A Chuva dos Sete escrita por Lia


Capítulo 5
V - Evento arruinado.


Notas iniciais do capítulo

eu gostei bastante desse capítulo *u* mas creio que ficou confuso para algumas pessoas, porém, se quiserem dúvidas esclarecidas, enviem todas elas nos comentários ;) boa leitura!



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A família real e seus súditos esperaram para que todos achassem seu devido lugar. Não esperavam que aparecesse tantas pessoas, um dos motivos para os Guardiões - homens de físico forte, sempre com armaduras por todo o corpo. Designados para proteger o Vilarejo Sunshine - estarem sempre ao redor de todos, com suas espadas presas na bainha e seus olhares desconfiados para qualquer um que errasse um passo sequer. Segundos depois, todos já estavam em um silêncio mortal. Serena e Isaac apareceram com sua manada de familiares um pouco mais cedo, todos apoiando os braços sobre a grama e batendo sua parte meio-peixe dentro da água, ansiosos.

– Boa tarde! - A rainha começou, deixando o sorriso jovial sempre amostra

– Estou aqui para dar um aviso apenas, sinto que todas as decisões que venho a tomar devem ser relatadas a vocês, já que são a razão de minha família e eu ser tão bem tratada.

Houve uma pausa por alguns minutos, parecia que Souzie estava procurando as palavras corretas, para não ter nenhum erro. Clarie se levantou logo em seguida, cortando a mãe no meio da fala e abrindo um sorriso travesso.

– Minha querida mãe enrola demais para chegar no assunto que quer, sabe? Ela quer dizer mesmo é sobre o quanto eu sou uma filha incrível e que eu fiz um crime terrível... - e fez uma pausa proposital, deixando todos ainda mais animados para saber o que a vampira tinha feito. - Vamos, joguem pedras em mim. Eu mereço morrer!

– Alguém me mata. - Anneliese pensou alto, balançando a cabeça negativamente e pescando sua irmã mais nova pela barra da calça, forçando-a se sentar no local de início.

Por mais que a família transmitisse ser perfeita, pequenos buracos eram abertos todos os dias, a maioria por culpa da caçula. Clarie não aceitava ser contrariada ou - na maioria das vezes, sendo até explosiva - receber ordens de outros, principalmente de seus pais. Sua infância com sua irmã fora tão perturbada quanto a que deveria ter tido; sem sombra de dúvidas, ela não era a excluída, pelo contrário, recebia mais atenção que o necessário, exatamente como a mais velha. Eram equilibrados, só não usufruíram da habilidade de dividir o tempo em quatro partes.

– Como eu ia dizendo... - o olhar da soberana para sua filha faria qualquer um tremer, e ela pareceu ignorar o acontecimento com facilidade. - Todos vocês já ouviram falar da história de Ophelia Ophecx, certo? Bem, a algumas semanas fora descoberto que a história é sim verdadeira. Peço a cooperação de todos os senhores, senhoras e jovens para me ouvir a seguir.

O alvoroço começou e parou. Começou de novo. Cessou de novo. Anneliese esfregava seu palmo contra a borda de seu vestido a todo segundo, parecia estar suando. Laurel já não sabia o que sentir, fazia pouco tempo que ouvira a história das Ophecx e não se lembrava da metade, apenas da morte e caixas, sua curiosidade cresceu na medida que a Rainha puxou uma lufada de ar para dentro de seu pulmão, soltando-o sem nem esperar o trabalho ser feito. O rei estava inquieto, mordendo seu lábio inferior e deixando escapar uma de suas presas, certas garotas indelicadas achava isso galanteador, querendo subir naquele tablado e tomá-lo como delas. Chace encarava a princesa mais velha com orgulho, seus olhos chegavam a brilhar. Clarie encarava uma pessoa em especial na multidão: Laurel.

– Tomei a liberdade de marcar este evento especial para deixá-los cientes disto, e peço também que tenham o máximo de paciência que consigam recolher. Sei que não é uma tarefa fácil, tenho duas filhas no auge de sua adolescência, e cada uma dá um problemão... - Passou a luva na testa, secando um suor que nem havia aparecido ainda, os mais velhos riram - Principalmente, isto tudo foi armado para alertá-los de que também tomei a liberdade para enviar guardas altamente qualificados atrás das quatro caixas.

Novos cochichos. Novos sussurros. Novos suspiros desapontados. Um homem se pôs de pé em meio da multidão e apontou seu dedo torto na direção do nariz da Rainha, cuspindo as palavras sem ter noção de seus atos.

– E como saberemos que não vão esconder de nós se acharem as caixas?!

