Escape escrita por Miaka


Capítulo 29
Vengeance... for you


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Peço mil desculpas pela demora imensa em postar esse capítulo! Estava de férias e fiquei um pouco atarefada! Obrigada por acompanharem minha história! ♥



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Os pneus cantaram ao estacionar, praticamente jogando o carro no único espaço disponível naquele acostamento. Expostas a céu aberto, barracas que vendiam de comida congelada à tênis que exibiam marcas famosas; de bebidas alcóolicas à drogas. Definitivamente aquele era o pior lugar da cidade; uma área totalmente dominada pelo crime. Um lugar onde as autoridades não tinham o menor poder.

Um tanto quanto apreensivo, Sinbad tratou de abrir a carteira e retirou a identificação policial de lá, agachando-se para escondê-la por dentro de um dos lustrosos sapatos.

Assim que abriu a porta do carro, foi surpreendido.

— Ae, tio! Ae, tio! Pó de cinco aqui comigo, tio!

O delegado se assustou, atordoado pela forma com a qual foi abordado pelo rapaz. A pele branca do suposto vendedor tinha um tom cianótico, quase cadavérico, enquanto que os olhos vidrados estavam completamente vermelhos.

— Na-Não, obrigado. - da forma mais sutil possível ele tentava se afastar.

— Por favor, tio, peraí! - ele agarrou a barra do terno do moreno. - Tenho família pra sustentar!

— Chega, chega!

Duas palmas anunciaram a chegada daquele rapaz de baixa estatura. Ele tinha metade dos cabelos raspados, enquanto que a outra metade era bastante comprida. Puxou aquela figura estranha, arremessando-o ao meio-feio e afastando-a de Sinbad.

— Obrigado. - o delegado não sabia se devia se sentir aliviado.

— Ei, tio. - ele cruzou os braços. - Dá pra ver que esse lugar aqui num é pro sinhô.

— Eu tenho um compromisso aqui. - Sinbad foi sucinto. Decidiu aproveitar a gentileza do rapaz. - Sabe onde é o beco próximo a rua 2?

— Tio… - suspirando, o rapaz coçou a nuca. - Não sei se ainda não percebeu, mas todo mundo de olho em você desde que entrou aqui com esse carrão bacana. Mete o pé, vai? Já vi que o sinhô é de bem!

Sinbad observou ao redor e notou olhares estranhos - e deveras ameaçadores - que eram direcionados a ele. Como ele, tão treinado e astuto como era, anos servindo a polícia, não havia percebido tamanho perigo? Também pudera, estava tão tenso. Só pensava em… acertar as contas com Barbarossa. Mas não havia escolha.

— Rapaz, eu agradeço seu conselho, mas é que me chamaram aqui.

— Tio, ninguém chama alguém aqui se não for pra meter no microondas! Rala daqui!

— Eu sou policial! - Sinbad sussurrou.

— CARALHO!

Rapidamente ficando nas pontas dos pés, o garoto usou as mãos para cobrir os lábios do moreno. Sinbad nada entendeu.

— Tio, vai embora. Senão vai ser eu que vou ter que te ameaçar pra te botar pra fora.  É pro seu bem! Eu sei do que to falando… Sinbad!

Como aquele garoto sabia seu nome? Enquanto Sinbad tentava processar aquilo, ele foi praticamente conduzido de volta ao carro. A mão tremia ao tentar encontrar a tranca do automóvel até que finalmente abriu a porta.

— C-Como sabe meu nome? - o moreno gaguejou enquanto ligava o carro ao se sentar.

— Porque eu sei que tem gente aqui pronta pra matar o sinhô! - ele se debruçou na janela do carro. - Seus vidros são blindados, ? - Sinbad assentiu. - Fecha o carro e mete o pé daqui!

Sinbad engoliu a seco antes de obedecer às ordens daquele que só podia ser um anjo.

— Qual seu nome? - ele perguntou enquanto via o vidro filmado em preto subir e esconder aquele rosto.

— Olba.

Foi tudo o que o delegado ouviu antes de cumprir as ordens daquele rapaz.

—-----xxxxxxx------

— Onde é que tá o Sinbad?!

— E-Eu não sei!

Alibaba levou um susto quando abriu a porta do apartamento e Judal marchou para dentro à procura do delegado. Atrás dele vinha Hakuryuu que, mesmo aflito devido a tanta tensão, sorriu ao ver o loiro.

