pessoa…

- Chamemos-lhe Joe. – Sugeri.

Ele pareceu estremecer com o nome, mas esboçou um sorriso enviesado.

- Joe, então. Se o Joe estivesse a prestar atenção, o sentido de oportunidade não teria tido de ser assim tão exacto.

Ele abanou a cabeça, revirando os olhos.

- Só tu poderias arranjar sarilhos numa cidade assim tão pequena. Terias arrasado as estatísticas referentes à taxa de criminalidade da cidade por uma década, sabes.

- Estávamos a referir-nos a um caso hipotético. – Relembrei-lhe friamente.

Ele riu-se de mim, com um olhar caloroso.

- Pois estávamos. – Concordou. – Chamamos-te Jane?

Reprimi um novo rugido perante o nome. Era um que eu definitivamente não gostava.

- Como é que sabias? – Perguntei, incapaz de refrear a minha impetuosidade.

Apercebi-me de que estava novamente inclinada na direcção dele. Ele parecia estar a vacilar, dividido por algum dilema interior. Os seus olhos fixaram-se nos meus e deduzi que ele estava, naquele preciso momento, a tomar a decisão de simplesmente me contar ou não a verdade.

- Sabes que podes confiar em mim. – Murmurei.

Estendi a mão, sem pensar, para tocar as suas, que estavam unidas, mas ele afastou-as sumariamente e eu retirei a minha. Estava a avançar muito depressa.

- Não sei se ainda tenho alternativa. – Disse ele com um tom de voz quase sussurrante. – Estava enganado, tu és muito mais observadora do que eu julgava.

Sorri convencidamente.

- Pensava que tinhas sempre razão.

- Costumava ter. – Abanou a cabeça. – Também me enganei a teu respeito acerca de outro aspecto. Tu não atraís acidentes, esta definição não é suficientemente abrangente. Tu atraís sarilhos. Se houver alguma situação de perigo num raio de quinze quilómetros, acabará invariavelmente por te envolver.

- E tu inseres-te nessa categoria? – Conjecturei. Melhor isto do que lhe dizer que ele estaria sempre lá para salvar o dia.

O seu rosto tornou-se frio, inexpressivo.

- Inequivocamente.

Voltei a estender a mão por cima da mesa – ignorando-o enquanto ele se retraiu um pouco uma vez mais – para tocar timidamente as costas da sua mão com as pontas dos meus dedos. A sua pele estava fria e dura, como uma pedra. Mas isso para mim era apenas mais um conforto, a familiaridade com aquele toque já era muita. Sem que ele me impedisse, toquei-lhe com a mão toda.

- Obrigada. – A minha voz estava fervorosa de gratidão. Ele salvara a minha vida e agora, deixava-me estar perto dele. – Já é a segunda vez.

O seu rosto amoleceu.

- Não vamos experimentar a terceira, de acordo?

Olhei-o mal-humorada, mas acenei com a cabeça. Retirou a mão debaixo da minha, colocando as duas mãos debaixo da mesa, mas inclinou-se na minha direcção. Outra vez, éramos como dois ímanes a serem atraídos um pelo outro.

- Segui-te até Port Angeles. – Confessou, falando num ímpeto. – Nunca tentei manter viva uma pessoa em especial, e é muito mais problemático do que eu imaginara, mas, provavelmente, é por essa pessoa seres tu. As pessoas normais parecem conseguir chegar ao fim do dia sem tantas catástrofes.

Deteve-se. Perguntei-me se deveria ficar incomodada com o facto de ele andar a seguir-me; em vez disso, fui invadida por uma estranha sensação de prazer, fazendo o monstrinho ronronar satisfeito. Ele olhava-me fixamente, talvez perguntando-se por que motivo os meus lábios esboçavam um trejeito que progredia para um sorriso involuntário.

- Já te ocorreu a ideia de que talvez tivesse chegado a minha vez naquela primeira ocasião, com a carrinha, e tu tens estado a interferir no destino? – Como eu tenho andado a interferir? Pensei em acrescentar, sentindo uma onda de melancolia atingir-me.

- Não foi essa a primeira vez. – Disse ele, sendo difícil ouvir a sua voz; eu fitava-o com assombro, mas ele tinha o olhar baixo. – A tua vez chegou quando te conheci.

Senti um acesso de medo ao escutar as suas palavras e recordei bruscamente o olhar furioso que ele me lançara naquele dia… e o despertar do meu lado negro naquela mesma aula… mas a avassaladora sensação de segurança que eu sentia na sua presença e o facto de o meu monstro já não sentir uma atracção tão forte em relação a ele aquietaram-me. Quando ele ergueu o olhar para decifrar o meu, não havia nele qualquer vestígio de medo.

- Lembras-te? – Perguntou, com o seu semblante solene de anjo.

- Lembro. – Estava calma.

- E, no entanto, aqui estás tu sentada.

Havia um laivo de incredulidade na sua voz; levantou uma sobrancelha.

Sim… tal como tu. Pensei.

- Sim, aqui estou eu sentada… por tua causa. – Detive-me. – Porque, de alguma forma, tu sabias como encontrar-me hoje… - Incitei-o a explicar. Desejosa por afastar aqueles pensamentos da minha cabeça.

Ele apertou os lábios, fitando-me com os olhos semicerrados, tomando uma nova decisão. O seu olhar incidiu subitamente sobre o meu prato e, em seguida, sobre mim.

- Tu comes e eu falo. – Negociou. Pareceu-me um bom negócio.

