Escape escrita por Miaka


Capítulo 24
Losing you... once again.


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! ♥ Eita que o capítulo tá comprido, mas do jeito que eu gosto, bem dinâmico! Espero que vocês curtam também! ♥



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Um tanto quanto impaciente, volta e meia o ruivo esticava o pescoço para ver quem cruzava a porta do requintado restaurante francês.

Pelas vidraças que iam do chão encarpetado em vermelho ao teto ele procurava aquele homem. Será que algo tinha dado errado em seu plano?

Foi quando dois homens de grande porte, bastante robustos, vestindo ternos que pareciam tentar conter tantos músculos, apertados sob aquele tecido, e que usavam óculos escuros adentraram aquele lugar.

A chegada, bastante intimidadora, fazia com que os garçons se encolhessem à medida em que eles caminhavam em sua direção. Os funcionários do L’Effervescence iam abrindo caminho para aqueles que foram até o final do corredor de passagem. Chegaram àquela mesa redonda forrada por uma toalha de linho branco e adornada no centro com um belo castiçal de prata. Além do castiçal, arrumada sobre a mesa estava uma finíssima louça e talheres de prata. Pratos redondos feitos de porcelana e taças feitas do mais tênue cristal.

Kouen esboçou um sorriso quando encontrou o homem que era escoltado pelos dois seguranças. Mesmo sendo alto, não era o bastante para se deixar perceber entre aqueles brutamontes.

— Finalmente… Pensei que me deixaria aqui plantado a noite toda.

— Eu peço minhas mais sinceras desculpas.

Barbarossa se curvou de uma forma quase que imperceptível. Apesar de orgulhoso, era um gentleman. E enquanto cumprimentavam um ao outro, um dos seguranças já havia lhe feito o favor de afastar a cadeira da mesa, para que ele pudesse se sentar.

— Podem ficar lá fora.

Assim que os ordenou, Barbarossa tirou uma pistola semi-automática de dentro do terno e a depositou sobre a mesa, ao lado do prato. No mesmo instante, os dois homens assentiram e se retiraram.

Acompanhando a saída daqueles seguranças, Kouen parecia mais aliviado ao se ver a sós com Barbarossa.

— Tem tanto medo de andar sozinho por aí que esses dois monstros têm que te acompanhar?

Com um sorriso aberto, como se quisesse rir, Barbarossa não pareceu ofendido com a pergunta de seu amigo. Ficou a observar Kouen retirar do bolso da calça um cigarro de filtro branco e levar sua ponta até a chama daquele candelabro para, em seguida, tragar bem forte de uma só vez.

— É complicado viver quando seu nome está na lista da Interpol e você irritou muito alguém que tem porte de armas. - ele respondeu com o sorriso indefectível, o qual parecia ter sido talhado para sempre em seu rosto.

— Tem medo do Sinbad? - o sorriso de Kouen enfrentou o seu.

— Hunf… Digamos que prefiro me prevenir. Sabe que um covarde é capaz de atirar por trás...

— Todos os tiros que deu na mulher dele foram de frente? - o ruivo parecia se divertir.

— Sim. - Barbarossa assentiu. - Cada um. Eu vi a expressão de dor de cada tiro que aquela vagabunda ganhou. - riu. - Quando temos que resolver um problema, Kouen, para que postergar mais? - ele pretendia mudar de assunto. - Não entendi quando me contou essa história do seu priminho. - apoiando os cotovelos à mesa, ele entrelaçou os dedos das mãos, pousando seu queixo sobre eles. - Por que ainda não deu cabo dele? Pelo que me diz ele é quase um moleque! Quantos anos ele têm?

— Vinte e um. - uma nova tragada.

— O que impede de apagar ele, então? Pelo que me disse ele nunca nem usou uma arma.

Kouen suspirou e, finalmente, o sorriso esmaeceu de seus lábios. Barbarossa notou como ele desviou o olhar e arqueou as sobrancelhas. Algo o incomodava, então?

— É complicado. Eu… - ele encarou a janela, observando o movimento do trânsito. - Não gostaria de carregar a morte do Hakuryuu em meus ombros.

— Certo. Então mande alguém matá-lo. - tudo parecia bem simples para Barbarossa. - Mais fácil, não? Mas agora isso ficou interessante… Por que não teria coragem de matá-lo?

Um novo suspiro antecedeu a resposta e Kouen tragou mais uma vez.

— Hakuyuu… - ele mordeu o lábio inferior. - Ele ficaria decepcionado comigo.

Barbarossa revirou os olhos.

— Ele está morto, Kouen. E que eu saiba você ajudou nisso também, não?

O ruivo engoliu a seco. A verdade, nua e crua, doía.

Ele se conteve para não engasgar com aquela fumaça.

— Vamos pedir logo uma bebida, sim? - era a forma que ele tinha de cortar aquele assunto, gesticulando para a garçonete mais próxima.

Uma bela moça uniformizada e de cabelos trançados se aproximou da mesa enquanto ambos abriam os cardápios. Kouen, mais rápido e um tanto quanto trêmulo, já sabia bem o que queria. Apontou no cardápio para a funcionária do restaurante que, sem querer, acabou deixando os olhos pousarem sobre aquela pistola. Ela suou frio, mas se manteve firme com o sorriso e a postura que deveria ter ao atendê-los.

— Uma Salade Saison.

