A Chuva dos Sete escrita por Lia


Capítulo 12
XII - Um jogo complicado.


Notas iniciais do capítulo

agora sem reclamações que tem poucas palavras, tá?! >:( e, aliás, eu tentei explicar mais das coisas que aconteceram nos capítulos passados nesse, espero que tenha dado certo T-T



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Tudo estava esquisito. Até o ar que eles respiravam havia ficado mais pesado e quente. Os Quatro Cavalheiros - que aliás eram cinco, mas todos ignoravam a existência de Lexy e apenas usavam suas habilidades para favorecer seu grupo nas ilusões e espetáculos. Fora assim que ela decidiu optar de chamá-los, ao invés de Quatro ou Os Quatro - estavam explicando as regras e o que iria acontecer, mas Laurel estava focada no jogo de mimicas que Chace estava fazendo do outro lado, enquanto os gêmeos se encaravam com confiança, como se tudo fosse ficar bem. As mimicas eram péssimas, de muitas coisas que ele tentara dizer, ela descobrira três; os vencedores escolhidos não fora propositalmente, era uma oferta de "emprego" que os trapaceiros tinham feito para atrair mais gente, também prometeram fortuna e fama, mas ele deixou claro que não sabia de nada disso.

Ouviu pouca parte das regras, mas o que entendeu é que seria uma escolha e uma chance. Também entendeu que as cobaias foram escolhidas a dedo, selecionando os mais próximos daqueles que assinaram seu nome em um papel falso. Eles seriam colocados em uma arena, projetada e feita apenas por Eva - se gabou incrivelmente por isto - para toda a plateia e participantes. Prometeu o conforto e uma visão ampla para todo o acontecimento para os convidados.

– Então! - Edna endireitou sua coluna e empinou o nariz, seus olhos incrivelmente negros procuravam alguém em particular na multidão. - Que os jogos comecem.

As jaulas foram substituídas por toras de madeira, que brotaram do tablado como uma árvore, enlaçando as vitimas como um abraço apertado. As mãos de todas foram atadas e seus lábios presos com uma mordaça de couro, com enfeites de aço presos na alça que ia até a orelha de todos que estavam presos. O palco havia se tornado um piso de rocha amarronzada, tão quente que o suor de Valentine que pingava por sua testa evaporou segundos antes de tocar naquele solo confuso. Ninguém sabia se era realmente uma ilusão ou realidade. Laurel estava aterrorizada com todo aquele caos sinistro que subia por sua espinha, enquanto sua mente mal podia se concentrar em alguma coisa fixa, que não fosse o local em que estava parada.

Exac Gyl estava transformada em uma visão esquisita de uma caverna cheia de dragões. Torres enormes eram erguidas até o topo, no máximo eram quatro, rodeando todo o círculo que era chamado de arena. No topo de cada torre havia um dragão de cerâmica, grande e majestoso, todos avermelhados, liberando chamas de suas asas; as arquibancadas eram totalmente de madeiras e sem nada para se sustentar, como se a força do ar estivesse mantendo-a erguida, os reféns estavam presos nas mesmas toras de madeira, com as mãos atadas e mordaças que seriam estilosas se não estivessem ali para prendê-los.

– Perfeito! - A ilusionista loira apareceu como fumaça no meio da arena, erguida em palcos de madeira, impedindo-a de tocar no solo incrivelmente quente. - Daniel vai explicar o que vocês vão ter de fazer e como vai acontecer.

E assim foi feito. Ele estava logo ao seu lado, junto com os outros quatro amigos, encarando todos da plateia com um sorriso, ignorando completamente os competidores, que estavam em tablados idênticos aos deles, mas menores. Todos estavam paralisados, sem conseguir andar ou falar.

