Adeus, Viajante escrita por MogeBear


Capítulo 8
Capítulo Sete




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Denver, Colorado, 2015 – Lottie

Acordei com o despertador tocando. Eram sete e meia da manhã, e eu precisava ir para escola.

Levantei e fui em direção à cozinha. Jonny ainda dormia no sofá, e ao que tudo indicava, minha família ainda não tinha voltado do hospital.

Pobre Maggie, eu pensei. Tão novinha e já tendo que enfrentar esse tipo de problema...

Fui até Jonny e lhe dei um peteleco na orelha, fazendo-o acordar sobressaltado. Ri de sua expressão enquanto ele esfregava os olhos.

— Não se acorda alguém assim. — Ele disse.

— Pode ser que não no futuro, mas no passado sim. — Eu disse.

— Vocês do passado são estranhos e ponto. — Ele disse, e em seguida começou a resmungar alguma coisa sobre mulheres difíceis, tecnologia atrasada e filmes toscos. Parabéns Jonny, você ganhou o prêmio Coerência do Ano! Nada do que você disse tem a ver com o que estávamos conversando. Não que essa situação faça sentido.

Fui para cozinha, fazer meu café da manhã. Jonny me seguiu e se sentou num banco, rente à bancada.

— Como vai ser hoje? — Ele me perguntou.

— Não entendi sua pergunta. — Respondi.

— O que vamos fazer?

— Eu, Sr. Viajante do Tempo, vou para escola, por que não sou uma gênia que inventou a viagem no tempo. — Eu respondi. — Você vai ter que ficar no meu quarto.

— Ficar trancado no seu quarto durante oito horas? — Ele resmungou. — Não viajei no tempo para ficar preso no quarto de uma garotinha durante tanto tempo.

— Você ficou sentado no chão durante oito horas esperando que minhas aulas acabassem. — Eu disse, ignorando seu comentário. — Meu quarto vai ser moleza para você.

— Se você diz...

Quando cheguei na escola, encontrei Ruby quase que instantaneamente. Ela parecia me esperar, estava encostada no portão da escola enquanto escutava música pelo fone de ouvido.

— Ruby. — Chamei, cutucando-a no braço.

— Ah, Lottie... — Ela disse, tirando os fones. — Como... como ele está?

— Jonny? — Perguntei, e ela assentiu. — Bem. Está na minha casa.

Ela me encarou durante alguns segundos, então olhou para baixo, meio tensa, preocupada. Se eu não a conhecesse, diria que ela estava em pânico, mas essa era uma suposição muito improvável.

— Eu vacilei ontem. — Ela disse. — Tanto com ele, quanto com você. Eu não deveria ter duvidado dele e ido embora antes de tudo se esclarecer, e não deveria ter te deixado sozinha com um completo estranho. Me desculpe.

— Sem problemas, Ruby. — Eu disse. — Eu também duvidava dele, lembra? E você não precisa se preocupar, Jonny não é uma má pessoa. Meio impertinente, mas inofensivo, assim como você disse.

Pelo menos até agora, pensei.

— Acho que foi má ideia falar daquele jeito com um viajante do tempo, não? — Ela disse. — Sei lá, vai que ele volta no tempo e impede meu nascimento?

— Ele não faria isso. — Eu disse.

Jonny seria capaz de fazê-lo, pensei. Mas não faria algo assim. Ele não é cruel. Além disso, isso seria assassinato. Quer dizer, eu acho que seria. Existem leis quanto à viagem no tempo? É contra as regras? Existem regras? Se Jonny impedisse o nascimento de Ruby, seria como se ela nunca tivesse existido? Eu não me lembraria dela?

— Realmente espero que não. — Ela disse e fomos em direção à nossa primeira aula, cada um para um lado, aborrecidas pelo fato de que o “assunto Jonny” teria de esperar até o intervalo.

Não consegui prestar atenção em nada do que minha professora de inglês falava. Estava pensando nas perguntas que faria a Jonny quando chegasse em casa.

Eu, que era uma aluna tranquila que prestava atenção em todas as aulas, estava escrevendo frases e dúvidas aleatórias em meu caderno. Torcia para que nenhum dos professores me fizessem perguntas, pois eu não seria capaz de respondê-las.

Eu esqueci de perguntar a ele como ele conseguiu desaparecer, pensei. Ele também consegue viajar pelo espaço com sua máquina do tempo? Não. Mesmo que ele pudesse, não seria possível: sua máquina do tempo está quebrada.

— Como as aulas demoram a acabar quando você está ansiosa... — Resmunguei quando o sinal do intervalo finalmente soou.

Ruby, que estava em uma sala diferente da minha, se aproximou de mim rapidamente. O assunto com certeza era Jonny.

— Como ele desapareceu? — Ela perguntou.

— Eu estava pensando nisso agora. — Eu disse. — Esqueci de perguntar a ele. Estava mais interessada na história.

— Estudamos história todos os dias. — Ela revirou os olhos.

— Mas não estudamos o futuro. Ele estava me dando exatamente isso. — Eu retruquei. — Aliás, você sabia que no futuro a camada de ozônio vai ser completamente restaurada?

— Isso é uma ótima notícia. Pena que não viveremos o suficiente para ver. — Ela disse.

— As pessoas do futuro vivem, em média, quatrocentos anos. — Eu comentei enquanto caminhávamos para a cantina.

— Isso é realmente muito tempo. — Ela disse e eu assenti, mostrando que concordava. — Lottie, me faz um favor?

— Depende. Tenho que ajudar um viajante do tempo, então pode ser que minha agenda esteja meio cheia. — Brinquei. Meu sorriso desapareceu quando vi a expressão séria de Ruby. — Ok, eu faço.

— Peça.... Peça des... Diga a ele que eu.... que eu sin.... que eu sinto... — Ela parecia não querer terminar a frase. Eu sempre achei que Ruby fosse a pessoa mais orgulhosa que eu conhecia até encontrar Jonny. Ele não só era orgulhoso, como também era irritante com sua pose de “eu estou sempre certo”.

— Não precisa terminar a frase. Eu sei o que você quer dizer. — Eu disse. — Pode deixar que eu comunico suas desculpas a Jonny.

— Obrigada, Lottie. — Ela sorriu, aliviada. — Não sabe como eu odeio pedir desculpas.

— Bem, na verdade, eu sei sim. — Disse.

Nós duas comemos rapidamente enquanto falávamos de nossas dúvidas sobre Jonny, eu anotando tudo mentalmente. Ruby me pediu para pergunta-lo várias coisas, e percebi que ela estava ainda mais curiosa do que eu. Nossa conversa fluía animada, mas tivemos que voltar para nossas salas quando o sinal soou novamente.

Eu fui para a aula desanimada. Como não prestaria atenção às aulas, coloquei os fones de ouvido e os cobri com meu cabelo enquanto sentava em minha cadeira. O resultado? Permaneci em estado vegetativo pelo resto das aulas.


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