E outra chuva de palavreados cochichados voltou. Guardiões estavam preparados para avançar quando Prince Boodlaire, o rei, tomou posse na frente de Souzie, colocando seus braços para trás e apertando a cintura de sua mulher. Sua voz saiu tão alta e poderosa que todos se encolheram, inclusive o homem.

– Por que faríamos isso?! Não mudamos nada desde que governamos este lugar! Só pedimos confiança!

Laurel desejou sumir, Chace desviou seus olhos para outro canto, notando que Anneliese agora o encarava. Clarie não moveu um músculo. Os gêmeos do mar estavam tão confusos quanto todos, Isaac limitava-se a voltar para o lago e se abrigar entre peixes e musgos. A Rainha Souzie colocou as mãos ao lado dos braços de seu marido e tomou posse da situação novamente, empinando ainda mais o nariz e arrumando o vestido.

– Saberão pelo fato de cuidarmos de vossa moradia e alimentação por séculos. Saberão por eu estar aqui. Saberão por nossa família, que deu o sangue de familiares e dedicou seu tempo para construir um lugar como este, apenas para vocês. Saberão por meu pai ter uma escolha complicada por vossa culpa, separando os reais donos desta terra daqui, mandado-os para um bosque afastado de onde realmente nasceram. - se referiu a todas àquelas criaturas que compareceram, encarando o homem. Seus olhos nem se quer fraquejaram. - Saberão pois confio em minhas decisões e confio nos homens o qual qualifiquei para salvá-los. Salvar a todos nós. Compreensão não é algo que vende-se em qualquer loja, meu caro senhor. É algo que você já aprende em sua infância. Não estou aqui para julgar ou obrigá-los a praticar atos que não queiram, se nós, os Boodlaire, fôssemos tão hipócritas ao ponto de não contá-los a cada passo que damos para frente, não estaríamos aqui.

Não era possível ouvir nem a respiração de todos. O homem cambaleou para seu lugar de início, com o pensamento de arrancar sua vida fora quando voltasse para sua cabana.

– O que você quis dizer com "salvar a todos nós"? - Laurel nem percebeu quando abriu sua boca para falar uma tamanha besteira. Desejou sumir de novo.

A Rainha abriu um sorriso comum ao perceber que a situação estava ao controle de novo. Seus ombros quase relaxaram ao tamanho peso que foi tirado. Procurando quem havia feito a pergunta entre a multidão, Souzie molhou os lábios, assentindo para o rei, que voltou a se sentar junto de suas filhas. Chace ficou surpreso com a ação de Laurel, mas ergueu os dois polegares na altura de sua cintura para ela, que decidiu ignorar. Ainda queria sumir. Arrastou seu corpo até ficar atrás da estrutura enorme de seu amigo, fugindo dos olhos da Boodlaire. Quando deu a segunda passada pela multidão, desistiu.

– As caixas são poderosas, todos devem saber. Todos os vilarejos já foram alertados sobre isso por conta própria. Darkville já iniciou sua procura. - Ao pronunciar o nome do tal vilarejo, todos tremeram. Menos as criaturas. - Eu e meu marido pensamos que teríamos de pegar tais caixas primeiras, pois se cair em mãos erradas...

– Muita coisa vai dar em cocô. - Clarie continuou a frase de sua mãe, erguendo os olhos para ela, que assentiu incerta do uso do palavreado.

– Cocô não, vai dar errado. - Anneliese a corrigiu, impaciente.

– Foi por esse motivo que escolheram os guardas? E como foi a seleção? - Agora era Chace quem perguntara, atraindo toda a atenção da princesa que o encarava a minutos atrás.

– Além de analisarmos suas habilidades em combate e psicológicas, fizemos uma seleção entre todos os Guardiões de Sunshine, procurávamos aquele que mais alcançasse os pontos necessários. - Rei Prince voltou a se levantar, ao invés de encarar quem tinha feito a pergunta, respondeu para todos os públicos.

No momento em que Souzie estava se arrumando para continuar seu discurso, tudo se apagou. Apesar de ser dia, o céu foi escondido por milhares de nuvens cinzentas e as lamparinas ao redor do tablado se acenderam sem nem mesmo estarem com fogo o suficiente, ao redor do aglomerado de pessoas surgiram enormes vinhas com morangos falsos, por estarem iluminados com uma luz vermelha. Quatro seres saltaram das árvores mais próximas, todos encapuzados com uma manta avermelhada e uma letra desconhecida bordada.

Os guardiões gingaram seu corpo na direção da família real, na procura de proteção. Antes mesmo de atingirem seu objetivo, foram enjaulados com barras de ferro incrivelmente grossas que surgiram com um estalo de dedos de um dos homens.

– Olá! - Uma das figuras puxou seu capuz para trás, revelando um rosto sapeca.

