Tudo aconteceu rápido demais. Felizmente, outra memória foi desbloqueada na mente confusa de Laurel, porém queria desejar que nenhuma delas estivessem saindo, apenas continuassem trancafiadas em seu interior. Luccas Capuleto era de fato o garoto da jaqueta. Era o garoto da foto com a desaparecida. O garoto que aparecia em três outras fotografias que foram arrancadas de sua parede no mesmo dia. Era difícil acreditar que ainda não estavam no segundo dia em Sunshine, tudo acontecera naquele mesmo dia. As ilusões. A loja. Isaac. Os transtornos de Lara. O menino novo, que segundo suas histórias, eles já se conheciam a anos. O sumiço da princesa - que ela só ficou sabendo depois de um comunicado dos Guardiões, avisando para alertarem ao seu exército se qualquer camponeses ou aldeão visse Clarie em algum lugar.

Todos se encontravam na cabana incrivelmente grande e mobiliada dos West's. A dupla que comeram doces mais cedo, o novato, a sereia e o garoto que era cruelmente fuzilado pela princesa Anneliese. Todos sentados, analisando a vinda e se questionando o por quê dele estar ali. Quando Capuleto estava começando a se explicar, um estrondo ensurdecedor ecoou na porta da frente. Um garoto loiro de uma estrutura forte e ombros largos entrou correndo e criando uma confusão; seus olhos estavam em um tom incrível de azul e incrivelmente desesperados, seu maxilar travado e respiração ofegante, quase não conseguiu passar pela porta por culpa de suas asas abundantemente grandes e brilhantes, comparando com a de Lara, parecia que ela havia virado uma boneca, de tão pequena. Seu uniforme de Guardião estava ensopado de suor e grudava em seu peitoral, que fazia movimentos rápidos de sua respiração. O cabelo também suado caía sobre os olhos. Alex West II parecia ter crescido bastante desde as fotos em que ela portava nos bolsos, cujo seu dente de leite nem havia nascido ainda.

– Lar... - parou no meio de sua fala, passando os olhos por todos que estavam sentados em seus móveis e saboreavam das frutas silvestres que tinham em sua geladeira. Seus olhos cravaram nos de Laurel, e ela pôde ver suas bochechas tomando um tom avermelhado a cada segundo que a encarava; desviou o olhar antes de dar tempo dela retribuir o afeto. - Lara! Cadê minha irmã? Tem um vampiro a solta! Tenho que protegê-la, ele pode ser incrivelmente perigoso e, e, e... Cadê?!

– Oi Alex. - Luccas cumprimentou o mais novo com um chacoalhar da cabeça, deixando os óculos escorregarem até a ponta de seu nariz e deixando seus olhos rubros à mostra.

O local inteiro estava totalmente mal-iluminado. A luz forte que entrava era da porta que o loiro acabara de arrombar, tirando isso, era uma escurão razoável. O vampiro pediu para fecharem as cortinas e janelas no exato momento que entrou, pedindo ajuda para Serena aplicar algo em seu braço. Marcas vermelhas deixavam seus ombros e rosto ferido, suas veias saltavam para fora com um líquido incrivelmente alaranjado deixando sua pele ainda mais branca. Era como se lava pura estivesse correndo no corpo de Luccas, como uma maratona. Teve de explicar esse fenômeno para Laurel sete vezes, dizendo que quando um vampiro fica em um contato ao sol por mais de cinco minutos, sua pele queima e seu organismo se transforma em um vulcão prestes a explodir. Disse também que estava com sorte deles terem chegado a tempo, caso contrário, ele viraria uma montanha de pó cinza.

– Q-quê... - West teve de se segurar na maçaneta da porta para se manter ereto. O contato visual com o vampiro que causara seu pânico foi por menos se segundos antes de um surto completo. - Sai! Sai da minha casa agora, seu pedaço de merda!

E começou a arremessar tudo que via pela frente no convidado. Livros. Lanternas. Pratos. Abajur. Pedaços de doces nunca terminados. Pelúcias de Lara. Brinquedos de Lara. Sapatos de Lara. Papéis amassados. Tudo estava voando na direção de Luccas, que lutava para desviar com a preguiça que tinha. Chace tentava agarrar tudo que poderia no ar, junto de Serena, que focava nos brinquedos da menor - que se estivesse ali, teria um surto de raiva com seu irmão mais velho. Tudo estava uma bagunça, Alex gritava feito uma garota e Isaac estava rolando no chão de tanto rir, junto de sua acompanhante na loja horas mais cedo.

– Se acalma! Apaga esse seu fogo! - Capuleto se escondeu entre uma estante de livros e uma poltrona velha e gasta. Seus olhos vasculhando todo o perímetro.

– Você sabe o que eu passei por culpa do seu show?! - Berrou o outro loiro, que continuava jogando livros, amassando e rasgando algumas páginas - Centenas de Guardiões me mandaram ir procurá-lo só porque tenho asas! Estávamos ameaçados por sua culpa! Eu sabia que você era um bosta desde que beijou a Julieta!!

Beijou? A desaparecida? Julieta West? A garota cujo continha inúmeras fotos abraçada com ela? Laurel não estava mais rindo. Tateava suas vestes na tentativa de pôr-se de pé o mais rápido possível, seu espanto foi evidente para que todos cessassem seus movimentos e analisassem o que realmente estava acontecendo. A sala de estar estava um caos total: livros jogados no chão, pedaços de bolo e outros doces espalhados pelo tapete, vidro pelo chão - os que Chace não conseguiu agarrar na confusão - e brinquedos salvos por cima de almofadas, salvos. Um suspiro decepcionado saiu por dentre o espaço mínimo dos lábios de Capuleto, ele se levantou e tateou suas vestes, enrijecendo o corpo e subindo as escadas para o segundo andar, sem dizer mais nada, na procura do quarto de Lara.

– Pegou pesado, cara. - Isaac soltou em meio de caretas, tentando recuperar o ar que perdeu.

– Ele namorava a garota desaparecida? - Em seguida, Laurel puxou a atenção.

Alex quase perdeu o ar. Serena ergueu as sobrancelhas em tamanha altura que nem sabia. Chace coçou a nuca, perdido. Isaac ficou indiferente, sem entender nada. Por segundos, tinha esquecido que não havia contado a ninguém sobre sua perda de memória precária, todos saberem com tamanha pressão seria algo que ela não queria e nem estava pronta para enfrentar. Antes de esperar respostas, disparou em corridas atrás do vampiro, subindo dois degraus de uma só vez. Seu coração batia rápido e seu maxilar estava tão duro que ela jurava que seus dentes fossem reduzidos ao pó. Queria encontrá-lo para abrir o jogo de uma só vez. Não se sentia bem escondendo tudo de todos. Seus olhos marejavam eliminar lágrimas sem motivo. Parou de correr quando subiu as escadas em espiral por completo.

Seu coração disparou com um susto enorme quando cruzou dois passos à esquerda, saindo da escada e da visão de todos. Sozinha novamente. Era um novo medo que ela não estava pronta para encarar. Uma dor no peito que não estava pronta para sentir. Àquela visão prejudicava seu estado mental. Por que ela subiu as escadas mesmo?