— Certo. - a moça assentiu. - Só… Só posso pedir para que o senhor não fume aqui? Infelizmente não temos área para fumantes.

Entreolhando sua companhia, o mafioso tirou a carteira do bolso e, dela, duas notas de 10.000 ienes, as quais depositou no bolso do avental preto que a garçonete tinha amarrado à cintura. A jovem, bastante desconcertada, arregalou os olhos.

— Se-senh…

— Você não viu nada. - bastante intimidador ele a interrompeu. - Só deixe eu fumar meu cigarro em paz, certo? - ela assentiu.

— Eu vou querer um Vichyçoise com crôutons. - em um francês impecável, Barbarossa chamou a atenção da moça.

— Hmmm… Agora sei onde passou esse tempo todo e melhorou seu francês. - Kouen sorriu com malícia e Barbarossa correspondeu aquele gesto.

— S-Sim, senhor! - ela anotava tudo, bastante tensa com aquela situação. Quanto dinheiro aquele homem havia colocado em seu avental, ela se perguntava, e que tipo de gente deixava uma pistola assim, sobre a mesa? - Alguma bebida?

— O que acha de um Romanée-Conti, Kouen?

Aquele nome foi o suficiente para trazer lembranças que deveriam ser boas e nostálgicas. Mas estas eram tão amargas quando o gosto do tabaco que tragava.

Lembrava-se daquele homem alto de repicados fios escuros que moldavam um rosto cuja beleza era única. Os olhos azuis tão brilhantes eram bem feitos, pequenos, no tamanho ideal para parecerem dois pontos de luz, duas safiras em meio àquela pele bastante alva. Talvez a única mácula que houvesse naquele rosto fosse um adorno - a pinta próxima aos lábios.

Ele sorria abertamente ao abrir o presente que seu irmão mais novo, tão parecido com ele, exceto o penteado, havia lhe dado. Jogando o papel de presente longe ele ergueu a garrafa que reluziu.

— Nossa! É um Romanée-Conti! Eu adoro esse vinho, Hakuren! - ele abriu um largo sorriso enquanto abraçava o irmão. - Muito obrigado!

— É para comemorar como está indo bem nos negócios, irmão! Parabéns!

— Vamos brindar agora mesmo com ele! - Hakuyuu anunciava.

— Yuu-nii, - uma voz infantil chamava. - eu também quero!

Ele se surpreendeu ao sentir a calça social do terno ser puxada por duas mãozinhas, tão pequenas. Hakuryuu era seu irmão caçula e, sendo uma criança tão doce e o mais novo entre quatro irmãos, era bastante natural que fosse tão mimado.

Hakuyuu se agachou e pegou em seu colo aquele que era como um tesouro para ele. Como amava seu irmão! Seu coração se enchia de alegria ao voltar para casa e encontrá-lo. Os dias estressantes no escritório não eram nada quando pensava que estava se esforçando para dar mais conforto e uma boa vida àquele menino, dando continuidade aos rentáveis negócios que seu pai havia dado início. Afagou os fios azulados e beijou o topo deles.

Mas enquanto o coração de Hakuyuu se enchia de alegria, o de outros se enchia… de ódio.

Se Kouen pudesse definir como era assistir aquilo, a única palavra que melhor definia seu sentimento era: doloroso.

Seus punhos cerraram, sutilmente, inconscientemente, enquanto ele observava, sem piscar, a forma tão carinhosa que Hakuyuu tratava seu irmão. Como ele desejava receber o mesmo carinho, apesar de se sentir, muitas vezes, um tanto quanto ridículo. Hakuryuu era uma criança de apenas seis anos de idade.

Hakuren abriu aquela garrafa e depositou o vinho em duas taças de cristal que estavam sobre a mesa de centro, enquanto que Hakuyuu permanecia a explicar para seu irmão que ele ainda era muito jovem para beber.

— Pegue mais uma taça, Hakuren! - orientou o mais velho enquanto balançava aquele menino em seu colo.

— Hm?! - piscou o mais jovem. - Você vai deixar o Hakuryuu beber? - havia um tom de descrença naquela pergunta.

— Claro que não! - ele riu. - Quem vai beber conosco é o Kouen!

O ruivo deu um salto e apontou a si mesmo. Talvez estivesse tão evidente o quanto secava com os olhos aquela situação que Hakuyuu estava tentando ser gentil, ele pensou. Porém, na realidade, desde que havia ido morar naquela casa enorme, ele se sentia como se fosse invisível. Não era especial quanto seus primos.

— Ma-Mas eu ainda sou menor, Hakuyuu-sama.

— Já tem 14 anos, Kouen. - ele sorriu. - Nunca bebeu antes?

Kouen balançou a cabeça negativamente.

— Pois hoje, então, eu vou ter a honra de servir sua primeira bebida! Logo você estará nos ajudando na empresa também, Kouen, e estou muito ansioso para que esteja conosco. Hoje você será um homem crescido como nós!

Foi difícil conter a emoção quando viu Hakuyuu depositar o menino de volta ao sofá para, pessoalmente, servir-lhe. Suas mãos tremiam quando recebeu aquela taça de cristal.