– Vai ser o seguinte. Temos seis competidores e doze reféns ou sei lá como querem chamar. A prova é simples: cada competidor tem dois amigos ou familiares bem próximos e eles terão de salvar apenas um. O fato é, não pode encostar ou chegar muito perto do solo, se não... - Ele retirou uma moeda dourada de dentro do casaco, lançando-a direto sobre o piso flamejante. A moeda se transformou em um líquido dourado em um segundo cravado. - Pois é. É só isso. Eles terão três meios de passar. O que eu mais gosto, a Garganta da Morte.

O ilusionista apontou para um tubo completamente transparente, que ia dos competidores até seus "aliados". Era rodeado de estacas com pontas quadriculadas, usada por eles para descerem até seu objetivo, porém, no instante em que Daniel estalou os dedos, os apoios por dentro do cilindro começaram a se movimentar, alguns sumindo e voltando. Chamava de Garganta da Morte por parecer com uma e já causar a morte de muitos participantes. De algum jeito, Laurel sabia que não era a primeira vez que estavam "brincando".

– O que não é tão interessante assim, porém né... A Escalada. - E indicou uma corda de aço presa de um extremo ao outro, uma caixa de luvas de látex frágeis e que não protegiam nada, mas eles pareciam pensar que sim. - E, por fim, a Ponte Idiota.

Era apenas uma ponte arredondada, de suporte de aço e uma trilha de madeira branca, totalmente sustentável e com desenhos feitos de giz preto. Quando a garota desviou os olhos para os dedos pequenos de Lexy, suas pontas estavam com manchas negras.

– Vocês tem cinco minutos para escolher quem deverá salvar. Cinco minutos para escolher um dos caminhos. Cinco minutos para salvar uma vida. - Ele sorriu de um modo tão grande que mal coube em seu rosto, virou-se para a amiga, sentando em uma cadeira que mais parecia um trono de ouro. Como se estivesse esquecendo algo, levantou-se de supetão, sem tirar o sorriso. - Já ia me esquecendo! Vamos dificultar as coisas!

Só agora ela havia percebido a quantidade de gravetos que rodeavam seu corpo preso, eles estavam encharcados, como se fossem banhados em puro querosene, era como uma trilha, que seguia desde a lateral da Ponte Idiota até os doze. Uma labareda de fogo estava ameaçando a encostar em toda aquela arma mortal, mas mantendo uma distância. Todos os competidores estavam prontos para correr, esperando o sinal. Seus corpos já estavam sob movimento e seus sentidos completamente balanceados. Isaac queria fugir para longe com seus amigos e irmã, se arrependendo amargamente da escolha cometida a dias atrás.

– Comecem o mata-mata! - O ruivo riu sozinho e pulou em seu trono. A criança escalou seus ombros e deitou por cima dele, apreciando a vista enquanto comia um doce.

O sinal foi soado. Era como uma sirene incessante, ensurdecendo os ouvidos sensíveis das crianças na plateia. E de repente tudo ficou um caos. Chace saiu correndo na direção do tubo, colocando os palmos nus nos canos da escada, sentiu o ferro quente queimar sua pele, trazendo um grito agonizante do fundo de sua garganta, nunca usado antes. No instante em que ia cambalear para trás, um homem corpulento, de ombros largos e nariz extremamente achatados o puxou pela camiseta cinzenta, lançando-o para longe de seu único caminho escolhido. Isaac havia sido chutado pela fora do tablado por um homem cinco anos mais velho, com a atenção em sua filha que estava amarrada e amordaçada, chorando por horas, desde que tudo começou. A garota era mais nova do que Serena. O tritão se sustentava apenas com as mãos, seu corpo totalmente para fora do tablado, faltando segundos para despencar no solo incrivelmente quente.

– CHACE! - Foi tudo o que ele conseguiu gritar, tentando erguer-se mais uma vez. - CHACE!

O lobo mal conhecia se aguentar. Seus dedos estavam em carne viva. O homem que o puxou parecia notar as barras da escada, correndo em uma velocidade enorme até a caixa de luvas, apanhando um par e enfiando sua mãos ásperas e cheias de calos lá dentro. Apesar de parecerem totalmente frágeis, abraçavam suas mãos como a armadura mais resistente do mundo. Era incrível, porém assustador.

