Escape escrita por Miaka


Capítulo 20
Living with you


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoaaaal! ♥ Escape tem recebido muitos leitores novos e isso me deixa muito feliz! Os números têm subido e fico muito satisfeita sabendo que estão curtindo minha história! Obrigada por acompanharem!



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O ônibus parou na avenida transversal àquela rua cuja esquina tinha uma montanha de lixo acumulado. Sacos plásticos, bugigangas, móveis velhos serviam de assento para um pequeno grupo que gargalhava enquanto alguns dançavam e outros, sentados, conversavam. A única coisa que havia em comum entre eles, além das roupas rasgadas, era que cada um tinha entre os dedos um cigarro de maconha. A pequena aglomeração formava uma fumaça única que se misturava ao nevoeiro daquela noite fria.

Aquela cena não era nada atípica para Alibaba. Todo dia quando chegava em casa passava por aquele pequeno grupo que costumava se drogar por ali. Não haveria problemas se eles apenas estivessem nas suas, mas assim que batiam os olhos no loiro começava a implicância, ameaças e perseguição. Ele engoliu a seco pensando que não estava só agora.

— Que cheiro bom! - Morgiana comentou quando a fumaça da erva queimada já incomodava o nariz de Alibaba.

— Bom!? - ele espirrou três vezes seguidas. - Esse cheiro é insuportável!

— Você não sabe apreciar as coisas boas da vida, Alibaba-san. - um risinho escapou dos lábios da ruiva.

Alibaba suspirou mais preocupado do que nunca. Como iria explicar a Kougyoku o fato de Morgiana estar vivendo na sua casa? E, claro, Morgiana ia querer muito mais do que abrigo. E ainda tinha de lidar com a ideia de que ela poderia se juntar àquele grupo de drogados da sua vizinhança. Mas nada era pior do que se lembrar de sua geladeira vazia e de que precisava sustentá-la agora. Ao menos para que ela não voltasse à prostituição e ele, como grande incentivador para que ela abandonasse aquela vida, lutaria contra aquilo.

— Vem comigo!

Ele segurou firmemente a mão de Morgiana. O rubor tomou conta das bochechas da ruiva ao ver seus dedos entrelaçados nos de Alibaba que marchou apressadamente para passar por aquele bando.

— E ai, Alibaba, tá de namoradinha nova!?

Engasgando-se ao ouvir aquilo ele pelo menos se sentiu aliviado ao ver quem falava. Era Hassan, um dos mais tranquilos do bando. Ao seu lado estava sua esposa, Zaynab e no colo da mulher, nitidamente sem banho, estava o filho que ela amamentava enquanto o cigarro estava pendurado em seus lábios.

— Kassim ia ficar orgulhoso dele! - ela comentou. - Ei, mocinha, quer um trago?

Os olhos de Morgiana brilharam, mas antes que desse o primeiro passo ela sentiu Alibaba apertar sua mão, impedindo-a de prosseguir.

— Morgiana é igual a mim. Não gostamos de cigarro.

Aquela afirmação fez todos gargalharem. O rosto de Alibaba assumiu o tom escarlate do cabelo de sua companhia que, confusa, não entendeu o motivo de tanto riso.

— Ah, pára, Alibaba! Todo mundo sabe que você nunca deu um trago com o Kassim porque nunca aguentou! - Hassan se apoiou no ombro do loiro.

— Quem é Kassim, Alibaba-san? - Morgiana perguntou de forma inocente.

— Vamos embora!

Alibaba estava extremamente constrangido e, nitidamente, magoado.

Saiu praticamente arrastando Morgiana, que ainda se deliciava com o aroma da fumaça que formava uma nuvem sobre aquele grupo. Ele nunca tinha visto Alibaba com uma expressão tão carrancuda, mas ela preferiu se resignar, já que ele não havia lhe respondido.

Seguiram em silêncio até o prédio no final da rua. A fachada coberta de pichações e rachaduras e janelas tampadas por tábuas de madeira chamava a atenção de Morgiana.

Alibaba, que já estava bastante irritado, notou como ela encarava o lugar.

— Olha, é aqui que eu moro! Não tenho nada melhor pra te oferecer! Se você não gostou, tudo bem você ir embora! - e como ele queria que ela realmente decidisse desistir daquela ideia.

