A Chuva dos Sete escrita por Lia


Capítulo 6
VI - O melhor bolo do reino.


Notas iniciais do capítulo

queria avisar antes de tudo: provavelmente vá ficar sem alguns capítulos durante um tempo por conta da onda de provas q tô tendo agr, dsclp



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Todos não sabiam o que fazer. Não sabiam se aplaudiam ou corriam desesperados. Se gritavam por medo ou se urravam com orgulho das apresentações. A família real - os que estavam presentes - pareciam tão perdidos quanto sua própria população. O rei teve de piscar os olhos múltiplas vezes antes de se levantar, com a garganta seca, sua voz mal saiu. Anneliese apertava seus olhos com força. Rainha Souzie abraçava sua própria cintura, trêmula, sem conseguir processar nada.

– Sim... Realmente... - Rei Prince soltou com a voz fanha, quase caindo enquanto se levantava. - Uma apresentação de primeira mão, meus caros.

Os quatro se reverenciaram e voltaram a colocar seus capuzes, ficando enfileirados de novo, de cabeça baixa. Serena e Isaac se levantaram e foram cambaleando até Chace e Laurel, os dois de mãos dadas, apertando tão forte um ao outro que era possível ver a ponta de seus dedos ficando brancas.

– O que... O que aconteceu...? - Isaac tomou fôlego e checou seus braços e pernas, verificando se tudo estava em ordem. - Laurel, você tá bem?

– Estou... Acho. - Engoliu seco, lembrando-se da sensação do fogo queimando sua pele, transformando-a em um monte de carne viva. Quis se livrar desta sensação, mas tudo que conseguiu fazer foi apertar a mão de seu amigo mais forte.

– Por segundos pensei que iríamos morrer... - Serena soltou, relaxando os ombros de uma forma tão brusca que quase chegou a tocar no chão. - Isaac?

– Sempre bem, maninha.

Os gêmeos se abraçaram e ficaram assim por bastante tempo, o bastante para a Rainha voltar a colocar-se de pé e tatear suas vestes, que estavam em perfeita condição.

– Bem... Depois do show produzido por meu marido... - Seu olhar confuso procurou os olhos de Prince, que estava encarando cada um em sua frente. - Convidamos vocês, moradores do Bosque dos Eucaliptos, para permanecer um tempo conosco.

Os humanos pareceram vibrar, enquanto as criaturas apenas assentiram, sem nem questionar. Ninguém havia trago roupa alguma, mas a rainha alegou que teria suprimentos o suficiente para todos eles. Também indicou o local que ficariam, e era de um luxo incrível.

Laurel decidiu ficar um pouco mais ali, parada, quieta, colocando tudo em ordem de novo. Não queria ficar em Sunshine. Não queria ir para casa. Após todos se retirarem com uma tremedeira tremenda, só sobrou ela e Isaac. Os dois encaravam o tablado de madeira com os olhos vazios, como se escavassem a anos no mesmo lugar errado e não soubessem. Minutos se passaram e eles continuaram ali, na mesma posição.

– Para de reclamar, vamos dormir nas camas mais macias que já dormimos! - A voz conhecida despertou apenas ela do transe, no instante que se virou conseguiu ver os quatro misteriosos andarem em grupo, rindo e mastigando folhas de hortelã doce, uma comida típica de ninfas.

– Só porque vamos dormir no castelo, não quer dizer que nossas camas vão ser macias. - Retrucou Eva, dando um peteleco fraquíssimo na orelha do ruivo, que protestou com uma careta.

"No castelo? Depois de tudo que fizeram ainda vão ter uma estadia de ouro?", pensou, confusa o suficiente para querer desmoronar ali mesmo, igual à um castelo de cartas.

O quarteto não pareciam uma ameaça naquela perspectiva, pelo contrário, Laurel os achou tão normal quanto seus amigos. Andando em grupo, rindo e compartilhando de suas novidades no dia. Se limitou a um sorriso se quer, ainda encarando todos eles.

– Tô acordado! O que foi, Lau?

E novamente o apelido pareceu perfurá-la por dentro, espalhando diversos cacos de vidro em sua região cardíaca.

– Você conhece muito bem aqui? Não quer dar uma volta? - não tinha noção do que estava falando, apenas queria se afastar dos ilusionistas o mais rápido possível, eles a assustavam mais do que a garota desaparecida.

– Claro, não precisa nem perguntar.

