POV. Julieta

Acordo num quarto branco, com uma janela enorme aberta, dando uma visão para uma praça. Olho de um lado para o outro e vejo uma agulha enfiada no meu braço esquerdo, ligada ao soro. No outro braço, no meu dedo indicador, tem um daqueles negócios de batimentos cardíacos. Estou vestida com uma daquelas camisolas de hospital. Quem me vestiu? E como vim parar aqui? – penso.

–- Bom dia! Eu sou a enfermeira que está cuidando de você, me chame de Cia. Meu nome é Malencia e não gosto que me chamem assim, sabe?! – viro meu rosto de repente para o lugar de onde vem a voz. Desde quando tem alguém no quarto? – Bem, pelo que seus amigos disseram, você caiu de barriga para baixo, mas você não estava longe do chão. Pelos exames, constatamos que não aconteceu nada com seu bebê. Você só ficou de observação, pois estava saindo um líquido amarronzado de você, mas isso é normal. – a mulher de coque perfeito continua a dizer. – Se sair muito, você tem que entrar em contato com sua médica. Então, você está de 23 semanas e seus amigos me contaram que você já sabe que é menina, certo? – simplesmente assinto com a cabeça. – Caso sinta alguma dor nas costas, é comum por causa da queda, mas se ficar forte, volte aqui. – ela para e olha para o relógio de pulso. – São 10:45 e o médico liberou você para tirar alta às 14:00. Qualquer coisa, toque o sininho do lado da cama. Vou chamar seus amigos.

Não dá tempo de eu nem abrir a boca para me manifestar, a tal de Cia sai da sala e fecha a porta. Continuo onde estou, porque, devo admitir, eu estou com medo de me mexer e essa agulha entrar por completo dentro de mim. Sim, tenho medo de agulhas na pele.

Alguns minutos depois a porta de abre e passa por ela uma Emily aos prantos e um Louis com olhar preocupado.

–- Oh, Julie, eu achei que ia acontecer algo com você! - diz Emily, enquanto limpa suas lágrimas com a manga da blusa.

–- Para quê que eu fui fazer cócegas em você, né?! - diz Louis, um pouco mais descontraído. Dou uma risadinha.

–- O que aconteceu? Eu só lembro de ter caído, da dor e pronto. E cadê o Christopher? – pergunto e sinto a boca seca.

–- O Chris está lá embaixo junto com a Annie. Ela também não pode subir aqui. – diz Louis. Já imagino a cara de ódio que minha irmã deve estar por não poder vir me ver. – Acho que a Emily pode te contar melhor o que aconteceu, já que boa parte do tempo eu não estava prestando muita atenção. Vou descer lá embaixo terminar sua ficha, tudo bem? – ele diz e me dá um beijo na testa.

–- Emy, pega um pouco de água para mim? – ela pega no filtro do quarto e trás pra mim. Bebo quase que com desespero. – Agora conte o por que de eu ter machucado de tarde e agora estar de manhã.

–- Então, depois do grito que você deu, eu e a Annie corremos para o apartamento do Louis. Sorte que a porta estava destrancada, senão eu teria arrombado ela, de tanto desespero eu estava. – ela diz, meio rindo. – O Chris acordou com o grito que você deu e o Louis teve que ir pegá-lo. O menininho estava tão desnorteado com tudo que estava acontecendo que eu tive que vir com ele no colo e o Louis te carregou até o carro. – Meu. Deus. Eu. Tive. Que. Ser. Carregada. – A gente veio para o hospital, te levaram para uma sala e eu tive que dar um jeito de cuidar do Chris e do Louis.

–- Como assim cuidar do Louis? – pergunto rindo.

–- Amiga, é sério, ele não ficou bem. – percebo que Emy está séria e paro de rir. – Parece que ele ficou com medo de perder outra pessoa, sabe? Ele conversou comigo e até disse que não sabia por que estava daquela maneira, já que te conhece há muito pouco tempo. Mas ele nem conseguia dar atenção para o Chris, pois ele ficava andando de um lado para o outro ou parado demais em um canto. Os irmãos dele tem que sair logo do hospital, porque ele já está no começo da depressão, amiga. Ele fica falando sozin... – ela parou de falar no momento em que a porta abriu e Louis entrou.

–- Interrompi algo? Podem continuar conversando, só vim avisar que a enfermeira te liberou para tomar banho se quiser. – ele diz e se senta numa poltrona num canto do quarto. – Ah, não sei como essa tal de Ashley achou meu número, mas ela disse que você tem que passar na casa dela na próxima sexta, pois vai ter uns amiguinhos lá. – ele diz, com um pouquinho de deboche na voz.

–- Está com ciúmes de eu te largar para meus “amiguinhos”, Lou? – pergunto, fazendo aspas no ar, com um sorriso divertido tomando conta do meu rosto.

–- Aham, claro! Ciúmes de você... HÁ HÁ HÁ – ele diz, nervosinho, mas sem se conter rindo. – Continuem com sua conversa. Deve ser sobre os amiguinhos, né? – ele diz e sai do quarto. Sério, foi a melhor cena de todas.

Eu e Emily caímos na gargalhada. Tento puxar o que ela ia dizer, mas ela insiste que esqueceu.

Mais tarde, Emy me ajudou a arrumar e saímos, finalmente, do hospital.

***

Então chegou a sexta-feira que eu iria para a reunião na casa de Ash. Hoje a Lilian e o Arthur, irmãos de Louis, tirariam alta e poderiam sair do hospital. Foi até uma deixa para convencer Louis para eu ir para a festa. Convenci ela a ficar na casa de Lilian, cuidando dela, enquanto eu distraia um pouco.

Ash me convenceu a ir mais cedo para casa dela, para me arrumar lá. Tivemos uma pequena briga, pois não seria a reuniãozinha que eu pensava, seria uma festa. Mas, pelo menos, não seria grande. Seria só nossos amigos da escola e alguns de fora. Até convenci ela a chamar meus amigos de fora, vulgo, Zach, Bianca e Kate. Até mesmo Thomas foi e eu nem sabia que ele já tinha saído do hospital.

Neste momento, quase todos meus amigos maiores de idade já beberam algo alcoólico. Devo admitir que alguns menores também beberam. Eu fiquei no suco junto com alguns amigos.

Tudo estava ótimo até o momento em que Ashley gritou para todo mundo ouvir:

–- Vamos jogar Verdade ou Desafio!