Elementar escrita por LunaLótus


Capítulo 22
Tearfoagen


Notas iniciais do capítulo

"Eu nunca entendi muito bem isso – diz. – Achei que as marcas aparecessem somente nos Elementares. Nunca imaginei que haveria tantos outros. Posso ver a sua marca?"



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Thaís se sente mais segura e autoconfiante. Agora sabe como chegar ao lugar que pode lhe esclarecer tudo, seu futuro e passado. Sua respiração está mais tranquila e ela se põe a caminhar, saindo do beco em direção à rua movimentada. Olha para os dois lados e encontra um homem que lhe parece desocupado, apenas tomando uma xícara de café, sentado em uma mesa de um elegante restaurante. Não faria mal lhe pedir alguma informação. Ela se aproxima cautelosamente.

— Com licença – ela diz. O homem levanta os olhos para ela e a examina de cima a baixo. Por favor, que não seja ninguém do governo, implora silenciosamente.

— Sim? – Ele levanta uma sobrancelha e devolve a xícara ao pires.

— Hum... O meu nome é Beatriz... Eu não sou daqui e vim visitar uma prima. O senhor sabe onde fica a empresa Tearfoagen? É que ela trabalha lá...

O homem estreita os olhos. Thaís tenta manter uma expressão de adolescente perdida.

— Onde estão seus pais? – pergunta ele.

— Meus pais me puseram no trem e eu vim para cá... Minha prima está me esperando.

Ele novamente a analisa e Thaís olha mais atentamente para ele. Deve ter por volta dos quarenta anos, os cabelos começando a ficar grisalhos lhe dão com certeza um charme a mais. Tem olhos azuis profundos, um porte avantajado e se veste num terno listrado cinza, com uma gravata vermelha. Numa luta, seria perigoso, sem dúvidas. Parece ser do tipo calculista e estrategista. A jovem não gosta muito desta parte, mas ele é bonito, para a idade.

Para surpresa de Thaís, o olhar dele se abranda e ele sorri.

— Sabe, você parece com a minha filha. Quantos anos você tem?

— Tenho dezessete – ela responde, soltando o ar.

— Minha filha tem dezenove.

— Hum... E o senhor saberia me dizer onde fica o tal prédio? Tearfoagen? – ela pergunta novamente.

— Ah, sim! É perto daqui. Cinco quarteirões, então você vira à direita. Não deve demorar muito para fechar agora.

— Ah! Obrigada! Devo ir então!

Thaís dá as costas ao homem, enquanto ele a observa partir. Ela só espera que a informação esteja correta e que não vá parar em qualquer lugar maluco. No entanto, aquele homem tinha tido paciência com ela e lhe dado quase cinco minutos do seu tempo, o que é quase impossível de se encontrar hoje em dia.

Ok, mãos à obra.

 


    Thaís caminha rapidamente, passando por enormes prédios, avenidas e pessoas sem nem notá-los. Passa pelos quatro primeiros quarteirões com a cabeça a mil por hora, imaginando onde estariam seus pais. Ou Renato. Ou... Alexandre.

Seu coração acelera. Desde que saiu da Holanda, ela não teve tempo de pensar no tenente, ou em tudo o que ele tinha lhe falado. Mas também, como pode acreditar num amor desconhecido? Ele não sabe nada sobre ela, exceto seu nome e que ela é, na verdade, uma convocada. E, no entanto, aqueles olhos...

Mas e Renato?, uma voz na consciência se levanta. Ele é maravilhoso e fez tudo o que podia para ela. Ela havia se entregado para ele e dito que o amava. Lá no fundo, ela sabe que isso é verdade. Ela o ama. Mas depois de Alexandre... Tudo em seu mundo parece ter ficado de cabeça para baixo.

Thaís olha para os lados. Aqui está, o quinto quarteirão. Não é muito diferente dos outros, mas aqui há menos pessoas. Um único prédio toma conta de toda a rua. Ela olha pra cima e vê a placa indicando o nome do lugar. Tearfoagen. Um nome esquisito demais, ela pensa, mas existem coisas muito piores. Vira à direita e se encaminha para a porta do prédio, apertando o sobretudo em seu corpo.

— Boa tarde – um homem de uns sessenta anos, baixinho, com olhos surpreendentemente negros, cumprimenta quando ela se aproxima.

— Boa tarde – responde ela, sorrindo. – Hum... Carlos me mandou aqui.

O homem sorri e a permite entrar. Ela murmura um rápido “obrigada” e passa pelas portas, que se dissolvem.

Lá dentro, é tudo surreal. Parece muito mais uma fortaleza do que um prédio altamente tecnológico. Um enorme corredor se estende à frente de Thaís, as paredes cinza de concreto, com luzes fortes, e o piso negro fazem ecoar seus passos. Não há ninguém para guiá-la ou atendê-la, então ela simplesmente segue em frente.