— Alibaba-dono! - ele abraçou seu amigo. Se Judal não estivesse tão tenso... - Como está? 

— Estou bem! Preocupado com o Sinbad-san também.

— Merda! - Judal esbravejou. - Como não sabe? Ele não disse nada? Não deixou nenhuma…

— Shhh!

Cruzando os lábios com o indicador, Alibaba pediu que ele fizesse silêncio.

— Não é bom que o Ja’far-san saiba que o Sinbad-san está tendo problemas! - ele sussurrou.

Judal se jogou no sofá, esticando as pernas sobre a mesa de centro. Ele se sentia em sua própria casa. - como havia sido por muitos anos.

— Tem razão. - massageando as têmporas, ele concordou. - Como ele está?

— Mais disposto. Ja’far-san está tomando um banho agora.

— Ele não perguntou sobre o Sinbad?

— Como ele estava dormindo há pouco, eu disse que o Sinbad-san ligou e pediu para avisar que demoraria… - Alibaba corou. - Me sinto péssimo por isso.

— Não fique assim, Alibaba-dono. Está fazendo isso pelo bem do próprio Ja’far-san!

Aquele leve afago que Hakuryuu deu nos ombros de seu amigo fez o sangue de Judal ferver. Inevitável revirar os olhos detestando aquela intimidade que eles demonstravam ter. Não era o momento, mas aquilo parecia um combustível para sua raiva.

— Me dá um copo d’água, Alibaba! - era a forma sutil que ele tinha para afastar os dois, interrompendo aquela cena. Depois, a sós, ele poderia resolver com Hakuryuu e esclarecer aquilo.

Alibaba assentiu e seguiu para a cozinha. Foi no mesmo instante em que a porta se abriu e revelou Sinbad. Ele estava extremamente abatido, mas estranhou a presença de Judal e Hakuryuu.

— Sinbad-san!

Hakuryuu se preparou para cumprimentá-lo, sem esperar que Judal praticamente pulasse do sofá para empurrá-lo e, sem a menor cerimônia, esmurrar o rosto do delegado.

Sinbad foi aparado pela parede próxima à porta. Os olhos dourados arregalados encaravam um furioso Judal.

— Você tá iditoa, Sinbad?! - ele vociferou. - Eu pedi, eu implorei para que não fizesse merda! E você foi cair na armadilha do Barbarossa?!

Em silêncio por um instante, o moreno suspirou.

— Já disse que você não tem nada a ver com…

— Com você se matar?! Você é um escroto mesmo! Mas não está louco porque essa manhã estava preocupado com o Ja’far! Como você acha que ele vai ficar se você morrer?!

— Eu não vou morrer! Eu vou matar o Barbarossa e me vingar pelo o que ele fez a Serendine e ao Ja’far! Se eu morrer, mas me vingar...

— CALA A BOCA!

Bastante apreensivo, Hakuryuu assistiu ao momento em que Judal agarrou Sinbad pela gola da blusa de linho que ele vestia por baixo do terno. Ele sacudiu o delegado, tomado pela fúria.

— JU-JUDAL! - Hakuryuu tentou, mas Judal não estava disposto a parar.

— Como se atreve a não dar a mínima para o Ja’far?! PARA MIM?!

Sinbad engoliu a seco sem deixar de encará-lo com frieza.

— Não foi só a Serendine que me tirou daquela… daquela vida desgraçada! Você também! Como acha que eu vou ficar se você morrer?! E o Ja’far?!

A voz de Judal tremeu e ele fraquejou. Sinbad piscou, atordoado ao vê-lo… chorar?

— Ju… Judal…

— Você é um estúpido!

Empurrando Sinbad, ele se afastou para esconder não só as lágrimas, mas aqueles sentimentos que acabaram, sem querer, escapando. Ele estimava aquele que o ajudou a crescer, assim como Serendine. Judal o considerava… sua família.

Não sabendo como reagir, Sinbad mordeu o lábio inferior, relutante em se aproximar do rapaz que foi em direção à varanda. Hakuryuu o seguiu.

— Judal!

— Me deixa sozinho, Hakuryuu!

Era como se tivesse recebido uma ordem. O mais baixo parou no mesmo lugar. Sabia que devia respeitar aquele momento que só pertencia a Judal, mas o clima estava péssimo. Talvez fosse melhor ir até a cozinha ajudar Alibaba.

