Escape escrita por Miaka


Capítulo 28
Fighting for you...


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! ♥ Nem acredito que estou mantendo uma boa periodicidade. Haha! E vamos que vamos que o capítulo tá bem longo!



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 – Ei, Hakuryuu! Vá até ali!

Atravessavam aquela ponte de pedras, tão rústica, quando Judal tirou o celular do bolso e apontou àquela mureta onde, além dela, era possível ver o mar de árvores que se ondulava no relevo montanhoso.

Praticamente saltitando, Hakuryuu seguiu as instruções de Judal e, correndo até o local indicado, ele apoiou os cotovelos na mureta onde apoiou as costas. Ele sorriu, seu mais genuíno sorriso, esperando que a foto fosse tirada.

— Pronto! Espera aí agora!

Podia jurar estar vivendo um sonho. Era a milésima vez que se perguntava se tudo aquilo era real. Aquela manhã maravilhosa que tinha passeando ao lado daquele a quem pertencera na noite anterior. Até mesmo, ao caminhar, sentia como se flutuasse. Definitivamente devia estar delirando.

Durante aquele devaneio, Judal se aproximou e, passando um braço pelos ombros de Hakuryuu, ele estendeu o braço para frente. Vendo-se na tela do celular, ambos sorriram e tiraram uma bela foto. Não só uma, mas Judal aproveitou da distração do mais jovem para roubar um beijo; ao mesmo tempo em que registrava aquele momento.

— Judal! - Hakuryuu riu, corado. - As pessoas podem ver! - ele se preocupava com os vários casais de turistas que, como eles, aproveitavam a paisagem para tirar fotos.

— E dai? - despretensioso, Judal guardava o celular no bolso do jeans. - Tem vergonha de estar comigo?

Hakuryuu sentiu os dedos serem entrelaçados pelos de Judal. O sorriso voltou ao seu rosto.

— Nunca! - decidido, ele se pendurou no braço do moreno.

Seguindo caminhando por aquelas ruas sinuosas que eram cercadas por belos chalés de arquitetura tradicional, Hakuryuu se sentia em paz, seguro e feliz ao lado de Judal. Como o amava! Como se sentia amado!

Era como se jamais tivesse problemas com sua família. Na verdade era como se aquelas pessoas, que tanto o odiavam, jamais existissem e o mundo resumisse a ele e Judal. Quando imaginaria que poderia amar daquela maneira? E ainda mais… um homem como ele.

— Te amo, Judal! - tais palavras saiam de forma cada vez mais natural.

— Eu também! - as bochechas dele não ardiam mais ao declarar aquilo. - Ei, depois de visitarmos o templo, vamos decidir onde vamos jan...

O vibrar do celular interrompeu Hakuryuu, que rapidamente o tirou do bolso do sobretudo. A expressão de sua companhia o deixou em uma situação complicada.

— O que decidimos hoje? - Judal contorceu o lábio.

— Nada de celular hoje. - riu Hakuryuu, mas então ele viu de quem se tratava. - É o Alibaba-dono.

Revirando os olhos, Judal cruzou os braços para demonstrar sua insatisfação. Sabia que não podia impedir Hakuryuu de atender seu melhor amigo. Não era certo privá-lo de ter uma amizade que o fazia tão bem, por mais que se sentisse bastante enciumado. E, de qualquer forma, era melhor que soubesse…

— Alô? Alibaba-dono? O Judal?

Piscando os olhos azuis e parecendo bastante confuso, o mais jovem entregou o celular ao seu namorado.

— Ele quer falar com você, Judal.

— Hm? Comigo? - preocupado, ele logo levou o aparelho ao ouvido. - Fala, Alibaba!

— Judal, eu não sei se estou fazendo certo em fazer isso, mas… Eu vi o Sinbad-san sair e ele levou algumas armas… Ele acha que não vi, mas...

