Escape escrita por Miaka


Capítulo 22
Giving up for you


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! E é um marco!!!! Finalmente hoje, pela primeira vez desde que comecei a escrever essa fic, consegui cumprir a postagem semanal! ;___; Obrigada a todos que permanecem acompanhando apesar de eu postar quase só um capítulo por mês!



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Já anoitecia quando a campainha tocou. Sabendo de quem se tratava, Hakuryuu correu para abrir a porta, onde encontrou o delegado que parecia tão abatido.

— Sinbad-dono, por favor, entre!

Ele adentrou a sala marchando em passos largos até que encontrou Judal. O rapaz estava de braços cruzados e não disse absolutamente nada ao vê-lo. Apenas ficou a observá-lo e ambos sabiam o que aquilo significava: era como se revivessem aqueles dias terríveis de anos atrás.

Sinbad parecia estar se contendo ao máximo, por mais que suas mãos tremessem.

— Sente-se, Sinbad-dono! Eu vou trazer um chá que acabei de preparar! Vai fazer com que se acalme.

Hakuryuu seguiu rapidamente para a cozinha e, então, Judal se sentiu mais à vontade.

— O que já sabem?

O delegado agitou as mãos antes de levá-las ao topo dos fios púrpura.

— Nada! Absolutamente nada! Ja’far desapareceu! A chave estava na porta do carro dele. A perícia foi averiguar se havia marcas de sangue ou digitais desconhecidas, mas a probabilidade de ser de algum marginal é ridiculamente impossível!

Sinbad praticamente se jogou ao se sentar no sofá. Judal observou como ele cerrava seus punhos firmemente. Ele sabia a quem o moreno queria acertar com eles.

Dando a volta no estofado, Judal se sentou sobre a mesinha de centro para encará-lo, ficando frente a frente com ele. Precisava ser firme. Odiava vê-lo assim, a se entregar.

— Sinbad! Não pode se abater! Tem que ter esperança!

— Esperança de quê?! - vociferando Sinbad se levantou, como se não quisesse enfrentá-lo, mas Judal o acompanhou. - Esperança de que vou encontrar o corpo do Ja’far totalmente desfigurado como encontrei o da Serendine?! - ele gesticulava enquanto caminhava pela sala. - De ter a minha vida fodida, mais uma vez?! Mais uma vez estão fodendo a minha vida! Aliás, a vida de quem eu amo! Por que não me matam de uma vez, ao invés de acabar com…

— CALA A BOCA! - exclamou Judal na tentativa de contê-lo. - Por que está falando essas merdas sem parar?! O Sinbad que eu conheço é uma pessoa positiva, esperanço…

— O Sinbad positivo, esperançoso que foi que nem um idiota para aquele hospital pensando que a filha tinha nascido... morreu aquele dia quando viu aquele corpo destruído! - foi a resposta direta do delegado ao interrompê-lo. Ele tremia.

— Acalmem-se, por favor!

Hakuryuu, bastante afoito ao ouvir a discussão, vinha da cozinha trazendo uma bandeja.

Deixando-a sobre o aparador ele levou uma das xícaras para Sinbad.

— Muito obrigado, Hakuryuu-kun, mas eu não quero beber nada agora.

— Por favor! Vai acalmá-lo! - ele foi firme. - Pense que o Ja’far-san não ia querer vê-lo assim! Precisa pensar nele, mas também em si mesmo.

Sinbad encarou os olhos azuis daquele que, de certa forma, com seu cuidado, lhe lembrava tanto seu esposo. Suspirando e vendo Ja’far no reflexo daquelas safiras, Sinbad tomou aquele pires e levou a xícara aos lábios.

— É uma mistura de erva-cidreira e camomila. Vai ajudá-lo a ficar mais tranquilo.

— Pode ficar despreocupado que o Hakuryuu é especialista em botânica.

— N-Na verdade ainda estou estudando. - o mais jovem corou ao ser elogiado por Judal.

O delegado terminou de beber, depositando xícara e pires sobre a mesa de centro, sentando-se para suspirar pesado.

