Elementar escrita por LunaLótus


Capítulo 26
A história


Notas iniciais do capítulo

"Esta é a história dos clãs e das Casas Elementares. Nada mais se sabe sobre o paradeiro dos outros nove clãs. Talvez eles estejam se reunindo novamente, talvez eles estejam mais fortes.

Tudo o que se sabe é que eles vão voltar, e com força total."



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Nove horas. Há exatamente três horas, Thaís saiu da Casa, deixando Brisa parada à porta, olhando enquanto ela se ia.

Agora Thaís está sentada confortavelmente em uma poltrona azul de primeira classe de um avião com destino para Itália que Aline havia conseguido para ela. As pessoas à sua volta não prestam muita atenção em sua presença. São pessoas importantes da Bélgica, mas há também alguns espiões da Tearfoagen espalhados por diversos pontos e compartimentos. É claro que Aline negou aquilo, mas Thaís sabe que é verdade.

Mas por quê?

Por que toda essa preocupação com ela? Com certeza os outros elementares não estão tendo tanta ajuda assim. Ou talvez estejam. Mas como saber?

Não. Alguma coisa está errada. O sonho... de algum jeito... não foi somente um sonho.

Talvez ela possa ver o futuro. Com tanta coisa estranha acontecendo em sua vida, ela já não se surpreende com qualquer fatalidade. Afinal, ela pode manipular o ar, não é? E isso já devia ser algo impossível de se fazer.

O caderno que Brisa lhe deu está em seu colo. Ela passa a mão pelo seu colar e olha para ele. Ela tem que ler. O caderninho não é tão grande assim. Com tanta turbulência e burocracia do governo, o avião demoraria pelo menos quatro horas para chegar a Roma, ou o que deveria ser Roma.

Tudo mudou. Tudo está mudando ainda mais. Mas um pressentimento toma conta do corpo de Thaís. Ela não vai chegar a Roma. Não nesse avião. Respira fundo e abre o caderno.

 

Há cerca de 3000 anos, nosso povo já existia. Num país extinto hoje, num mundo completamente diferente de agora...

Era um país sábio. Grandes filósofos e pensadores. O governo. E também grandes mistérios que cercavam a vida dos homens.

Grécia. Deuses. Grandes divindades.

 

Thaís levanta os olhos do caderno, lembra-se do seu pai. Deuses. Um sorriso amargo passa por seus lábios. Quantas vezes seu pai tentara conversar com ela sobre eles. E ela, por mais que gostasse do assunto, nunca parara para pensar realmente naquilo. Afinal, nada tinha importância naquela época.

Ela enxuga uma lágrima que escorre por seu rosto e volta a ler.

Existiam quatro clãs elementares principais. O primeiro clã se chamava Tiraf. O segundo clã se chamava Volun. O terceiro clã se chamava Ziat. E o quarto clã se chamava Lien.

E existiam os outros clãs. Plenq. Sagi. Gogun. Filus. Quent. Anis. Maros. Cecis. Estus.

No total, eram treze clãs conhecidos. Treze clãs unidos. Juntos, eram tremendamente poderosos. Mas os que mais deviam ser temidos eram os Elementares.

 

 Treze deuses, disso ela se lembra bem. Doze olimpianos e mais um. Eram os mais importantes. É claro que existiam outros também, Thaís lembra vagamente das histórias que seu pai lhe contara. Mas aqueles treze eram os mais significativos. Treze deuses, treze clãs.

 

Chegou uma época sombria. A guerra assolou o mundo e a grande Grécia sucumbiu ao poder de Roma. No entanto, os clãs continuaram unidos, temidos ou venerados. Formaram grandes heróis, heróis muito conhecidos. Nascidos da raiz do clã ou descendente de algum deles.

Então Roma caiu. Os deuses não suportaram a derrota. Sim, porque os deuses gregos se tornaram romanos também. Com outros nomes, mais bélicos. Mas a essência continuava, assim como os clãs. As divindades eram orgulhosas, e uma delas podia prever o futuro. O chefe deles se chamava Zeus.

Apolo, aquele que via o futuro, informou a Zeus que épocas sombrias assolariam o mundo milênios depois, e que eles, divindades que deixariam de ser veneradas, mas nunca esquecidas, em poucas centenas de anos, seriam a única salvação. E assim Zeus decidiu.

Os clãs se dividiram. Cada um foi para um lado. Paradeiros desconhecidos, mas é sabido que se espalharam pelo mundo e geraram descendentes.

Zeus disse: “que os deuses entrem pela história, não pelo o que fizeram, mas pelo o que irão fazer.”

Ares, o guerreiro, perguntou: “o que pretende, meu pai?”

Zeus respondeu: “seu irmão Apolo previu o futuro do mundo. Apenas nossos poderes podem salvá-lo.”

Atena, a sábia, indagou: “meu pai, essa é uma decisão perigosa. Vamos deixar de existir.”

Zeus, no entanto, apenas disse: “que assim seja, então.”

Hera, a mãe zelosa, interrogou: “mas a que fim estamos condenados! O que irá acontecer de tão temeroso que nem nós, deuses, poderemos impedir?”

