A Chuva dos Sete escrita por Lia


Capítulo 9
IX - Ala Hospitalar Boodlaire.


Notas iniciais do capítulo

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Laurel acordou com seu rosto paralisado em uma só expressão: medo. Seus braços tremiam e suas pernas pareciam estar com o efeito de uma montanha-russa que apenas ia para baixo. Seus olhos estavam perdidos em toda aquela branquisse que quase a deixava cega, seus braços estavam com faixas de pano e coloridas, quase chegando em seu cotovelo, como pulseiras feitas por crianças no dia das mães. Estava assustada e trêmula, não fazia ideia de onde e no que estava deitada, mas tinha certeza de que era uma cama, mas parecia ser feita de pedra, pois era dura e desconfortável. Tombou sua cabeça para o lado e teve uma visão confortável e que acalmou um pouco seu nervosismo. Chace estava jogado por uma cadeira, dormindo, seus braços caíam ao lado de seu corpo e sua boca estava aberta, expulsando e puxando um ar quente, facilitando sua respiração. Ao seu lado estava Lara, apoiada com a cabeça e lateral do corpo no garoto, também dormindo. Imaginou que as pulseiras distribuídas por todo seu braço deveria ter sido obra da garotinha, conseguiu dar um pequeno sorriso. Todo seu corpo doía e lutava para manter tudo em ordens, desde os órgãos até o movimento dos dedos.

Foi difícil conseguir levantar-se, mas teve sucesso depois de uma quarta tentativa. Definitivamente, ela estava na Ala Hospitalar Boodlaire, também abreviada como A.H.B. pela maioria dos camponeses, que tem preguiça ou não tem vontade de dizer o nome completo. Pelo o que conseguiu ver, estava hospedada no quinto andar, segundo departamento e terceira sala. Era a qual os casos com medidas nem tão graves eram enviados, e ela não se lembrava de nada da noite passada. Sentiu seu estômago revirar, era como se estivesse voltando no tempo a cada dia que passasse, para aquela noite em que acordou em sua cama com os braços e pescoço arranhados. Sem hesitar, caminhou para fora de seu quarto, deparando-se com uma série de portas cinzas e idênticas a sua. Pessoas transitavam de um lado para o outro, eufóricas, não pareciam nem notar sua presença e, se fossem competentes o suficiente, notariam a paciente foragida e totalmente fora de si.

Seu sangue congelou feito um iceberg quando ouviu gritos diversos vindo do quarto bem na sua frente. Não era algo simples, era um grito feminino e bem fino, como se Lara estivesse em apuros bem diante de seu nariz. Ficou com medo novamente. Sentiu seu coração batendo tão rápido que mal conseguia processar o que estava acontecendo, seu cabelo preso e escondido em uma touca rosa e bordada com algum nome, tão pequena que parecia estar diminuindo sua cabeça a cada segundo que passava. Ainda sem saber o que pensar ou fazer, pegou suas pernas andando na direção do som. Por que? Por que estava seguindo os gritos? Por que não estava voltando para seu quarto e ficando deitada até sua curiosidade passar? E se fosse alguém que conhecia? E se fosse alguém que deveria conhecer?

Seus dedos já tinham encontrando a maçaneta e a onda de choque a deixou acordada. Entrou sem nem pensar duas vezes. Deparou-se com uma garota e dois homens com a coluna curvada na direção da paciente, que continuava a berrar, quase transmitindo inveja com as cordas vocais tão firmes. Seus olhos vasculhavam a vitima, quando finalmente achou, se arrependeu amargamente de ter tomado esta decisão precária e infantil; as veias da garota pareciam árvores, saltavam para fora de sua pele em uma cor amarronzada, sua pele parecia estar podre, enquanto seus olhos estava em um sangue vivo, incrivelmente vermelhos, seus dentes eram azulados e rachados. Ela não deveria ter mais de dez anos. Laurel sentiu seu bolo de castelo voltar até o início de sua garganta, seu estômago revirou de um jeito assustador.

– O que está fazendo aqui?! - A garota de jaleco esverdeado ergueu os olhos a tempo e entrou na frente da curiosa, apartando seus ombros com empurrões para fora do quarto. - Você ficou louca?!

– Eu... Eu só queria... Ela estava... - Sua garganta estava seca e as palavras se enrolavam na ponta de sua língua. A loira tocou seus ombros e fechou a porta atrás das duas, deixando o grito mais abafado.

O crachá da enfermeira mostrava seu nome, seus olhos furtivos procuravam qualquer indícios de trauma psicológico pela cena que acabou de presenciar. Seu cabelo loiro estava preso, apesar de vários fios rebeldes caírem em seu rosto.

– Isso é invasão, você sabia? - e crispou os lábios, parecendo procurar algum jeito de dar um sermão nela, para ter certeza de nunca mais entrar lá. Não era nem preciso levar uma bronca por isso, ela tinha certeza que não gostaria de ver algo como aquele nunca mais em sua vida.

– D... Desculpa! Eu só estava... Não sei! Estava preocupada!

– Sim... É... Não sei como dar uma bronca em você por isso... Só... - Ela pareceu analisar Laurel, para saber seu nome ou de onde estava vindo.

– Volte por onde veio? - Completou sua frase, lendo seu crachá para saber seu nome. - Valentine?

– Sim. - Valentine se esforçou de forma visível para manter a postura de autoridade, mas seu rosto e a aura de tranquilidade, gentiliza e harmonia que transmitia era mais forte. Seria como receber um sermão de Lara West, usando um jaleco e com xingamentos proibidos. - Você é uma paciente ou veio visitar alguém...?