Peguei rapidamente noutra garfada de ravioli e levei-a à boca, mastigando com pressa.

- É mais difícil do que deveria ser – localizar-te. Normalmente, consigo encontrar uma pessoa com muita facilidade quando já auscultei a sua mente antes.

Ele olhou-me com ansiedade e apercebi-me de que paralisara. Obriguei-me a mim mesma a engolir e, em seguida, espetei outro pedaço de ravioli e abocanhei-o.

- Andava a vigiar a Jessica, sem grandes cuidados – como já referi, só tu podias arranjar sarilhos em Port Angeles – e, a princípio, não reparei que partiras sozinha. Então, quando me apercebi de que já não estavas com elas, fui à tua procura à livraria que eu vira na cabeça dela. Percebi que não tinhas entrado e te deslocavas para Sul… e sabia que terias de voltar para trás em breve. Assim, estava apenas à tua espera, perscrutando aleatoriamente os pensamentos das pessoas que passavam na rua – para ver se alguém reparara em ti, de modo a poder saber onde estavas. Não tinha motivos para estar preocupado… mas estava estranhamente ansioso…

Estava perdido nos seus pensamentos, fixando o olhar além de mim, vendo coisas que eu não podia imaginar.

- Comecei a andar às voltas, ainda… à escuta. O Sol estava finalmente a pôr-se e eu prestes a sair do carro e a seguir-te a pé. Então… - Ele parou, cerrando os dentes numa fúrias repentina. Esforçou-se por se acalmar.

- Então o quê? – Sussurrei, também eu esforçando-me para evitar esticar a minha mão e tocar-lhe.

Ele continuou a olhar fixamente por cima da minha cabeça.

- Ouvi o que eles estavam a pensar. – Resmungou, com o seu lábio superior a retrair-se ligeiramente por cima dos dentes. – Vi o teu rosto na mente dele.

Subitamente, inclinou-se para a frente, com um cotovelo a surgir sobre a mesa e a mão a tapar-lhe os olhos. O movimento foi tão ágil que me assustou.

- Foi muito… difícil para mim… não imaginas quanto… simplesmente levar-te dali e deixá-los… vivos. – A sua voz era abafada pelo seu braço. – Podia ter-te deixado ir com a Jessica e a Angela, mas receava que, se me deixasses sozinho, eu fosse à procura deles. – Confessou num sussurro.

Eu permanecia silenciosamente sentada, aturdida, com as ideias a surgirem-me incoerentemente. As minhas mãos estavam unidas ao meu colo e eu encostava-me sem energia às costas do assento. Ele ainda segurava o rosto com a mão e estava imóvel como se tivesse sido esculpido na pedra à qual se assemelhava a sua pele.

Finalmente, ergueu o olhar, com os seus olhos a procurarem os meus, pejados das suas próprias perguntas.

- Estás pronta para ir para casa? – Interrogou.

- Estou pronta para me ir embora. – Reformulei, excessivamente grata por ainda podermos desfrutar, juntos, da hora que demorava a viagem até casa. Não estava preparada para me despedir dele. Nem agora e acho que nunca.

A empregada de mesa apareceu como se tivesse sido chamada ou estivesse a observar-nos.

- Está tudo bem? – Perguntou ela a Edward.

- Já pode trazer-nos a conta, obrigado.

A voz dele estava serena, mais ríspida, reflectindo ainda a tensão da nossa conversa. Tal facto pareceu perturbar o espírito da empregada. Ele levantou o olhar, esperando.

- C… Com certeza. – Tartamudeou ela. – Aqui tem.

Retirou uma pequena pasta de pele do bolso da frente do avental preto e entregou-lhe.

Ele já tinha uma nota na mão. Colocou-a no interior da pasta e devolveu-lha.

- Não é necessário dar-me troco.

Sorriu. Levantando-se e eu pus-me de pé de forma desajeitada. Ela sorriu-lhe novamente de modo convidativo.

- Tenha uma boa noite.

Ele não desviou sequer o olhar de mim enquanto lhe agradecia. Eu reprimi um sorriso.

Caminhou muito próximo de mim enquanto nos dirigíamos para a porta, tendo ainda o cuidado de não me tocar. Lembrei-me do que Jessica dissera a respeito da sua relação com Mike, de como estavam quase a chegar à fase do beijo. Suspirei, Edward pareceu ouvir-me e baixou curiosamente o olhar. Olhei para o passeio, grata pelo facto de, aparentemente, ele não ser capaz de adivinhar os meus pensamentos.

Abriu a porta do lado do passageiro, segurando-a enquanto eu entrava e fechando-a suavemente quando eu já me encontrava no interior do automóvel. Observei-o enquanto contornou a frente do carro, espantada, uma vez mais, com a sua graciosidade. Provavelmente, já devia estar habituada a isso – mas não estava. Tinha a impressão de que Edward não era o género de pessoa a quem as outras se habituavam. Mesmo que não fossem bruxas ou até mesmo vampiros.

Assim que entrou no carro, ligou o motor e pôs o aquecimento no máximo. A temperatura baixara significativamente e eu calculei que o bom tempo chegara ao fim. O casaco dele, porém, mantinha-me quente e eu aspirava o seu perfume quando pensava que ele não poderia ver-me fazê-lo.

Edward saiu do estacionamento, avançando por entre o tráfego, aparentemente sem um relancear de olhar, virando de repente para trás para seguir em direcção à estrada nacional.

- Agora. – Disse ele de forma sugestiva. – É a tua vez.


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