A Chuva dos Sete escrita por Lia


Capítulo 8
VIII - Lembranças.


Notas iniciais do capítulo

Gostei bastante de escrever esse capítulo, e espero que tmb gostem de ler :}



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"Agosto, século XX; Bosque dos Eucaliptos. Verão, sol o dia inteiro.

O trio já andava pelos galhos secos fazia horas, seus pés já cansavam e seus olhos fraquejavam pelo sono. As três amigas riam de assuntos banais e comuns para adolescentes solteiras - pelo menos duas eram.

– Vamos andar por mais quantas horas? - a morena pestanejou, sem parar de girar o punhal entre seus dedos. Seu cabelo castanho e desarrumado caía sobre a ponta de seu nariz, lhe causando cócegas; seus olhos furtivos e famintos caçava qualquer tipo de movimento para frente do bosque, seus dedos ágeis e gélidos continuavam a manter a arma branca em movimento.

Robin se aprimorou na frente das amigas e saltou por cima de uma pedra, ficando na ponta dos pés e encarando as outras duas, que a observavam com uma expressão apenas: confusão. Sua cintura larga e peitoral avantajado deixavam o uniforme dos Guardiões mais bonito em seu estrutura, o brasão azulado de uma esfinge brilhava sempre que fadas passavam rodando em uma velocidade incrível, de um lado para o outro. Passou a mão por seus fios negros, puxando-os para trás na tentativa de ter uma visão mais ampla.

– Robin...? Tá com seus neurônios no lugar? - Outra amiga chamou sua atenção, fazendo um sorriso incrível transformar seus lábios em algo mais feliz.

– Me chamem de... Capitã! - Riscou sua arma branca de um lado para o outro, empinando o nariz e colocando o palmo um pouco acima de sua testa, simulando um chapéu imaginário. Curvou o indicador da mão direita para parecer um gancho e saltou da pedra, aproximando seu dedo envergado bem perto da garganta de uma das participantes de sua brincadeira.

– Corta essa. - a loira deu um tapa fraco na mão de sua amiga antes de se afastar, rindo.

Sua roupa de couro, também daqueles que protegiam o Vilarejo Sunshine, com dois cortes nas costas para que suas asas tivessem a liberdade que deveriam. Seus olhos vasculhavam qualquer tipo de diferença nos atos de Robin, que ria. Continuaram a caminhar, apesar de seus armamentos pesarem em suas costas.

– Por que nos mandaram investigar isso? - A terceira amiga reclamou, batendo suas botas avermelhadas com certa força no solo. Seu cabelo, também loiro, estava preso e cercado por um boné da cor de suas botas. O brasão também estava presente em seu peitoral, como o das duas outras. O uniforme era mais colado em seu corpo por conta de sua estrutura magricela, olhos verdes furtivos transbordavam uma felicidade incrível, enquanto seus lábios crispados evitavam rir da demonstração - Quer dizer, tem mil Guardiões, por que viemos?

– Porque as princesas não sabem parecer escolher pessoas o suficiente para esse trabalho. - A loira chutou um galho para frente, soltando um suspiro e acariciando as flechas em sua aljava.

– Não gosto daquela mais velha. - Robin balbuciou baixinho. Falar mal da família real em lugares como aquele não era uma das melhores ideias.

– Anneliese? - chamou a atenção, batucando os dedos na espada presa em uma bainha personalizada apenas para ela.

– Sim! Essa! - comemorou a única morena, tanto de pele, quanto do cabelo. - Ela me pediu ajuda um dia, sabia? Eu pensei que era para matar algum cara malvado ou sei lá, mas era só para orientar um garoto que tinha ido parar lá... "Acidentalmente".

As aspas que ela fez com os dedos foi o bastante para fazer suas amigas explodirem em risadas. Que cessaram no momento em que uma chuva repentina invadiu seus momentos felizes. Não era uma chuva comum, só perceberam isso quando os primeiros pingos atingiram o rosto de Julieta West, que ao tentar afastar com os dedos indicadores, percebeu suas pontas ficam incrivelmente avermelhadas.

– Isso é... Sangue? - a terceira chamou a atenção das outras duas, que já estavam em um início de ataque de pânico.

Robin puxou as duas amigas, disparando para dentro da floresta sem nem mesmo hesitar. Elas pulavam e desviavam de galhos em seu caminho, tudo estava acontecendo rápido demais. Seus cabelos e uniformes - cujo costumavam ser de um azul claro e afetivo - estavam encharcados e totalmente vermelhos. Fadas e centauros voavam para todos os lugares, inúmeras vezes as criaturas pequenas trombavam com as bochechas das adolescentes em uma tentativa desesperada de sair de lá e descobrir o que estava acontecendo. A correria continuou por vários minutos, o suficiente para chegarem no início do Bosque, aonde os eucaliptos já começavam a tomar forma e rodeá-las em uma harmonia perfeita, porém o momento não ajudava. As loiras já estava armadas, uma com o arco já posicionado, outra com a espada na frente do corpo, Robin cessava os movimentos com o punhal e apanhava seu machado simples, furtado da loja de seu pai para o uso no novo "emprego".

