Escape escrita por Miaka


Capítulo 30
Lying... FROM you.


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! ♥ Gente, não desistam de mim! Apesar das demoras em atualizar, Escape está continuando! Espero que gostem desse capítulo que está bem grandinho para compensar! Beijos!



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Passava das dez quando a campainha tocou. Como pôde se esquecer de que Alibaba chegaria ali? Afinal, havia contratado seus serviços.

O delegado ainda estava na cama, recostado à cabeceira e, aproveitando do sono profundo de Ja’far, continuava a ler as mensagens de seu celular. Ele estava obcecado com a ideia daquela adoção. - constatou durante aquela investigação.

Mas não havia tempo de pensar naquilo agora. Havia perdido a hora.

Rapidamente ele usou os lençóis para cobrir melhor Ja’far e agradeceu aos céus por ele estar dormindo tranquilamente. E, pelo horário, aquilo era  algo bastante atípico já que seu companheiro era acostumado a acordar mais cedo e, inclusive, acordá-lo para irem ao trabalho. Sinbad esqueceu completamente que devia continuar fingindo estar indo, normalmente, cumprir seus afazeres na delegacia. Não podia contar que havia sido suspenso. Ja’far precisava descansar e do jeito que estava abalado, qualquer coisa se transformaria numa tempestade.

A campainha tocou de novo e Sinbad se apressou a sair da cama, atravessando a ampla suíte em passos largos e tirando do cabideiro o roupão de veludo vinho. Vestindo-se rapidamente nele, o delegado correu pelo apartamento até chegar à porta. Mas a apreensão o fez conferir, pelo olho mágico, quem estava ali.

Encontrou o loiro já puxando o celular de dentro do bolso da calça jeans, provavelmente se preparando para o ligar.

— Alibaba-kun! - a porta subitamente se abriu e assustou o loiro por um instante. Mas o rapaz logo esboçou um gentil sorriso.

— Bom dia, Sinbad-san. - ele meneou a cabeça de forma sutil. - Me desculpe. Me atrasei um pouco, - contorcendo os lábios e guardando o celular, Alibaba encarou o delegado. - pensei que tivesse saído já e…

— Não, não. - o moreno o interrompeu. - Entre, por favor. - ele recuou e deu passagem ao jovem recém-contratado. - Eu nem saí ainda. Ja’far ainda está dormindo.

Sinbad se sentou no sofá e indicou a confortável poltrona para que Alibaba fizesse o mesmo. Ele se sentou e colocou a bolsa tira-colo sobre o braço do estofado. Era impossível não notar que o delegado estava inquieto, angustiado. Mas Alibaba não se sentia confiante o suficiente para questionar…

— Ontem, depois de irem embora, quando voltei para cá o Ja’far estava com uma arma. - Sinbad, apoiando os cotovelos nos joelhos abertos, decidiu explicar.

— Meu Deus! - os olhos dourados do mais jovem cresceram.

— Ele cismou que… que aqueles miseráveis que o violentaram entrariam aqui. Tive que desarmá-lo e… esconder as únicas pistolas que não entreguei ainda. - Sinbad suspirou. Ele parecia extremamente cansado.

— Sinbad-san… Sinto muito.

— É terrível ver o Ja’far assim! Li todas as mensagens do celular dele e… tudo o que ele pensa é na criança que não vai mais poder adotar e em mim. - a voz do delegado soava um tanto quanto embargada.

— Infelizmente vai ser bem difícil superar tudo isso, Sinbad-san. O Ja’far-san passou por momentos… horríveis.

— Mas ele é um psicólogo! Ele me ajudou a compreender que eu devia seguir em frente, que eu não… fui culpado quanto à morte da minha esposa, Alibaba-kun. Ele devia entender bem que esse trauma tem que passar e…

— Sinbad-san. - ele tomou coragem para interrompê-lo. - Não é tão fácil assim! Ja’far-san está sentindo na pele uma forma de violência absurda. Por mais que ele compreenda a mente das outras pessoas… ele precisa se reencontrar. Ele que ajuda tantas pessoas, precisa agora ser ajudado, entende?