— M-Mas eu não estou falando nada, Alibaba-san. - gaguejando, Morgiana abaixou a cabeça. - Sou muito grata por me trazer até a sua casa.

Ele voltou a corar, vendo que estava agindo de forma estúpida com a moça.

— B-Bem, de qualquer forma não é bom que chegue muito tarde por… por causa desses problemas. - ele dizia enquanto subiam pelos três lances de escada que levavam até seu andar.

Morgiana piscou, um tanto quanto surpresa quando viu aquela pichação, em letras garrafais, na porta do apartamento que Alibaba se dirigia: “VIRGEM”.

— Tsc, não ligue pra isso! - ela não precisava saber daquele detalhe, afinal.

— Alibaba!

Os olhos dourados cresceram ao ver sua vizinha, Toto, que andava de camisola pelo corredor. Um dos bebês no colo enquanto que o outro rolava pelo chão aos seus pés.

Morgiana parecia um tanto quanto encabulada - não pelas vestes minúsculas e de tecido fino que a moça trajava - mas pelo tamanho dos seus seios e beleza do seu corpo. Não que aquilo fosse algo atípico, ela costumava a ser menor que as demais, em especial na sua profissão.

— O que aconteceu, Toto? - o loiro se preocupou ao ver como ela parecia aflita.

— O Olba saiu pra beber e até agora não voltou! - ela ninava um dos gêmeos, que começava a chorar em seu colo.

— E tem algo de estranho nisso? Sabe que ele só vai voltar pela madrugada.

— Hoje é nosso aniversário, Alibaba! Ele prometeu que voltaria cedo! Tenho certeza de que aconteceu algo para ele não ter aparecido até agora!

— Não vai me apresentar a sua amiga, Alibaba-san? - a ruiva puxou, sutilmente, a manga da blusa pólo que o rapaz usava.

— Ah, sim. Toto, essa é a Morgiana. Ela vai ficar um tempo comigo!

A perplexidade estava estampada no rosto de sua vizinha que apenas observou enquanto a nova acompanhante de Alibaba se curvava para cumprimentá-la.

— A sua noiva, por acaso, sabe disso?!

Sendo bastante direta, aquela pergunta fez Morgiana se sentir desconfortável. Desviando o olhar ela passou a encarar o bebê que tentava engatinhar.

Alibaba suspirou extremamente desagradado com a intromissão de sua amiga.

— Acho que tem mais com o que se preocupar, não é, Toto?

Dando meia-volta, Alibaba voltou a mexer no molho de chaves para abrir a porta de seu apartamento, mas Toto insistiu.

— Eu preciso ir atrás do Olba, Alibaba! Pode ficar com os meninos enquanto eu fora?

— Toto, - ele se voltou a moça. - eu estou exausto enquanto você fica o dia inteiro em casa e o Olba nem trabalhar vai, só sai pra beber e ainda quer que…

— Claro que podemos! - Morgiana interrompia sua fala enquanto pegava no colo aquela criança. - Eu tomo conta deles enquanto descansa, não é, Alibaba-san? - ela sorria abertamente.

— Sabia que eu adorei você, mocinha? - Toto praticamente largava a outra criança no braço livre da ruiva. - Bem melhor que aquela patricinha mimada! Escolheu bem, Alibaba!

— Morgiana, você não…

— Por favor, Alibaba-san! Posso treinar já pra… quando tivermos nossos filhos.

Alibaba se engasgou novamente. Do que Morgiana estava falando? Por que ela insistia tanto em lidar como se fossem um casal?

Mas os olhos dela brilhavam, implorando para que pudessem ajudar o casal de amigos que Alibaba já estava cansado de auxiliar, mas que não via nenhuma evolução. Eram dois irresponsáveis e viviam bebendo, usando drogas e insistiam em não trabalhar. Em pouco tempo largou o semáforo, onde lavava vidros dos carros por alguns trocados. Olba mantinha aquele sonho de vender colares e pulseiras feitos com miçangas. Ele costumava dizer que viveria da sua arte. Mas o pouco de dinheiro que conseguia com isso, ele usava para comprar cerveja e drogas. As crianças eram sustentadas por algumas boas almas - incluindo Alibaba - que davam mantimentos, fraldas e até medicamentos quando precisavam.

— T-Tudo bem já que a Morgiana que vai cuidar dos gêmeos. - ele cedeu. - Mas você volta logo, não é, Toto?

— Claro! Não demoro nem meia-hora!