“Você acha que algum dia vai ter metade do que eles têm!? Precisamos tirá-los do nosso caminho!” - a voz de sua tia e agora madrasta ecoava em sua mente. “Será um mero empregado. Quem tem o sangue do dono disso tudo é Hakuyuu, Hakuren, Hakuryuu… Hakuei é uma sonsa. Você pode se casar com ela depois para tirar todo o dinheiro deles! Desde criança ela tinha um fogo no rabo por você…” - ela ria. “O que importa é tirarmos eles do nosso caminho. Melhor… Do seu caminho!”

Ele se lembrou bem das palavras da sua tia e o tema da conversa que haviam tido na noite anterior.

Kouen foi arrancado de seus devaneios pelo tintilar do cristal quando fizeram um brinde.

— Ao seu sucesso, Kouen!

— Kouen?!

O ruivo balançou a cabeça. Barbarossa tinha um olhar preocupado. Era claro. Kouen estava pálido e não o respondia por um bom tempo. O que estava acontecendo?

— Aconteceu alguma coisa? Está tão pálido! Quer que eu chame um médico?

— Na-Não, eu só… me distraí. - ele suspirou.

— Já pedi o vinho, já que não me respondeu, okay? Sei que adora vinho francês.

— Tu-Tudo bem.

Kouen engoliu a seco sabendo que teria de provar o gosto amargo do remorso.

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Apesar de já estarem sentados na sala de estar - que aliás, Kougyoku jamais havia visto tão limpa e bem arrumada. A perplexidade estava estampada em seu rosto. Ela estava chocada. Judal também nunca havia dado menor sinal de que gostava de homen. Afinal, sempre foram para cama e ele demonstrava ter tanto desejo por ela. Será que Hakuryuu estava mentindo? - com uma expressão enigmática a jovem o encarava.

— Então vocês… estão namorando?

— Sim. - Hakuryuu respondeu firmemente. - Algum problema?

Ainda um pouco desorientada ela balançou a cabeça para os lados.

— Nenhum. É que… não imaginava que você fosse gay. Muito menos o Judal.

Hakuryuu cruzou os braços e parecia exausto antes mesmo de ter de explicar aquilo.

— Eu não escolhi ser gay, Kougyoku. Eu meramente me apaixonei pelo Judal, independente de ele ser um homem ou não e creio que isso aconteceu com ele também. A gente não escolhe quem ama. Você, por acaso, escolheu amar o Alibaba-dono? Ou não o ama?

Ela suspirou e encarou a almofada que ela mantinha abraçada em seu colo.

— Alibaba é um grande amigo meu. - Kougyoku sorriu com sinceridade. - Mas você sabe que só estou me casando com ele porque Kouen me obrigou.

— E você vai aceitar isso? Vocês têm um relacionamento de fachada! - ele foi direto.

— Não temos escolha e… E de qualquer forma… - ela gaguejava. - o Alibaba é meu melhor amigo e, com certeza, eventualmente podemos nos apaixonar!

O que estava falando? Depois de saber que Judal e Hakuryuu tinham um relacionamento, ela precisava pensar em seu plano B. Um plano que ela odiaria ter de dar início, mas era sua única saída. Ela tinha tempo para fazer com que Alibaba acreditasse em sua história se… se finalmente o convencesse a dar aquele passo que ele tanto evitava. O que importava era que seu objetivo inicial, ao ir ao apartamento de Judal, havia ido por água abaixo.

— Na verdade… - os dedos finos de unhas compridas e bem feitas apertaram a almofada. - nós já… - ela corou. - temos nos dado muito bem, sabe?

Hakuryuu piscou, bastante desentendido. Será que estava entendendo bem?

— O Kouen não sabe. - rindo em meio ao constrangimento, Kougyoku encarava o teto. - Estamos mantendo segredo porque ele quer me vender como uma mocinha virgem, mas… você sabe, é inevitável.

À medida em que Kougyoku ficava mais corada, seu rosto assumindo a cor de seus cabelos, Hakuryuu ficava um tanto quanto assustado. Não. Definitivamente não. Aquilo não fazia o menor sentido!

— Está querendo me dizer que você e o Alibaba… - ele mexia as mãos sem saber o que fazer e o que dizer.

— Si-Sim! - ela assentiu com um sorriso largo, por mais envergonhada que estivesse. - Alibaba e eu temos estado muito bem e… e isso melhorou tudo, sabe? Acho que estamos prontos para nos casar!

— Eu duvido que o Alibaba tenha perdido a virgindade e não tenha me contado, postado nas redes sociais, no status dele do whatsapp! - Hakuryuu estava atordoado.

— Eu pedi a ele que não dissesse a ninguém, Hakuryuu! Como você acha que eu ficaria se o Kouen soubesse que não sou mais virgem! Estou confidenciando isso a você!

— Você é uma mulher adulta, prima. Sabe o que faz! Se você se cuida e…

— É. Mas acidentes acontecem, não é? - ela o interrompeu.

Hakuryuu nada entendia ao encarar aquele sorriso largo, os olhos arregalados e um tanto quanto marejados. Parecia que sua prima teria um colapso. Será que estava nervosa e envergonhada por contar que não era mais virgem? E o que ela queria dizer com… acidentes?

— Po-Posso usar seu banheiro?

— Claro...

Ele nada entendeu quando a jovem largou a bolsa ali mesmo e correu em direção ao toalete. Algo muito estranho estava acontecendo… e Hakuryuu ia descobrir.

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Judal observava o amanhecer pelas portas de vidro da recepção do hospital enquanto Sinbad assinava alguns documentos referentes à internação de Ja’far.

