A Chuva dos Sete escrita por Lia


Capítulo 18
XVIII - Explosões, raízes e maldade


Notas iniciais do capítulo

C A R A L H I N H O S
demorou muuuuuuito p eu voltar c isso, né não? (1 ano viado) PORÉM voltou e voltou c tudo c:



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As memórias de Laurel havia retornado a dois dias atrás e, como se nada estivesse mais confuso que o normal, ela sentia estar mergulhando em um oceano de informações. Ela sabia como digerir tudo sem ter outro surto. Engasgava-se com a ansiedade entalando no começo de sua língua, era difícil pensar que, nestes poucos dias em que ela acordou em sua cabana, ferida e com as lembranças desaparecidas, do mesmo jeito em que a neve derrete e some após o inverno. Complicado pensar era, dias atrás, ilusionistas “invadiram” o vilarejo, abusaram dos camponeses, colocaram seus medos à flor da pele e massacraram suas mentes entre os dedos, e eram apenas jovens... Foram até “sequestrados”, colocados em pilastras de madeira e deixaram suas vidas andando em corda bamba sobre o próprio fogo do inferno. Receberam um recado importante da rainha Souzie, souberam que a grande lenda do passado poderia estar se tornando realidade enquanto eles continuavam sentados em bares e bebendo alguma cerveja barata... Acontecimentos que marcariam sua vida para sempre, a arrastariam para um vulcão de sofrimento e desespero. Podia até sentir os fios loiros de seu cabelo caindo como penas em suas pernas exaustas e nada preparadas para uma nova aventura. Ela sentia-se em um livro de contos de fadas, com um leitor que passava suas páginas em uma rapidez humanoide.

E era uma extrema verdade, Isaac havia todas as respostas para as perguntas que ela nem estava pensando no momento. Eles cuidaram de tudo. Depositavam sua atenção em todos os pontos com falhas e em todos os desfechos que poderiam acontecer, era incrível o que estavam fazendo. Laurel sabia que nunca conseguiria bolar algo tão complexo e tão real em pouco tempo, aliás, não sabia a quantos dias estava desacordada e isso a assustava bastante.

— Espera! – Freou seus calcanhares contra o piso de mármore, com uma cor que não a surpreendia: o branco. Sentiu uma ardência imediata por estar descalça, e, naquele momento, quase deslizou para frente. Conseguiu puxar seu amigo para trás de um jeito tão bruto que faltou pouco para Isaac cair por cima de si mesma. – Aonde vamos? Por que vamos? O que está acontecendo?

— Não podemos nos atrasar, Lau! – Balbuciou o moreno.

Por incrível que pareça, aquele apelido não a cutucou como uma faca cutuca um pedaço de carne. Suas memórias já estavam restauradas, mesmo assim, ela se sentia em outro planeta, com outras pessoas e em outro corpo. Seu colega não esperou e nem deu mais explicações, apenas continuou a puxá-la por aqueles corredores extremamente iguais, finalmente, ela não reclamou e não tentou parar de andar para receber mais respostas, apenas deixou ser levada. Enquanto caminhava, conseguia observar cada detalhe que a Ala Hospitalar Boodlaire disponibilizava para seus pacientes. Nas paredes havia os mesmos desenhos que acompanhavam as pilastras em todo o Vilarejo, élficos. Ela se perguntava o motivo de tantas obras feitas por elfos,  por que todas elas estavam ali? Elas teriam alguma referência para o hospital? A família real era composta por àqueles seres mágicos e ninguém sabia?

De todas as formas, ela não conseguia parar de olhar para as linhas curvas feitas com uma maestria incrível, as flores grandes, os símbolos desconhecidos e as tulipas davam um toque de tranquilidade, apesar de ainda ser assustador. Não demorou muito para os pacientes começarem a abrir suas portas, cada um mais diferente do outro, principalmente em seus rostos; alguns magros demais, outros com marcas azuis e outros cada vez mais rechonchudos que o normal, talvez estivessem doentes ou talvez só fossem ratos de laboratórios para os testes esquisitos.

Laurel quis parar de andar novamente. Seus olhos se cruzaram com a mesma garota que havia visto da primeira vez que fora lá. Sua pele estava em um tom razoável, mas suas veias ainda saltavam por suas pernas, braços e pescoço. Uma parte de si quis vacilar em seguir o tritão, apenas para descobrir mais daquela pequena garotinha. Não podia deixá-lo na mão, por isto, continuou a correr.

— Não acho que vá dar certo... – Isaac soltou, freando com tanta brutalidade que a garota sentiu seu nariz esmagado pelos ombros largos dele. – Odeio minha vida...

— O que? Por quê? – A loira recuou e evitou apoiar-se na parede, tentando se esconder do que estava por vir.

— Acho que fomos barrados... Não fomos bons espiões.

