A Chuva dos Sete escrita por Lia


Capítulo 15
XV - Irmãs de sangue, parte dois.


Notas iniciais do capítulo

adoro escrever sobre essas duas, e, principalmente, adoro a Clarie asdjkasld boa leitura!



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Clarie fora arrastada por todo o castelo por seu pulso. O seu carpo estava completamente triturado – osso que tem a função de articular todo o resto de seu braço -, impedindo o movimento do todo o resto, por culpa da força extrema que estava utilizando. A dor alastrando no seu corpo era imensa, capaz de derrubá-la a qualquer momento, principalmente por não entender a atitude de Anneliese. Subiram as enormes escadas em uma velocidade mediana, quando finalmente chegaram no quarto da princesa, o estrondo a porta deixou o silêncio invadir as duas novamente.

A mais velha andava de um lado ao outro, ponderando suas palavras com dificuldade. Os ossos quebrados da menor estavam se regenerando a cada segundo que passava, uma das partes em que ela adorava ser uma vampira nata. Parou para observar aonde exatamente estava: cortinas de seda circulavam todo o recinto - até mesmo onde não continha janelas -, um tapete azulado ia da varanda até a cama, estantes enormes lotadas de livros sobre o vilarejo era o que chamava mais atenção, mesmo com os mil espelhos cheios de fotos da garota quando um bebê. Ela seguiu até a porta de correr que separava as duas de um ar fresco, estátuas do rosto da primogênita separavam sua queda direto para o jardim, uma parte construída apenas para seu conforto; uma mesa de centro estava localizada com diversos tipos de chás e um bolo de chocolate. Aquele quarto era tão colorido que trazia um enjoo do fundo do estômago da “sequestrada”.

– O que você quer? – Perguntou pro fim, ajeitando seu vestido na intenção de voltá-lo para a posição de início, já que a corrida forçada teria tirado-o da perfeição.

– Você está bonita. É uma das primeiras vezes que a vejo de vestido, porém, não está mais do que eu.

Era uma mentira. Apenas uma maneira de ficar acima da mais nova. A princesa menor estava tão linda quanto a maior, e também chamava mais atenção. A diferença na aparência das duas era mortal, principalmente nas características psicológicas; o preto caía como uma luva pelo corpo de uma, diferente da outra, que seria como um suicídio. Clarie estava muito mais deslumbrante que Anneliese, e isso a deixava prontamente irritada.

– Não preciso de elogios seus para me sentir bem. – Apertou o gatilho, apanhando a irmã bem no seu ponto mais fraco. Arrastou suas unhas ferozes por seus móveis, criando arranhões pequenos – Diferente de você, claro.

– Não sou atingida mais por suas criancices, Clarie. Como pode ver, eu sou a próxima a tomar o trono de Sunshine como meu, estou tendo aulas de como controlar-me na frente do público.

– Quem fala “controlar-me” nesse século, garota?

– Lhe chamei aqui para tratar de um assunto sério, sente-se, por favor. – Ignorou sua pergunta, apoiando seus braços e busto em sua porta de vidro que a separava de seu quarto e a varanda.

O modo com que a sua irmã mais velha usava o vocabulário exatamente como sua mãe a irritava de um jeito forte. Era como se ela quisesse ser uma cópia cuspida, mas, todos entendiam seu esforço, se certo modo. A rainha Souzie Boodlaire era um exemplo para todas os camponeses, criaturas e até mesmo crianças do Vilarejo Sunshine, era como uma super-heroína que seria capaz de dar sua vida para salvar muitas outras.

Clarie não se sentou.

– Ou fique em pé... – Desapontada, a irmã soltou, caminhando lentamente até sua cama e sentando-se com maestria, sem nem retirar as coisas do lugar ou desarrumar seu vestido.

– Fala logo o que você quer, não tenho todo o tempo do mundo. Principalmente para você.

– Lembra quando éramos grudadas? Quando nós duas nos adorávamos tanto que todo dia brincávamos juntas? – Começou a falar, cortando um suspiro da irmã. O brilho no olhar dela era notável. – Éramos as irmãs mais amadas de todo esse lugar. Lembra?