Perplexo, o delegado apenas encarava Alibaba que, bastante receoso, se perguntava se havia falado alguma besteira. Estava se metendo demais? Aquilo não o dizia respeito. E se Sinbad o demitisse? Como…

— Tem razão. - o moreno, pensativo, assentia. - Você tem razão, Alibaba-kun. Estou sendo egoísta e querendo… ver o Ja’far recuperado, mas preciso dar esse tempo a ele.

— Que bom que entendeu, Sinbad-san. - Alibaba sorriu. - Ja’far-san precisa de você agora!

— Sim! E eu… tive uma ideia, sabe? Pra compensar essa ausência da Esla-chan. Eu vou… - ele se levantou. - Eu vou dar uma saída. Posso deixar o Ja’far com você?

— Sinbad-san, - o loiro se levantou e riu. - você me contratou para isso.

Sinbad também riu antes de, subitamente, abraçar forte o mais jovem. Alibaba piscou, sem entender, ficando parado por uns instantes antes de corresponder ao abraço.

— Muito obrigado por estar aqui, Alibaba-kun! Você está fazendo muito bem não só ao Ja’far, mas a mim também! Seu pai… mais uma vez me ajudou tendo um filho tão incrível como você! Aliás… - ele se afastou por um instante, segurando firmemente os ombros do mais baixo. - como está o processo para que assuma todos os bens da família?

Alibaba estava com as bochechas coradas ainda. Não estava acostumado a receber tanto carinho assim de alguém que não fosse… Morgiana? Ele piscou e, corando ainda mais, desviou o olhar.

— Não tenho como pagar um advogado, Sinbad-san. Meu amigo da faculdade que cuidava disso, o Hassam, largou tudo e virou traficante. Só vive drogado, acabou perdendo prazos e perdi várias causas…

— Tsc, vamos cuidar disso então.

— O quê?! - Alibaba arregalou os olhos.

— Eu não estou trabalhando, não é? - Sinbad deu de ombros. - E sou advogado também e formado pelo grande doutor em direito, Rashid Saluja.

— Mas… Sinbad-san, eu não tenho como pagar!

— E quem disse que eu vou cobrar?! - o moreno apoiou os punhos nos quadris.

— Mas eu não posso aceitar assim, Sinbad-san! Eu quero resolver isso quando puder pagar!

— Tudo bem! - o moreno cruzou os braços. - Você me paga quando eu recuperar a empresa do seu pai e for presidente dela, ok!?!

— Sinbad-san… eu não posso acei…

— Tenho que correr, Alibaba-kun! - o moreno seguiu em direção aos quartos. - Mais tarde você me fala sobre isso e estudamos o processo! Fique à vontade, já sabe!

Sinbad não deu tempo para que Alibaba contestasse mais nada. Ele estava decidido a ajudá-lo. Mas a angústia e certa vergonha desapareceram, dando lugar a um pequeno sorriso. Será que as coisas começariam a mudar? Não queria ser rico, mas ao menos queria recuperar o que era de seu pai e estava sendo usado, hoje, para alimentar aquela máfia que era… a família Ren.

—----xxxxx-----

Hakuryuu andava de um lado para o outro do quarto parecendo olhar para todos os lados. Os fios azulados estavam soltos e úmidos quando ele pegou o relógio sobre a cômoda e começou a colocá-lo em seu pulso. As meias, onde estavam?

— Fica calmo, Hakuryuu. Faltam duas horas para o começo da sua aula.

O mais jovem não teve tempo de olhar para Judal, que estava deitado na cama… exatamente como veio ao mundo e sem nenhum pudor para ao menos usar os lençóis e esconder as partes íntimas. Ele tinha a cabeça apoiada nos braços e sorria ao ver seu amado tão empenhado. Sabia quão importante era para ele aquela admissão na universidade. Admirava Hakuryuu em cada detalhe.

— Não quero me atrasar. - respondeu Hakuryuu entredentes enquanto mordia uma das meias enquanto colocava a outra no pé.

— Se não fosse tão nerdzinho… a gente podia fazer mais uma vez.

Hakuryuu travou e, com dois semáforos vermelhos fazendo a vez de suas bochechas, ele se virou e encarou Judal por cima do ombro.