— Ele é um policial, seu besta! - parecia óbvio.

— Eu sei! Mas não… não era como se ele estivesse se preparando só para o trabalho! Ele parecia tenso e…

— Merda! - Judal o interrompeu. - Eu to voltando praí! Sabe pra onde ele foi?!

— Ele disse que ia para a delegacia.

— Ok! Valeu! - foi tudo o que ele disse antes de desligar o celular e devolvê-lo. - Hakuryuu, me desculpe, mas temos que voltar para a capital!

—----xxxxxx-----

O movimento na delegacia, como sempre, era intenso.

Quando Sinbad atravessou a recepção, teve de desviar de várias pessoas que aguardavam atendimento. Focado em chegar logo em sua sala, ele não percebeu a aflição nos olhos de Spartos e Sharrkan que se entreolharam, aflitos, ao verem o delegado adentrar o lugar. O moreno tinha de ser rápido.

— Senhora, o tenente Masrur vai atendê-la agora!

O ruivo que, por ser tão calado e introspectivo se mantinha apenas cuidando da papelada, nada entendeu quando viu Sharrkan se levantar da cadeira.

— Conto com você, Masrur. - ele sussurrou. - É urgente!

Masrur só pôde ver seu colega adentrar a pequena porta que levava aos corredores internos da delegacia. O que estava acontecendo? - ele se perguntou, bastante desconfortável ao pensar em atender o público. Esperava que o moreno voltasse logo.

— Delegado!

Sinbad, que trazia uma pasta com diversos papéis debaixo do braço, parou ao ouvir a voz de Sharrkan. Ofegante pela corrida, ele parecia bastante nervoso.

— Tudo bem, Sharrkan?!

— Depois conversamos! - ele foi sucinto. - Preciso falar com vo…

— Ora, ora! Quem eu vejo por aqui?!

Aquela voz tão firme. Sinbad a conhecia bem, mas quis cofnirmar quem era quando se voltou para a direção de onde ela vinha…

— Muu?!

Vindo da sala que pertencia a Sinbad, o ruivo de alto porte, cujos músculos bem feitos chegavam a sobressair sob o terno alinhado, aproximou-se com um largo sorriso. Muu Alexius tinha longos fios ruivos repicados, que se estendiam até um pouco abaixo de seus ombros e usava um piercing tribal abaixo do lábio inferior. Os olhos vermelhos, puxados, pareciam delineados. A beleza exótica de Muu chamava a atenção por onde ele passasse.

Ele se apressou para estender a mão e cumprimentar aquele que conhecia desde os tempos da faculdade. Mas aquele largo sorriso que ele sempre carregava nunca enganou Sinbad, apesar de ele fazer o máximo de esforço para corresponder àquela falsa simpatia.

— Como está?!

Sinbad sentiu sua mão ser esmagada e ele sabia que a força que Muu investia naquele cumprimento era proposital.

— Be-Bem… Digo, tirando todos os problemas.

— Mas está muito fraco, Sinbad! - Muu o ignorou, cruzando os braços. O sorriso ainda bastante presente no rosto de feições grossas. - Quando é que vai aparecer lá no meu CT e botar esse corpo de frango em ordem?!

Muu era instrutor de crossfit, dono de sua própria academia. Nada era muito difícil para ele que, afinal, tinha se casado bastante jovem com a riquíssima socialite Scheherazade. A mulher que já beirava seus 60 anos - e que alguns diziam ser 600, na verdade - era conhecida pelas inúmeras cirurgias plásticas que a mantinham com uma aparência jovem.

Mas Sinbad odiava aquele papo descontraído no qual Muu sempre tentava chamar atenção para si mesmo. Ele não sabia tudo o que tinha acontecido com Ja’far? Ainda mais naquele momento que tudo o que ele queria era resolver seus problemas… além da vingança, é claro.

— Não tenho tido tempo para nada, Muu! - ele desconversou.