— Eu preciso voltar para a delegacia! Se o Yamato souber que ordenei que as buscas começassem antes do prazo estabelecido…

— Eu vou com você! - Judal se dispôs.

— Anh?! - Sinbad ergueu os olhos dourados e o encarou.

— Olhe como está tremendo! Nem sei como conseguiu dirigir até aqui! Não vou deixá-lo sozinho! - ele constatou o óbvio.

— Não, por favor! - o moreno se levantou novamente. - Não quero que me acompanhe.

— Mas por quê?! - Judal estava indignado com a forma direta de Sinbad falar.

— Não quero reviver aquele dia! Não quero que esteja comigo quando esteve quando Seren…

O delegado nem ao menos notou quando Judal se aproximou e o segurou firmemente pelos ombros. Chegou a se assustar quando viu os olhos vermelhos tão próximos.

— Pelo amor de Deus, Sinbad! Superstições e medo não vão levá-lo a lugar algum! Nada vai ser igual àquele dia! Nada!

E enquanto Sinbad o encarava ele sentiu seu celular vibrar. Foi o que interrompeu aquele silêncio e, assim que Judal se afastou, Sinbad logo retirou o aparelho do bolso da calça social. Suas mãos tremiam quando o alívio lhe invadiu. Um grande sorriso cresceu em seus lábios e as gemas douradas lacrimejaram.

— É o Ja’far! - ele anunciou enquanto clicava na tela para abrir a mensagem.

— O que aconteceu?!

Hakuryuu, bastante feliz, entreolhou Judal, que não esboçou nenhuma expressão. Ele parecia bastante receoso quanto àquela mensagem.

— Ele escreveu: “Meu amor, veja isso!” - Sinbad leu. - Está vindo um vídeo?! - com a mão livre, o moreno farfalhou os fios púrpura. - Droga! Ele não tem ideia de que estamos preocupados?! Judal, a senha do wi-fi ainda é a mesma!?

— Sim! “barbarossafdp2013”. - ele respondeu.

— Que bom que o Ja’far-san está bem! - bastante tranquilo, Hakuryuu se sentou no braço do sofá, as pernas cruzadas uma em cima da outra. - Às vezes o celular dele só havia descarregado ou estava sem sinal e ele não conseguiu te avisar que ia a outro lugar.

— Será?! - Sinbad perguntou enquanto digitava: “Ja’far, estamos super preocupados! Onde você está?! Já mandei até mesmo todos da delegacia irem atrás de você!”

Rapidamente enviando a mensagem, Sinbad constatou que o vídeo havia terminado de carregar. E, bastante curioso, ele decidiu ver o que Ja’far queria lhe mostrar - e também saber, afinal, onde ele estava durante todo aquele tempo.

Me solta!!!

 

O delegado reconhecia muito bem aquela voz embargada pelo choro. Seus olhos cresceram diante daquele celular. Judal e Hakuryuu se entreolharam.

— Filma a cara desse viadinho fazendo cu doce! Hahaha!

 

Ja’far estava completamente nu, tentando se encolher naquele chão de cimento puro; os pulsos algemados à correntes não permitindo que afastasse os homens que só tinham o rosto coberto e o violentavam… de todas as formas possíveis.

— Já chega que agora é a minha vez! – gritava um no fundo.

— Faz ele olhar para a câmera! – pedia aquele que estava montado sobre Ja’far.

 

Chega, por favor!  – suplicava a vítima. - AAAAHH!!

 

 

— Olha só, o Barbarossa-sama já falou pra gente não deixar esse idiota gritar! Tá chamando atenção!

Dá logo aquele sossega-leão para ele ficar quietinho!

 

 

 

O rosto, cuja única imperfeição costumava ser as sardas, estava coberto de hematomas e arranhões. As lágrimas escorriam pela pele maltratada daquele que se negava a encarar aquele que filmava todo aquele show de horrores. Foi quando outro homem se aproximou e o puxou pelos cabelos.

Dá um tchauzinho para o delegadinho, dá! - provocou o bandido.

 

Ele balançava a cabeça negativamente. Aquele gesto era o suficiente para irritar quem registrava tudo e, sem dó, acertou sua face com um soco certeiro.

