Adeus, Viajante escrita por MogeBear


Capítulo 7
Capítulo Seis




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Denver, Colorado, 2015 – Lottie

Chegamos à minha casa cerca de cinco ou sete minutos depois de nossa discussão, completamente calados. Ele parecia completamente distraído, pensando em alguma coisa, e eu não queria quebrar o silêncio, por mais desconfortável e tenso que ele fosse.

Eram seis e meia da noite, e eu estava morrendo de fome. Imaginei que Jonny também estava, mas não me dei o trabalho de perguntar, e simplesmente empurrei esse pensamento para o fundo da minha cabeça, pois estava tentando ao máximo ignorar o viajante do tempo.

Fui direto para a cozinha, deixando Jonny sozinho na sala de estar. Abri a geladeira e encontrei o macarrão e a pizza, assim como Jane, minha tutora, avisara na mensagem.

Peguei um prato e preparei uma estranha mistura de pizza, macarrão e ketchup. Coloquei aquilo no micro-ondas, e voltei para a sala, onde Jonny continuava distraído, sentado no sofá.

Suspirei derrotada. Eu podia não ter herdado o coração grande de minha mãe, mas eu não suportava deixar algum conhecido aborrecido.

— Está com fome? — Perguntei. Ele balançou a cabeça negativamente, sem se importar em olhar para mim. Revirei os olhos. — Por que está me ignorando, Jonny?

— Não estou te ignorando. — Ele respondeu.

— É claro que está. Não olha na minha cara, não me responde... é óbvio que está me ignorando! — Eu disse, ligeiramente aborrecida com aquela situação. — Eu discuti com você, mas isso não significa que eu esteja brava ou irritada com você. Por isso, você não deveria estar se comportando assim.

— Você parece minha mãe falando. — Ele resmungou. Numa falha tentativa de imitar a voz feminina, ele disse: — Você não deveria estar se comportando assim, ela sempre diz.

— Bem, ela tem razão. — Cruzei os braços. — Está com fome?

— Já disse que não. — Jonny disse, um pouco mais alto que o necessário. Então, ele se afundou no sofá, fechando os olhos.

— OK. Tudo bem, então. — Eu disse, voltando para a cozinha.

Será que Maggie ou Oliver acreditariam que Jonny é do futuro?, pensei enquanto levava minha comida para a sala de estar, ligando a TV em seguida. Tenho certeza que Kile e Jane não acreditariam. Sei com toda a certeza que minha mãe acreditaria. Será que meu pai acreditava nessas coisas?

Suspirei enquanto pensava em quem mais acreditaria na história maluca de Jonny. Ruby acreditou depois que viu o atentado na TV; eu acredito; Kile e Jane não acreditariam, mas quem sabe Maggie e Oliver, seus filhos de oito e onze anos?; minha mãe acreditaria; meu professor de ciências, o Sr. Hale, acreditaria com toda a certeza.

— No que está pensando? — Jonny perguntou.

— Em quem mais acreditaria na sua história de viajante do tempo. — Respondi. Ele olhou para mim, como se quisesse fazer algum comentário inconveniente, mas se manteve calado.

Parece que minha bronca funcionou, pensei. Agora eu não vou ter que me incomodar com os comentários irritantes dele. Se bem que ele calado é bem mais perturbador do que ele zombando da sua cara.

Eu mudava de canal toda hora, o que parecia estar irritando Jonny. Eu planejava continuar até ele perder a paciência, mas tive de parar em um canal que passava De Volta para o Futuro.

— Esse filme é sobre viagens no tempo. — Eu disse a Jonny. — Foi feito na década de oitenta, se não me engano. São três filmes, cada um melhor que o outro. Neste primeiro, Mart Mcfly, o personagem principal, vai para o passado...

— Por isso você me chamou de Mart Mcfly? Porque ele também viajou no tempo? — Jonny me interrompeu, perguntando.

— Sim. — Eu assenti. — No segundo, ele vai para o futuro, e depois para o passado. E no terceiro, ele vai para o passado, e volta para o futuro, que seria o presente dele.

— Isso é confuso. — Jonny admitiu.

— Mas você viaja no tempo, deve se acostumar com isso, não?

— Acho que algum dia vou me acostumar. — Ele disse. — Isso é, se eu conseguir consertar minha máquina do tempo e voltar para o futuro.

— Você vai voltar. — Eu disse. — Não posso te aguentar para o resto da minha vida. Coitada de mim.

Ele riu pelo nariz.

— Você faz muito drama. — Ele provocou.

— Tenho quinze anos. — Dei de ombros. — Mas, fazendo drama ou não, você ainda precisa de mim.

Ele revirou os olhos e eu sorri.

— Infelizmente sim, eu preciso da sua ajuda. — Ele disse. — Só não vá se apaixonar por mim.

— Isso nunca vai acontecer. — Eu disse, voltando a minha expressão normal.

— Não, é claro que não vai. — Ele riu pelo nariz, revirando os olhos. Achei graça de sua atitude e sorri novamente.

— Você é um idiota. — Eu disse.

Ele deu de ombros. Voltamos nossa atenção para a TV e eu comecei a divagar em meus pensamentos.

A charada... como esse Gabriel Smith sabe dela? A única pessoa que conhecia essa charada era meu avô. Como ele sabe? E aliás, como é possível ele estar escondido lá?, pensei. É muito alto e frio. Como ele sobrevive? O que aconteceu para fazê-lo se esconder de tudo e todos no lugar mais improvável do Colorado?

Mordi o lábio enquanto pensava, uma ação que, depois da morte de minha mãe, acabou virando um hábito. Eu o fazia quando me lembrava dela; mordia o lábio tão forte que ele sempre sangrava. Depois de alguns meses de prática constante, se tornou uma mania fazer isso enquanto eu pensava.

Será que Jonny tem alguma mania desse tipo?, perguntei a mim mesma. Bem, será que as pessoas do futuro ainda fazem esse tipo de coisa? Quer dizer, eles vivem em um mundo praticamente perfeito, então significa que não agem como nós, do passado, agimos. Será que eles têm ações tão... humanas quanto nós?

Lambi o sangue que saía do meu lábio enquanto continuava minha conversa mental.

É claro que eles também fazem isso, pensei. Afinal, o mundo, ou melhor, as pessoas não podem ter mudado tanto assim. Com certeza elas não agem igual robôs como você pensa, Lottie. A prova está ao seu lado. Jonny age como qualquer pessoa do passado; tirando o fato de que ele sabe de coisas que acontecerão somente daqui a quinhentos anos.

Não pude prestar atenção nem no filme – que já tinha acabado – nem em Jonny – que já estava dormindo.

O deixei no sofá adormecido e fui para meu quarto. Estava tarde e o dia tinha sido cansativo: eu precisava dormir.


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