— Foram três vezes! Não é suficiente? - ele riu.

— Nunca vai ser o bastante com você!

Ele continuava a se vestir quando sentiu o remexer da cama. Judal engatinhava em sua direção e, afastando os cabelos sedosos, depositou um beijo bastante provocante na curva de seu pescoço. Hakuryuu se arrepiou dos pés a cabeça antes de virar o rosto para encontrar os lábios de seu amado. Foi breve, mas intenso.

— Te amo. - declarou o mais novo calouro.

Judal o agarrou pela gola da camisa social branca, os rubis brilhantes refletindo a surpresa de Hakuryuu.

— Eu te amo mais que tudo. - ele sussurrou e, em seguida, depositou um beijo carinhoso na fronte de seu amado. - Vai lá, vai. Te encontro depois que eu sair da academia?

— Claro! - Hakuryuu assentiu ao se levantar, correndo para o banheiro da suíte onde achou a escova sobre o balcão do lavatório e começou a pentear o cabelo úmido.

— Então te busco as seis.

Enquanto Judal afirmava aquilo, Hakuryuu decidiu pentear os cabelos para o lado, da mesma forma como seu irmão, Hakuyuu, costumava fazer. E daquela forma ele parecia mais bonito, mais maduro e, principalmente, mais forte… como Hakuyuu era.

Ele sorriu para si mesmo pelo reflexo do espelho e voltou para o quarto apenas para buscar a mochila e a pasta transparente, onde levava alguns papéis.

— Te amo! - ele voltou a afirmar antes de passar por Judal. - Até mais tarde!

— Eu também! Até!

Judal acenou com um sorriso de orelha a orelha enquanto assistia seu amado partir. Quando imaginaria estar vivendo aquela história de amor? Estava completamente apaixonado por Hakuryuu e, mais do que nunca, queria viver uma vida. Devia parar de adiar e resolver tudo hoje mesmo, pensou.

—----xxxxx-----

Morgiana terminava de lavar a louça quando ouviu batidas na porta. Ela fechou a torneira da pia e tomou o pano de prato que estava pendurado. Enquanto secava as mãos e seguia em direção à porta, ela rezou silenciosamente para que não se tratasse de Toto. Tinha uma entrevista de emprego mais tarde e não poderia cuidar dos filhos de sua vizinha.

Enfiando o pano por dentro do avental amarelo amarrado na cintura, Morgiana destrancou a porta e retirou aquela grossa tábua de madeira que servia de trava extra para a segurança da casa. Alibaba tinha recomendado que sempre ficasse com aquela proteção enquanto estivesse em casa. Ele sabia muito bem que podiam suspeitar de Morgiana ao conectar o sumiço da moça do prostíbulo com a morte de Jamil.

Abrindo a porta, Morgiana arregalou os olhos ao se deparar com aquela belíssima moça de longos cabelos ruivos que eram, cuidadosamente, presos por uma jóia dourada. Kougyoku estava vestindo um blazer vermelho de corte moderno em suas barras e, por baixo dele, um vestido solto preto que combinava tanto com a bolsa quanto com os scarpins que ela usava. Com um semblante bastante sério e medindo Morgiana, em toda sua humildade e pés descalços, Kougyoku adentrou o medíocre apartamento como se o mesmo fosse de sua posse. Morgiana, sabendo de quem se tratava, apenas deu passagem e fechou a porta.

— Alibaba não está, não é? - a ruiva girou na ponta dos pés enquanto procurava o rapaz.

— Ele… Ele está trabalhando.

Morgiana se sentia completamente intimidada. Não bastasse a aparência imponente, a postura de Kougyoku era o suficiente para que se sentisse bastante diminuída.

— Arranjou outro emprego? - ela tinha os braços cruzados e demonstrou surpresa com a afirmação. Morgiana apenas assentiu. - Que bom… Bem, você sabe quem eu sou, certo?

— A… A noiva do Alibaba-san. Kougyoku-san. - doía falar aquilo, mas Morgiana tentou se manter tranquila e não demonstrar aquilo.

— Certo.