Era complicado para Laurel saber a direção, começou a dar voltas em seu próprio eixo, na procura de algum lugar para ir. Sem pensar em nada, o pânico já crescia, como poderia chamar alguém para dar uma volta sem nem mesmo saber para onde ir? Antes de esperar sua própria mente processar, sentiu seu punho sendo enroscado em mãos fortes o suficiente para deixá-lo vermelho horas mais tarde. Seu amigo estava puxando-a em uma direção que ela desconhecida, mas parecia agradável.

O sorriso no rosto do tritão cresceu cada vez mais que se aproximava, seu topete extremamente desarrumado caiu sobre seus olhos, e não demorou muito para afastá-lo na procura de visão. A direção que estavam seguindo parecia ser tão gentil que Laurel só queria começar a correr, sendo tomada por uma energia positiva desconhecida. Era uma loja média, com um telhado em forma de livro, vermelho; suas paredes era de uma madeira bem mais clara que as normais, seus detalhes eram feitos de pinturas incrivelmente reais que relatavam diversos doces e crianças se divertindo, por segundos ela pensou que realmente estavam ali, divertindo-se enquanto comiam montanhas de doces. Ainda não entendia a escolha daquele lugar específico, talvez Isaac guardasse uma lembrança boa de lá e quisesse compartilhar com sua amiga.

O cheiro de rosquinhas invadiu as narinas de Laurel e ela se sentiu possuída totalmente por aquelas gostosuras que se escondiam atrás da porta. Sem nem esperar se acostumar aos doces que não comia a séculos - era assim que se sentia, parecia ter fora de cinco javalis juntos - seu amigo abriu a porta e sorriu novamente, algo maior e ainda mais jovial.

Era bem melhor do que imaginara. Um arco em forma de rosquinha era erguido em sua direita, as paredes de um amarelo bem, bem claro; logo após o arco estava mesas de madeiras distribuídas com vários bichos de pelúcia, logo atrás com prateleiras empanturradas com brinquedos e tudo que uma criança piraria ao ver. Em sua direita era outro arco, porém de madeira e com várias flores de mármore ao seu redor; aquela era a confeitaria, com mesas arredondadas por todas as direções, mas com um vão enorme entre todas elas e um pano totalmente limpo cobrindo a madeira escura, uma escada em espiral dava acesso para o segundo andar, que continha mais mesas e mais prateleiras, porém com doces em caixas e outros enfeites.

– Isso sempre está essa bagunça. - Isaac soltou o punho dela logo após observar todas as mesas lotadas de crianças e adultos, rindo e saboreando de seus doces. - Venha, vamos no segundo andar.

E assim foram. As mesas tinham outras formas, eram todas quadradas e de mármore branco, com enfeites de corações e diamantes rosas na laterais; as cadeiras eram de almofadas também rosas, na mesa era distribuído vários guardanapos. Uma senhora rechonchuda e de uniforme era recebida com sorrisos e elogios. Seus cabelos grisalhos estavam escondidos em um penteado perfeito, isso não proibia dos fios rebeldes caírem por suas bochechas coradas naturalmente, os olhos verdes buscavam críticas negativas sobre suas receitas e sua loja incrivelmente impecável, mas isso nunca aconteceu. Laurel e Isaac marcharam para o segundo andar, sem antes cumprimentarem a causa da felicidade de muitos ali.

O segundo andar era uma cópia do primeiro, porém mais quente, para momentos que Sunshine chegava a ficar frio o suficiente para congelar lagos e riachos. A escolha de onde a dupla ia sentar ficou nas mãos de Isaac, e ele se saiu realmente bem. Era bem próxima de uma janela enorme, que seria do tamanho de Laurel, se ela ficasse em pé logo ao lado. Dava para ver toda Exac Gyl dali de cima, todas as pessoas ainda se recuperando do que aconteceu e todas os outros estabelecimentos.

– O que vão querer, brotos do meu jardim? - uma voz rouca tirou Laurel de seus devaneios, obrigando-a sentar ao lado do amigo. Por segundos, pensou que seria Eva falando.

– O de sempre, por favor, Haj. - ele sorriu e assentiu para o funcionário, que se virou na direção dela. Não tinha nem começado a pensar.

– O mesmo que... O mesmo que ele?

– Senhorita... Isto foi uma pergunta? É para eu responder? - Haj, confuso, passou os dedos cheios de calos - provavelmente pelo trabalho duro que fazia - em seus cabelos totalmente negros e lisos, fungando com seu nariz torto, sem desviar os olhos.

– Não! - protestou com rapidez, quase tampando sua própria boca pela bobeira que tinha falado. - Quer dizer, sim! Quase... Bem, depende!

– Senhorita?