—------xxxxx-------

Na mansão dos Jehoahaz Abraham o clima era de festa. Nada diferente do esperado com a presença daquele que deixou inúmeras sacolas de presente sobre o enorme sofá.

— VOVÔ!!!!!

As portas duplas da mansão se abriram e revelaram um animado garoto que foi correndo para os braços do avô que se agachou para recebê-lo de braços abertos.

— Aladdin! Venha cá, meu netinho!!!

David abraçou firmemente o menino e se levantou trazendo-o em seus braços.

Os dois eram alvo do olhar do mordomo que ajeitou os óculos de armação grossa. Aquele que não escondia como o incomodava o fato daquele homem estar ali.

— Mas que saudade o vovô estava de você! Já está ficando um rapaz!

— Já você nunca muda, vovô! Parece sempre o mesmo! Parece que nunca envelhece!

— É mesmo? - David riu, divertido. - E adivinha pra quem eu trouxe muitos presentes?!

— EBAAAA!!! - Aladdin ergueu os braços.

— E onde estão seus pais? - colocando-o de volta no chão, David perguntou.

— Eles estão vindo da igreja. Hoje tem culto.

— Eles insistem nisso? - revirando os olhos ele não escondia o tom de deboche. - Bem, não importa! Vou te dar logo seus presentes!

— Siiiiimmm!!!!!

Aladdin berrou, subindo no sofá e pulando nele, para desespero do mordomo.

— A-Aladdin! Seus pais não gostam que faça isso!

Tsc, deixa o menino se divertir! Ele está com o avô dele!

— M-Me desculpe.

Ugo abaixou a cabeça, envergonhado ao ser repreendido.

Aquela situação era normal quando David voltava àquela casa. Aladdin assumia um comportamento bastante diferente do usual, já que seu avô apoiava qualquer malcriação que fizesse. Inclusive, Ugo tinha certeza de que aquele homem até mesmo incentivava que Aladdin se pusesse a desafiar seus pais.

— Chegamos!

A voz feminina era da bela mulher de longos cabelos róseos que atravessava aquelas portas. Ela vestia um tailleur salmão bastante elegante que acentuava bastante a cintura definida e os seios fartos. David não pode deixar de notar que, a cada passo, aquela saia justa subia e deixava amostra uma boa parte das coxas torneadas de sua, segundo ele, deliciosa… nora.

— David-san!!!! - ela abriu um largo sorriso ao apressar o passo para cumprimentá-lo.

— Pára tudo! - ele ergueu as palmas das mãos para, dando a volta na moça, segurar sua mão. - Mas que beleza é essa, minha nora querida? - um assovio escapou de seus lábios, os quais ele molhou com a língua como se estivesse de frente para uma comida bastante suculenta. E como ele desejava prová-la.

Corando a jovem ria, bastante envergonhada com os galanteios - que ela considerava inocentes - de seu sogro. Ele era uma pessoa tão divertida, pensava.

— Você que é muito gentil, David-san!

— Não! - ele a abraçou firmemente e aproveitou para sentir o atrito dos seios dela contra seu peito. - Você que nasceu para ser uma rainha, Sheba!

— Estou atrapalhando algo?

A pergunta vinha de ninguém menos do que o recém-chegado, o marido daquela moça. Farfalhando os longos fios azuis ele afrouxava a gravata. Não havia um sorriso sequer em seu rosto, o que demonstrava o quão insatisfeito ele estava em ver seu pai ali.

— Não vai me dar um abraço, meu filho?! - perguntou David.

Revirando os olhos e controlando o enjôo que sentia ao se aproximar dele, o mais jovem caminhou e foi abraçado firmemente por seu pai. Ele nem ao menos correspondeu o gesto.

— Abrace melhor seu pai, Solomon! Ele ficou tanto tempo no Brazil! - Sheba tinha um largo sorriso no rosto. - Como é bom ver nossa família toda junta, reunida! Sentimos muito sua falta, meu sogro!

— É claro que sim! Em especial meu netinho, não é?! - ele soltou o filho para cutucar Aladdin, que não escondia a alegria de ter o avô ali. - E, aliás, quando vai me dar mais netos, Solomon?! Sinceramente… - ele caminhou até Sheba para acariciar aquele rosto. - com a mulher maravilhosa que tem devia perder menos tempo se ajoelhando na igreja e ajoelhando mais para dar prazer a ela. Se fosse eu já teriamos uns dez filhos! - ele gargalhava.