– Era para resolvermos isso?! - Indagou a magrela, limpando seus olhos para ter uma visão mais ampla. Uma estrada enorme se erguia em sua frente, junto com os intrusos que fizeram as três pararem nessa situação. - Não disseram que uma chuva de sangue estaria envolvida nisso!

– Acho que não sabiam... - West gaguejou, apontando para sua frente.

Quando a atenção de todas ficaram focadas, uma pilha de corpos era erguida em sua frente, as três conseguiam reconhecer um punhado de rostos, e isso causou uma onda de medo tão forte que elas mal conseguiram respirar. Robin cambaleou ao conseguir ver o rosto de seu irmão mais novo sendo esmagado por mais três homens comuns, acabou tropeçando em seus próprios pés e desabando para fora dos limites do Bosque dos Eucaliptos, fazendo seu punhal voar de sua cintura e parar a metros de sua posse. Julieta reconheceu apenas seus dois irmãos mais novos, com os olhos abertos e suas gargantas com cortes profundos. A terceira amiga reconheceu apenas seus pais e amigos mais próximos, tão pálidos quanto uma folha de papel.

– Robin? Robin! - Julieta se virou de supetão para tentar ajudar sua amiga a se levantar. Sem sucesso, seus braços estavam tão trêmulos que mal conseguia manter seu arco ereto.

Enquanto as duas lutavam para se manter atentas, a única garota que manteve sua atenção focalizada nos mistérios daquela floresta. Conseguiu se assustar com os vultos que giravam em torno da pilha de corpos e se aproximavam delas o mais rápido possível; o grito ensurdecedor que ela soltou foi a chave de ouro para fazer todo seu sistema pararem de funcionar. O toque daqueles vultos fez seu sangue ferver de um jeito confuso, como se suas veias estivessem lotadas de querosene e o fósforo fosse seu próprio coração. Era um toque que queimava. Tropeçou de dor até cair por cima de suas amigas, que também gritavam com terror. As cífluz– criaturas terríveis que se alimentam de medo, frio e pavor de outros; são cobertas por uma camada negras e gasosa, quando "em modo de ataque" linhas alaranjadas explodem por toda sua estrutura, por dentro, alguns dizem ser lava... Outros apenas dizem ser uma obra inexplicável - nunca foram autorizadas para entrar no Bosque, por que estavam lá?

As armas já estavam longe de suas donas, e seus pensamentos giravam exatamente como sua fé. Robin fora arrastada por homens e mulheres encapuzados para longe do Bosque, Julieta sumira da visão da terceira amiga e... Laurel se rendeu a dor, desmaiando em seguida."

O corretor que acabara de invadir era repleto de fotografias em família, das mais velhas até as recentes. A garota desaparecida aparecia em boa parte, a primeira relatava o mesmo sorriso animado que Laurel estava acostumada a ver desde que pôs os olhos na loira que todos tanto amavam, seus braços estavam tomados por um bebê com o mesmo olhar que transmitia calma para qualquer um que ousasse ver; ao seu lado, um garotinho se agarrava em sua cintura e apoiava a cabeça na lateral de seu corpo, Alex mal tinha seus dentes de leite ainda e um de seus olhos estava completamente roxo - acreditou ser por uma daquelas brigas bobas de crianças. Quantos mais passos dava, mais seu coração acelerava. O foco foi ficando nas fotos recentes, que eram todas de Julieta. O integrante do meio que restava da família havia tirado conclusões que deveria colocar mais fotos da irmã mais velha para Lara, no caso de que ela esquecesse como era o rosto da primogênita.

Continuou a caminhar de cabeça baixa, evitando o contato visual com todas as fotografias. Parou na última porta do corredor, de onde saía um som abafado, porém audível. Abriu e entrou, sem nem mesmo pedir licença ou perguntar se tinha autorização. Se deparou com uma cena incomum, porém, simples.

Ela não lembrava-se de tal memória. Não lembrava-se mesmo. A aparição repentina fez suas pernas pararem de funcionar totalmente, deixando sua função de andar de lado. Laurel voltou no passado o suficiente para perder os sentidos... Novamente.


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Notas finais do capítulo

foi mais um flashback do que poderia ou aconteceu :v espero que gostem o/
comentários sempre bem-vindos :}



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