Isaac estava quase explodindo em risadas. Mordia seu lábio com tamanha força para não deixar nada escapar, quase ficando roxo. Laurel já estava de cabelo em pé, e isso só para escolher algum doce, imagina quando for um assunto mais sério? Tinha certeza que não iria conseguir processar nada e forjaria um desmaio.

– O mesmo que eu, sim. - seu amigo tentou dar uma força, erguendo o polegar para ela, que já estava em um oceano de suor e nervosismo. - Porém, colocar açúcar no lugar do sal.

E voltou a não entender mais nada. Sal? Açúcar? O que estava prestes a comer? E se fosse veneno? E se fosse uma comida apenas para criaturas do mar? E se fosse enroladinho de camarão?! Não, não podia pensar em tamanhas besteiras. Seria um canibalismo indireto da parte do tritão, e seria estranho também. Talvez não exista veneno doce. Ela estava salva. Esperou Haj para ir embora e dar um início para a conversa.

– E então... Me conte sobre você.

– E do nada virou uma menina completamente calma? Estou em uma entrevista de emprego? - Ergueu as mãos para o alto, se rendendo à curiosidade de Laurel - Sobre o que quer saber?

– Tudo, se possível.

Espantou-se ao ver tamanho interesse por Isaac, mas apenas retribuiu com um sorriso sincero. Ele contou tudo que sabia sobre sua família e tudo sobre ele mesmo. Descobriu que seu sobrenome era Silveryx, era órfão e descobriu que sereias tem mais privilégios que tritões, ficou tão aborrecido que quase começou uma manifestação no mundo marinho. Também ficou sabendo que ele e Serena são como um só, unidos e fiéis; se protegem nas melhores hipóteses possíveis e não suportam ver um ao outro ferido, são como unha e carne. Ficou sabendo também que ele não é osso duro de roer, já se apaixonou algumas vezes, mas foram por sereias mais velhas e por uma elfa. A orelha pontuda morreu em uma batalha, e as sereias já eram casadas e estavam alguns dias para dar a luz, Laurel achou isso bizarro o suficiente para preferir não comentar nada.

– Meus pais morreram quando nós ainda éramos crianças. - Prosseguiu Isaac, engolindo seco ao tocar no assunto. Ela queria explicar que estava tudo bem se ele quisesse excluir essa parte, mas sua curiosidade era tão imensa que não pôde se conter. - Foram atacados por tubarões.

– Espera, espera... Tubarões? Seu pai não era o guerreiro mais conhecido? Sua mãe não estava aprendendo a dominar parte do oceano com os Guardiões Marinhos? - Mal sabia de todas essas informações que continha, não sabia nem como descobrira.

– Como sabe disso tudo?

– Tenho meus contatos.

– Isso começa com a letra S e termina com A?

– Provavelmente...

– Continuando... - Abafou uma risada, abaixando a cabeça. Seu topete voltou a cair na lateral de seu rosto, mas afastou de novo e cravou seus olhos penetrantes na garota parcialmente ingênua; a troca de olhares estava tão tensa que os dois mal podiam se concentrar na história de Silveryx, quando já estava começando a ficar nervosa, forçou uma tossida e desviou o olhar, assentindo - Ah sim, então. É, morreram por tubarões, mas não foi culpa deles.

Os pais dos gêmeos foram atacados em uma missão temporária. Seu objetivo era chegar na fronteira de Sunshine para avisar que homens de outros vilarejos estavam entrando escondidos, burlando o sistema e sequestrando crianças para vendê-las por comida e dinheiro, sem nem pestanejar, Laurel já sabia que era obra de homens de Darkville. Faltando pouco para atravessar, tubarões com olhos rosados e dentes infestados de sangues partiram para cima do casal; achando que podia controlar, a mãe dos dois - cujo o nome Isaac preferiu não dizer, por conta de dignidade e arrependimento - avançou com tudo com as mãos erguidas. Foi a primeira a ser atacada. Seu pai, pasmo o suficiente para quase largar sua espada feita apenas para ele, sabia que se fosse para morrer, levaria um dos dois juntos. E foi isso que fez.

– Aqui, senhor e senhora, ou menino e menina! Não sei! - Haj interrompeu as lágrimas que estavam por vir, porém nunca chegaram.

Era a coisa mais bonita que Laurel já tinha visto. Um castelo azulado totalmente de doce era erguido no centro do prato. Biscoitos em forma de peixes e estrela do mar rodeavam tudo. Cristais de açúcar deixavam o topo do palácio branco, como se fosse neve. Parecia ter uma espécia de encantamento do suporte de tudo, ao redor do prato bolhas flutuavam para cima e baixo, brilhando nas cores do arco-íris.