Só conseguira sair do lado de seu inspetor quando ele foi completamente sedado. O estado de Ja’far o preocupava tanto! Como haviam dito que ele demoraria a acordar, Sinbad pôde ao menos sair para comer algo e, durante toda a madrugada, ele teve a companhia de Judal, que não se permitiu deixá-lo. Ambos estavam bastante abatidos, sem dormir, mas o mais jovem tentava transmitir confiança a Sinbad.

O delegado se afastou do balcão e chamou Judal, que estava sentado em uma das poltronas próximas à entrada. Levantando-se ele acompanhou Sinbad e ambos pegaram o elevador.

— Estou um pouco preocupado já. Quero ir vê-lo. - confessou o moreno.

— Devia aproveitar e ir para casa um pouco. Eu levo você. Tá na sua cara como está exausto!

— Eu estou bem. - suspirou Sinbad. - Sua companhia hoje me fez muito bem! - o delegado o encarou. - Judal, eu quero que trabalhe comigo na delegacia.

— De novo esse papo não… - ele enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans.

— Tudo bem, então… você pode ir à delegacia essa semana e conversamos. Você vê o que é melhor, mas por favor, vá até lá! - era quase uma súplica.

Vermelhos e dourados se refletiram quando Judal bufou.

— Tá. Tá bom! Não prometo nada, mas eu vou. Satisfeito?

Sinbad apenas sorriu, bastante contente. Ele sempre sonhou em fazer Judal ter uma vida digna. Serendine tinha lutado tanto para que ele fosse uma pessoa de bem.

Com o relacionamento com Hakuryuu, Judal tinha se tornado mais maleável e, aos poucos, tinha novamente o contato e amizade que sempre gostou de ter com ele.

— Tudo ok com aquela papelada? - curioso, Judal indagou.

— Sim. - um suspiro sucedeu aquela resposta. - Já tenho a cópia dos exames do Ja’far para anexar ao processo contra o Barbarossa!

Ja’far abriu os olhos lentamente. Somente a luz fraca sobre seu leito estava acesa, certamente para deixá-lo dormir melhor.

Olhando ao redor ele se viu completamente só. Nem mesmo as gotas de chuva que batiam na janela faziam barulho. O único som que ouvia era do oxigênio que circulava naquela máscara que ele, já incomodado, tratou de arrancar do rosto.

Onde estava Sinbad? - ele se perguntava, um tanto quanto apreensivo, apertando os lençóis entre os dedos. A ausência dele fazia o ar ficar rarefeito e seu coração acelerava.

Queria se levantar e ir procurá-lo. Mas apesar de seu corpo não doer, ele sabia que devia obedecer Sinbad e à médica que lhe atendia. Sentia-se aflito estando sozinho ali.

Mas a porta do quarto subitamente se abriu e Ja’far abriu um largo sorriso. Sentia-se aliviado. Sin estava de volta! - ele estava certo disso ao ver aquela sombra se projetar.

Estava tão escuro do outro lado do quarto que mal conseguia vê-lo.

O dono da sombra ligou o interruptor e a imagem de Sinbad se transformou em Barbarossa, que tinha um grande sorriso maníaco em seus lábios.

— Finalmente nos encontramos novamente, Ja’far!

— Na-Não! - Ja’far gaguejou, murmurando ao se encolher naquela cama.

O homem, tão alto e imponente, colocou a cabeça para fora daquele quarto.

— VENHAM! Ele está aqui! Venham se divertir com o Ja’far!

— Não… Não! - ele balançava a cabeça negativamente.

Um, dois, três, quatro, cinco homens, mais! Tantos entravam naquele quarto e cercavam o leito de Ja’far. Pareciam lobos famintos. A saliva escorrendo dos lábios enquanto desejavam e apalpavam o corpo do inspetor.

— Dessa vez não deixem sobrar nada, viu?! - a voz de Barbarossa ecoou antes daquela porta se fechar.

— NÃO!!!!!!

— Ja’far, calma!

O inspetor se debatia na cama, empurrando e afastando o delegado e Judal, que tentavam contê-lo de todas as formas, segurando-o como podiam, evitando ao máximo machucá-lo. Mas Ja’far estava desesperado, atordoado naquele pesadelo que parecia terrível demais para ele voltar a si.

— Vou chamar um médico! - apreensivo, Judal avisou.

— SAI! NÃO DEIXA ELES FAZEREM ISSO, SIN! SIN!!!!

Por mais que estivesse ali, ao seu lado, lhe segurando, Ja’far não era capaz de vê-lo, senti-lo. Sinbad se via encurralado. Sentia-se incapaz de fazer qualquer coisa para ajudá-lo. Aquele sentimento de impotência lhe deixava furioso.

— JA’FAR, CHEGA!!!!!

O delegado agarrou firmemente o alvo pelos ombros e o sacudiu. Com aquele exclamar Ja’far acabou por despertar. Os olhos verdes, arregalados, encararam os dourados tão preocupados, tão angustiados. Porém, ao mesmo tempo em que se sentia aliviado ao ver que tudo não passava de um pesadelo, o toque de Sinbad lhe dava… nojo.

Ja’far subitamente empurrou Sinbad que, evitando forçá-lo a qualquer coisa, não reagiu. Surpreso, ele apenas observou quando seu companheiro se retraiu naquela cama, abraçando a si mesmo e esfregando os braços como se quisesse limpar aquela região onde o delegado havia lhe tocado.