Foi quando Kougyoku abriu um sorriso, mesmo que pequeno. Ficava feliz de ser reconhecida por ela, de alguma forma.

Pelo canto dos olhos ela viu a louça que ainda pingava sobre o mármore gasto.  

— Você parece estar bem ocupada. Vou ser rápida. - ela suspirou antes de encarar o par de rubis da mais jovem. - Eu estou grávida do Alibaba.

Era como se o mundo desabasse sobre sua cabeça. Alibaba sempre havia a dito que era virgem. Inclusive, em todas as vezes que a visitou no prostíbulo, jamais quis ir além. Ele buscava companhia, uma troca de carinho, mas sempre se resignava quando Morgiana tentava propor algo além. Inclusive, quantas vezes hesitou em aceitar seu pagamento, já que não… oferecia, de fato, seus serviços. Ele dizia que queria fazer as coisas da forma que ele acreditava ser o certo. Era mentira, então?

A perplexidade estava estampada no rosto de Morgiana. Mas aquilo não impediu Kougyoku de continuar seu discurso.

— Se não acredita, eu tenho o exame aqui que prova isso. E eu não estou gostando nada desta história de você ficar aqui, morando com ele. - balançando os ombros, Kougyoku voltou a fitar a moça. - Claro que sei que… ele jamais se sentiria atraído por alguém do seu nível. Não me leve a mal, mas… Sejamos realistas. Eu não estou aqui por ciúmes, mas eu quero que saiba que se minha família, por algum acaso, souber que está morando com meu noivo e futuro pai do meu filho, você pode se meter em problemas! Aliás… Eu estou sabendo que o cafetão que cuidava de você foi assassinado e, logo em seguida, você deu no pé. - um sorriso malicioso cruzou os lábios tingidos de vermelho. - Coincidência? - ela arqueou as sobrancelhas.

Morgiana, por sua vez, sentia que a qualquer momento suas pernas cederiam. Estava completamente trêmula. Não bastasse aquela revelação terrível; Alibaba mentia para ela, mas Kougyoku parecia desconfiar que tivesse algum envolvimento na morte de Jamil. Não… Se era terrível viver aprisionada em um prostíbulo, imaginaria como seria viver aprisionada na cadeia.

— Na… Não sei do que está falando, Kougyoku-san. - ela deu dois passos para trás.

— Tudo bem. - o sorriso não saiu do rosto da moça. - Se você for embora hoje mesmo daqui, eu também não saberei… de nada, Morgiana. Estamos entendidas?

A mais baixa, que mordia o lábio inferior, apenas assentiu. De fato, permanecer morando com Alibaba depois de saber a verdade, que realmente ele não se interessava por ela e que não tinha nível para ficar com ele, não havia porque permanecer ali. Mas não era culpa do loiro, afinal, ele vinha de boa família, abastada, e o destino que havia o trazido para aquele lugar e ao seu encontro. Devia ser grata por ele a oferecer uma casa e uma vida digna. Era o suficiente. Não nutria ódio por ele, Sentia apenas… um misto de decepção e tristeza.

— Muito obrigada então, Morgiana. - Kougyoku sorria abertamente. - Por favor, não conte ao Alibaba ainda. Eu estou planejando uma grande surpresa para ele no nosso futuro apartamento. - ela voltou a olhar ao redor da casa de reboco aparente. - Ai, ai… Em breve ele não vai mais ter que ficar aqui. Eu vou pedir a ele que deixe esse apartamento para você, o que acha?

Morgiana nada respondeu. Ela apenas observava a atitude tão altiva de Kougyoku. A mais velha deu de ombros e, girando os saltos, caminhou até a saída.

Assim que se colocou para fora e virou de volta para encarar sua anfitriã, aquela soberba parecia ter sido extirpada de sua pessoa. Era como se… tudo aquilo tivesse sido uma pura encenação. No lugar do sorriso, em seu rosto, havia uma tristeza profunda. Morgiana não entendeu quando viu os olhos da moça marejados.

— Obrigada por… tudo, Morgiana. - a voz embargou. - Você é… uma boa menina.

