Elementar escrita por LunaLótus


Capítulo 23
Primeira Casa


Notas iniciais do capítulo

"Mas mesmo que estejamos fazendo a pior coisa do mundo, não devemos nos esquecer de quem realmente somos. Não deixe o seu eu verdadeiro se perder no meio dessa guerra. É isso que eles querem. Não dê isso a eles. Você é mais do que eles todos juntos. Apenas seja você, e o resto vem com facilidade."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/640701/chapter/23

Aline tinha lhe despachado com uma outra mulher, chamada Ellen. Agora Thaís está sentada em um sofá, bebendo um delicioso suco e observando tudo, enquanto Ellen pilota o aerodeslizador. Por dentro, tudo ali é, claro, altamente ultra mega power tecnológico, com muitos botões, projeções, radares e enormes telas.

— Rua Ratnemele, não é? – pergunta a mulher.

— Sim – Thaís confirma. E então as duas ficam em silêncio de novo.

Ellen é uma mulher elegante e estilosa. Tem os cabelos muito negros e longos e lisos presos em um rabo de cavalo alto e olhos verdes muito intensos. É nova, não mais que vinte e cinco anos. Veste-se de maneira estranha, parecida com os cidadãos daquela cidade. Por outro lado, Thaís não deixa de reparar que ela usa mangas compridas. Naquele calor, isso é incomum.

— Hum... Você usa essas roupas como disfarce? – pergunta a jovem.

Ellen se vira para ela e sorri.

— Sim. Bem, eu não fico o dia todo protegida dentro da Tearfoagen, não é? Fico aqui fora, analisando as situações, os perigos, ou levando recados mesmo.

— Você tem uma marca também?

— Então você já sabe das marcas? Bem, eu tenho uma.

— Qual?

Ellen estende o braço esquerdo para que Thaís possa ver. A marca é uma imagem estranha. Duas cobras enroladas em um pedaço de madeira, ou Thaís imagina que é isso.

— Ah, olha, estamos perto! – Ellen exclama. – A minha marca é a marca dos viajantes, dos aventureiros. Bem, não é exatamente nenhuma coisa linda. Afinal, que tipo de desenho é esse, não é? Nem eu sei direito! Mas tudo bem, tudo bem. As pessoas dizem que sou muito travessa, brincalhona, mas fazer o quê, não é?

Thaís ri, mas não responde. Aquela história de marcas ou chamados é muito confusa. Ellen aperta vários botões e analisa várias telas de projeções, enquanto lentamente estaciona o aerodeslizador. Ela se vira para Thaís.

— Vamos nos ver ainda, muito em breve. Espero que não tenha se assustado comigo.

— Não, é claro que não – responde, sorrindo. – Eu gosto de brincar também, mas nesses tempos...

— Claro, esses tempos... Difícil, sem dúvida. Mas mesmo que estejamos fazendo a pior coisa do mundo, não devemos nos esquecer de quem realmente somos. Não deixe o seu eu verdadeiro se perder no meio dessa guerra. É isso que eles querem. Não dê isso a eles. Você é mais do que eles todos juntos. Apenas seja você, e o resto vem com facilidade.

Ellen olha maternalmente para Thaís, e a jovem retribui o olhar. Levanta-se e Ellen aperta mais um botão, fazendo uma porta deslizar para que Thaís possa sair.

— Não se esqueça disso, Thaís – Ellen diz. – É claro que vão existir coisas ruins, mas às vezes coisas velhas devem partir para dar lugar à coisas melhores, que vão te deixar mais próxima dos seus objetivos.

— Obrigada.

Thaís sorri e sai do aerodeslizador. Ellen acena de lá, aperta alguns botões e logo desaparece, voltando para o prédio Tearfoagen. A jovem olha para frente. A árvore da visão. A fênix. Olha para o lado e mais adiante vê a placa desgastada.

— Rua Ratnemele, aqui estou. Mas onde estão as casas?

O poder, uma voz sussurra em sua mente. O poder? Que poder? E a resposta lhe vem de forma fácil. Encontre usando o seu poder. Convoque a sua Casa, a sua origem. Foi aqui onde nasceu o seu poder.

Thaís não entende muito bem. Convocar uma casa? Como é que ela vai convocar uma casa? Tipo, ela vai cair do cair do céu, ou sei lá?