De repente, uma mulher se materializa. Thaís dá um pulo para trás, enquanto a mulher pergunta:

— Boa tarde, posso ajudá-la?

— Eu... hum... Carlos me mandou aqui.

A mulher sorri. Tem por volta dos trinta e cinco anos, os cabelos negros presos num rabo de cavalo, os olhos castanhos profundos, e a pele morena. É incrivelmente bonita, uma beleza exótica. Usa um colete verde escuro e uma calça preta justa. Parece pronta para qualquer emergência.

— Eu sou Aline – diz a mulher. – Posso ver seu braço? – Aline dá uma piscadinha e Thaís entende o que ela quer dizer. Estende o braço esquerdo para que a mulher possa olhar sua marca. – Ar, não é?

— Sim. Sou Thaís. Mas na verdade, não foi bem o Carlos que me mandou.

— Ah! Bem, venha por aqui. Você está entre aliados, não precisa ter medo.

Ainda assim, Thaís não sai do lugar.

— Que lugar é este? – pergunta.

— Uma base de controle dos convocados. Podemos monitorá-los de alguma forma.

— E como saber se aqui é seguro?

— Bem, é normal a sua desconfiança. Olhe. – Aline mostra o próprio braço, e ali está uma marca desconhecida de Thaís. – É a marca, da convocação, mas não para a luta. É da Inteligência.

O desenho é estranho, nada que Thaís pudesse sonhar que existiria.

— O que é isso? – pergunta.

— Ah, é uma coruja. Uma ave muito antiga, sumiu há quase cem anos. Era o símbolo da sabedoria.

 

— Interessante.

Aline dá as costas e começa a caminhar. Thaís, sem saída, a segue. Logo chegam a um enorme pátio circular, fortemente iluminado. Não há mesas ou bancos, mas muitas pessoas vestidas iguais a Aline passam para lá e para cá, carregando fichas, projeções nos seus telecomunicadores ou trocando informações entre si. Agora que haviam saído daquele enorme corredor de entrada, Thaís percebe que há muitos outros como Aline e até mesmo como ela por aqui.

— Venha, é por aqui. – Aline caminha em frente, ora cumprimentando quem passa por ela, ora falando com Thaís. Elas entram por outro largo corredor. – Então, quem a mandou aqui?

— Não exatamente mandou, mas... Bem, Carlos me deu um papel, de um lugar onde eu devo ir. Rua Ratnemele, conhece?

— Ah, sim! Podemos levar você até lá, se quiser.

— Obrigada.

Depois de alguns metros, Aline vira à esquerda e entra numa sala. Muitas pessoas estão trabalhando em projeções, armando projetos e estudando os possíveis campos de batalha. Toda aquela preparação faz um arrepio descer pela coluna de Thaís.

— Nossa, está perto - sussurra...

Só mais três dias, uma voz fala dentro da sua mente. Com um estalo, ela percebe que só tem mais três dias para encontrar a Elementar da Água. O pânico começa a se instalar em seu corpo, mas ela o refreia, dizendo a si mesma que aquilo é insanidade. Ela está aqui para o que for preciso.

— Aqui. – Aline entra por outra porta. Thaís a segue. A porta reaparece por trás da jovem enquanto Aline a convida para se sentar.

Deve ser a sala pessoal dela, pensa Thaís. Tudo puramente tecnológico, claro. Enormes projeções de estudos se espalham por todos os cantos. As poltronas são muito confortáveis; a luz muito forte das lâmpadas faz os olhos da jovem doerem. Aline se inclina sobre um microcomputador da sua mesa, pede alguma coisa para comerem e se vira para Thaís.

— Então, você ainda não me disse quem a mandou aqui. – Sorri.

— Eu senti uma presença dentro de mim, então pedi ajuda. Ele me mostrou esse lugar. Era o Elementar do Fogo.

— Ah, sim, ela passou por aqui! – Aline ri. – Uma garota maravilhosa, se quer saber, muito determinada, mas perigosa também. Tem fogo nos olhos, sem trocadilhos.

— Ela? Como ela é?

— Um pouco mais baixa que você, e um pouco mais nova também. Os olhos castanhos, a pele branquinha, os cabelos muito negros, curtos e lisos.

— Por que ela passou aqui?

— Está atrás da sua missão. Ela tem que encontrar o Elementar da Terra.

— E eu tenho que encontrar a Elementar da Água.

— Você já a viu? – pergunta Aline.

— Visões, ou sonhos. Eu me sinto mais conectada com ela do que com os outros Elementares. Isso é normal?

— Hum... Acho que sim. A Elementar do Fogo também se sentia muito conectada com a missão dela. – Ela sorri. – Então, o que você vai fazer agora?

— Quem pode me responder algumas perguntas?

— Carlos mandou você para a Rua Ratnemele, não foi? Acho que você deveria buscar suas respostas lá.

— E como chego até lá? – Thaís pergunta.