Não houve tempo para indagar a misteriosa visita de Kougyoku. Ela rapidamente deu as costas e se foi, deixando uma desolada Morgiana naquele apartamento tão vazio quanto seu interior. Alibaba não tinha só uma noiva, agora. Alibaba seria pai e a suspeita de estar sobrando provou-se real.

Precisava ir embora. Não só daquela casa, mas da vida de Alibaba… para sempre.

 

—----xxxxx-----

Alibaba trazia uma bandeja com chá e biscoitos quando se surpreendeu ao ver Ja’far debruçado sobre a mesa na sala de jantar. Ele usava óculos de armação grossa e trabalhava fazendo marcações em alguns livros e digitando algo que parecia um enorme texto naquele notebook. Curioso, Alibaba passou os olhos pelas lombadas daqueles que estavam empilhados. Psicologia do Inconsciente, de Jung e outro em inglês: What Life Could Mean, de Adler. Alibaba podia não entender nada do assunto, mas ele podia jurar que já tinha ouvido falar daqueles nomes.

Assim que notou a presença do loiro, ali parado ao seu lado, Ja’far sorriu e tirou os óculos.

— Gosta de psicologia, Alibaba-kun?

— Anh?! - saindo daquele breve transe causado pela distração, Alibaba deixou a bandeja sobre a mesa. - Me desculpe se pareci intrometido…

— Claro que não. Sente-se. - o alvo sorriu. - Hmmm… - ele se recostou enquanto aspirava aquele aroma. - Chá de maracujá com maçã?

— Sim. - o loiro assentiu. - Trouxe chá e biscoitos para você, Ja’far-san.

— Muito obrigado, Alibaba-kun! Fique comigo, pegue uma xícara para você também!

Alibaba assentiu e se levantou, voltando rapidamente à cozinha americana para buscar uma das canecas penduradas sob os armários suspensos. Conversar com Ja’far era muito agradável e sua presença lhe trazia uma paz incrível. Realmente, entender a alma das pessoas e acalmá-las era um dom para o psicólogo. E, misteriosamente, Alibaba se sentia tão inquieto naquela tarde.

— Fico feliz que… - ele se sentou ao lado de Ja’far. - esteja mais animado hoje.

— Na verdade não posso desanimar! - o alvo riu. - Preciso terminar a minha tese do mestrado. Estou bem atrasado… - ele remexeu os fios esbranquiçados.

— Você é muito ativo, Ja’far-san! Deve estar louco para voltar ao trabalho, não?

O sorriso desapareceu do rosto salpicado. Ele desviou o olhar e Alibaba se perguntou se havia perguntado algo de errado, mas Ja’far retomou a palavra.

— Eu… Eu pretendo pedir dispensa da polícia, Alibaba-kun.

Alibaba reparou que Ja’far encarava o aparador onde havia vários porta-retratos. Dois maiores se destacavam. Um deles tinha uma foto do dia em que Sinbad e ele haviam se unido legalmente e outro… Mostrava ambos muito bem vestidos, fardados, e o delegado Sinbad, pessoalmente, entregava uma medalha a Ja’far, no dia em que o mesmo havia se formado como inspetor da polícia. Os dois sorriam e demonstravam extrema felicidade. Alibaba era capaz de entender o que aquilo significava…

— Ja’far-san, tem certeza? Parece triste ao dizer isso…

— Sin só teve problemas depois que fui trabalhar com ele. Até mesmo promoções ele perdeu depois que… assumiu nosso relacionamento. Eu mesmo, dizem que só estou ali por causa do Sin…

— Isso não é verdade, Ja’far-san! Você é muito competente no seu trabalho!

— Eu quero voltar a… cuidar de crianças, Alibaba-kun. - ele estava pensativo. - Atender em meu consultório e ter minha rotina tranquila como eu tinha… Um amigo meu disse que assim que me recuperar ele gostaria que eu trabalhasse no hospital onde ele diretor. - Ja’far comentou com um sorriso. - Eu ficaria muito feliz em voltar a ajudar as pessoas, Alibaba-kun!

— Mas você ainda as ajuda, Ja’far-san

— Eu não quero nunca mais voltar àquela delegacia, Alibaba-kun… Não conte nada ao Sin por enquanto, por favor.