— Não diga isso, meu amigo! Você então que está na flor da idade, tem que encontrar logo uma esposa! E não é difícil para você, mas se deixar tudo cair…

— Muu, eu já sou casado.

Aquela resposta veio num tom sério e foi o suficiente para que o ruivo suspirasse, revirando os olhos.

— Sinbad, sai dessa! Eu te conheço desde os 18 anos e você nunca foi viado!

O delegado sentiu seu sangue ferver com aquele adjetivo. Muu permanecia a falar sem parar.

— Sai dessa! Quando a Seren morreu, eu entendi que você tava meio louco e queria experimentar coisas novas, mas tá na hora de você entrar nos eixos. Não percebe que isso está acabando não só com a sua vida, mas também daquele rapaz?

— Quê?! - o moreno arqueou uma sobrancelha.

Muu massageou a própria nuca e Sharrkan, ao lado de Sinbad, engoliu a seco.

— Você ainda não sabe, não é?

— Do que está falando?!

— O superintendente Yamato me mandou pra cá para ficar no seu lugar!

— QUÊ?! - Sinbad só pôde sentir um misto de espanto e indignação.

— Você está suspenso por tempo indeterminado e, acredite, - o ruivo continuava a explicar. - ele está fazendo de tudo para te rebaixar! Inclusive está usando disso para expulsar o seu inspetor daqui também!

Sinbad estava completamente em choque enquanto ouvia tudo aquilo. Não bastasse estarem vivendo sob ameaças, com Barbarossa destruindo sua vida, agora ele tinha de pensar que seu emprego estava em risco. Não só o dele, mas de Ja’far.

— Como podem expulsar Ja’far?! - indignado, Sinbad exclamou. - Ele tem um comportamento exemplar! Recebeu várias medalhas desde que entrou aqui! E agora ele sofreu coisas terríveis! Eu vim trazer tudo referente à licença médica dele!

— Eu também acho injusto, Sinbad… Mas é a vida. Você tem que dançar conforme a música!

— Ao invés do Yamato estar preocupado em pôr o Barbarossa na cadeia, ele está querendo me foder, isso sim! Isso é um crime! Eu vou processá-lo!

— Não vai dar em nada! Você sabe muito bem! O melhor a fazer é ir pedir desculpas a ele pelo soco que o deu!

— Merda…!!!

O delegado nem ao menos se lembrava daquilo que ele não considerava um erro. Que fosse expulso da polícia! Jamais se arrependeria de ter defendido Ja’far! Não permitiria que Yamato nem ninguém insultasse a relação dos dois.

— Pelo seu bem, Sinbad! Escuta meu conselho! - Muu sussurrava. - Larga aquele rapaz! Foca em seu trabalho! Você ralou muito pra chegar até aqui...

Sinbad balançou a cabeça negativamente.

— Eu agradeço muito sua preocupação, Muu, mas não! Eu jamais vou abandonar quem eu amo! E poucos sabem, mas se eu estou vivo até hoje, depois de me tirarem tudo, é por causa do Ja’far! Eu vou fazer tudo pra protegê-lo e se a polícia, MAIS UMA VEZ, - ele enfatizou. - vai se fazer de cega para o Barbarossa, EU vou atrás dele!

Muu apenas observava o discurso apaixonado daquele a quem considerava… um estúpido. Sinbad realmente não conseguia nada em sua vida por se prender à relacionamentos fúteis. Realmente queria ajudá-lo, mas via que não era possível. Ele pôde apenas suspirar.

— Preciso que me entregue suas armas.

— Está brincando, não está?! Eu não fui expulso! Estou suspenso!

— Tenho um laudo atestando que você não está em condições de portar uma arma.

Sinbad empalideceu enquanto Muu pegava o envelope que estava sobre o armário mais próximo da porta.

— Laudo?! Atestado por quem?!

— Por sua médica legista, a Yamuraiha-san.

