A Chuva dos Sete escrita por Lia


Capítulo 2
II - Desaparecimento e memórias perdidas.


Notas iniciais do capítulo

e estamos aqui de novo



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Laurel já estava sentada no mesmo banco de pedra a muito, muito tempo. Tanto tempo que já conseguia sentir todo seu corpo virando pedra naquela mesma posição, até estava pensando no nome da estátua que ela viraria. Obrigou-se a erguer os olhos para um grupo enorme de adolescentes discutindo sobre assuntos irrelevantes naquele momento, aqueles eram seus amigos, cada um mais diferente e surreal que o outro. Orelhas pontudas, peles incrivelmente pálidas, olhos roxos, rosas, vermelhos, de duas cores... Todos eles saindo do Bosque de Eucaliptos, caminhando na direção do vilarejo principal do reino Zachrt: Sunshine. Decidiu voltar a encarar a grama viva e incrivelmente verde, um tanto balançada por sua cor.

O tilintar voltou a bagunçar seus pensamentos, fazendo-a se levantar e dar uma volta na árvore mais perto; um conjunto de luzes coloridas chamou sua atenção, bem no topo da árvore, cada uma apontava para uma direção diferente, como setas. Laurel se limitou a escalar galho por galho, voltando a se sentar no banco de início.

– Não deu certo...? - disse alguém, sua fala ficando embolada com o estrondo de botas em cima da terra seca.

– Não, acho que ela nem deve ter notado... Menos dois pontos para você! - prosseguiu outra pessoa, uma voz feminina. - Você é uma decepção.

– A culpa não é minha se sua magia é horrível!

Tomada pela curiosidade, voltou na antiga posição perto da árvore, erguendo sua cabeça para cima e sendo atingida pelos raios de Sol mornos, por ainda ser manhã. A dupla foi descendo lentamente até chegar bem próximo de onde Laurel estava parada, observando os dois com um sorriso entediado. Os dois eram bem jovens - provavelmente da mesma idade que ela, dezessete ou dezesseis anos. - e de características psicológicas distantes, principalmente pela diferença de sexo e no modo de se vestir. Eram irmãos, ambos com cabelos castanhos e pele morena, ele usava vermelho vivo e ela verde-água. Seus olhos azuis chamavam bastante a atenção de vários que passavam ao seu redor, os gêmeos abriram um sorriso ao mesmo tempo.

– Sou Isaac. Essa é a... - Antes da fala ser terminada, a menina tampou sua boca e deu um espirro, coçando sua própria nuca e sorrindo. - Chatarena.

– Serena. Quem é você, novata? - Corrigiu ela, encarando o irmão com fúria.

– Chatarena. - repetiu o garoto, depositando toda sua atenção em Laurel, que queria se distanciar o máximo possível. - É, quem é você, novata?

Cansada de ter que se apresentar tantas vezes para todas aquelas pessoas, decidiu deixar a pergunta no ar e voltar para o assento tão desejado, apesar do alívio que teve ao levantar duas vezes. Isaac soltou um suspiro e rolou os olhos para o céu, apanhando o punho de sua irmã e arrastando para perto do aglomerado de adolescentes, sem antes acabar puxando Laurel também. Em segundos, ela já reconhecia metade deles ali parados, que examinava cada parte de seu corpo com a sobrancelha arqueada, como se fossem animais selvagens famintos.

– Bem-vinda de volta, querida Laurel. - Chace aprimorou uma gingada de cintura para o lado, tomando espaço no meio do grupo e caminhando até Laurel.

Era um grupo familiar, de fato. Cada um se conhecia desde a infância, já que não tinham muitas oportunidades de mudança em Sunshine, apesar de seu tamanho enorme, as criaturas residiam no Bosque, quem saía, voltava apenas com um mandado assinado da Rainha, cujo nunca estava disponível. Chace puxou a amiga para um abraço apertado, deixando-a mais desconfortável do que nunca. O garoto era de uma estrutura enorme comparada a todos os outros, seus olhos bruxuleavam de um amarelo até um castanho escuro, seu rosto e corpo eram bem avançados para sua idade.

