Elementar escrita por LunaLótus


Capítulo 24
Sobre si


Notas iniciais do capítulo

"A guerra é culpa dos homens."



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As coisas não estão nada bem. Uma garota corre desesperadamente num campo deserto, de vez em quando tropeçando em algum obstáculo pelo caminho. Raios disparados por armas passam por cima da sua cabeça, mas um lhe atinge. A menina grita, e Thaís também. Ela sente a dor da garota.

Thaís não pode vê-la, mas sabe quem é ela. A convocada da água. Sua conexão está mais forte a cada minuto. A Água olha para trás e Thaís também pode ver dez androides correndo em sua direção. Ela está perdida, não há água ao seu redor. A convocada tira uma pistola do cinto e começa a atirar enquanto corre. Sem olhar para trás e com a mira perfeita, ela consegue destruir cinco de uma única vez.

A garota não tem mais tanta sorte. Cai ao chão e os outros cinco androides ainda estão vindo atrás dela. Agora só um milagre poderia salvá-la. Seu braço está gravemente ferido.

Um pensamento chega com força no consciente de Thaís. “Por favor, ajude-me. Por favor. Eu posso sentir você, ajude-me.”

Thaís não sabe o que fazer, mas segue seus instintos. Como se estivesse ali, naquele momento, convoca uma tempestade. Um raio cai sobre a terra, destruindo os androides restantes, enquanto a garota fecha os olhos e respira profundamente a água que agora cai sobre seu corpo. Aquilo está lhe dando energia, Thaís percebe. O ferimento pouco a pouco vai se curando, mas agora quem está fraca é Thaís.

Outro pensamento, dessa vez um pouco mais fraco. “Obrigada.”

Thaís só tem tempo de responder um “por nada” baixinho, enquanto a conexão se vai.

Thaís está deitada no chão duro, aos pés da enorme estátua do homem de vestido. Ela tenta se sentar, mas sua cabeça parece pesar uma tonelada. Olha para o lado e encontra uma mulher jovem ajoelhada, cabelos loiros e olhos muito azuis, com um vestido branco esvoaçante. Qual é mesmo o nome dela?

— Está melhor agora? – pergunta Brisa.

— Um pouco tonta. E fraca. O que aconteceu?

— Você desmaiou. Provavelmente se conectou com alguém, estou certa?

Thaís olha para ela, senta-se devagar e assente.

— Com a convocada da água. Ela precisava da minha ajuda – responde.

Brisa não fala nada, apenas assente e olha para a estátua.

— Quem é ele? – Thaís pergunta.

— Ele é simplesmente a razão de você ter esses poderes. – Brisa sorri.

— Então ele é a razão dessa guerra – Thaís sente o ácido subindo por sua garganta.

— Não – discorda Brisa. – Ele é a razão dos seus poderes, não a razão da guerra. A guerra é culpa dos homens.

— E ele não é um homem? – Mas Brisa não responde, apenas sorri.

Thaís finalmente consegue se pôr de pé. Olha para Brisa, que ainda está sorrindo. A guardiã estende a mão para Thaís.

— Venha, vou lhe mostrar a sua casa.

Aquilo não é uma casa, é uma mansão. Claro, muito estranha, mas mesmo assim, confortável. Tem, no mínimo, uns vinte quartos, todos com a mesma decoração. Uma cama antiga, uma pequena cômoda de madeira, um pequeno banheiro numa porta adjacente e mais nada. Thaís passa por todos eles, Brisa apenas lhe apresentando cada uma das alas e salas. Por fim, chegam a uma grande área que, pelo cheiro, Thaís imagina ser a cozinha.

— Hum... É o que eu estou pensando? – pergunta e Brisa sorri.

— Bem, se você está pensando na cozinha, é sim. Vamos, venha comer algo.

Elas entram na ampla área que é a cozinha. Uma enorme mesa de madeira está bem no centro. Incrivelmente, ali não há paredes, é tudo aberto, e agora a luz da lua banha tudo com uma calma invejável. Mais ao fundo, contrastando completamente com o visual rústico, está uma super cozinha altamente mecanizada. Thaís acha aquilo estranho.

— Pensei que vocês não usassem muita tecnologia por aqui – diz.

Brisa olha para ela, enquanto ainda prepara algo para comerem. Thaís se senta em uma das confortáveis cadeiras dispostas ao redor da mesa.

— A tecnologia não é o mal do planeta, você sabe – responde Brisa. – O mal são os homens que não sabem como usá-la. Eu só estou usando a tecnologia para preparar algo para comermos, para agilizar nossa vida. Que mal isso pode fazer?

— Bem, foi exatamente querendo agilizar a vida que o mundo virou isto que vemos hoje.

— O homem perdeu o controle. Não sabem mais onde estão os valores e princípios que lhes foram ensinados. Aliás, eles foram se perdendo pouco a pouco, ao longo dos séculos. O poder lhes subiu a cabeça, a facilidade. Esquecem que a vida é para se viver, e não para ser economizada.

Thaís não responde, apenas olha para fora. Uma enorme fonte se estende no quintal daquela mansão. Brisa coloca na mesa torradas, queijos, sucos e bolos, tudo à disposição de Thaís. Então pega dois pratos, dois copos e alguns talheres para que possam comer. Thaís se serve de tudo um pouco.

— O que é isso aqui? Esta casa? – pergunta.

— Esta é a sua casa. Não consegue sentir?

Thaís fica em silêncio, tentando sentir algo. Na verdade, ela se sente mais...

— O seu poder. Ele é mais forte aqui – diz Brisa.

E é verdade. Thaís se sente forte neste lugar. Como se suas baterias fossem recarregadas. Ela se sente estranhamente confortável, num lugar muito familiar.