— Sin?!

Era como se um choque atravessasse da ponta de seus pés ao topo de sua cabeça. Aquela voz…

Sinbad tentou se recompor ao ver Ja’far aparecer naquela sala. Ele usava um moletom largo e tinha os cabelos brancos úmidos, recém-saído do banho. E, por mais que o amor de sua vida parecesse tão debilitado, ele se esforçou para sorrir, satisfeito, ao ver seu marido voltar após um dia de trabalho.

Naquele momento Sinbad pensou que talvez, se algo tivesse dado errado, se seguisse o combinado… não poderia jamais voltar a ver Ja’far, encontrar aqueles doces olhos verdes ou abraçá-lo. O que estava fazendo com a sua vida?!

— Algum problema, Sin?!

Ele não sabia o que responder, o que fazer. Ja’far, novamente, como sempre, estava preocupado com seu bem estar. Como tivera a coragem de por tudo a perder?

— Na… Não é nada. - ele prendeu o choro cerrando os punhos. Esboçou um sorriso que vacilou. - Como você está, meu amor?

Sinbad se apressou para abraçá-lo. Tão forte. Ja’far estranhou por um breve momento. A vontade que tinha, por mais difícil que fosse pensar naquilo, era de afastá-lo. Mas ele permaneceu acalentado naqueles braços.

— Estou bem! - a voz soou abafada no peito do moreno. - Ouvi a voz do Judal aqui!

— Ele… Ele está aqui com o Hakuryuu-kun. - Sinbad meneou a cabeça em direção à varanda.

— Ja’far-san!

Hakuryuu acenou e eles entraram de volta. Ele afagava os ombros de Judal, que permanecia emburrado. O vento já havia ajudado a secar as trilhas de lágrimas que atravessaram seu rosto.

— Tá melhor, sardento? - Judal, direto como sempre, sem nem encarar o alvo, perguntou.

— Sim, bem melhor. - Ja’far sorriu. Estava acostumado com o jeito de Judal. - Me desculpem se… se agi com rispidez no hospital…

— O que é isso, Ja’far-san?! - Hakuryuu se aproximou. - Qualquer um entenderia seu estado e…

— Sinto muito por todo o trabalho que dei.

Ao interromper o jovem, Ja’far sutilmente inclinou a cabeça para frente. Ele prendia o choro que o consumia desde aquela tragédia. Não estava sendo nada fácil para ele lidar com tudo o que estava acontecendo.

— Não deu trabalho algum. - Judal falou bastante sério ao finalmente encará-lo. - Ja’far, você tem que se recuperar logo! Só você - ele apontou para o alvo. - pra por juízo na cabeça desse idiota!

— Hm?! - bastante confuso ele piscou ao mirar seu marido. - O que aconteceu?! Sin, o que você…

— Não aconteceu nada. - Judal o interrompeu. - Mas fique bem logo porque o Sinbad precisa de você, okay?!

Judal encerrou aquela conversa. Ja’far apenas assentiu, comprometendo-se, apesar de não ter entendido absolutamente nada. Talvez fosse melhor não entender - ele se resignou. Alibaba voltava da cozinha trazendo uma bandeja com água para todos.

— Bem, já que estão todos aqui, por que não pedimos pizza? - Sinbad sorriu meio amarelo. Precisava se distrair. - O que acha, Ja’far?!

— É… É uma ótima ideia! - Ja’far gaguejou, nitidamente incomodado. - Eu já vou me recolher. Por favor, sintam-se em casa.

— Ja’far! - virando-se de frente, o delegado o segurou pelos ombros. - Queremos sua companhia! Vai fazer bem conversarmos e passou o dia todo naquela cama, não?

— Por favor, Sin… - um tanto quanto sem jeito, Ja’far retirou de si as mãos do moreno.

— É melhor irmos para casa, eu acho. - Judal deu um passo a frente na tentativa de aliviar aquela situação. - Ja’far está convalescendo e temos o que fazer também, não é, Hakuryuu?

Sutilmente Judal piscou com um olho só para seu namorado, que logo entendeu o que ele queria dizer e concordava com sua atitude. Era o mais prudente.