– Na verdade, eu só estava querendo saber aonde era a saída... - Tentou amenizar o problema, evitando demonstrar nervosismo. Não se lembrava se mentir era um de seus fortes antigos, antes de perder a memória. Sua personalidade do passado estava incrivelmente apagada. - Vim visitar minha neta... Quer dizer, prima! Minha prima!

– Ainda não respondeu minha pergunta, senhorita que veio visitar sua... Prima.

A menina não deveria ser muito mais velha que Laurel, sem nenhuma sombra de dúvidas, deveria ser apenas um ano mais velha. Ela deu um sorriso tranquilizante, apesar da situação que estavam passando. As duas se encaravam de um jeito confuso, apesar de Valentine apenas estar fazendo seu trabalho, Laurel estava irritada com tudo que estava acontecendo. Tinha perdido sua memória mas não era idiota. Se sentia idiota, mas sabia que não era, de algum jeito, sabia.

– Lau...? - A voz conhecida, porém áspera, despertou todos os nervos do corpo que a segundos estava congelado. - Você acordou.

E seu plano de sair dali sem ser percebida tinha ido por água a baixo. Além do choque de emoção que recebeu ao ouvir o tão odiado apelido. Agora tinha certeza de que teria de voltar para seu quarto e ficar lá. A raiva que cresceu dentro de seu coração fez seu pulmão acelerar de um jeito assustador, queria muito se virar e dar um murro enorme no rosto de seu amigo, mas sabia que não teria força física o suficiente, ou pelo menos não sabia se teria.

– Acordou? Não estava indo visitar sua prima? - Valentine deixou escapar, trocando a atenção entre os dois adolescentes parados em sua frente. - Laurel Hyde, certo?

Por segundos pensou que estava ficando louca. Pensou que àquela garota saberia de sua identidade sem nem ela de tocar. Porém, lembrou que ela trabalhava na Ala e deveria saber o nome de todos os pacientes hospedados naquele andar.

– Oi Valery. - Chace sorriu, dando um breve aceno para sua amiga. Tudo ficou mais confuso ainda.

– Oi Chace, como vai?

A enfermeira não era daquele vilarejo. Estava com um cachecol transbordando dos bolsos de seu uniforme, mesmo estando com um Sol quentíssimo lá fora; suas bochechas eram rosadas naturalmente, seus lábios não estavam com erro algum, sejam rachados ou com um brilho labial espalhado de forma incorreta. Os dois amigos se conheciam desde que a loira parou no Vilarejo Sunshine por causas extremas e que poderiam colocar sua vida em risco.

– Sim. - Respondeu ela, um tanto atrasada. Não gostaria de ter que voltar para o lugar branco e gélido, que deveria ser aconchegante, já que eles estavam lá para cuidar da vida daqueles que não conseguiam fazer isso por conta própria. - Posso ir agora? Consegue vez que estou incrivelmente saudável e com os neurônios no lugar.

– Bem, não sou eu quem cuido disso... - Antes mesmo de Valentine conseguir terminar sua frase, outra explosão de gritos fez o corpo de todos estremecerem cruelmente.

A garota definitivamente não era de Sunshine; sua vida passada era no vilarejo branco, mais conhecido como Vilarejo Dwarfhold; sua mãe fora morta em um dia incrivelmente frio na calada da noite, enquanto uma trupe de bestas ainda desconhecidas pelo tempo assombravam e criavam pesadelos incomparável em crianças com menos de quatro anos. A loira e sua irmã estavam encolhidas em um celeiro local, Lucy, sua irmã mais velha, encolhia-se sobre infinitos cobertos empilhados, para o conforto das duas. De supetão, a porta foi escancarada e um garotinho entrou na correria, com uma faca comum sangrenta nas mãos trêmulas, seus olhos desfocados em todo o aconchego do local e seu cabelo desarrumado. Sem pensar duas vezes, as irmãs o acolheram com harmonia, sem a menor ideia do que ele passou para chegar ali. Logo atrás, a fera seguiu o cheiro de seu coração pulsante e inteiramente vivo. Era uma armadilha sem finais felizes. A mais nova fora a primeira a ser atacada, e se não fosse por sua irmã entrando na frente para apartar um golpe violento, com certeza ela não estaria mais ali. Ela não morreu. Lucy entrou em um coma profundo na tentativa de não perder outra parte importante de sua família. Como um motivo de segurança e bem-estar da primogênita, Valentine acabou se mudando para o Vilarejo Sunshine. Conseguiu um estágio temporário e com limites breves - ficava mais do que o necessário dentro daquele lugar abafado e com cheiro de remédio, apenas para ficar mais perto de sua irmã - na A.H.B. para conseguir passar mais tempo com a única pessoa que deu sua vida para protegê-la, sem contar com sua mãe, claro. A ideia de início era para conseguir ter acesso a todos os seus avanços e problemas que o coma traria. A manipulação nunca foi um problema para ela mas, nunca gostou de apelar para este lado, usando apenas em casos de extrema necessidade.

Laurel não fazia ideia de como sabia de tudo isso. O coração dela parou de bater de supetão, o ar parou de entrar e suas mãos procuravam um apoio sustentável. Chace colocou um dos palmos em seu ombro e com o livre segurou as mãos trêmulas que ela tanto tentava acalmar. A enfermeira esbugalhou os olhos assustadoramente no instante em que o único barulho audível entre aqueles três fora o som de vidro quebrando e a garotinha gritando a ainda mais. Outro enfermeiro começou a berrar logo em seguida, e mais vidro caindo com outro estrondo ensurdecedor. O caos estava apenas começando para aquele trio.


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