Ja’far gemeu como pôde sentindo o sangue escorrer por entre os lábios.

— Sai daí, caralho! É minha vez agora para ensinar para esse filho da puta o que é bom!

O celular parecia ter caído no chão. Não havia mais imagem e as mãos de Sinbad, ambas segurando o aparelho, tremiam freneticamente enquanto ouvia aqueles passos e o som agudo das correntes se atritando.

Não! Não, por favor!

Agora vou calar sua boca, seu infeliz!

 

 

O vídeo chegou ao fim quando o celular deslizou por entre os dedos de Sinbad. O delegado, completamente pálido, cobriu os lábios com as mãos quando sentiu aquele gosto amargo atravessar sua garganta. Os joelhos foram ao chão ao mesmo tempo em que aquele líquido indigesto escapou de sua boca.

— Oe, Sinbad! - Judal, bastante preocupado, agachou-se próximo a ele.

Sinbad colocou para fora o que havia e o que não havia também em seu estômago. As mãos tremiam enquanto ele tentava conter aquele forte enjôo que o derrubara.

Judal tentava conter toda sua raiva ao perceber o que estava acontecendo. Afagava as costas de Sinbad e afastava seus cabelos para trás. Que pesadelo estavam prestes a enfrentar?

— Sinbad-dono, por favor, mantenha a calma! - pediu Hakuryuu, que voltava do corredor trazendo uma toalha.

O sabor salgado das lágrimas se misturavam ao amargo do vômito que finalmente cessava.

O que tinha acabado de assistir? Por que Ja’far estava passando por aquilo? O que estaria acontecendo naquele momento? Será que ele ainda estava vivo!?

Mil perguntas martelavam sua cabeça enquanto ele suava frio, os olhos arregalados, estando completamente em choque.

— Traga um calmante para o Sinbad, Hakuryuu! - Judal orientou.

— S-Sim! - o mais jovem se levantou e correu em direção ao corredor do apartamento.

— N-Não se preocupe. - com a voz falha, o moreno tentava recuperar o fôlego. - Eu estou bem. Eu vou… mandar agora mesmo… esse vídeo para a delegacia e…

— Sinbad, olhe seu estado! - Judal, bastante repreensor, o advertiu.

— Você viu o estado do Ja’far?! - retrucou um agressivo Sinbad. - Nesse momento ele está sendo estuprado e… torturado por aqueles homens e… a mando do Barbarossa! Meu Deus! - ele tremia, cobrindo o rosto para esconder as lágrimas.

Judal mordeu o lábio inferior, sem saber como agir e o que fazer para acalmar e para ajudar Sinbad. Hakuryuu logo voltou trazendo um comprimido e um copo d’água e ele podia jurar que ele tinha dito algo, mas Judal só conseguia pensar em como Hakuryuu era pequeno e frágil. Se o visse na mesma situação… como reagiria?

Sentiu seu sangue ferver apenas em imaginar aquilo. E apenas assim já conseguia se colocar no lugar de Sinbad.

— Sinbad-dono, venha ao banheiro se limpar. - Hakuryuu o ajudava a se levantar.

— M-Me desculpe, sujei tudo. Eu vou cuidar disso, ok? - Sinbad estava desconcertado.

— Não tem que pedir desculpas por nada. - ele o conduzia pelo apartamento. - Apenas fique bem e conte conosco.

—------xxxxxx-------

Ofegando, Ja’far encarou aquela poça imunda e não se reconheceu ao ver a imagem que ela refletia. Quantos já tinham sido? Sete? Oito? Nove? Dez? Ele havia perdido a conta. Ou havia decidido parar de contar para pensar que não havia passado por tanto?

Seu corpo doía dos pés à cabeça, tanto pela violência com a qual havia sido abusado, como também pelas agressões que sofrera. Mas ele estava decidido a não desistir, a não se entregar.

Foi quando sentiu aquela inserção, tão dolorosa, que o fazia urrar.

— JÁ MANDEI CALAR A BOCA! - gritou o homem que o tinha entre suas pernas.