Sheba corou violentamente ao mesmo tempo em que ria, completamente sem graça. Reação basante diferente de Solomon que bufou, balançando a cabeça negativamente.

Eu peço que poupe meu filho de ouvir esses assuntos vulgares!Não seja bobo, papai, eu sei muito bem do que o vovô falando!Aladdin! - Solomon o repreendeu.Caaaaaalma! - David ainda ria. - Seu filho não tem nada de criança mais, Solomon. Deixa o menino ouvir de tudo, ele tem que aprender como se trata uma mulher!

Solomon suspirou mais uma vez levando uma mão à fronte. Sua esposa deu meia-volta e massageou seus ombros, o sorriso ainda presente em seus lábios.

— Calma, querido! Seu pai está querendo ser simpático e se divertindo!

— Eu não sei quanto tempo vou aguentar isso! - ele confessou.

— Bem, vamos ao que interessa! - anunciou David ao começar a pegar as sacolas e ir distribuindo a sua família.

— Não precisava, David-san!

Encabulada, Sheba abria o embrulho para revelar um biquini de estampa tropical. Seria ótimo se ele não fosse de tamanho minúsculo e fio-dental.

— Que lindo! - ela admirou mostrando ao marido e ao filho.

— Maravilhoso, não? Comprei em Copacabana! E quero ver você amanhã na piscina com ele ? - não precisava da piscadela para ele condenar suas intenções.

Solomon abria aquele pacote para descobrir uma Bíblia completamente em português. Ao menos seu pai havia lembrado dele, pensou.

— AAAAAH, EU ADOREI, VOVÔ!!!!!

Aladdin chamou a atenção de todos enquanto empunhava aquele revólver de brinquedo - que mais parecia uma réplica perfeita. E, claro, aquilo não agradou em nada o diretor da universidade e pastor nas horas vagas: Solomon.

— Mas o que significa isso? Aladdin, devolva isso para seu avô agora!

— Q-quê?! - ele pôs o revólver em suas costas. - Não, eu gostei!

— S-Solomon… - Sheba, um tanto constrangida, segurava o braço do marido.

— Meu filho não vai brincar com nada que lembre armas!

David contorceu os lábios e fitou Aladdin.

— Você vai tirar a alegria do seu filho assim? É só um brinquedo! - enfatizou David.

— Hoje é um brinquedo. Amanhã ele toma gosto e quer segurar um de verdade! Já basta que não foi nem ao culto hoje!

— Eu odeio ir ao culto! - Aladdin mostrou a língua.

— Há! Olha isso! Começou o “Efeito Vovô David!” - Solomon cruzou os braços. - Largue esse brinquedo agora mesmo, mocinho, e vá direto para seu quarto. Ugo vai levar seu jantar para lá!

— Ah, não! Calma, Solomon! - ele se pôs atrás de Aladdin, segurando os ombros do garoto. - Eu voltei hoje e quero, no mínimo, jantar acompanhado do meu querido netinho! Está brigando com ele por causa de um brinquedo que dei e porque ele está expondo a opinião dele. - David cruzou os braços. - Não vivemos num mundo livre? Que tipo de livre arbítrio você prega?!

— Para mim chega!

Solomon marchou pelo salão e seguiu até a escadaria, sendo seguido por uma envergonhada Sheba que tentava manter o sorriso para o sogro, que permanecia a afagar os ombros de seu neto, que se manteve ao seu lado.

Assim que eles deixaram o lugar, um sorriso malicioso cruzou seus lábios. Um sorriso que não passou despercebido aos olhos daquele mordomo.

—------xxxxx-------

Hakuryuu encarava o teto daquele quarto. Estava tão frio mesmo debaixo daqueles pesados edredons. Aliás, aquele quarto era muito frio… sem ele.

O que será que Judal estaria fazendo agora? - ele se perguntava ao olhar pela fresta debaixo da porta. As luzes estavam apagadas, provavelmente já tinha ido dormir, não?

Bem, o melhor que podia fazer era dormir também e não continuar naquela melancolia. Afinal, estava feliz de estar vivendo debaixo do mesmo teto de Judal e ainda eram namorados, mesmo que… dormindo em camas diferentes. Em quartos diferentes também.

Virando-se para o lado ele não podia evitar se sentir incomodado.