Era uma menina um pouco mais nova que Laurel e as princesas, seu cabelo estava trançado com fitas da mesma cor que sua capa. Sardas espalhavam em seu nariz e bochecha, junto de seus braços e ombros; seus olhos caçavam todos na multidão, um verde escarlate que brilhava forte na escuridão criada.

– Como vão? - Outra voz feminina fez a atenção de todos irem para direta, a última menina da fila. Definitivamente mais velha que Laurel. Cabelo loiro e escorrido, preso com uma coroa de flores pretas e murchas, olhos cor turquesa que brilhavam, como os da menor. Seu corpo era magro, porém avantajado, seu cinto com diversos livros se destacou ao puxar a manta para longe de sua cintura.

– Espero que bem, pois eu vou ótimo também. - Olhos se virando a cada vez que uma nova pessoa surgia. Agora um menino, do mesmo tamanho da loira e com os olhos brilhantes, porém turquesa, iguais aos da segunda. Seu cabelo era encaracolado e castanho tão escuro que era quase preto.

– Alguém tem alguma novidade que queira compartilhar? - Outro capuz voando e outro garoto sendo revelado. Um ruivo tão forte que quase deixou todos cegos, lábios franzidos e apenas o rosto rechonchudo, olhos brancos e brilhantes, como diamantes.

– Ou algum segredo que queira contar? - E a última pessoa jogou sua capa para longe, caindo aos pés de Anneliese, que estava tão amedrontada que seu rosto estava branco como as nuvens. Sua pele era um moreno escuro, seu cabelo curto até os ombros, cacheado e também preto. Seus olhos não brilhavam, diferente de todos os outros, eles eram totalmente pretos. Totalmente. Inclusive sua esclerótica, isso fez todos tremerem.

Chace queria correr dali, porém não conseguia. Não era por medo ou indisposição, todos realmente não conseguiam. Era como se seus pés estivessem grudados no solo por uma cola incrivelmente ágil. Laurel queria berrar, mas nem isso conseguia.

– Vocês devem estar se perguntando por que não conseguem correr... - A menor deu alguns passos para frente, contornando seu grupo. Os joelhos da população afundou na terra, junto deles. Todos estavam dentro da terra, apenas deixando suas coxas e quadril para fora. Outro grito preso.

– Ou falar... - O garoto de cabelo cacheado seguiu seu encalço, pisando nos exatos lugares que ela pisava. Quando Laurel se forçou a olhar para baixo, seus lábios estavam costurados na perfeita vigésima quarta letra do alfabeto. Seus olhos queriam se fechar e abrir em outra dimensão como em um sonho. Quando ergueu sua atenção para os amigos e desconhecidos ao redor, percebeu que não era a única assim. Crianças choravam e homens tentavam abrir suas bocas com as mãos.

– Mas isso, flores do meu jardim, vai se esclarecer logo, logo... - O ruivo foi atrás também.

– Assim que escolhermos nossos brinquedos principais... - A morena desta vez.

– Brinquedos ou objetos... Como posso dizer? - O de cabelo cacheado seguiu todos.

Eles deram a volta no tablado inteiro, todos rindo alto. Serena, Isaac e todos seus amigos estavam tentando submergir, suas caudas haviam virado pernas no mesmo momento que todos afundaram sobre as pedras, sem poder andar. As sereias e tritões estavam se afogando em seu próprio lar.

– Chega de enrolação! - Os quatro gritaram em uníssono. A menor passou a mão pelo céu lentamente, as nuvens foram sumindo e o sol atingiu o rosto de todos. A rainha estava em completo choque, assim como toda sua família. Menos Clarie. Clarie não estava mais lá.

Quando o céu já estava totalmente limpo, todos foram expulsos do chão. Suas pernas voltaram ao normal e intactas, como se o solo estivessem cuspindo eles de volta. Igualmente as sereias, que voltaram a respirar com uma rapidez incrível. Serena e Isaac já haviam chegado no fundo do lado, quase sem coincidência; quando voltaram para terra subiram com rapidez, vendo suas pernas surgirem de novo e suas roupas voltarem com o mesmo pó dourado e do mesmo jeito que foram embora. A única diferença de todos e os seres do mar era simples: não estavam costurados, suas bocas estavam sendo atravessadas por arpões pequenos. As costuras e as armas foram desfeitas em fumaça logo após todos voltarem ao normal, mas um nó em suas gargantas não deixavam nenhum grito ou xingamento sair.

– Eu sou a Eva, a ilusionista! - A loira deu um sorriso enorme, esperando aplausos. Infelizmente, todos estavam sem conseguir mexer um membro.