— Não, por favor! - o inspetor se manifestou. - Fiquem e divirtam-se! Não se incomodem comigo…

— Só se você participar com a gente, Ja…

— Sinbad, pelo amor de Deus, dá para você se tocar?! - Judal não aguentava mais. Sussurrou no ouvido do delegado. - Seu marido acabou de ser violentado, precisa de descanso e cuidados enquanto você quer que façamos uma festinha em casa?!

Sinbad engoliu a seco ao ouvir as palavras tão duras, mas tão verdadeiras, daquele que falou o óbvio. O moreno se voltou para seu amado que permanecia calado enquanto observava o carpete felpudo que rodeava seus pés. Os dedos das mãos entrelaçados na altura da cintura. Como estava sendo estúpido! - Sinbad pensou ao se afastar de Judal para se aproximar de seu amado.

— Ja’far… Eu… Me desculpe, eu estava insistindo e...

— Ah, eu não posso demorar muito hoje. Prometi que jantaria com a Morgiana. - Alibaba tentou apelar para uma solução rápida para quebrar o clima péssimo.

— Ótimo! Damos carona a você, Alibaba-dono! - Hakuryuu se animou, afinal, ficaria mais tempo com seu amigo. - Nós podemos, não é, Judal?

Judal revirou os olhos. A empolgação de Hakuryuu, quando se tratava de Alibaba, o incomodava tanto… Precisava amadurecer em relação àquilo, confiar nele.

— Claro que sim. - ele massageou a nuca por baixo da longa trança.

— Vou levá-los até o estacionamento, então. - Sinbad se prontificou. - Meu amor, já volto. Tudo bem?!

Ele apenas assentiu, os orbes verdes nem ao menos encontraram os seus. Sinbad se sentia péssimo ao ver Ja’far se comportar daquela maneira. Era nítido como ele estava fragilizado e apático.

Despediram-se rapidamente de Ja’far antes de deixarem o apartamento e se dirigirem ao elevador. Mas só quando chegaram ao estacionamento que, deixando Hakuryuu e Alibaba irem na frente, Judal decidiu questioná-lo. Puxou Sinbad pela manga do terno.

— Onde você foi? - ele foi rápido.

— Deixa pra lá. - encarando o cimento áspero, o delegado respondeu. - Uma favela… - desconversou.

— Você pirou! Não é possível!

— Judal… - o moreno pausou a caminhada para encará-lo. - Não comente com o Ja’far, mas… eu vou ser expulso da corporação e, muito provavelmente, ele também.

— ANH?! - o par vermelho cresceu. - Do que está falando?!

— O Muu, aquele babaca que estudou comigo, já me substituiu. Estão fazendo de tudo para… me punir. Falam que fui responsável pela agressão que o superintendente Yamato sofreu…

— Tsc, o soco que eu dei… - Judal estalou a língua ao presumir.

— Querem que eu faça um pedido de desculpas formal e eu vou fazer pra… garantir meu emprego, mas…

— Eu vou assumir isso, Sinbad! Eu que fiz merda!

— Não, você defendeu meu relacionamento com o Ja’far! Se você for lá e assumir isso, Yamato pode te prender por desacato! E se abrirem uma investigação contra você, Judal, e descobrirem as coisas nas quais você está envolvido...

— Eu não me importo! Agora você não pode perder seu trabalho! O que vai fazer?!

O moreno suspirou. Nem Sinbad mesmo tinha pensado no que faria com sua vida. Como Ja’far e ele se sustentariam? Provavelmente Ja’far voltaria à antiga clínica que costumava trabalhar, e ele…

— Bem, ainda sou advogado, não? - ele respondeu seu próprio pensamento a Judal. - Por favor, não conte nada disso ao Ja’far. Eu quero que ele se recupere sem preocupa...

Judal agarrou as laterais do terno risca-de-giz do delegado, interrompendo-o com aqueles rubis que centelhavam em fúria. Apesar de mais baixo, ele ficou nas pontas dos pés para, com o rosto colado no de Sinbad, sussurrar:

— Então trate de esquecer essa vingança! Trate de cuidar do seu marido!

Engolindo a seco, Sinbad assentiu. Ele sabia que Judal tinha razão.

Alibaba e Hakuryuu, que estavam parados ao lado do carro, felizmente não perceberam aquela situação. Estavam completamente distraídos conversando e gargalhando.

Foi quando o loiro subitamente abraçou Hakuryuu que, bastante surpreso, não entendeu aquela atitude. Aliás, não apenas Hakuryuu, mas Judal, ao encará-los, se surpreendeu com aquela cena que só lhe trouxe um sentimento: raiva.