— É foda! Daqui a pouco o Barbarossa-sama vai reclamar com a gente de novo! - comentou outro. - E nem podemos aproveitar mais, ele já mandou o vídeo. Temos pouco tempo para nos divertir.

— Então não precisamos nos preocupar mais se ele vai aguentar ou não, não é?

Ja’far piscou, olhando para trás quando viu um dos homens se aproximar com uma seringa. A mesma que eles estavam usando, quando não estavam o violentando, para consumir drogas.

Os olhos verdes refletiam, com pavor, o líquido que espirrava da ponta daquela agulha.

— Não, por favor! - ele relutou. - Eu prometo ficar quieto! Prometo não gritar mais!

A que ponto estava chegando? Suplicando aos seus algozes alguma clemência.

— Mete logo isso nele para a gente terminar isso com grande estilo! - ria um dos homens. - Mas não exagera porque senão o franguinho não vai aguentar!

Contorcendo-se, Ja’far tentava evitar o pior, mas aquele homem travou seu corpo ao chão, usando seu próprio como peso, quando aquele que trazia a seringa puxou seu braço firmemente.

— NÃO! NÃO, POR FAVOR!

O sorriso daquele homem que se deleitava com seu desespero foi a única resposta que Ja’far teve antes de sentir aquela agulha adentrar sua pele.

Ele balançava a cabeça, tentando ainda implorar para que parassem, como havia feito durante todas aquelas horas que pareciam… dias, semanas, meses. Foi quando uma súbita dormência começou a se espalhar por seu corpo.

— Pronto. Agora podemos aproveitar o fim da festa!

Aquelas palavras soaram tão lentas aos ouvidos de Ja’far. O galpão ao seu redor girava e aquelas luzes fluorescentes viraram rastros coloridos. Ele já não sentia dor alguma em seu corpo e, melhor, nem ao menos sentia seu corpo quando o ar começou a lhe faltar. Mas não houve como relutar, como tentar respirar, quando tudo ao seu redor foi tomado pela escuridão.

Do alto daquele mezanino, Barbarossa assistia à tudo com um belo sorriso no rosto.

Com o celular apoiado entre o ombro e o rosto, ele esperava ser atendido.

Alô?

— Pensei que não ia me atender. - ele se recostou no corrimão de ferro.

— Ainda estou esperando me darem a confirmação. — a voz, do outro lado, respondeu.

— Não vai demorar muito. Mandei o vídeo agora e o delegadinho deve estar tendo um ataque. - ria Barbarossa. - E quem diria que ele fosse para a casa onde seu priminho está morando agora.

— Eu disse a você que Sinbad está de corpo e alma dedicado a nos prender.

— Não é à toa que disse que estava com saudades de mim, não é?

— Coincidentemente a data do meu casamento está próxima e, o convidando, o mantenho perto e posso… - ele pausou para um pequeno riso. - usá-lo para ocupar o delegadinho.

— Ai, Kouen, você não vale nada mesmo.

— Não é à toa que nos damos bem!

— Olha, acabei de receber a confirmação de que o Sinbad está saindo do apartamento deles. - avisava Kouen. - Melhor correr para fugir daí.

— Confesso que é tentador esperar o Sinbad para meter uns tiros na cara dele. Mas… temos um jantar de negócios, não é?

— Pois é. Espero que não me deixe plantado ou chegue fedendo à sangue de delegadinho pobre. - o ruivo suspirava. - Até lá.

— Até.

Barbarossa desligou com um sorriso no rosto. Seu retorno ao país estava sendo bastante produtivo, pensou, antes de bater duas palmas, o que chamou a atenção do bando que cercava Ja’far.

— Acabou a festa! Sinbad está a caminho!

—---------xxxxxxx--------

— Me dá a chave do carro! - Judal praticamente ordenava enquanto caminhavam para fora do condomínio.

— Não se preocupe, eu vou dirigir!

— Vai dirigir merda nenhuma! Já viu como está?! Eu quero continuar vivo! Do jeito que vai capotar esse carro!