Se ele não estivesse vendo com seus próprios olhos a assinatura, a qual ele conhecia muito bem, de Yamuraiha, ele jamais acreditaria. Era uma farsa! Tinha certeza!

— Não...

Não! Definitivamente não! Yamuraiha era a melhor amiga de Ja’far e era sua amiga também. Havia sido, inclusive, testemunha de sua união estável. Como ela havia os traído assim?

— Yamuraiha!

Sinbad berrou pelos corredores, dando as costas a Muu, que decidiu segui-lo. Ele foi até a sala da médica, que parecia já esperar o que estava para acontecer.

— YAMURAIHA! - ele exclamou ao, violentamente, escancarar a porta.

— De-Delegado! - a moça, trêmula, se levantou.

— O que significa isso!? - ele balançou aquele papel.

— Eu não podia deixar que o expulsassem, delegado… - chorosa, ela se encolheu.

— Do que está falando, Yamuraiha?!

— O superintendente Yamato queria abrir um processo para você que fosse expulso pela agressão a ele. E também podiam prendê-lo por desacato! Tivemos a ideia de contornar isso alegando seu alto nível de stress no momento e…

— Meu Deus…

Sinbad farfalhou os fios púrpura. Estava angustiado ao vê-la chorar, ao ver que tudo aquilo estava acontecendo. Aliás, por que tudo aquilo estava acontecendo? Ah, claro, por causa de Barbarossa. Sempre. Parecia que Barbarossa só existia para destruir sua vida! Mas aquilo teria um fim!

— Por favor, Sinbad. - Muu não queria ter de usar a força, mas seguia firme.

Suspirando, bastante desagradado, o moreno abriu o terno e retirou do coldre uma pistola de cada lado e as largou sobre a mesa da médica. Yamuraiha estava completamente constrangida.

— Sei que não anda só com essas. - Muu se mantinha calmo.

Sinbad, então, se agachou e tirou do coldre de tornozelo a semiautomática, deixando-a junto das demais.

— Vou mandar Sharrkan até sua residência para uma busca e apreensão das armas de seu inspetor também.

— Não pode tirar nossas armas pessoais! Temos porte pra isso!

— São ordens, Sinbad! - ele foi categórico.

Sentindo-se completamente rebaixado, Sinbad sentia sua cabeça latejar. Sentia que ia explodir.

Yamuraiha não aguentava mais se manter calada.

— Sinbad-san, me perdo…

— Trouxe os atestados para a licença do Ja’far e que também justificam minhas faltas nesse período. - ele a interrompeu. - Se puder avaliá-los e encaminhar aos superiores...

Notando que aquele não era o melhor momento, a médica apenas assentiu.

— Sinto muito, Sinbad. - foi tudo o que Muu disse. - Mas você pode remediar i…

— DÁ PARA VOCÊ CALAR A BOCA?! - ele não aguentava mais. - Tudo o que fez desde que cheguei aqui é arrotar como você faz o certo e como eu estou errado em viver em paz com a pessoa que amo! Seus conselhos não me servem pra nada quando sei que está muito feliz sentando na minha cadeira!

— Sinbad, acalme-se! - Muu tentava ser compreensivo. - Peça desculpas ao superintendente e…

— POR EU AMAR OUTRO HOMEM?! EU VOU PEDIR DESCULPAS PORQUE AMO OUTRO HOMEM?! POR QUE ELE DEIXA O CRIMINOSO QUE FODEU MINHA VIDA SOLTO?! JÁ CHEGA PARA MIM! QUE ME EXPULSEM!

— SINBAD!!!

O delegado marchou para fora da delegacia, chamando a atenção de todos que ouviram os gritos que chegaram até a recepção. Mas ninguém, nem mesmo seus subordinados teve coragem de falar algo. Sinbad estava completamente transtornado ao entrar em seu carro e apoiar a testa no volante. Ele podia sentir as lágrimas, que tanto segurou, umedecendo seu rosto. As mãos estavam trêmulas, assim como as pernas.