— Onde é a sua missão? – a guardiã pergunta.

— No sul. Não sei onde. Só sei que tenho que encontrar a convocada da água. Só tenho mais 48 horas para isso. E estou começando a entrar em desespero.

— Hum... Bem, vamos pensar. Ela é a convocada da água, não é? Então não acho que vá ficar muito distante do lugar onde tenha o elemento dela. Acho que você deveria viajar para o oeste, para o litoral. Com certeza ela deve estar por lá.

— É uma lógica. – Thaís dá de ombros. – Mas Aline me disse que você poderia responder algumas das minhas perguntas.

— Claro. – Brisa sorri. Thaís está começando a se afeiçoar a ela, quase como... uma irmã mais velha.

Isso, diz uma pequena voz em sua mente. O quê?, ela pergunta, mas a voz não responde. Então ela balança a cabeça e tenta se concentrar.

— Para começar, o que é este lugar? – Thaís pergunta.

— Este lugar é a razão do seu poder, assim como aquele homem da estátua. É a casa de cada um de vocês. A Casa Elementar. Cada Elementar tem uma casa, e às vezes cada casa pode ter mais de um escolhido.

— Quer dizer que você é uma escolhida também?

— Ah! Não, não. Eu sou apenas uma guardiã. Eu sou... de outro tempo.

— De outro tempo? Como assim?

— Bem, isso é meio complicado, e é algo que você deve descobrir sozinha. Mas enfim, este lugar pode existir em vários lugares, basta ser convocado.

— Como assim?

— Ora, vamos, Thaís, pense! – Brisa lhe sorri fraternalmente e fala como se estivesse explicando algo a uma irmã mais nova. – O que você fez para chegar aqui? Invocou este lugar, não foi? Mas por exemplo, nem todos os elementares vão conseguir chegar a este país. E isso não o impede de ir até sua Casa pelo menos uma vez.

— Tipo, isso quer dizer que a elementar da água pode invocar este lugar nesse exato momento, em qualquer lugar que ela esteja...

— Sim, é basicamente isso.

— Então eu poderia encontrá-la aqui!

Brisa mordisca uma torrada enquanto responde:

— Não, infelizmente não. Veja, quando você sair daqui, vai voltar para Bruxelas. Independentemente de em que outro lugar as Casas sejam invocadas.

Thaís morde um pedaço do seu bolo enquanto analisa a sua situação e pergunta:

— Você tem alguma ideia de onde pode estar a convocada da água?

— Eu arriscaria que ela esteja em Portugal, Itália ou Espanha. Se a sua missão é para o sul, a dela deve ser para o norte, para que vocês se encontrem.

— E depois que nós duas nos encontrarmos? Para onde vamos?

— Eu não sei. A base deve entrar em contato com vocês.

Thaís pensa sobre a visão que teve com a elementar.

— Quando eu entrei em contato com a outra convocada, eu consegui controlar o clima. Criar uma tempestade, com raios. Eu nunca tinha feito isso antes. Eu só conseguia controlar o ar.

— É, bem, coisas interessantes podem acontecer quando os elementares estão conectados. Vamos, o que gera uma tempestade?

— As nuvens absorvem a água, combinados com ventos muito fortes e eletricidade, eu acho.

— Eu também não tenho certeza, mas é basicamente isso. Quando você e a Elementar da Água estão conectadas, o poder de vocês também está. Isso quer dizer que quando você invocou aquela tempestade, você não estava sozinha. Você usou o poder dela. E, do jeito que você acordou fraca, parece-me que foi uma troca.

— Uma troca?

— Sim. A outra convocada estava muito fraca, não foi? Ela não tinha de onde tirar o poder para se recuperar. Então você emprestou o seu.

De repente, Thaís lembra da sensação estranha que sentiu durante a tempestade. Como um fluido, quente e frio, correndo por seu corpo.

— Todos os elementares se conectam?

— Na batalha, vocês serão como um. Todos juntos.

Thaís para um minuto para pensar e olha para a fonte mais adiante. Uma ideia lhe vem a cabeça.

— O que aconteceria se eu me conectasse com o convocado da terra?

— Não sei... Um ciclone, talvez. – Brisa ri.

— E com a convocada do fogo?

— Uh... Provavelmente uma explosão muito grande. O oxigênio do ar iria alimentar o fogo e aí você já imagina...

— Fico me perguntando o que aconteceria se a Elementar da Água se conectasse com a Elementar do Fogo... – Thaís devaneia.

— Cada elementar tem apenas uma conexão estável, que vai lhe dar o seu poder mais forte. O seu é com a convocada da água. O da convocada do fogo deve ser com o convocado da terra. As outras conexões não são tão estáveis, ou tão poderosas. Acho que podem existir conexão com três elementares, também.

— Por exemplo?

— Eu não sei. Nunca estive num campo de batalha para ver. O importante é que o ápice da sua força vai ser quando os quatro estiverem ligados. Como um maremoto, por exemplo. É preciso da convocada da água, do fogo e da terra. Mas a destruição é ainda pior quando vem acompanhado de ventos de mais de trezentos quilômetros por hora, não acha?

Thaís sorri e boceja. Agora que já está saciada, o sono chega ao seu corpo.

— Vá descansar um pouco – diz Brisa. – Amanhã você irá levantar bem cedo. Afinal você só tem dois dias para evitar o fim da missão.

Thaís agradece e levanta-se da mesa. Vai em direção à porta e vira-se para ver Brisa arrumando a cozinha. Então sorri e retira-se.


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Notas finais do capítulo

Hey, o que acharam? Estou sem criatividade para escrever aqui, mas gostaria de agradecer a cada pessoa que está acompanhando, comentando ou não... rsrs'
Beijos da Luna.



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