— Eu não te agradeci, Hakuryuu! Obrigado por ter conseguido esse emprego para mim!

Os olhos dourados dele brilhavam, demonstrando uma gratidão genuína.

— Alibaba-dono, não pre…

— Ei, ei, ei!

Judal surgiu abruptamente para empurrar os ombros de cada um em uma direção, afastando-os. Ambos ficaram sem nada entender, ainda mais devido ao fato do namorado de Hakuryuu estar bastante alterado.

— Que agarramento é esse?! - furioso ele indagou.

— Eu só estava agradecendo ao Hakuryuu pelo emprego e…

— Ótimo, já agradeceu! - um braço protetor dava a volta no pescoço de Hakuryuu, quase o enforcando. - Agora afasta se não quiser voltar de busão para casa!

— Não seja bobo, Judal! - Hakuryuu riu. - Alibaba-dono é como um irmão para mim!

— Sei… - Judal cruzou os braços, nitidamente inconformado ao se dirigir ao lado do motorista. - Dá para as duas amiguinhas entrarem de uma vez por todas?

Alibaba e Hakuryuu riram ao se entreolhar e correram para entrar no veículo.

— Quando chegarem me avisem, por favor! - Sinbad pediu. - Obrigada por tudo hoje. Espero você amanhã, Alibaba-kun!

— Pode ficar tranquilo, Sinbad-san. - ele respondeu ao descer o vidro.

— Ô sua anta, dá pra fechar o vidro? Vou ligar o ar-condicionado. - reclamou Judal.

— Vai ser uma loooonga viagem. - Hakuryuu suspirou.

— Travou!

— Não é possível! Você não sabe apertar um botão?!

Enquanto a discussão de Judal e Alibaba continuava, Hakuryuu sentiu o celular vibrar. Curioso, retirando-o do bolso da calça jeans ele abriu a mensagem.

“Por que não me responde mais, Hakuryuu? Somos irmãos… Eu preciso de você.”

Seu coração falhou uma batida. Sua irmã insistia em falar com ele.

Entreolhou Judal e, sabendo que estava cometendo um erro, ele começou a digitar: “Você não aceita como sou, aneue… Não quero incomodá-la.”

A mensagem chegou quase que de imediato: “Eu pensei melhor. Falei coisas terríveis, agi mal. Quero que me perdoe. Tem como me encontrar amanhã?”

— Quem é, Hakuryuu?! - Judal esticou o pescoço para o lado, tentando enxergar aquela mensagem.

— Ni-ninguém! - ele respondeu num engasgo enquanto tentava, sutilmente, esconder o celular.

“Me perdoe, irmã…” - foi tudo o que ele respondeu, mentalmente, sentindo seu coração apertar. Estava traindo a confiança de seus irmãos, que tanto pediram para que ele protegesse sua irmã. Mas era a escolha de Hakuei: casar-se com aquele homem inescrupuloso, assassino daqueles que tinham seu sangue.

— Parece tenso. - Judal percebeu.

— Anh? Não, é só impressão. - ele forçou um sorriso.

Era o melhor que fazia: ignorar sua família, esquecer que eles lhe causavam tanta dor. Estava cercado agora de pessoas que o amavam de verdade: Judal, Alibaba e até mesmo o delegado Sinbad e Ja’far, eram pessoas que o estimavam tanto… Era como se fossem uma família. - ele suspirou ao sorrir em satisfação ao pensar naquilo. Hakuryuu não se lembrava de estar tão feliz.

—-----xxxxxxx------

Sinbad adentrou o apartamento esperando encontrar Ja’far, mas a sala estava vazia. A porta estava entreaberta, o que achou muito estranho. Provavelmente ele tinha ido se deitar, exausto como estava tomando tantos remédios e estando tão debilitado.

Ele massageou as têmporas. Precisava se manter firme e transmitir força ao seu companheiro. - o delegado pensava enquanto trancava a porta. O melhor a fazer era tomar um banho, comer alguma coisa e ir se deitar com ele. Também precisava descansar.

Mas assim que Sinbad atravessou o corredor, percebeu que as luzes da suíte estavam apagadas. Ja’far já tinha dormido? Só naquele tempo?