Sua vida estava desmoronando e não havia nada que pudesse fazer.

Não… Havia sim.

Ele deslizou o pé pelo tapete do carro e sentiu o calcanhar encontrar aquele ferro frio. Não havia sido tolo de deixar todas as suas armas com Muu.

Sinbad sabia bem a solução para sanar aquela dor e todos os seus problemas: matar Barbarossa! Só precisava esperar…

—----xxxxxx-----

Ja’far abriu, lentamente, os olhos verdes. As cortinas de tons pastéis deixavam uma sutil claridade entrar na suíte. Não tinha ideia de que horas eram. Estava dormindo tanto, sentindo-se tão enjoado.

— Ja’far-san?

Virando a cabeça para o lado oposto, Ja’far encontrou Alibaba. O loiro tinha um largo sorriso ao trazer uma bandeja de onde vinha um aroma delicioso.

— Alibaba-kun?

— Sente-se melhor? - ele se aproximou, deixando a bandeja sobre a cama. - Fiz uma sopa de legumes e um suco de acerola. O Sinbad-san disse que é seu favorito.

— Sim… Muito obrigado, Alibaba-kun. E o Sin? - era evidente o tom de preocupação naquela pergunta.

— Ele foi trabalhar. - doeu o peito de Alibaba. Ele sabia que o delegado estava mentindo. - Pediu que eu cuidasse muito bem de você até que ele voltasse.

— Estou dando tanto trabalho… - melancólico, Ja’far refletia.

— Não está dando trabalho algum! Apesar… do Sinbad-san querer me pagar, Ja’far-san, eu ficaria aqui de bom grado ajudando vocês!

— Alibaba-san… - Ja’far sorriu. - você, realmente, é um ótimo rapaz. E claro que temos que pagá-lo! Precisa se sustentar! Soube que está morando com uma moça agora, não?

— É… - o loiro, um tanto quanto desconfortável, desviou o olhar. - A Morgiana é uma grande amiga.

— Sua noiva não se chateia ao saber que está morando com uma moça?

— Hm… A Kougyoku é minha amiga, Ja’far-san. Na verdade não queríamos nos casar, mas o irmão dela exige porque…

— Ah, sim… A herança. - Ja’far suspirou. - Sinto muito, Alibaba-kun.

— Não se preocupe. - ele sorriu. - Eu já me acostumei com a ideia! Hehe!

— Quer conversar sobre isso?

Alibaba, sem saber o que responder, apenas observava Ja’far. Ele se mantinha bastante sério ao encarar o loiro. O que significava aquilo? - Alibaba se perguntava.

— Co-Como assim?

— É bom conversar às vezes… - foi a vez de Ja’far desviar o olhar. - Talvez você tenha se acostumado com a ideia porque não tem com quem falar sobre ela, certo?

O mais jovem mordeu o lábio inferior. Ja’far estava mais do que certo, afinal, ele não tinha família, tampouco um amigo para conversar sobre aquela situação. Hakuryuu já tinha tantos problemas! Não era justo sobrecarregá-lo com suas reclamações e Morgiana… Bem, ele sabia o que Morgiana queria e sua opinião. Quanto a sua melhor amiga Kougyoku… ela era parte do problema.

— Meu trabalho é ouvir as pessoas, Alibaba-kun. - insistindo, Ja’far sorriu para o rapaz. - Mas saiba que eu amo meu trabalho.

— Você está com tantos problemas, Ja’far-san…

— Tudo o que quero é me esquecer de tudo o que aconteceu, Alibaba-kun.

Naqueles olhos, Alibaba via a mais pura sinceridade. Os dedos de Ja’far, sobre os joelhos cobertos pelos lençóis brancos, se fecharam. Ele parecia tão frágil e, ao mesmo tempo, estar se esforçando muito para ficar bem. - ou ao menos parecer bem, pensou Alibaba.