Havia uma angústia palpável em suas palavras. Alibaba se sentia péssimo por ter trazido aquele assunto à tona. Precisava contornar de alguma forma.

— Ja’far-san, pode me dar um conselho?

— C-Claro…

— É sobre a Morgiana.

— Ah, a moça que vive com…

— Olá, oláááá!!!

Os dois se foram interrompidos pela voz que vinha da entrada. Estavam tão distraídos conversando que nem repararam que a porta tinha sido aberta.

— Sin já chegou do trabalho? - o inspetor, sem saber da verdade sobre a suspensão do delegado, indagou Alibaba.

— É… Né? - o loiro deu um sorriso amarelo. Ele tinha uma dificuldade terrível para manter segredos.

Foi quando Ja’far viu Sinbad entrar carregando um grande cesto forrado em branco e adornado por fitas e renda cor-de-rosa, mesma cor do laço amarrado no topo da alça por onde o moreno o carregava.

O mundo do inspetor parou ao ver aquilo. Depois daquela ligação da madre que revelava que não seria mais possível adotar a menina que tanto sonhou, Ja’far havia se conformado com a cruel realidade: não poderia dar a filha que Sinbad sempre sonhou. Mas Sin disse que ia dar um jeito e agora…

Enquanto ele levantou da cadeira, completamente hipnotizado, Ja’far só pôde ligar os pontos. Sin era advogado, certamente ele havia cuidado de todos os trâmites legais e… tinha trazido Esla! A filha pela qual já nutria tanto amor!

Alibaba, bastante confuso, assistia àquela cena. Ja’far se aproximou com as mãos trêmulas, um sorriso largo no rosto enquanto as lágrimas caíam. O delegado tinha um sorriso orgulhoso empostado.

— Haha! Como sabe que trouxe um presente para você? - ele brincou, afastando aquele cesto.

— Si-Sin… - Ja’far gaguejou, incrédulo. - Não acredito! Você trouxe… trouxe ela, não é?

— Calma, calma!

Sinbad, bastante satisfeito ao ver que deixara Ja’far feliz, descobriu o cesto. O brim branco deslizou e foi ao chão junto de todas as esperanças do alvo, as mesmas que viraram pó no instante em que, ali, um pequeno filhote de cachorro se pôs de pé como pôde.

— Q-Quê…?!

Ja’far piscou, completamente sem ação, enquanto o peludo e minúsculo white terrier lambeu o rosto que estava tão próximo à espera de encontrar um bebê. O rosto cuja alegria dissolveu em tristeza e posterior revolta.

— Gostou dela?! Não é linda?! - Sinbad mantinha o sorriso de orelha a orelha. - Essa é a Esla! Vamos cuidar da nossa filhin...

Um tapa ecoou e cortou a fala do moreno que, chocado, encarou a expressão furiosa de Ja’far.

— Eu não acredito que foi capaz de fazer isso, Sinbad!

— Ja’far…!!! Não gostou?! Mas…

— Eu queria um filho, você me deu um cachorro! - exclamou o alvo.

— Ja’far-san! - Alibaba correu e o segurou pelos ombros. - Não deve se estressar…

— ME SOLTA!

Alibaba se assustou com o esbravejar do alvo. Ja’far era uma pessoa extremamente dócil e gentil. Jamais havia o visto tão alterado. O delegado, por sua vez, não sabia o que fazer quando seu companheiro correu para calçar os chinelos que estavam na porta.

— Ja’far! - Sinbad chamou. - Oe, Ja’far!

Era como se nem o escutasse. Ja’far bateu a porta e saiu para, imediatamente, Alibaba segui-lo.

— Eu vou atrás dele, Sinbad-san!

Sinbad estava desolado. Estava confiante de que Ja’far adoraria o presente. Claro que o cãozinho não substituiria a filha que ele tanto queria, mas não era suficiente para que desse seu amor? Suspirando ele se jogou no sofá, encarando o filhotinho.

— É, parece que sua mãe não gostou muito de você…

 

—----xxxxx-----

Hakuryuu deixava a faculdade quando se surpreendeu com quem viu recostado a um carro esportivo que estava parado diante dos portões. Não era Judal como havia combinado, mas também pudera, devia mandar mensagem para ele avisando que tinha sido liberado mais cedo. Só não esperava que fosse… Kouen.