E, sem mais cerimônias, Judal praticamente arrancou a chave da mão do delegado, que deu a volta no veículo, sentando-se assim no lado do carona. Foi inevitável não conferir se as duas pistolas estavam ali, no coldre do peito.

— A probabilidade de isso ser uma cilada é muito alta! - Judal comentou, dando partida no carro. - Aquela mensagem com endereço completo… - ele refletia enquanto manobrava.

— As viaturas devem chegar junto. Eles estão bem perto! E pensar que quando estive perto daquele orfanato estava quase do lado do Ja’far! - Sinbad estalou a língua, bastante tenso.

Não pararam em um sinal vermelho sequer. Judal tinha bastante habilidade ao volante e a prioridade era chegarem o mais rápido o possível. Só parou mesmo quando seu celular tocou. Abriu a mensagem rapidamente: “Se cuida, por favor. Preciso de você”.

Judal suspirou e deixou um sorriso escapar.

Não havia tempo para mais nada. Assim que receberam a seguinte mensagem indicando o endereço onde Ja’far estava sendo mantido em cárcere, Sinbad saiu correndo e Judal, decidido a acompanhá-lo naquele momento difícil, só pôde ir atrás do delegado.

Já estava para cruzar a porta do apartamento quando sentiu aquela mão fina segurar seu braço.

— Judal! Cuidado!

 

Os olhos azuis demonstravam bastante preocupação e, sem delongas, Hakuryuu rapidamente o beijou nos lábios. As línguas mal se encostaram, mas era o suficiente para que aquele sabor o acompanhasse e o lembrasse de que havia alguém lhe esperando.

— É AQUI!

Sinbad o tirou de seus devaneios e mal Judal parou o carro, o delegado saiu. Já havia uma grande movimentação de viaturas e sua equipe já se encontrava ali também.

— Delegado! - aproximou-se o tenente Sharrkan. - Já verificamos por fora e o lugar parece vazio.

— Preparem-se para invadir, então. - ordenou Sinbad, enquanto tirava a arma do coldre.

— Eu também vou. - Judal se prontificou.

— Não posso permitir isso, Judal. Se algo acontecer…

— Eu estou falando que também vou e não posso permitir que um delegado estúpido e apaixonado faça algo imprudente! - o rapaz o interrompeu.

Os portões do galpão foram arrombados ao mesmo tempo em que os policiais envolvidos naquela operação invadiram o local com armas em punho. A frente deles, Sinbad corria por todos os cantos. Onde estava Ja’far? Não era possível que haviam o levado dali.

— Eu o encontrei! - exclamou Judal.

Alívio e tensão confrontaram-se no coração de Sinbad, que correu seguindo a direção da voz de seu amigo. Ele estava no canto mais escuro daquele galpão e, avistando Judal, o delegado desceu apressado aquelas escadas de ferro, seguindo pelo amplo lugar. O odor de maconha e urina se misturavam, mas ele não se importou.

Já podia avistar o corpo de Ja’far ao chão. Ele estava de bruços, completamente nu. As marcas roxas tomavam a alvura de sua pele. Arranhões e cortes se misturavam à sujeira de quem havia sofrido de tudo ali. Os olhos dourados cresceram ao mesmo tempo em que naufragaram em lágrimas que ele mal conseguia conter.

Judal pensou em pará-lo, mas ele sabia que não tinha esse direito. Sinbad se ajoelhou ao lado do que sobrara de Ja’far desejando que tudo aquilo fosse um pesadelo.

— Meu Deus!

Havia sangue entre as nádegas de seu inspetor. Havia marcas que pareciam mais impressões dos dedos que seguraram firmemente suas pernas, durante todo o tempo em que aquela tortura durou.

— Meu Deus, o que fizeram?! - Sinbad não sabia como agir, tocando tão de leve nas costas de Ja’far, como se pensasse que ele quebraria com o mais sutil toque. - Ja’far! Oe!

Ja’far não reagia. Então ele decidiu levar as costas da mão até as narinas do alvo e mal pôde sentir sua respiração. O desespero lhe consumiu.

— JUDAL! O Ja’far não tá respirando!

— Merda!