— Ja’far?!

— Me deixa, por favor! - a voz embargada pediu.

— Você teve um pesadelo! - Sinbad insistiu. - Precisa ficar tranquilo, senão vai ter outra crise de asma. Se piorar não vai receber alta amanhã. - ele tentou ser didático como com uma criança.

Judal entreolhou Sinbad. Ele nunca tinha visto Ja’far agir daquela forma. Ele estava tão estranho. O que estava acontecendo?

O inspetor estava tão bem ao despertar. Seria efeito de alguma medicação? - o delegado se perguntou.

— Não fique assim, meu amor.

Inclinando-se para frente, o moreno beijou a fronte de Ja’far - ou ao menos começou a fazer isso, já que assim que seus lábios encontraram a pele do inspetor, este revidou com um certeiro tapa no rosto de Sinbad.

— SAI DAQUI! - vociferou Ja’far. - NÃO ENCOSTA EM MIM!

Perplexo, o delegado tocava a face que ficara marcada pelos dedos de Ja’far. Por que ele estava agindo assim? Seus olhos refletiam tanto ódio, tanta revolta. Será que estava se comportando daquela forma porque falhou em protegê-lo?

Sinbad estava completamente sem ação, perdido entre o choque e a paralisia que aquela situação gerou. Alguém precisava tomar uma atitude.

— Oe, sardento! - Judal se indignou. - Sinbad está muito preocupado com voc…

— SAIAM DAQUI!!!!!

Ja’far praticamente rosnou para Judal, que não pôde evitar em se assustar.

Por mais que implicasse tanto com o inspetor, já que o via como alguém que tomara o lugar de Serendine, Judal admirava profundamente Ja’far. Era uma pessoa tão doce, dedicada e gentil. Nunca, em toda sua vida, pensou vê-lo naquele estado.

— O que está acontecendo? Ouvimos gritos!

Judal e Sinbad olharam para trás e encontraram a médica que parecia bastante apreensiva. Ela fitou Ja’far e o viu encolhido, abraçando a si mesmo, como se daquela maneira ele tentasse se proteger de algo que eles não faziam ideia do que era.

— Sinbad-san? - ela pedia explicações e não pôde evitar demonstrar estar um tanto quanto irritada. - Por que ele está tão alterado assim? Tiveram alguma discussão?

— Na-Não. O Ja’far estava tendo um pesadelo. Tentamos ajudá-lo, mas… ele está fora de si! - o delegado explicou como pôde. - O que aconteceu com ele? Está tão agressivo!

— JÁ MANDEI SAIREM DAQUI! - o inspetor exclamou e arremessou um dos travesseiros nos quais suas costas estavam apoiadas.

A jovem entreolhou Sinbad antes de voltar a observar Ja’far. Ela mordia o lábio inferior.

— Por favor, me deixem a sós com o Ja’far-san por um instante. Vai ficar tudo bem. - ela garantiu.

— Mas…

— Vamos, Sinbad. - Judal prontamente o puxou pelo braço. - Se a médica está falando, ela sabe o que diz. Vai ficar tudo bem!

Mesmo inquieto e relutante, o delegado cedeu ao pedido da médica e acompanhou Judal. Voltaram ao corredor de onde podiam ouvir a chuva que caía torrencialmente naquele início de manhã.

— Eu não acredito! Por que o Ja’far está assim?!

Extremamente irritado, Sinbad esmurrou a parede mais próxima enquanto Judal suspirava e olhava o relógio.

— Merda, to atrasado… - ele resmungou.

— Pode ir, Judal. Já fez tanto por mim ficando aqui. - o delegado estava impaciente. - Eu te mando notícias. Leve meu carro, por favor! Está chovendo muito.

— Não, eu pego um táxi. Eu posso voltar mais tarde se você quiser.

Ambos foram interrompidos pelos ecos dos passos de quem usava um finíssimo salto alto. E a medida em que os passos se aproximavam, eles também ficavam mais rápidos.

Sinbad piscou, descrente, ao ver aquela mulher que aparecera diante de si. Bastante alta, de uma beleza diferente e incrível, longas e grossas tranças azuis, ela parou ao ficar cara-a-cara com eles. Em seu rosto, onde costumava ver sempre um sorriso gentil e doce havia apenas decepção e… revolta.

Mas o delegado estava tão feliz em vê-la. Logo abriu os braços para cumprimentá-la, já que não a via há mais de um ano e ele precisava tanto de um abraço.

— RURU...

Não houve como completar seu nome.

A mulher desferiu um único golpe, um soco certeiro que foi capaz de arremessar Sinbad naquela parede. E ela podia jurar que tinha se controlado ao máximo para não machucá-lo.

— O que significa isso?! - Judal piscou, assustado. Será que seria o próximo?

O delegado tentou se recompor, limpando com as costas da mão o sangue que vertia de seus lábios. Levantou-se apoiado àquela parede para encará-la.

— Por… Por que fez isso, Rurumu-san?!

— Por quê?! - ela cruzou os braços. - Você pergunta por quê?! Eu acho que você ter descuidado do meu filho como fez é mais do que motivo para isso, não acha?!

— Filho!? - Judal piscou. - Pe-Peraí, essa mulher gigante é mãe do Ja’far?!

— Adotiva. - Sinbad explicou.