— Por favor, converse comigo.

—----xxxxxx-----

— Ja’far, não precisava ter se esforçado tanto!

O delegado estava boquiaberto ao ver cada canto de seu apartamento brilhando. O cheiro de limpeza se espalhava por toda a sala de estar.

— Que bom que gostou! - Ja’far sorriu, limpando o suor com as costas da mão. - Espero que não tenha se importado com algumas mudanças que fiz na decoração. Coloquei aquele vaso de flores que estava na mesa de centro e coloquei no aparador. Comprei alguns girassóis para pôr nele também…

— Está tudo maravilhoso! - Sinbad se aproximou e enlaçou a cintura do mais baixo. - Ja’far, você é incrível! Como consegue fazer tanta coisa? Ser tão habilidoso?

— Haha! Não exagere, Sin! - o psicólogo riu enquanto sentia os suaves beijos que o moreno depositava na curva de seu pescoço. - Aliás, ainda não acabei!

— Hm?

Sinbad arqueou uma sobrancelha quando Ja’far se afastou e, levantando o balde que estava no chão, se dirigiu para o corredor que levava aos quartos. O coração do delegado, subitamente, disparou quando imaginou para onde seu namorado estava se dirigindo.

Correndo atrás de Ja’far, ele rapidamente o ultrapassou e se colocou na frente da porta.

— Por favor, Ja’far, aqui não!

— Anh? Mas Sin, isso faz parte da casa também. Tem algo que eu não possa ver?

A angústia estava estampada no rosto de Sinbad. Como diria a ele?

Estavam vivendo um relacionamento havia mais de seis meses e Ja’far estava para se mudar para seu apartamento. Não teria como manter aquele quarto fechado. Não.

— Sin, o que você me esconde? - havia uma pitada de tristeza na expressão de Ja’far.

— Na-Nada, Ja’far! Não é nada sério! É só que… que… - não havia jeito. - é algo que eu… - ele entrelaçava os próprios dedos, tão trêmulos. - eu não sei se… você vai aceitar e… e eu quero… que entenda e… tsc, droga!– Sin. O moreno apenas assentiu ao ouvir seu nome. Deu passagem à Ja’far que, um tanto quanto receoso, girou aquela maçaneta para encontrar…

Um belíssimo quarto de princesa. Tão belo e decorado com capricho em cada detalhe.

As paredes cor-de-rosa eram atravessadas por uma faixa com arabescos em lilás. Havia uma cômoda branca, de gavetas com puxadores dourados, assim como o armário de duas portas de vidro. Dava para ver as várias roupinhas perfeitamente dobradas e arrumadas, assim como algumas bonecas e bichinhos de pelúcia, como os demais que estavam expostos pelas prateleiras que cercavam aquele berço.

Havia uma poltrona de tons pastéis, como o mosquiteiro que cobria aquela que seria a primeira caminha da filha de Serendine e Sinbad.

Ao mesmo tempo em que estava encantado com tanta beleza, Ja’far sentiu como se uma tristeza avassaladora atravessasse seu coração. Ele se virou para encontrar o cabisbaixo Sinbad, que tinha as bochechas coradas. Sentia-se envergonhado.

— Si-Sin… - ele não tinha palavras.

— Sinto muito, mas… eu não tive coragem de… desmontar o quartinho da Esla.

— Sin...

Ja’far se sentia um monstro. Havia entrado, pisando com os sapatos sujos de lama, no mais íntimo do coração de Sinbad. Dava para ver como ele cuidava daquele lugar como um santuário.

— Me desculpa! Sei que deve ser dificil para você! Aquelas fotos da Serendine também…

— Não diga isso! - Ja’far o segurou pelos ombros. - Não quero nunca que se esqueça da Serendine-san! Eu fiz questão de limpar todos os porta-retratos dela. - ele esboçou um fraco sorriso. - Quero que sempre se lembre de como a amou! E eu entendo que… sonhou muito com a chegada da Esla-chan.