Judal, que acabara de encontrar aquela seringa usada no chão, se alarmou, juntando-se a Sinbad. O delegado tratou de tirar a parte superior do terno para cobrir o corpo frio de Ja’far, trazendo-o ao seu peito, onde o apoiou e sentiu a pulsação fraca dele.

— JA’FAR! - o moreno o sacudia. - JA’FAR, ACORDE!

— Acalme-se, Sinbad! Vou chamar os paramédicos que estão lá fora! Vi que trouxeram uma ambulâ...

Ele foi interrompido pelo toque do celular. Era Hakuryuu.

Judal se levantava quando o atendeu, pretendendo ser breve.

— Não posso falar agor…

— Judal, o Sinbad-dono tem a senha do facebook do Ja’far-dono?! - do outro lado da linha, seu novo acompanhamente parecia bastante aflito.

— Quê?! - Judal arqueou a sobrancelha. Que tipo de pergunta era aquela.

— Postaram o vídeo que mandaram para o Sinbad-dono, Judal! Todo mundo está vendo o que aconteceu!

— Não pode ser… - suspirou Judal. - Eu vou falar aqui com ele. Já encontramos o Ja’far!

— Graças a Deus! Como ele está?!

— Nada bem. Depois conversamos! Te amo!

Judal corou ao perceber a última frase que dissera antes de desligar.

Aquela declaração havia escapado tão naturalmente. Agradeceu por Sinbad não ter nem ao menos notado aquilo, estava tão preocupado. Será que devia perturbá-lo agora com mais aquela situação? Não, o estado de Ja’far parecia delicado.

Mas assim que pretendeu sair dali atrás de ajuda, a equipe de Sinbad tratou de tomar completamente o lugar e, atrás dele, vinha a equipe de paramédicos ao socorro do inspetor.

— Ja’far, por favor, não ouse me deixar! - Sinbad sussurrava enquanto o segurava firme em seus braços. Beijou de leve o topo dos fios alvos que estavam encardidos de tão sujos. - Eu errei em não conseguir te ajudar a tempo, mas por favor… não me deixe!

— Por favor, delegado, deixe que os médicos irão ajudar o Ja’fa-san.

Sinbad ouviu a voz grave de Masrur. O ruivo tocou seu ombro e ele assentiu, mesmo que bastante relutante, a deixar Ja’far ser colocado naquela maca.

Era como reviver um pesadelo onde, nesse, ele havia chegado mais cedo do que no caso de Serendine, quem nem mesmo teve tempo de se despedir. Mas Ja’far estava vivo, não estava? - ele perguntava a si mesmo enquanto observava os paramédicos que o examinavam, checavam seus sinais vitais, o colocavam aquela máscara de oxigênio.

Ele tremia completamente apavorado. Seus lábios entreabertos pareciam travados.

Temia perguntar a eles se Ja’far ficaria bem e receber uma resposta negativa.

— Como ele está?! - Judal se antecipou e perguntou por Sinbad.

— Precisamos levá-lo urgentemente. Ele tem sintomas de uma overdose e já teve uma parada respiratória. Ele tem alguma doença crônica ou alergia a algum medicamento?

Judal entreolhou Sinbad antes de recolher aquela seringa que havia visto antes no chão. O moreno estava mais assustado que nunca. Overdose? Como isso seria possível?

— Ele… Ele tem asma, mas nunca o vi ter uma crise. Ele me disse que se curou com um tratamento. - o delegado respondia, parecendo desnorteado.

— Alergias? - a paramédica que tinha aquela prancheta em mãos questionou.

— Ne-Nenhuma que eu saiba.

— Eu encontrei isso no chão. Se drogaram o Ja’far, deve ter sido com isso! - Judal mostrou a seringa para a jovem.

— Vamos levá-lo imediatamente! Já ligaram para algum parente dele para comunicar e acompanhá-lo?

— Eu sou… marido dele. - Sinbad deu um passo a frente.

— Vá logo que eu resolvo tudo aqui, Sinbad. - Judal disse, bastante confiante. - Assim que terminarem as investigações aqui o encontro no hospital.