— Não precisa entrar em detalhes. - Rurumu permaneceu severa. - Sinbad, onde você estava que não viu tudo isso acontecer?! Você quer que o Ja’far morra como a Serendine?!

As palavras de Rurumu eram cruéis, mas ela tinha plena razão. Sinbad sabia muito bem que estava errado ao deixar as coisas chegarem àquele ponto, mas quando imaginaria que Barbarossa seria capaz de por a vida de Ja’far em risco?

— Eu… Eu sinto muito. - ele soluçou, as lágrimas voltando a brotar nos cantos de seus olhos. - Ele vinha me escondendo sua rotina para me fazer uma…

— Para adotar aquela criança!

Sinbad piscou. Ela sabia de tudo, então?

Rurumu suspirou. E foi então que o delegado pensou que, provavelmente, aquela mulher, era quem mais estava apoiando Ja’far naquela nova empreitada. Afinal, Rurumu era uma importante ativista em causas sociais e familiares. Ela era responsável pela administração de diversos orfanatos e trabalhava obtendo recursos para ONGs e instituições que trabalhavam ajudando crianças em risco social.

E foi no início de sua carreira que ela conheceu o caso de Ja’far e decidiu criá-lo junto de seus quatro filhos.

— Sinbad, eu sei que Ja’far também errou, mas… o que eu vi foi monstruoso! Quando entreguei meu filho a você foi quando se comprometeu a cuidar dele. - ela o encarou e o delegado assentiu. - Eu notei o quanto se amavam. Pensei que ia cuidar dele.

Ja’far tinha sido uma criança doce e amável que conquistou a todos...

— Eu errei, eu sei! - ele soluçou escondendo o rosto com as mãos.

— Ei! - Judal se colocou entre os dois. - Não acha que está pegando pesado demais com o Sinbad?! Ele não imaginava que isso aconteceria e está sofrendo muito!

— O Sinbad sabe que o Ja’far NÃO PODIA passar por uma situação como essa! - Rurumu refutou antes de se voltar novamente ao delegado. - Você sabe tudo o que Ja’far passou na vida, Sinbad! Tudo o que ele suprimiu para seguir em frente! Toda a violência que ele enfrentou!

Aquilo estava indo longe demais e Judal estava revoltado com aquela mulher que acusava Sinbad de ser culpado pelo o que acontecera com Ja’far. Era irreal e injusto.

— Mas afinal, o que o Ja’far fez?! - foi a vez dele ir até o moreno. - Por que essa senhora fala do Ja’far como se ele fosse de cristal! - Judal estava indignado ao vê-la falar daquela forma.

— Judal… - Sinbad encarou o rapaz. - O Ja’far matou os próprios pais.

… mas também era um assassino.

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Um tanto quanto tenso, Hakuryuu dirigia a caminhonete 4x4. Nunca havia dirigido um carro tão grande e, afinal, desde que saíra da auto-escola e conseguira sua licença, ele nunca sequer havia tocado em um carro. Sua família jamais o deixaria dirigir um de seus veículos, o que o fez sempre depender do transporte público. E Judal havia deixado bem claro que ele tinha total direito de usar seu carro.

De início o jovem ficou bastante feliz, porém, arrependeu-se um pouco ao sentir o forte cheiro de maconha que parecia impregnado no estofado. Quando poderia dar uma limpeza nele? - perguntava-se enquanto manobrava para estacionar na frente daquele hospital.

Assim que parou o carro, puxando o freio de mão, ele retirou do banco carona dois potes. Havia acordado cedo para preparar algo para trazer para Sinbad e Judal, afinal, ele havia mandado uma mensagem durante a madrugada para avisar que passaria a noite ao lado de Sinbad. E assim que despertou, Hakuryuu notou que Kougyoku, que havia adormecido no sofá da sala, não estava mais lá. A manta com a qual a cobriu estava perfeitamente dobrada no estofado. Havia um bilhete sobre ela: “Obrigada pela companhia.”.

Aquela enigmática visita intrigava Hakuryuu. Parecia que Kougyoku tinha algo sério a tratar com Judal. O que seria? Por que ela parecia tão tensa?

Atravessando a recepção do hospital ele se surpreendeu ao encontrar um pálido Judal. Ele vinha do corredor que levava aos elevadores e parecia bastante abatido. Não conseguia acreditar na história que escutou. De repente se sentiu tão... parecido com Ja'far. E pensar que havia o desprezado tanto!

Apressando o passo para encontrá-lo, Hakuryuu se preocupou com aquela apatia.

— Judal!

Como se saísse de um transe, o jovem ergueu o rosto para encará-lo. O que Hakuryuu fazia ali? - ele se perguntava ao ser surpreendido por aquela presença.

Hakuryuu vestia um sobretudo azul-marinho e trazia uma sacola abraçada ao peito.

— O que… O que faz aqui, Hakuryuu?!

— Estava preocupado com você. Trouxe comida para você e o Sinbad-san.

— Eu disse para não sair de casa! - o tom repressor nas palavras de Judal fez com que o mais jovem se encolhesse. - Sabe que Kouen está o seguindo! Como chegou aqui?!

Ele contorceu os lábios antes de responder. Parecia que Judal não estava satisfeito com sua surpresa.

— Com seu carro. - encarou os olhos rubros. - Disse que eu podia usá-lo.