A vampira fingiu estar dormindo, tombando sua cabeça para frente e roncando propositalmente.

– Oi? Falou comigo? – Despertou de seu sono provocativo e falso com um pulo, bocejando e espreguiçando-se. – Foi mal, fiquei com um sono repentino... Por que será?

– Vou direto ao assunto, percebo que não está muito afim de me ouvir... – Tentou fazer uma voz fanha, para convencê-la de ficar por mais tempo e relembrar do passado com gosto.

– Nunca estou, para falar a verdade.

– Estou arrependida. – Ignorou-a novamente. – Não deveria ter feito o que fiz com aquelas garotas, Clarie.

– Eu avisei. Você me escutou? Não, não escutou. – Caminhou para a porta, colocando seus dedos gélidos no ferro da maçaneta, pronta para girá-la e voltar a caminhar com seu amigo.

– Estou falando sério, cacete. – Berrou sozinha, usufruindo de sua velocidade anormal para entrar entre a irmã e a saída, empurrando-a para frente – Estou arrependida!

– E eu com isso?! – Gritou a mais nova de volta, recuando com os punhos cerrados e os olhos transbordando ira. Irritar Clarie Boodlaire era a coisa mais fácil que alguém poderia fazer. – Eu avisei mais de uma vez que você estava sendo hipócrita e estúpida! Porém, na época, eu não tinha me tocado que aquela era sua verdadeira “eu”.

– Você age como se não estivesse com culpa alguma! – Berrou de volta, avançando contra a irmã mais nova no intuito de impor medo. – Sempre se safa das coisas que mais tem culpa! Você deveria estar sentido o que estou sentindo!

– Eu tenho culpa? Sério? Tipo, sério mesmo? – A ironia foi acompanhada de sua fala. Sem recuar, cruzou os braços na frente do corpo em forma de deboche. – Não foi eu quem teve a ideia. Não foi eu que atraiu as três para a floresta. Não foi eu quem fez o mandado falso. Não foi eu que resolveu contar tudo para a irmã mais nova na tentativa de receber uma ajuda... E, principalmente, não foi eu quem teve inveja do sucesso delas. Então, de quem é a culpa?

– Eu não sabia que aquilo ia acontecer! – Enquanto gritava, a raiva de Anneliese triplicou, e isto foi a chave de ouro para seu surto.

A vampira levou seu punho até a parede de madeira, escondida por uma pintura perfeita, em segundos, o que era lindo, passou a ser um buraco escuro e sem vida. O único murro incrivelmente forte abrira um vão enorme em parte de seu quarto. A mais nova limitou-se a rir, tendo que tampar sua boca para não deixar escapar; agarrou-se contra um dos pedestais que mantinha as diversas tiaras da irmã em segurança, tentando não derrubá-lo.

– Ah, isso já não é mais problema meu.

– Pare de ser hipócrita, Clarie! – A garota tentou manter sua postura de irmã mais velha dentro de si, mas era quase impossível não perder a paciência quando se tratava da princesa mais nova. – Você nem se quer moveu um dedo precioso para ajudá-las!

– Por que eu moveria? Para a culpa cair em cima de mim? – A risada de deboche ia escapando a cada vez que dizia algo, irritando-a ainda mais. – Você mandou nossas três melhores Guardiãs para tratar de problemas que nunca existiram. Agora, por sua culpa, duas delas desapareceram e uma está mais perdida na vida do que você jamais vai querer ficar. E, o melhor, a culpa inteira caiu para cima do papai por um surto ciumento seu! Não é incrível?!

– Cale a boca. – Berrou mais alto, fazendo os diversos guardas e os próprios Guardiões se aproximarem do corredor, temendo o que estava acontecendo. – Cale a boca! Cale a boca!

– Não consegue aguentar a culpa?! Precisou jogar todo seu drama de novo em cima de outros?! Mimada, como sempre!

– Mimada?! Eu?!

– O que ta rolando? – A voz dura como gelo atravessou o campo de guerra das duas, fazendo suas atenções serem depositadas na varanda da princesa. – Oi, futura rainha e... Anneliese.