Laurel não se lembrava de quase nenhum naquele meio, também não se lembrava o por quê disso tudo. Soube por algumas fontes que aqueles eram seus amigos de infância, mas seus nomes faziam bagunças em sua mente, como vários fios enrolados juntos e formando um nó incrível. Sua perda de memória era estranha, confusa e sem previsão para o término. Se lembrava de duas coisas simples: aonde morava e quem era, o resto de suas memórias foram dizimadas de um jeito cruel. Fotos espalhadas por seu quarto a fazia lembrar e decorar rostos em particular, só reconhecia três pessoas daquele meio, e duas delas incluíam os gêmeos. Começou a analisar o rosto de cada uma das criaturas ali paradas, mas não conseguiu diferenciar ninguém das fotos coladas na parede de seu quarto, boa parte desgastada e outra boa parte riscada.

– Vocês viram essa menina? - Uma garotinha se interviu no meio do círculo, erguendo um panfleto para todos os presentes, suas mãos tremiam e seus olhos fraquejavam.

– Lara... - Outro garoto que ela também desconhecia puxou a atenção de todos, principalmente da pequena, que não deveria ter mais de oito anos. - Você... Você ainda acredita que ela está desaparecida? Mesmo depois das notícias?

– Não! Eu não posso desistir! Vocês viram? - Retrucou, batendo o tênis rosa no gramado.

Cada um agarrou o panfleto com angustia. Laurel ficou tão atordoada que não prestou atenção no rumo da nova conversa, provavelmente sobre a menina desaparecida. O panfleto era cheio de palavras e características físicas, apesar da foto enorme já demonstrar muita coisa. Era uma garota loira, de olhos grande e um sorriso jovial, daqueles que faz todos quererem sorrir também; na foto, ela estava com os braços apoiados no ombro de um garoto, também loiro, que o rosto estava rabiscado por não ser o foco. Essa menina tinha milhares de fotos com Laurel espalhadas em sua parede, e se não fosse pelo nome dela escrito, ela nunca teria se lembrado, apesar das fotos. Uma onda de terror tomou conta do sentimento anterior, tendo que recuar do aglomerado para conseguir respirar direto, o medo era tão grande que ela apertou suas têmporas com os dedos até ficarem doloridas. Quem era ela? Por que estava desaparecida? Por que ela se sentia desse jeito? Elas eram amigas? Primas? Irmãs? Sua cabeça martelava o suficiente para quase despencar, porém, mãos ossudas e fortes a agarraram pela cintura, sustendo-a no ar e a mantendo firme, Isaac fora seu apoio por um tempo.

– Ei, você tá bem? Laurel? Lau? - Perguntou o gêmeo de Serena, que estava um pouco distante, conversando com uma garota que também não era familiar.

Ninguém nunca a chamara de Lau. Pelo menos desde que acordara sozinha em sua cabana, com dor de cabeça e cortes rasos pela região do pescoço e quadril, até então, ela não soube o sentido e nem o significado de tudo aquilo.

– Sim... Estou. - Foi tudo que conseguiu responder até ficar estável. Em um movimento repentino, ela amassou o panfleto e colocou entre o bolso da calça e o cinto que carregava para todo lugar. Lara cambaleou até ela com suas tranças balançando para lá e cá.

– Você tem que me ajudar... Por favor. Lau, você a conhecia por um tempo... Por favor!

E a onda voltou. Desta vez, como uma tsunami, derrubando Laurel com tudo. Foi sustentada por Isaac novamente. Felizmente, antes de conseguir responder, foi salva pelo gongo.

Uma criatura pequeninha subiu em uma estátua de cavalo local, colocando as mãos ao redor da bochecha e ampliando sua voz como um bom felino - criaturas que mesclam suas características físicas e psicológica com as de animais, como ter uma orelha de gatos no topo de sua cabeça; são normalmente bem poderosas, mesmo não transmitindo magia e nem outra habilidade tão "surreal", conseguiam ampliar sua voz na medida do animal escolhido, como um lobo uivando incrivelmente alto -, a partir do primeiro berro para chamar atenção, todos deixaram os assuntos de lado para ficarem calados. Notícias vindas de um estilo como esse sempre eram do Vilarejo Sunshine, provavelmente um recado da realeza.

– A rainha Souzie Boodlaire pede para que todos vocês compareçam na Exac Gyl, como devem saber, o centro de Sunshine. Ela irá dar um recado importantíssimo. O evento acontecerá daqui a dois dias, estejam preparados.

Dois dias não eram o suficiente para por uma mente em ordem. Não para Laurel.


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Notas finais do capítulo

FIM DE OUTRO CAPÍTULO E JÁ TÔ ESCREVENDO O PRÓXIMO MEU DEUS DO CÉU :v gosto de reviews



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