— Claro que pode! Mas quando as coisas voltarem ao normal! Já pensou se acontece com você a mesma coisa que aconteceu com o Ja’far?!

As safiras desiguais cresceram. Hakuryuu estava bastante surpreso ao ver que Judal cuspia aquelas palavras e suas mãos tremiam enquanto ele parecia bastante aflito. A fúria em suas palavras era facilmente confundida com a angústia que o levava a ter aquela atitude.

— Ju… Judal…!

— Não quero saber das suas explicações! Eu disse que devia ficar em casa!

Por mais que Hakuryuu quisesse compreender o porquê daquela reação agressiva, ele estava preocupado.

— Não pode me impedir de sair! Sou seu prisioneiro agora?! É para isso que me levou para sua casa?! - ele estava farto.

— Você não entende! - Judal farfalhou os próprios fios escuros enquanto andava em círculos. - O que não quero é nunca, ouviu bem? Nunca vê-lo na situação que estou vendo o Ja’far! Porque eu te juro, Hakuryuu, se o Kouen encostar em um fio de cabelo seu e fizer algo parecido com você… Eu o mato!

— Você não vai matar ninguém! - refutou Hakuryuu. - É por isso que está agindo assim?! Está com medo de que…

Hakuryuu foi interrompido pelo forte abraço de Judal, que o envolveu por completo. Ele nem ao menos tinha os braços livres para corresponder aquele gesto, sentindo seu corpo totalmente imobilizado por aquele aperto tão firme.

— Eu tenho medo de que alguém te machuque! De que alguém possa te tirar de mim!

Engolindo a seco, Hakuryuu sentiu uma, duas gostas pingarem em seu ombro. Não chovia no interior daquele hospital. Eram as mais puras lágrimas de Judal que umideciam seu casaco.

— Ju… Judal…

— Eu quero muito conversar com você, Hakuryuu. - ele sussurrou. - Eu… te amo! - era difícil dizer aquilo? Por que se engasgava? - Por mais absurdo e rápido que isso pareça, tudo o que aconteceu conosco nesse pouco tempo me deu certeza de que… - afastando-se brevemente, Judal o encarou. - de que eu quero te ter ao meu lado! De que eu quero ter uma vida digna para ficar ao seu lado!

A pele clara de Hakuryuu assumiu um forte tom avermelhado, como se roubasse para si o tom avermelhado dos olhos de Judal que, sutilmente, lacrimejavam. Ele estava emocionado, entregando-se aos seus sentimentos e, droga, como ele se sentia patético ao se ver daquela forma. Mas era a verdade. Era o que sentia, não era?

Um tanto quanto apiedado e confuso, Hakuryuu tocou o rosto de Judal e afagou a pele que era suave, por mais que começasse a nascer ali uma rala barba.

— Você me ama, Hakuryuu? - a mão de Judal envolveu a de seu companheiro.

O breve silêncio que houve entre sua pergunta e a resposta de Hakuryuu pareceu uma tortura.

— Muito!

Foi tudo o que Hakuryuu respondeu. O suficiente para que Judal abrisse um largo sorriso antes de levar aquela mão aos seus lábios e beijá-la.

— Eu quero viajar com você, Hakuryuu! Quero te conhecer completamente, saber tudo sobre você! Quero estar com você para sempre comigo! E se for preciso, para te manter em segurança, comigo, eu vou te tirar do país e vamos viver felizes!

Sem poder hesitar mais e tomado pela vontade insana que tinha de tomar aqueles lábios, Judal o puxou pela cintura e o beijou.

Não permitiria que ele sofresse. Não permitiria que ele vivesse fugindo daqueles crápulas de sua família e, o mais importante, jamais voltaria a traficar para aqueles malditos que desejavam a morte daquele que mais amava. Seguiria o conselho de Sinbad, o desejo de Serendine, e trabalharia de uma forma digna. Ele poderia dar uma vida digna a Hakuryuu, fazer com que ele jamais dependesse daquela fortuna maldita que fazia tantos clamarem por sua morte.

Porém talvez eles não tivessem tempo suficiente para realizar tantos sonhos e viver aquele amor, tão único, que era capaz de fazer Judal abandonar aquela vida bandida.

E Judal teve plena certeza daquilo quando viu um luxuoso carro com vidros tão pretos quanto seu chassi. As quatro portas se abriram e revelaram homens bem vestidos e que tinham fuzis em punho. Apontaram as armas para os vidros da recepção do hospital e dispararam. E por mais que tudo parecesse bem lento aos olhos de Judal, o único reflexo que ele teve foi, agarrando Hakuryuu, se jogar ao chão com ele.

Inúmeros disparos, o som agudo do vidro sendo estilhaçado e gritos, muitos gritos. Todo aquele barulho se misturou em um cenário caótico onde as lâmpadas, alvejadas pelas balas, explodiam e piscavam a fraca luz que sobrara.

Hakuryuu ergueu o rosto para encarar o aflito Judal que, com uma das mãos, voltava a pressionar sua cabeça contra seu peito. Ele tentava usar seu corpo como um escudo para protegê-lo.

— Socorro!!!

Olhando para o lado ele encontrou uma mulher baleada na perna e no braço. Era uma enfermeira. Havia mais feridos entre as pessoas que estavam ali e não esperavam ficar em meio àquele terrível tiroteio.

Mais um carro parou às portas do hospital e, de lá, mais homens armados saíram.