– Saia daqui! Antes que eu chame os guardas! – A mais velha berrou para Daryl, que se dependurava entre suas estátuas e a queda que poderia custar sua vida. Como ele havia subido ali? Isto é uma questão que nunca poderá ser respondida. – Este é um assunto sério entre as princesas!

– Por favor, me poupe desse seu drama diário. – Retrucou Clarie, largando um de seus maiores sorrisos para o amigo, que já se estabilizara dentro do quarto, fuçando nos papeis da primogênita. – Foi só para isso? Para dizer que se arrepende e para fingir que a culpa do desaparecimento de Robin e Julieta era minha? Além da perda de memória da Laurel?

– Você não entende. É só uma pirralha. – Tentou amenizar a situação, provocando uma risada sem emoção. – Não entende a dor que eu carrego dentro de mim. Só quer saber de festa e sair com esse retardado que chama de amigo. Aliás, ela não corresponde seu amor, Daryl.

O menino deu de ombros, puxando um conjunto de roupas íntimas da princesa e jogando para cima, soltando um gemido enojado, em seguida, virou-se na direção das duas e lançou uma piscadela.

– A pirralha em que você foi a primeira a chamar, estou errada? – Provocou novamente, batendo palmas sozinha. – Acho melhor pensar em um plano para avisar mamãe e papai que foi você a culpada das três... Não vou levar isso nas costas de novo.

– Você tem que levar. Eu sou a próxima governante. Você tem que me obedecer. – Empinou o nariz e avançou na direção da irmã, arrebitando o peitoral e caçando novas frases para intimidá-la. - Se não fizer, acabo com sua vida em segundos.

– Um, dois, três... Devo contar agora?

O garoto, ainda procurando coisas que pudesse vender no mercado negro, riu baixo, coçando a nuca. A raiva de Anneliese parou duplicar, mas não o bastante para ter a coragem de matá-la.

– Você está sendo ridícula. Não lhe dei tal fama de graça, Clarie.

– Fama? Para mim? – Evitou rir novamente, caminhando até a varanda, chamando o amigo com o indicador. Sem lutar, foi até ela, apoiando o braço em seu ombro. – Então, como vai o Chace? Trocando você pela sereia como sempre?

Certas pessoas não tem uma paciência moderada ou infinita, este era o caso da futura rainha. Em outro surto, disparou com a velocidade anormal até a menor, erguendo os dedos e as unhas para a direção de seu pescoço. Sem pensar duas vezes, a princesa que não estava com a experiência o suficiente, mas de longe era a mais corajosa, passou as mãos ao redor da cintura de Daryl e saltou para o jardim, sem se preocupar com a mais velha e sua ira. Aterrissaram com maestria, mas estragou boa parte do jardim, o amigo não sofreu nenhum baque ou ferimento durante a queda, para falar a verdade, apenas riu novamente e girou uma das enormes armas entre os dedos.

– E aí... Aonde a princesinha perfeita vai querer ir? – Disse, enquanto tamborilava os dedos no pescoço gelado dela, apontando para a saída do palácio. – Nossa caminhada foi pro brejo, disso já percebi.

– Preciso falar com a loirinha que perdeu a memória, talvez eu consiga esclarecer o que aconteceu.

– Tem certeza? Não acha que aquela trupe de seguidores não vai querer matar você?

– Por isso você vai comigo, aliás, você é um ótimo escravo.

Juntos, seguiram para fora do Palácio Real, apoiando-se um ao outro. Ela sentia, de algum modo, que algo não estava certo. Não gostava de vingança e não estava fazendo aquilo para expor sua irmã, porém, sabia que as desaparecidas corriam perigo a cada dia que passava. Espera, sabia mesmo?


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Notas finais do capítulo

ó, tem algumas coisas que vão acontecer nos próximos capítulos, principalmente o desenvolvimento e aproximação da trama e dos personagem, muitas coisas irão ficar mais claras e simples de entender :}
e sim, a Laurel morreu. NÃO TEM COMO ELA SAIR VIVA, ENTENDAM.



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