Quando sua frase terminou, um conjunto de facas incrivelmente grandes e afiadas apareceu em cima da cabeça de todos, inclusive da família real. Quando Eva estalou os dedos, as facas despencaram.

Os gritos explodiram os tímpanos de Laurel. A voz de todos foram liberadas sem nenhum aviso.

– Eu sou o Daniel, o ilusionista. - Sem nem sorrir, Daniel bateu apenas uma palma. As facas viraram várias pétalas de flores em segundos, deixando tudo em uma cor rosa enjoativa.

– Sou a Edna. O melhor pesadelo de todos vocês. - A morena saltou do trabalho com força, quando suas botas bateram no chão as pedras começaram a rachar. Todos estavam gritando de novo, inclusive Laurel.

Os piores pesadelos da garota começaram a vir à tona. Os monstros de viviam por baixo de sua cama. As bonecas que ganhava de Natal todos os anos e que cismava serem malvadas. Os homens cruéis que negaram doces para ela. Todos os pesadelos que a assombravam quando era apenas uma criança tomaram uma forma concreta e real, bem em sua frente. Homens e mulheres se contorciam entre as pétalas, tampando seus olhos e ouvidos com força. Não demorou muito para Chace recuar até cair, fechando os olhos com força. Os irmãos não conseguiam sair da posição que estavam, ainda deitados, eram assustados por tubarões enormes, com seus dentes repleto de sangue e braços humanos.

– Lexy, a rainha dos animais! - A pequenina saltou por cima da estrutura de Edna, que a segurou com um sorriso. Na medida em que ela balançava os dedos, manadas de animais e alcateias de filhotes de lobos avançavam por todos os cantos do centro de Exac Gyl. Todos os filhotes abocanhavam os pesadelos com um dentes mal-formados, transformando-os em pó.

Os suspiros de alívio foram ouvidos por segundos. Todos estavam prontos para outra onda de terror.

– E por último e mais importante... Sou o Evan. - O ruivo deu apenas um passo para frente, tampando a visão dos guardiões. Ele ergueu os dois palmos ao lado de seu corpo. No direito uma chama alaranjada se formou, flutuando. No esquerdo foi um pássaro da cor de seus olhos. - Posso ser o bem.

Os pássaros se multiplicaram em uma velocidade anormal, levantando voo do lugar que foram criados e indo na direção da população. Não dava para sentir e nem para ver nada além da cor branca. Quando eles passaram, planaram por cima de todos na forma do nome do conjurador. Após irem, as roupas de todos estavam da mesma cor dos animais, brancas. As peças de roupa de Laurel foram substituídas por um vestido longo e com as alças caídas na lateral de seus braços, cheio de brilhos e pedras preciosas. Seus sapatos agora eram saltos de cristais, seu cabelo estava preso em uma trança única e trançada com pedras minúsculas de diamantes, como os de Lexy. Quando empurrou toda sua vontade que tinha, ela olhou para o lado, todas as mulheres estavam iguais a ela, crianças também. Os homens e seus amigos estavam com um terno também branco e com os mesmo enfeites.

– Como também posso ser o mal. - O sorriso dele surgiu desta vez, amedrontando Serena e Isaac, que estranhavam suas roupas tanto quanto Chace.

O fogo se alastrou para cima, como uma torre ganhando vida. Depois de segundos, tomou forma e passou de torre para dragão, um enorme, feito do elemento. O animal rugiu tão alto que quase derrubou a família real, por sua audição aguçada, felizmente, eles também estavam paralisados. Seguiu no céu limpo até os pássaros, abocanhando-os em segundos, todos cremados, caíram como pó por cima do povo. Ainda faminto, mudou sua rota e entrou para dentro do aglomerado. Era como colocar todo seu corpo em uma fogueira. A dor era tão grande que Laurel desejou estar realmente morta, ou pular em um lago congelado. Abaixou seus olhos novamente a tempo de ver suas mãos e dedos em carne viva, seu novo vestido reduzido ao pó, misturando com os pássaros.

– Vocês são quem decidem! - Evan berrou, vespas amareladas saíram em grupo de sua boca. Todas elas cercaram o dragão de fogo em questão de segundos e ele foi eliminado, junto com as queimaduras e o pó deixado. As roupas de todos voltaram.

– Obrigado por nos receberem nem tão bem! - outro integrante deu passos para frente, reverenciando ao público junto com outros três amigos. - Queremos agradecer por sermos convidados aqui pelo magnífico e ótima pessoa...

Antes que conseguisse concretizar sua frase, a loira o cortou ao meio, deixando o sorriso esbranquiçado nos lábios.

– Rei Prince!


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Notas finais do capítulo

OS QUATRO



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