O gosto era melhor que tudo que ela já havia provado na vida. Era como estar comendo pedaços do paraíso. Partes de nuvens ou até mesmo o arco-íris de verdade. Foi uma explosão de sensações nas bochechas dela que mal podia conseguir respirar direito, tudo que não pôde conter foi um suspiro tão longo que seu amigo quase cuspiu sua própria comida, tentando não rir. Achou que era um fetiche dele, já que ria das maiorias das coisas que ela ousava dizer. Se perguntava o sabor do palácio de Isaac - isso soou mais estranho do que imaginara, realmente -, já que era de sal... Esperava ser.

– Como está o Castelo da Lau? - Perguntou em meio de mordidas. Só nesta hora que Laurel resolveu abaixar os olhos, e percebeu que não era um castelo feito de açúcar. Era um bolo. O bolo mais bonito que já havia visto. - Pelo o que tô vendo, parece estar adorando. Tem certeza que nunca comeu?

Ignorou o fato de seu apelido que lutava em retornar. Apenas assentiu, sem querer parar de comer um segundo se quer, com medo de perder todo o sabor que àquilo proporcionava.

O lanche dos dois seguiu em total harmonia. Diversas vezes o assunto fora sobre a história dela, porém, como sempre, desviava das maneiras mais simples possíveis para evitar falar de seu passado e presente. Não sabia o que responder e temia dizer para todos sobre sua perda de memória, com medo de receber ajuda o suficiente para piorar tudo. O enquete da amnésia indeterminada já estava começando a irritar Laurel, tanto pelo fato de não reconhecer muitos que jurava ter visto várias vezes cruzando seu caminho, quanto por sempre ter de puxar as fotos que furtou de seu próprio quarto para comparar os rostos. Nenhum fora conhecido. Quando a conta foi pagada - por ela, já que Isaac havia deixado sua carteira e todos os utensílios no Bosque. -, decidiram seguir o instinto dela, e sabia exatamente aonde queria ir, só não sabia que caminho pegar.

Quando viraram a terceira rua de pedras e flores nas laterais, ambos ouviram um barulho de choro, abafado, porém audível. Sem pensar duas vezes, seguiram correndo na direção do som, algo que Laurel temia fazer sem estar acompanhada.

– Calma, calma... Por favor. - tudo foi ficando mais focado, inclusive a visão da dupla.

Era um garoto loiro, sentado e apoiado na porta de um chalé médio, feito de madeira e com uma aparência tão aconchegante quanto a loja da senhorita Futs. Uma garotinha estava encolhida sobre suas pernas escondidas por uma calça preta e rasgada. Seu rosto exibia cortes rasos e quase cicatrizados. Seus olhos estavam cobertos por um óculos tão escuro quanto uma noite sem estrelas, seus lábios estava sibilando um sussurro desesperado e seu cabelo sujo de petróleo ou outra substância negra e pegajosa.

– Lara...? Quem...? Quem é...? - Ela mal conseguia formar as frases em sua mente, a garotinha continuou a chorar e abraçou mais forte a cintura do garoto, que mantinha uma aparência física similar à idade dos amigos. Ela estava em pânico e seu amigo hesitava em se aproximar, até juntar seus joelhos no solo e engatinhar lentamente até os outros dois.

O rosto de West era um pânico completo. Laurel quase havia se esquecido que ela estava na primeira filha quando os quatro amigos apareceram. Havia se esquecido que ainda era uma criança. Lara não merecia nada do que a tinha acontecido, mas deixá-la aos braços fortes de um desconhecido não parecia uma ideia que ela estava dando hipóteses para adotar.

O garoto ergueu a cabeça, parecendo encarar a dupla com tanta fúria, quase recuaram. Ela se impôs na frente de Isaac e limpou a garganta, erguendo a cabeça e tentando não tremer; apesar de tudo, a imagem que o desconhecido passava era de por medo em qualquer um, suas pernas quase falharam e ela quase despencou também.

– Quem é você? Por que está com a Lara nos braços? Lara, você tá bem? - E agora sua atenção oscilava nos dois, o nó em sua garganta se fez novamente ao abaixar os olhos.

Era ele. Era ele o garoto riscado nas fotos e no cartaz. A jaqueta tão reconhecida estava amarrada em sua cintura, porém mais velha e chamuscada. Desejou sumir. Desejou correr. Desejou cair e ficar lá para sempre. Desejou os ilusionistas de volta.

– Sou Luccas Capuleto. - seus olhos se ergueram mais ainda, examinando Laurel por completo, como um cão faminto. - E você, quem é?


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Notas finais do capítulo

PAMPAMPMAPAM personagem novo hoje sempre e toda hora



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