Sinbad assentiu e como gostaria de agradecer imensamente pelo apoio que Judal estava lhe dando. Mas ele não conseguia processar bem tudo o que estava acontecendo. Apenas acompanhou os paramédicos que empurravam aquela maca para fora daquele galpão quando sentiu uma mão firme em seu braço.

— Onde pensa que está indo!?

O que aquele homem estava fazendo ali? - Sinbad se perguntou ao encarar ninguém menos que o superintendente Takeruhiko Yamato.

— Eu vou acompanhar o Ja’far! O estado dele é grave! - ele tentou ser o mais formal possível.

— E quem vai fazer a perícia do local do crime? Deixou algum responsável? Que eu saiba seu subordinado é a vítima, então, vai deixar o local assim? É dessa forma que o delegado Sinbad age?!

Se Sinbad não conhecesse aquele homem há anos, ele juraria que era uma brincadeira de mau gosto.

— Você não vê que o Ja’far precisa de ajuda?! - indagou Sinbad, perdendo um pouco da paciência.

— Ele está sendo ajudado. Que eu saiba você é um policial e não médico.

— Eu preciso acompanhá-lo!

— A família dele deve ser comunicada.

— EU sou a família dele! - vociferou Sinbad.

E, para a surpresa do delegado, o superintendente gargalhou o máximo que pôde e, diante da gravidade da situação, aquela risada acabou chamando a atenção de todos, inclusive de um certo rapaz que terminava de recolher os pertences de Ja’far, espalhados por aquele lugar.

— Não me faça rir, Sinbad! Parem de brincar de casinha porque dois homens - nunca - ouviu bem? Nunca vão ser um cas…

— CALA A BOCA!

Judal puxou Yamato pelo braço enquanto que, com a mão livre, o golpeou em seu rosto com toda a força que tinha. Sinbad arregalou os olhos dourados ao ver seu superior ir ao chão.

— Acha que pode chegar aqui e falar merda pro Sinbad?! Já viu como o Ja’far está?! Ele precisa do Sinbad! A equipe dele é competente o suficiente para trabalhar enquanto você está aqui tentando perturbar ele!

As palavras saíam praticamente cuspidas, tomadas pela raiva ao ouvir aqueles comentários preconceituosos que Sinbad não merecia ouvir - ainda mais em um momento tão delicado.

— Seu… desgraçado, posso lhe prender por desacato! - Yamato estava furioso ao se reerguer.

A equipe do delegado Sinbad, por mais preocupada que estivesse, não conseguia conter os risos ao ver aquele homem, que todos odiavam, ser surrado por Judal.

— Você decide, Sinbad! - o superintendente encarou o moreno. - Ou você fica aqui, faz seu trabalho de merda, ou está expulso da corporação! Escolha! - autoritário, ele ordenou.

Por mais que Sinbad estivesse tomado pela aflição, ele se esforçou para se manter firme e encarar aquele homem. E se esforçando para lançar um sorriso desafiador, o delegado encarou Yamato ao mesmo tempo em que tirou o distintivo do pescoço e o arremessou ao chão.

— Pois só marque o dia para eu assinar minha expulsão! Minha prioridade é o Ja’far! É a única coisa que importa na minha vida!


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Notas finais do capítulo

Eu acho engraçado que Escape eu faço capítulos mega comédia e depois vem um mega drama. Sin largou a toalha. Ele prefere o amor dele do que a carreira que ele tanto lutou para ter. Também pudera, esse cachorro do Yamato é um nojo! Confesso que tem umas ceninhas que escrevo - e falas que faço os personagens dizerem - que eu me sinto mal em fazer. Hahaha! Maaaas... vocês sabem que os vilões têm o que merecem nas minhas fics, não é? Estou considerando o Yamato um vilão? Não sei de nadaaa~~ Hahaha!
Esse incidente vai acabar envolvendo todos os personagens da fic, mas por incrível que pareça, Sin e Ja'far não vão ser tão afetados quanto... o Judal.
Finalmente Escape engrenou e espero que vocês estejam gostando! Se estiverem, se tiverem alguma reclamação, sugestão, me escrevam review que eu amo e leio e respondo (msm demorando) tudo! ♥



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