— Nós podemos levar você. Mas você não gostaria de dar uma olhada por aqui?

Thaís olha em volta. Ela não acredita que vá compreender muita coisa se ficar por ali. E ainda por cima, a própria Aline disse que ela deve buscar suas respostas na rua Ratnemele. Então ela deve ir pra lá imediatamente. Ela só tem três dias para encontrar a Água ou, pelo o que supõe, é o fim da missão. Olha para o próprio braço, onde deveria estar o seu telecomunicador.

— Hum... Será que vocês têm algum telecomunicador alterado por aí? Eu tirei o meu para que não me rastreassem, mas se as pessoas me virem sem ele, vão estranhar.

 - Ah, claro, temos sim! Venha.

Aline se levanta e vai até uma alta estante prateada cheia de livros e projeções. Digita algo em uma tela e logo surge outra porta escondida. Precipita-se para ela e Thaís a segue.

Ali não há muitas pessoas. Equipamentos estão espalhados do teto ao chão. Armas, escudos, projeções de campos de batalha antigos e novos e tudo o que você mais imaginar. Cinco homens estão trabalhando numa mesa. Aline passa por eles e se dirige ao sexto homem, mais afastado do grupo, que mexe em alguma coisa pequena.

— Boa tarde, Daniel. Esta – ela aponta para Thaís – é a Primeira Convocada.  Thaís.

Ele levanta os olhos para Thaís, mas as mãos continuam a mexer no aparelhinho.

— Oh, olá, minha jovem! É um prazer conhecê-la. – Ele sorri amigavelmente.

Thaís sorri de volta e o observa enquanto Aline pede a ele o telecomunicador. Daniel acena com a cabeça positivamente e dá as costas para pegar algo. Ele é um homem de uns cinquenta anos de idade, cabelos brancos, barrigudo, olhos azuis claríssimos por trás de sues óculos quadrados. Alto, com um porte que inspira inteligência. Suas mãos não param quietas, mesmo quando ele está parado ou procurando o pequeno telecomunicador. Thaís procura a marca em seu braço.

— Daniel é muito inteligente, sabe – diz Aline. – Constrói coisas num instante, mas não se relaciona muito bem com as pessoas. Prefere viver em meio às suas máquinas.

— Ele também tem um chamado do conhecimento, como você?

— Hum... Tecnicamente sim, mas somos de... como eu posso dizer?... de setores diferentes. Ele tem um chamado da Tecnologia, entende?

— Não.

— Bem, ele constrói coisas. É meio que no automático. A mente dele não precisa pensar muito no que ele está fazendo. Apenas faz. E sai tudo perfeito.

— Qual a diferença do seu para o dele?

— Bem, eu sirvo para pensar, armar detalhes ou estratégias, resolver problemas. Ele serve para construir coisas geniais.

Daniel volta girando um objeto entre seus dedos e sorri.

— Então, do que vocês estavam falando? – ele pergunta.

— Thaís está curiosa para saber sobre as nossas marcas. Mostrei a minha a ela.

Thaís sorri, encabulada.

— Eu nunca entendi muito bem isso – diz. – Achei que as marcas aparecessem somente nos Elementares. Nunca imaginei que haveria tantos outros. Posso ver a sua marca?

— Sim, claro.

Daniel estende o braço. A marca é uma espécie de martelo, com muitos fios em volta.

— As marcas de vocês são muito elaboradas – ela comenta.

Aline e Daniel se olham.

— Bem – ele diz –, um dia, você vai entender essas marcas. Estenda o braço, por favor. Assim. – Ele prende o telecomunicador no braço esquerdo de Thaís. – Está alterado. Se você quiser entrar em contato com alguém, eles não vão poder rastreá-la. No entanto, eu não recomendo isso.

Thaís não fala nada, apenas olha para o seu novo telecomunicador. É idêntico ao primeiro. Ninguém poderia desconfiar que é falso, ou que foi alterado. Bem, é claro que ela vai ter que entrar em contato com alguém. Renato. Ele merece uma explicação. Ou Augusto, Luiza e Thaíssa. Ela precisa saber como eles estão. Ou ainda Alexandre. Será que ele está vivo ainda?

Algo dentro de Thaís se remexe incomodamente. É claro que ele está vivo. Ele tem que estar. Ela não iria suportar se ele tivesse morrido, principalmente porque sabe que teria sido por ela.

Olha para Daniel e Aline e sorri.

— Obrigada, mesmo. – Vira-se para Aline. – Eu tenho que ir.

— Ah, claro. Vou chamar o motorista.

As duas se despedem de Daniel e seguem para fora do prédio, a cabeça de Thaís ainda pensando em mil coisas e o coração ainda apertado.


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Notas finais do capítulo

Hmmm... Quero ver quem vai entender a referência das marcas! Quem acertar, ganha uma coxinha! hahaha'
Obrigada pelos comentários, espero que tenham gostado!
Beijos da Luna!



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