Preocupado ele seguiu até a porta. Foi quando ouviu um disparo e ao mesmo tempo um clarão que durou uma fração de segundo iluminou o ambiente. Com seus rápidos reflexos ele se escondeu no batente.

— QUEM ESTÁ AÍ?! - exclamou Sinbad, que enfiou a mão por dentro do terno e não encontrou… nada. Droga! Tinha entregado suas armas a Yamato e sua pistola reserva tinha ficado no carro.

— SA-SAIA DAÍ!

A voz de Ja’far tremia.

O que estava acontecendo? - Sinbad se perguntou.

— Ja’far, foi você?! - ele elevou o tom para que Ja’far, de dentro do quarto, pudesse ouvir.

— Você não vai me levar, Barbarossa… Não! De novo não!

Sinbad ouvia a voz de Ja’far junto do som da arma sendo recarregada.

— Ja’far, sou eu, o Sinbad!

— É MENTIRA! - ele gritou. - Está me enganando! Você é nojento, Barbarossa!

Sem saber o que fazer, num reflexo, Sinbad pulou para dentro da suíte e acendeu a luz.

Pronto para correr, se fosse preciso, ele paralisou ao ver seu marido do outro lado da cama, empunhando com as duas mãos, trêmulas, aquela pistola em sua direção. Os olhos verdes estavam vidrados no delegado, mas ao mesmo tempo eles não pareciam enxergar nada do que viam.

— Ja’far, sou eu! - o moreno ergueu as mãos ao se render. - Abaixe essa arma.

— Você trouxe ele, não é? O Barbarossa…

— Como eu o traria, Ja’far? Eu jamais permitiria que aquele monstro pisasse…

— SAIA DAQUI! - o alvo exclamou. - Saia, ou eu vou atirar!

Sinbad se via encurralado, certo de que aquele transtornado Ja’far ceifaria sua vida.

Ele balançou a cabeça negativamente enquanto mordia o lábio inferior. O que fazer?

— Como posso te convencer de que eu jamais traria o Barbarossa aqui, Ja’far?

Não houve resposta.

— Você está confuso, meu amor. - ele quase sussurrava. - Tem que se acalmar. Abaixe essa arma…

— Se eu soltar a arma eles vão entrar, não é? - Ja’far encarava a porta, alternando a mira entre Sinbad e ela. Ele tinha certeza de que Barbarossa e seus camangas entrariam ali.

— Não, meu amor! Eu juro!

Angustiado, Ja’far focava tanto naquela porta que não percebeu quando Sinbad foi, lentamente, caminhando em sua direção. Assustou-se quando, subitamente, sentiu o braço ser agarrado. Sinbad o levantou para apontar aquela arma para o teto enquanto que, na tentativa de imobilizá-lo, acabou deixando que Ja’far a disparasse novamente.

— ME SOLTA! - gritava o alvo.

Sem muita dificuldade, o moreno arrancou a pistola do alvo e a arremessou longe antes de segurá-lo firmemente. Ja’far se debatia ao sentir os braços fortes e quentes ao seu redor.

— NÃO! POR FAVOR! NÃO FAÇA AQUILO COMIGO DE NOVO! POR FAVOR!

— Shhh, calma, calma!

— POR FAVOR, NÃO! - ele gritava.

— JA’FAR!

Foi a vez do tapa que Sinbad desferiu ecoar por todo aquele quarto. Seus cinco dedos foram estampados no rosto claro daquele que, finalmente, parecia ter saído daquele transe.

Ele ofegava ao, piscando, encontrar os olhos dourados.

— Me desculpa, meu amor, mas eu…

— Sin… - o alvo sussurrou. - Sin, o que eu… Eu pensei que o Barbarossa… Ele…

As palavras de Ja’far se perderam entre as lágrimas. Ele parecia tão perdido, tão… quebrado. Sinbad só pôde abraçá-lo para lhe dar todo seu amor e rezar para que tudo aquilo acabasse.

— Já passou, meu amor! Já passou!

— Eu não queria te machucar, Sin… - Ja’far soluçava.

— Você não machucou, meu bem. - Sinbad afagava os fios alvos. - Vai ficar tudo bem! Eu prometo!