E, incapaz de dormir, ele tirou o celular de cima da mesinha de cabeceira. Havia uma mensagem não lida de Alibaba:

Td bem? Podemos conversar amanhã? Tenho uma novidade para contar…

Ele rapidamente digitou: “Sim, tudo ótimo. Não consigo dormir. Que novidade?

E quando, prontamente, Hakuryuu ia depositar o aparelho de volta à mesinha, ele vibrou. Alibaba ainda estava acordado?

Tbm não. Estou acompanhado… igual a você.” - Hakuryuu arregalou os olhos de azuis desiguais ao ler aquilo para, rapidamente, responder: “O quê?! Você e a minha prima finalmente…”.

Assim que enviou a mensagem ele ficou batendo com a ponta do indicador a lateral do celular. Estava ansioso pela resposta.

Não. Morgiana.” - “Quê?!” - foi a resposta imediata. Alibaba não teve de esperar nada.

Deu merda. Temos que conversar pessoalmente, mas ela tá aqui. Vamos dormir na mesma cama.” - “Vish, boa sorte” - foi a resposta de Hakuryuu, que pensou se devia escrever mais. “Ao menos você vai dormir com alguém na mesma cama.”.

?” - foi a resposta de Alibaba, que logo obteve a resposta: “Judal me deu um quarto. Não estamos dormindo juntos.” - será que devia ter dito aquilo? Parecia estar reclamando. Hakuryuu se questionava mordiscando o lábio. Agora era tarde demais.

KKK! Você esteve virgem por 21 anos! Um dia a mais não vai te matar.” - Alibaba ria.

Como você está por 23.” - Hakuryuu foi ácido em sua resposta.

Cala a boca!

Vem calar! KKK! Boa noite, Alibaba-dono. Vou tentar dormir.

Boa noite, Hakuryuu. Lembre-se que você ainda tem sua mão. kkkk!

A raiva e o riso se misturavam quando Hakuryuu jogou o celular de volta a mesinha.

De certa forma estava um pouco mais tranquilo depois de jogar conversa fora. A amizade de Alibaba era uma das coisas mais valiosas de sua vida. Ele tinha razão, afinal, estava sendo apressado demais e Judal poderia, muito bem, estar apenas lhe respeitando e lhe dando privacidade.

Aconchegando-se nos edredons ouviu passos que vinham do corredor. Judal estava acordado? Será que estava tudo bem?

Inquieto ele decidiu se levantar, saindo do quarto e encontrando o lugar vazio. Mas a luz da sala estava acesa, então ele decidiu segui-la. O cheiro de maconha abafado naquele lugar cujas janelas e a varanda já estavam fechadas. E por mais que ele tentasse ser sutil em sua chegada, a tosse condenou sua presença.

— Hakuryuu?!

Judal, que estava sentado no sofá, os pés sobre ele também, quase derrubou o pequeno cigarro no carpete felpudo - o que causaria uma grande tragédia. - na tentativa de escondê-lo, mas era tarde demais. E apesar da decepção estar estampada em seu rosto ao ver Judal usando drogas, Hakuryuu se resignou. Afinal, ele estava sendo abrigado e não poderia se meter em qualquer tipo de… lazer que Judal tivesse, por mais que ele se preocupasse e considerasse aquilo errado.

— Judal… - ele se manteve no portal do corredor. - M-Me desculpe, eu pensei que tinha acontecido algo e vim ver. Não… Não queria atrapalhar.

— Me desculpa… - ele abaixou a cabeça. - Quando eu tô um pouco ansioso preciso fumar um pra… pra conseguir dormir.

— Tudo bem. - Hakuryuu se aproximou. - Eu também não estou conseguindo dormir.

— N-Não, eu não quero que experimente isso! - Judal foi taxativo. - Eu não quero que… que fique viciado igual aos meus clientes ou… eu mesmo.

Hakuryuu sorriu ficando realmente feliz em ver como Judal se importava com ele.

Tomou a liberdade de se sentar ao seu lado e, só então, na penumbra que notou que Judal vestia apenas uma cueca boxer, deixando o peitoral e o abdome definidos completamente expostos. Por que a temperatura, naquela noite tão fria, havia aumentado tão subtamente? - Hakuryuu se perguntava.

— Você… está tentando sair dessa, não é?

Judal apenas assentiu enquanto tragava mais uma vez.