 E Zeus disse: “o homem é arrogante, e vai construir a própria destruição. Sua ganância os levará para níveis em que julgam serem deuses. Os homens, eles próprios, já planejam o seu fim. Mas nós, como deuses, não podemos permitir que aqueles que são contra também pague pela ignorância de alguns.”

Os outros deuses assentiram. Era a última solução para o nosso mundo. Eles já sabiam que não tão em breve tudo poderia se perder para sempre. E os deuses amavam demais nossa raça para que deixassem que ela sucumbisse assim.

Afrodite, a amorosa, disse: “faremos isso, meu pai, para demonstrar o amor que temos pelos humanos. Um dia, eles nos reconhecerão.”

Ártemis, a donzela, falou: “o nosso passado nos condena. Fomos tolos e arrogantes, mas agora esperamos nos redimir no futuro.”

E assim se fez.

 

Thaís olha para o lado. Todos estão distraídos, mexendo em seus recursos ultra tecnológicos. Sim, o homem foi tão ignorante que condenou a si mesmo ao fim. E que fim! Mortos pelas próprias criações, pelas próprias máquinas. Ignorantes. Como esta raça foi e continua sendo ignorante. Mas não foi nem isso que os condenou, pensa Thaís. Foi a ganância. Ela baixa os olhos e continua a ler.

 

Zeus é patrono do clã Tiraf. Ele deu todo o seu poder para aquele clã e seus descendentes. Tiraf fugiu para o norte e se escondeu em uma pequena aldeia. Depois de ceder o seu poder, Zeus se tornou um mortal comum. Desposou uma bela mulher e com ela teve dois filhos: Brisa e Rilius.

 

Brisa! Então Brisa é filha de Zeus! Isso explicaria muita coisa, pensa a jovem.

 

O resto dos clãs se refugiou. Ficou de acordo entre os deuses que os clãs não poderiam se encontrar, até que chegasse a hora. E, para que isso acontecesse, a ideia veio de Atena. Seriam construídas treze casas. As Casas Elementares. E quando fosse a hora, os clãs seriam reunidos outra vez.

 

— E eu acabei de sair de uma... – ela murmura e rapidamente olha em volta para ver se alguém havia escutado, mas ninguém lhe prestava atenção.

 

Vez ou outra, os descendentes se esbarram por aí. Podem até ter uma sensação de reconhecimento, o seu gene divino se expressando e interagindo com o outro. Mas eles sabem que devem esperar. E esperam.

Pouco se sabe dos outros clãs. Sabe-se que Poseidon adotou o clã Volun, que foi para o sul. Deméter adotou o clã Ziat, que se refugiou no leste. E Hades adotou o clã Lien, que fugiu para o oeste.

Esta é a história dos clãs e das Casas Elementares. Nada mais se sabe sobre o paradeiro dos outros nove clãs. Talvez eles estejam se reunindo novamente, talvez eles estejam mais fortes.

Tudo o que se sabe é que eles vão voltar, e com força total.

 

Thaís termina a leitura com a mente dando voltas. Volta os olhos para a história diversas vezes, e vai fazendo suas considerações.

Os clãs foram separados. Isso explica porque ela precisa encontrar os outros Elementares.

Sobre os deuses, ela pouco sabe. Sabe que Zeus era o senhor dos céus, Poseidon, o deus do mar, Deméter era a deusa da agricultura e Hades era o senhor dos mortos. Essa colocação poderia explicar os seus poderes e os poderes da convocada da água, mas não justifica os poderes do elementar da terra, ou a do fogo.

A não ser...

É uma ideia absurda, mas os clãs poderiam ter se encontrado, em algum momento, ela pensa. Sem saber da sua verdadeira identidade, eles podem ter tido algum contato e, quem sabe, gerado alguns descendentes, que herdassem os poderes de mais de um clã.

Não, impossível, Thaís logo descarta essa ideia. Se os deuses desejaram que os clãs não se encontrassem até o momento certo, com certeza isso não teria acontecido.

Mas ainda algo em sua mente a pressiona.

Ela volta a olhar para o texto, agora na parte onde fala de Brisa.

Brisa é filha de Zeus. Como Augusto a chamaria...? Semideusa. Isso se Zeus ainda fosse uma divindade quando ela foi gerada. Mas não. Ele se tornara mortal, casara-se e tivera Brisa e seu irmão, Rilius. Por um momento absurdo, Thaís se pergunta onde estaria Rilius. Então sorri e volta a se concentrar.

O mais importante agora é fazer as conexões.

Se Brisa é guardiã da Primeira Casa e é filha de Zeus, significa que a Casa pertence ao primeiro clã, Tiraf. E se ela, Thaís, é a última descendente daquela casa...

E, como para coroar essa descoberta, o avião sofre um terrível tranco. Dois homens se levantam, com armas em punho. Thaís dirige o seu olhar para eles e aperta mais contra o seu corpo o sobretudo que usa. Eles estão vindo na direção dela.

Ah, dane-se, eu já sabia que não iria muito longe nesse avião, pensa. Então tira o sobretudo e começa a atirar.


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Notas finais do capítulo

Gente, o que acharam!? Admito que me arrepiei ao reler a parte da história dos clãs :O
Estou ansiosa pelos comentários de vocês!
Saudades!
Beijos da Luna!



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