 

—-----xxxxxxx------

Desolada, Hakuei caminhava pelos corredores da mansão. Tinha ido à cozinha beber um copo d’água, mas o gosto salgado das lágrimas que havia derramado permanecia. Será que havia perdido seu irmão para sempre? Sonhava em tê-lo ao seu lado em um momento tão importante! Por que Hakuryuu não podia ser um rapaz normal, agir como um irmão mais novo agiria? Decerto rezaria bastante para que Hakuyuu e Hakuren dessem a orientação que ela precisava àquele rapaz.

Estava tão distraída que mal percebeu quando aquela porta, a dos aposentos de sua mãe, se abriu e de lá saiu ninguém menos que seu noivo. Kouen empalideceu ao ver a moça, mas já era tarde demais para refazer seu caminho.

Ele estava nitidamente suado, os repicados fios ruivos estavam completamente soltos, caindo pelos ombros um tanto quanto amostra sob o grosso roupão desalinhado.

— Ko-Kouen-sama?! - os olhos azuis, marejados, piscaram.

Tinha de manter a compostura.

— O que faz a essa hora acordada? Não vai amanhã cedo ver os últimos detalhes de nossa cerimônia?

Bastante autoritário, como sempre, ele cruzou os braços e a indagou. O desagrado estava presente em sua expressão e aquilo intimidava a moça, ao mesmo tempo em que a hipnotizava. Como adorava se ver presa nas curtas correntes que tinha amarradas em seus tornozelos. Veio o medo, mas também veio a satisfação. A possessão de Kouen a excitava e a encantava. Demonstrava que ele a desejava, não? - ela pensava.

— Estava… preocupada tentando falar com meu irmão.

— Ainda essa história?

— É importante para mim, Kouen-sama. Já que não terei meu pai ou meus irmãos mais ve…

— Koumei pode entrar com você na igreja. - ele a interrompeu.

— Eu sei. Eu agradeço a boa vontade dele, mas…

— Bom, você é quem sabe. Quer que seu irmão apareça de braços dados com um homem, é problema seu, mas NÃO NA MINHA CERIMÔNIA DE CASAMENTO!

Ela se calou, abaixando a cabeça para esconder a vergonha imensa que sentia ao se lembrar daquilo. Seu irmão estava se relacionando com alguém do mesmo sexo. Jamais imaginou que algo assim aconteceria. Em seus pesadelos podia ver as expressões de decepção de Hakuyuu e Hakuren. Tinham educado mal Hakuryuu, ela tinha certeza.

— É uma fase! Ele está confuso e sei que logo ele vai se tocar do quão… - ela forçou um riso. - absurda é essa situação!

— Aliás, por acaso sabe do paradeiro do seu irmão? - tentando parecer idiferente, Kouen aproveitou a oportunidade.

— Eu creio que esteja morando com aquele rapaz… Ju-Judal, se não me engano o nome. Acabei pegando o endereço dele na recepção do hospital quando Hakuryuu estava internado. Por quê?!

Não houve resposta. Kouen permaneceu pensativo até que um sorriso cruzou seus lábios.

— Kouen-sama?!

Saindo daquele devaneio, ainda com aquele sorriso em seu rosto, ele se aproximou.

— Me diga, Hakuei, e se… O que está faltando para o Hakuryuu é uma conversa… de homem para homem? Algo que ele sente falta já que perdeu os irmãos. E se eu conversasse com ele e o ajudasse?!

O par de safiras cresceu e brilhou. Lágrimas de felicidade e descrença refletiram a felicidade da moça.

— Você faria isso por mim, Kouen-sama?! - inocente, patética aos olhos de Kouen, Hakuei estava emocionada.

— Claro. Não irei conversar como primo ou futuro cunhado, mas… um irmão para Hakuryuu.

— Seria… maravilhoso! Eu queria tanto que ele o aceitasse e percebesse o quão ele está… - doía dizer aquilo. - louco com toda essa mania de perseguição, odiando a nossa mãe e… renegando vocês…

— Não se preocupe. - ele levou dois dedos aos lábios da moça. - Me dê o endereço e eu irei visitá-lo. Será... uma visita inesquecível para ele!


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Notas finais do capítulo

Por incrível que pareça, a cena do Sin voltando ao apartamento foi reescrita três vezes. Eu estava realmente confusa com relação a esse capítulo porque momentos chaves se aproximam. Vamos ter um breve timeskip nos próximos capítulos e muita coisa irá mudar! Obrigada por estarem acompanhando e, lembrem-se, reviews com elogios, críticas, tomates são sempre bem-vindos! ♥ Até o próximo capítulo!



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