— Você vai conseguir! Eu tenho certeza!

— Acho difícil… - ele baforou a fumaça para o lado oposto a Hakuryuu.

— Eu também achava difícil me livrar da minha família e, olha pra mim, estou aqui com você agora! - Hakuryuu tentava ser positivo.

— Muita gente já tentou me tirar dessa, Hakuryuu… - Judal parecia melancólico. - Sinbad já me internou em clínicas caras para fazer uma rehab e olha pra mim! Não consigo pregar o olho sem um beck!

— Aos poucos você vai conseguir! Tenho certeza de que hoje você tem uma motivação diferente do que naquela época, não é? Talvez… algum objetivo ou… alguém.

As bochechas de Judal assumiram o tom escarlate de seus olhos. Hakuryuu estava mais que certo e, lembrando-se daquele alguém, Judal decidiu apagar aquele cigarro, amassando-o no cinzeiro cujas guimbas transbordavam.

— Você tem razão, Hakuryuu. Tem alguém a quem eu não quero decepcionar!

— É?! - foi a vez de Hakuryuu corar, mas… de quem Judal falava? Seu coração palpitou. O receio de não ser quem era referenciado o fazia temer.

— Mas me diz… O que podemos fazer se nós dois não conseguimos dormir? Algo que nos deixe cansados a ponto de cair de sono?

Transar” - aquela palavra ecoou nos pensamentos de Hakuryuu enquanto ele sorria abertamente mas, cerrando os punhos, ele se sentiu completamente podre.

— Err… podemos começar a ver uma série, o que acha? - não era isso que ele queria propor. - Aí todo dia assistimos um episódio antes de dormir haha!

— Eu tenho a senha do Netflix do Sinbad. - Judal parecia disposto a acatar a ideia. - Vamos para meu quarto, a TV lá é maior!

— C-Claro!

E não havia conseguido ir dormir no quarto, melhor, na cama de Judal? E por mais que não chegassem onde Hakuryuu queria ir, às vezes seus olhos desviavam da televisão para admirar aquele abdome rígido. Apenas a presença de Judal parecia um presente. Vê-lo rir, conversar com ele… Hakuryuu queria ficar assim para sempre.

—------xxxxx-------

Ja’far aguardava ansioso naquela sala. Algumas imagens de santos adornavam aquele escritório tão bonito. Tentava se distrair atento aos detalhes do lugar quando a porta se abriu revelando uma sorridente freira que trazia um bebê em seus braços.

Assim que a viu adentrar aquela sala, Ja’far se pôs de pé. Os olhos verdes brilhavam ao ver a criança que era envolta em uma manta cor-de-rosa e que foi levada até ele.

Era uma linda menina de ralos cabelos azulados e que parecia mal ter dois meses de idade.

— Quer segurar ela um pouco? Afinal, na semana que vem já vai ser sua!

— Eu… Eu posso?!

— Claro! - a madre sorria. - O processo já está bastante adiantado e dá para ver nos seus olhos, Ja’far-san, como deseja essa menininha!

Um tanto quanto abobado, sem palavras, Ja’far a recebeu em seus braços. Foi impossível não se emocionar ao pensar que estava carregando aquela que seria, finalmente, a filhinha que daria a Sinbad. A filha que Barbarossa havia tomado dele. Era tão linda e… pequena. Ele contemplava enquanto segurava a mãozinha miúda entre seus dedos.

— A mãe dela entrou há pouco tempo no convento.

Ja’far piscou, desentendido.

— Mãe?! - ele indagou, o sorriso esmaecendo um pouco.

— É… - a freira não escondia a tristeza. - Era uma moça muito trabalhadora. Seu marido faleceu há pouquíssimo tempo. Não teve como ver a filha nascer e… o avô é estrangeiro, um homem muito poderoso, mas não quis saber dela também. Ele culpa a moça pela morte do filho, já que era contra o relacionamento deles. Ela, então, decidiu se tornar uma noviça.

— Mas ela não quis cuidar da filha mesmo sozinha porque perdeu o marido? - curioso, Ja’far perguntou. Como alguém poderia abandonar um tesouro tão precioso como aquela criança?

— É complicado, Ja’far-san. Ela disse não ter condições nem financeiras e nem mesmo emocionais. A menina a lembra muito o marido.

— Pode me dizer o nome dessa noviça, madre? - o alvo perguntou um tanto quanto pensativo.