O sorriso, que ele carregava desde o momento em que se despedia daquele grupo de meninas que conversava na escadaria principal, subitamente desapareceu ao encontrar o homem imponente. Ele tinha os braços cruzados e a expressão carrancuda de sempre. Usando um terno slim Armani, os fios ruivos repicados, ele destoava da riqueza que esbanjava com aquele visual despojado, porém elegante.

Respirando fundo, o moreno estava decidido a atravessar os portões e seguir seu caminho até o ponto de ônibus. Mas assim que saiu do território da universidade, Kouen deu um passo a frente.

— Hakuryuu. Não finja que não me viu. - ele falou com a firmeza de sempre.

— Não tenho nada para falar com você. Boa tarde.

Kouen foi mais rápido e o segurou pelo pulso. Os olhos de azuis desiguais cresceram e o pânico o dominou. Pensou em gritar quando encarou uma expressão curiosa no rosto de seu primo. Ele… parecia triste.

— Vim aqui conversar com você.

— Eu não tenho nada pra falar com você e o meu advogado, o delegado Sinbad, já abriu um processo e há uma medida restritiva! Você com certeza recebeu! Não pode se aproximar de mim! Posso chamar…

— Você acha que Hakuyuu ficaria feliz sabendo que não permite que eu me aproxime de você?!

Bem na ferida. O peito de Hakuryuu doeu, mas… suas cicatrizes doíam bem mais.

— E como você acha que o Yuu-niisan se sentiria se soubesse que tentou me matar?!

Ele foi direto. Kouen engoliu a seco e o encarou. Soltou Hakuryuu, mas esse não saiu correndo como esperava fazer. Permaneceram a se encarar.

— Se é quanto a minha irmã…

— Não tem nada a ver com sua irmã. Eu quero conversar com você, Hakuryuu. Apenas você e eu.

— Está louco? Acha que vou entrar num carro com você? Vai me sequestrar e sumir com meu corpo? Eu já disse! Faço quando quiser um documento que diz que abro mão de toda minha parte da herança! Só quero viver em paz!

— Entra no carro, Hakuryuu. - Kouen foi sucinto mesmo diante do discurso exasperado de seu primo.

— Jamais!

Kouen suspirou, então tirou o celular do bolso da calça social preta. Algumas dedilhadas foram suficientes para ele virar o aparelho e mostrar fotos de Hakuei em uma joalheria.

— Hakuryuu, sua irmã está num shopping a oitocentos metros daqui. - o ruivo explicava com a maior calma do mundo. - Eu posso, agora mesmo, mandar matá-la e tudo vai parecer… um latrocínio, talvez?

Hakuryuu cerrou os punhos e, sentindo-se completamente impotente, ele sorriu diante do desespero.

— Por que não me deixa em paz, Kouen?

— Primeiro eu preciso que você e seu advogadozinho me deixem em paz… Então… - ele abriu a porta do carro. - vai entrar ou posso ordenar que executem sua irmã?

— Tsc… - ele farfalhou os fios azulados. - o que quer de mim? Que eu retire a medida restritiva?

— Quero apenas que entre nesse carro. Vamos conversar de homem… para homem.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi bem cansativo por eu mexer com quase todos os núcleos da fic, mas gosto por ter sido dinâmico. Hahaha! Kougy quer se livrar do problema dela e, para isso, está criando um problemão para o Alibaba! Mas é um problema menor do que... se ela contar a verdade sobre quem é o pai dessa criança, não? E Hakuryuu, mais uma vez, está nas mãos do Kouen. Como isso vai terminar?
Apesar de ser cruel, para não dizer horroroso, preciso confessar que desde que idealizei essa cena do cachorrinho, eu achei cômico. Sin às vezes é um tremendo sem noção, mas pobrezinho, só quer ajudar.
Muito obrigada por estarem lendo e, lembre-se, comenteeem! ♥ É muito importante para mim saber se estou agradando vocês ou pisando na bola! Um beijão e até o próximo capítulo! ♥



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