Ao olhar para frente conseguiu ver os enfermeiros com as sobrancelhas arqueadas e suas pranchetas balançando na medida em que seus pés batiam no piso e seus suspiros impacientes deixavam os dois nervosos, mas não ao ponto de sair correndo. Quando eles começaram a andar em sua direção, eles se afastavam, como um gato caçando um rato. Era assustador. Os olhos daqueles homens mudavam de cor na medida em que piscavam... Laranja, rosa, azul, verde, roxo... Era como um arco-íris trancafiado dentro de suas íris.

— Vocês deveriam estar em seus quartos... – Disse um dos homens, largando sua prancheta no chão e cerrando seus punhos. Eles não estavam ali para procurar brigas. Eles só queriam ir embora. – Deveriam. Não estão. Não gosto de adolescentes teimosos.

— Sabe o que é... – A garota ficou na frente do amigo, coçando sua nuca e dando pulos pequenos no mesmo lugar. – Eu precisava fazer xixi e não sabia onde era o banheiro... E ele me ajudou.

— A ir no banheiro? – Seu amigo sussurrou bem ao pé de seu ouvido, quase trazendo calafrios da ponta de sua espinha. A loira apenas lançou seu cotovelo na direção da boca de seu estômago. O garoto gemeu e rodopiou até apoiar-se nas marcas élficas, massageando o local atingido e tentando dar um sorriso forçado. Depois de um tempo, ele ergueu os olhos para os enfermeiros e conseguiu tossir: - Eu... Estou com um pouco de dor de barriga também, estava aproveitando para ir com ela... Já que banheiro é o lugar de fazer suas necessidades... Eu acho... Quer dizer, eu faço, pelo menos. Vocês fazem?

— Acha que somos idiotas? – Disse um deles, ignorando por completo a pergunta de Isaac. Em seguida, torceu o pescoço e socou seu próprio palmo. Era possível que os ajudantes dos médicos fossem saltar para a agressão quando não conquistado o que queriam de seus pacientes?

— Achar eu não acho... – Soltou ela, dedilhando seu próprio lábio na procura de novas respostas. – Mas se você quer que eu ache não há problema! Não posso discutir, foi o que minha mãe me ensinou!

— Vocês tem, nada mais e nada menos, do que três minutos para voltar para seus quartos. Começarei a contar agora. – O enfermeiro conferiu mais alguma informação desnecessária em seus papéis. Laurel jurou ter visto um fiapo de sorriso nascer ao lado de seu lábio, perguntou-se se ele se aproveitava da situação em momentos, e, com todas as suas forças, desejou que o homem pegasse um caminho bem longe e diferente do seu.

As escadarias para a liberdade estavam logo em sua frente, incapazes de alcançá-las por conta dos homens, os amigos apenas se encararam por um momento e deram as mãos, por algum motivo não aparente. Os homens os encararam com a dúvida transbordando entre os lábios, até que, finalmente, aconteceu. O que o tritão havia previsto já estava ali, massacrando os degraus da escadaria circular como quem esmaga uvas com os pés, subia em uma fúria fora do normal, além de fazer um barulho ensurdecedor de metal, talvez estivesse trazendo armas consigo. Tão rápido quanto um tiro, o garoto abraçou os ombros de Laurel e segurou sua nuca com o palmo vago, apoiando os lábios secos no topo de sua testa.

— Feche os olhos – Sussurrou Isaac, apertando mais e mais o corpo magricelo dela sobre o seu. – E me abrace, se quiser.

Ela não teve tempo de reagir, mal teve de pensar. Fez como o mandado e fechou os olhos, só não o abraçou; seus corpos foram impulsionados para trás com uma pressão surreal, enquanto raízes negras abraçavam as paredes, pilastras e até mesmo os fiscais. A explosão enviou os dois para o fundo do corredor, lançando a loira de cabeça para parede e o garoto para dentro de um cômodo da Ala, fazendo-o cair por cima da maca e por cima de uma garotinha, que estava dormindo até aquele momento. Tudo daquele andar estava sendo consumido, principalmente o mármore, cujo estava coberto por penas e penumbras escuras como a noite, enlaçando toda a paz que a cor branca causava, substituindo-a pelas trevas.

A visão dela estava turva e um zumbido permanecia em seu ouvido, uma pressão nunca sentida antes; os dedos estavam envoltos no início na nuca, aonde a dor se concentrava, um filete de sangue escorria até entrar dentro de sua calça larga, fazendo cócegas, mas, ao mesmo tempo, a deixando assustada. Ela ergueu os olhos a tempo de ver uma figura enrolada em um manto alaranjado, com um cinto sendo sustentado pela cintura e diversas facas ao redor, os olhos cobertos e os lábios escorrendo algum líquido esverdeado. Tudo que ela conseguiu ver foi uma parte de um sorriso crescendo na parte direita do rosto daquilo. Ficou assustada ao perceber que era um sorriso.

— Isaac...?


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