— Pipirika. - ela sussurrou. - Mas pra quê deseja saber, Ja’far-san?

— Se algum dia… minha filha quiser saber, madre, eu não vou escondê-la. Afinal, ela vai se acostumar a ter dois pais e eu vou fazer de tudo para que ela seja feliz, mas jamais vou privá-la de conhecer a mãe. Isso se ela desejar.

A freira abriu um largo sorriso ao tocar o ombro do inspetor.

— Eu tenho cada vez mais certeza de que a Esla-chan encontrou ótimos pais.

— Obrigada, madre. - sorriu Ja’far.

— Bem, e posso perguntar qual critério usou para registrá-la com esse nome?

— É claro. Esse nome é da falecida mãe do meu marido.

— Entendo. Será uma grande surpresa para ele, não é?

Ja’far assentiu voltando a admirar aquela criança. Como queria sair dali agora mesmo, naquele momento, com ela em seus braços para levá-la até Sinbad.

— Tenho que levá-la de volta. Sabe que abri uma exceção para que pudesse vê-la hoje, não é?

— C-Claro, madre. Eu também já tenho que ir. Preciso ir para a delegacia.

E, mesmo com o coração apertado, Ja’far entregou a menina de volta à senhora.

— Então até semana que vem quando virá buscá-la definitivamente! - ela sorria.

— Até semana que vem, madre! - ele tomou a mão da senhora e a beijou. - Com licença.

Ja’far caminhou pelos corredores daquele orfanato católico com um sorriso de orelha a orelha. Entre seus passos chegava a quase saltitar. Tudo estava dando tão certo!

Com certeza, com a chegada daquela criança, Sinbad se esqueceria do fantasma de Barbarossa, que voltava a assombrá-lo. Uma semana. Apenas uma semana para que, finalmente, fossem uma família completa.

Cruzou aqueles portões e rapidamente se dirigiu ao seu carro.

No caminho puxou o celular de dentro do terno risca-de-giz e viu a mensagem de Sinbad.

Está tudo bem, amor? Os exames ainda não terminaram? Estou preocupado. Beijos.

Destravando o alarme do carro ele parou diante da porta e se pôs a digitar: “Tudo bem, Sin! Já estou chegando! Em 10 minutos estou aí! Te amo!” - Não, ele não podia saber que tinha ido ao orfanato assinar mais documentos. Agora só faltava a assinatura que o próprio Sinbad daria no dia em que fossem buscar sua filha.

Mas assim que Ja’far enviou a mensagem, ele ouviu o destrave de uma arma.

Receoso ele olhou para o lado e viu aquele que ele só conhecia pelo retrato falado e fotos antigas no apartamento de Sinbad e Serendine. O homem bem mais alto que ele não estava só. Droga! Estava tão distraído que nem notara que havia sido cercado.

Barbarossa sorria enquanto encostava o cano daquela pistola em sua têmpora.

— Então quer dizer que você que substituiu o lugar da Serendine na cama do Sinbad!

Ja’far engoliu a seco. O melhor a fazer naquele momento era dissimular.

— N-Não sei do que está falando!

— Você vai ser o novo namorado dele que vai levar sete tiros na cara também, então?

— J-Já disse que não sei de quem está...

Barbarossa acertou com tudo aquele cano grosso e metálico no rosto de Ja’far.

Ele ainda tentou, mesmo zonzo, se apoiar no carro, mas a batida foi forte o suficiente para que ele não conseguisse se manter consciente. Mas antes que fosse ao chão, Barbarossa o segurou firmemente.

— Vou te mostrar o que acontece com quem se envolve com aquele delegadinho fajuto!

 


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Notas finais do capítulo

Esse é um capítulo que eu termino de escrever falando: como eu adoro escrever essa fic!
Apesar de estar sendo difícil lidar com tantos personagens sendo que criei núcleos diferentes, acho que as coisas estão saindo bem, não é? Hahaha! Eu me divirto bastante escrevendo essa fic e essa é uma long que está long mesmo, mas aos poucos tudo está se encaixando!
Essa semana consegui postar minhas duas fics em andamento e espero que aproveitem!
Muito obrigada pelas reviews - e prometo que vou responder todas e leio todas! Então se você quer elogiar, criticar, mandar tomates, comentar, bater um papo comigo, me manda review! ♥ Um beijo e até semana que vem!



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