Feche os olhos.

Thaís os fecha e um estranho formigamento sobe por sua nuca.

Pense no poder. No Ar. A última sobrevivente retorna a casa.

O poder. O ar.

O Ar.

De repente, tudo fica mais denso e Thaís se sente mais consciente de cada coisa, do cada espaço.  Suas mãos estão quentes e ela as estende, a palma para cima e começa a murmurar palavras que ela jamais tinha ouvido, ou lido, ou sequer pronunciado. Mas elas vêm fáceis, parece que fazem parte dela, do seu sangue, do seu corpo, da sua mente, do seu coração. Do seu eu verdadeiro.

Com um choque, Thaís percebe que Ellen havia lhe dado uma pista. Um caminho para chegar ao seu destino, ou pelo menos o início dele. Ela sorri e o ar parece tremular a sua volta. Pode ouvir as folhas das árvores balançando, os pássaros cantando cada vez mais alto. Um nome lhe vem aos lábios e ela o pronuncia:

Suez, salve. Sua filha retorna à casa.

Thaís sente que finalmente pode abrir os olhos, e quando o faz, não consegue acreditar no que vê.

Na sua frente, estendem-se diversas casas, diversas construções, diferentes entre si, mas todas igualmente velhas. Possuem diversas cores, e em cada uma delas, algo está entalhado no mármore, um desenho antigo. Thaís percebe cada um desses detalhes, mas algo lhe instiga a caminhar, ir em frente.

A casa. A primeira casa. A Primeira Casa Elementar. O ar. O Ar.

Thaís expira devagar. Finalmente está em casa.

 

A jovem está parada em frente a uma enorme construção branca, de muitas colunas, e no estilo mais antigo que pode imaginar. O seu símbolo está gravado logo sobre a entrada, entalhado no mármore, e é quase imperceptível por conta da grande camada de poeira. Não tem jardim, apenas a terra batida. Ela dá um passo e sobe os três degraus que dão acesso a casa.

— Uau – exclama.

O piso é tão branco quanto às paredes haviam sido um dia. Algum tipo de linóleo, ela não sabe dizer. Thaís segue em frente e para, olhando para cima, encarando as enormes e pesadas portas de madeira. Com certeza, muito antigo, pensa. Hoje não existem mais portas assim. Duplas, grossas e muito pesadas. Ela coloca a mão sobre uma e força para empurrar.

— Mas o que...? – Ela se espanta.

As duas portas se abrem preguiçosamente, rangendo. Thaís olha para trás, mas não há ninguém ali. Nenhuma pessoa que passe olhando. Mas como uma coisa daquela existe sem que o governo saiba? Eles com certeza já devem ter rastreado ou... Os pensamentos de Thaís são interrompidos quando ela olha dentro da casa.

Uma estátua. Uma enorme estátua de um homem usando um traje muito esquisito, claro sem superar as pessoas deste país. Mas o homem está usando vestido! Ou algum tipo de roupa que lembra muito um vestido. Tudo bem, tudo bem, Thaís conta mentalmente até dez.

O salão parece estar vazio. É muito amplo e escuro. A única claridade vem do crepúsculo que agora cai sobre ela. Thaís olha para os lados e então volta a encarar a estátua. Por um segundo, imaginou que o homem estava lhe observando, mas é claro que isso não é possível.

— Olá? – pergunta. – Tem alguém aí?

Nenhuma resposta. Ela dá mais alguns passos adiante.

— Oi?

— Bem vinda de volta, Thaís – responde-lhe uma voz feminina. Thaís se vira bruscamente, assustada.

— Onde está você?

Uma mulher sai das sombras ao lado da jovem. Thaís dá um passo atrás, mas não sente medo. Incrivelmente, aquele lugar lhe remete uma paz que ela não sente há anos.

— Quem é você?

— Eu sou Brisa, guardiã da Primeira Casa. – Ela sorri.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, e a próxima referência? Quem entendeu? Admito que senti arrepios ao escrever este capítulo! O que sentiram?
Espero que tenham gostado! E muito obrigada por todo carinho e apoio *-*
Adoro vocês, meus Marcados!
Beijos da Luna.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Elementar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.