— Me perdoe, Ja’far… Eu acho que nunca vou poder… me desfazer desse canto! Aqui eu sinto como… como se eu ainda tivesse aquela família! Sei que estou errado! Eu te amo muito! Mas…

— Calma!

Sem pensar duas vezes, Ja’far o abraçou sentindo-se imensamente culpado por ter invadido uma área tão íntima dos sentimentos daquele que tanto amava. Ele compreendia completamente Sinbad. Sua dor, sua tristeza, o quão difícil tinha sido superar uma perda que destruiu por completo sua vida.

— Eu sempre vou admirar a Serendine-san e quero que saiba que estarei sempre do seu lado!

— Ja’far… - Sinbad tentava esconder as lágrimas, mas era impossível. - Obrigado por estar comigo sempre e me entender tanto!

— Sin… Eu te amo! É mais do que minha obrigação entender o que você sente! E, cada vez mais, eu te admiro! Agora me deixe limpar o quartinho da Esla-chan! Os bichinhos dela estão muito empoeirados. - ele sorriu, dedilhando as lágrimas que escorriam pelo rosto do moreno.

 Aquela lembrança vinha em péssima hora enquanto aguardava o sinal de trânsito abrir.

 Uma, duas, três batidas no volante. Queria um cigarro! Droga! Não fumava desde os tempos da faculdade e graças a Serendine, que odiava aquele vício. Acabou que só fumava vez ou outra quando estava bastante estressado. E agora ele realmente precisava fumar.

O celular, sobre o assento do carro, entre suas pernas, vibrou:

"Onde você está?"— dizia a mensagem que apareceu na tela.

“Já estou chegando.” - ele digitava quando uma nova ligação apareceu.

— Droga!

Era Judal. Sentia-se na obrigação de atendê-lo, afinal, Hakuryuu e ele eram alvos de Kouen.

— Fala! - foi tudo o que ele disse.

— Me diz pra onde você tá indo. - Judal foi bastante imperativo.

— Pra que está me ligando, Judal? - a aflição na voz de Sinbad era palpável.

— Pra evitar que faça merda… como fizemos há 4 anos atrás.

— Tsc, me deixa…

— Não. - ele insistiu. - Onde você está?

— Daqui a pouco vou pra casa! Não se preocupe!

— SINBAD!

— Não houve tempo. Logo Judal ouviu o sinal de ocupado. O delegado tinha desligado.

— A fúria dominou Judal, que rapidamente acelerou o carro. Precisava ser rápido.

— O que aconteceu, Judal?! - Hakuryuu se assustou, segurando-se firme.

— O Sinbad vai fazer merda e eu preciso impedir!


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Notas finais do capítulo

Que capítulo dinâmico! Eu gosto assim! Mas gente, como esse povo fala no telefone. Eu supro toda a minha carência de telecomunicação nas fics normais de Magi com esse AU. Hahaha! A lua-de-mel antecipada juhaku foi interrompida pelas besteiras do Sin, que ainda vai se dar muito mal com essa sede por vingança. Mas depois de tanta humilhação como ele passou, acaba sendo compreensível. Muu é um tremendo preconceituoso e escroto! Ao mesmo tempo em que ria, desde a concepção dele na fic, o metidão instrutor de crossfit que pega uma velhinha, até descrevendo, eu sentia muita raiva dele, em especial dos momentos homofóbicos dele.
O Alibaba está em ótima companhia e esse envolvimento dele com o Ja'far vai ser crucial para que ele compreenda melhor seus sentimentos e decida o que deve fazer!
Obrigada por lerem! E lembrem-se que leio todas as reviews e podem mandar críticas, elogios, sugestões!
Um beijão! ♥



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