— Hakuryuu, você vai se arrastar até a saída dos fundos, okay? - Judal sussurrava.

— Está louco?! Só se for com você!

— ONDE ESTÁ REN HAKURYUU?! - bradou um dos homens que apontava um fuzil às pessoas assustadas, incluindo os feridos que se arrastavam pelo chão. - Nós vimos que Ren Hakuryuu entrou aqui! Caso ele não apareça, iremos matando um a um!

Judal e Hakuryuu se entreolharam quando viram outro homem puxar uma senhora pelos cabelos, apontando o cano de sua arma para sua cabeça.

— Jud…

— Nem ouse! - sussurrou Judal em um tom bastante autoritário.

— EI!!! - outro dos homens armados exclamou. - Achei!

Judal apertou ainda mais Hakuryuu contra seu corpo, mas tentou se manter indiferente àquela afirmação, mas aquele criminoso tratou de chutar as costas.

— Não dá para não reconhecer a cara de vagabunda que ele herdou da mãe e essa pintinha ridícula! - ele riu ao se ajoelhar e puxar Judal pela longa trança, fazendo-o se sentar. - Solta logo ele, ou te encho de furo.

Mordendo o lábio inferior, Judal permaneceu a abraçar firmemente Hakuryuu. Não. Jamais o soltaria. Jamais o entregaria. Por que tudo aquilo estava acontecendo? Eles se amavam e haviam combinado de viver uma vida juntos, e Judal estava disposto a se arrepender de toda a vida criminosa que havia vivido desde então. Encontraria Sinbad na delegacia e aceitaria o trabalho que ele o oferecera. Viveria ao lado de Hakuryuu, não? Por que aquilo estava acontecendo? - Judal se questionava ao ser puxado pelo homem e fazer mais força para manter Hakuryuu em seus braços.

— Ju….

— Não! - ele disse entre os dentes.

— Mete logo uma bala nele! A gente tem que levar esse moleque logo! - o outro homem ordenou.

— Hehe. Tem razão!

Judal ouviu o destrave da pistola que estava contra sua têmpora. Os olhos vermelhos cresceram ao mesmo tempo em que ele sentiu os dedos de Hakuryuu se apertarem em seu peito.

— Vá para o inferno!

Um único tiro ecoou naquele salão, fazendo com que Hakuryuu, perplexo, sentisse os braços fortes de Judal soltando seu corpo. Aquele abraço, aquele carinho, aquele amor, sendo arrancado dele. Não, não.

— NÃO!!!

Hakuryuu exclamava quando viu o homem que ameaçava Judal despencar no chão, os olhos arregalados sendo banhados pelo sangue que espirrava daquela perfuração em sua fronte.

— Mas… Mas como…?!

Bastante confuso ele se virou para trás para encontrar ninguém menos que o delegado Sinbad. Ainda saía fumaça do cano da pistola que ele brandia. Sua expressão bastante séria, bem diferente do que Hakuryuu conhecia daquela pessoa que exibia apenas gentileza e doçura. Os olhos dourados pareciam menores enquanto ele franzia o cenho.

— Ele tá morto!!! - um dos marginais gritava.

— Quem é esse filho da puta?! - outro homem apontava o fuzil.

— Delegado Sinbad. É um prazer. - era nítida a ironia nas palavras do moreno. - Vocês tem duas escolhas: ou saem daqui presos ou… já perceberam que tenho uma ótima mira.


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Notas finais do capítulo

Eita que escrever cada capítulo de Escape tá sendo cada vez mais difícil! Em especial agora que Sinbad e Ja'far tomaram uma boa parte do foco e eu pude introduzir uma personagem que eu AMO e, infelizmente, por motivos de "personagem morta" (masoq?) eu só posso trabalhar com ela em AUs assim. Hahaha!

Rurumu é oficialmente a mãe do Ja'far e eu planejei uma participação bem especial para ela. Talvez, inconscientemente, quando eu planejei a situação pós-traumática do Ja'far, eu estivesse meramente ansiando para que ele tivesse um apoio dela. Quanto ao passado do Ja'far, estarei revelando isso em breve, apesar do Judal já saber sobre e, well, ele ver que nem tudo é o que parece - e ele costumava julgar o Ja'far, mas por pura raivinha e ciúmes porque ele achava que ele estava TIRANDO O LUGAR que era ocupado pela Serendine.

Uma curiosidade desse capítulo é que tudo o que foi pedido por Kouen e Barbarossa no restaurante é, de fato, do restaurante francês L'Etrecotê de Paris, que fica no Rio de Janeiro. Exceto o vinho que não sei se eles servem. Hahaha!

Kougyoku - e eu - não tivemos coragem de contar ao Hakuryuu a verdade. Mas ela tem um plano B e ela vai por em prática ele logo, logo. Pobre Alibaba...

Judal finalmente refletiu, após ouvir sobre o passado do Ja'far e vê-lo na pior, que ele deve se esforçar para viver com quem ama e parar de negar o que sente para manter a pose de quem não liga para os sentimentos. Mas quando tudo parece bastante nos eixos... Ainda bem que os bandidos não contavam com o delegado mais gostosão e armado até os dentes desta fic, não é? Hahaha!

Espero que estejam gostando e, como sempre, mesmo que eu demore, eu respondo todas as reviews então comentem, critiquem, elogiem, falem comigo! ♥ Um abraço e até o próximo capítulo!



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