– Aliás! - A garotinha ergueu seu peitoral, chamando a atenção da plateia - Nem tudo é o que parece.

A ficha pareceu cair para o amigo do tritão por segundos, agarrando duas luvas na correria, enfiando suas mãos queimadas por dentro, engolindo outro berro quando o plástico raspou em seus ferimentos. Deu um salto para frente, empurrando um adolescente tão magro e fino como um pedaço de papel, que despencou por cima do tablado; apanhou a mão do tritão no último segundo, içando o garoto no ar, puxando-o para cima por culpa de sua massa muscular avantajada dos dias que passou treinando para seu próprio desenvolvimento.

Em segundos, Isaac estava ao seu lado.

– Vou pela ponte... É o meio mais seguro por aqui e o único que me pareceu rápido. - O garoto que mais conhecia o mundo marinho disse, recuperando o fôlego do calor que chegou bem perto de suas pernas. Por segundos pensou que nunca mais teria o mesmo efeito ao entrar na água.

– Nem tudo é o que parece. - Chace repetiu, puxando o tritão pelos braços e colocando-o de pé. Em seguida, apontou para os outros dois métodos. - Essa ponte é furada, cara.

– O que...?

– Só observe.

Estavam perdendo bastante tempo ali, mas sentia que aquele jogo merecia um pensamento psicológico necessário. Nenhum dos dois eram os mais qualificados para isso. Eles esperaram até uma garota morena se aproximar da ponte, enquanto os homens tentavam entrar em sua frente, para ganhar tempo derrubou a caixa de luvas, atrapalhando vários deles. Os olhos furtivos da dupla acompanharam cada passo seu, e todos eles eram trêmulos. Em segundos a ponte se transfigurou para aquelas bambas e com madeiras podres. A garota despencou por seu peso - apesar de ser bem pouco, o bastante para os ossos de seus pulsos ficam amostra - direto para o chão. Sua pele fora a primeira parte de seu corpo que derreteu, causando gritos finos e roucos, enquanto seus dedos derretiam a cada segundo, grudando nas rochas; o calor subindo em seu rosto fazia seu cabelo flamejar e ir para um tom tão escuro quanto os medos das crianças por de baixo de suas camas, seus olhos giraram para longe de um jeito ameaçador, até ficar branco. Ela despencou morta. Suas vestes pegaram fogo ao toque do solo e levantaram fagulhas até o rosto de Isaac, que lacrimejou um pouco.

– Mas que... Que... Mas... - Ele não conseguia falar, enquanto Chace erguia o nariz de um jeito superior, erguendo a cabeça para o tubo. O homem que tomara posse ainda estava em sua metade, com o rosto ensanguentado pelas pancadas que levara por culpa dos espetos que iam e vinham.

– Vá por outra opção, posso atrasá-lo um pouco por conta desses espetos do... Você sabe. - Ele quase se repreendeu por um xingamento possível. Com a concordância de Isaac, saiu correndo diante de seu objetivo.

O gêmeo de Serena correu na direção da corda, que estava sendo ocupada por um garoto mais novo que ele, com os cabelos loiros e longos grudados em seu rosto por culpa de seu suor. A fagulha de fogo já havia encostado nos galhos finos a muito tempo, já estavam na metade de seu caminho.

– Ei! Garoto! Vai mais rápido! - Ansioso para salvar sua irmã e amigos, o tritão apressou o adolescente, pulando no próprio lugar para deixar seu sangue menos corrido, tentando acalmar-se.

– Não me dê pressão! - Ele tremeu, secando o suor da testa com seu casaco. Apontou para um garoto preso que nem os outros, tão pasmo que mal conseguia chorar. Mais novo do que Lara. - Ei. O nome dele é Samwise, meu irmão mais novo. Se eu não conseguir, salve-o por mim. Por favor...

Mal esperou a resposta do desconhecido antes de continuar, que tentava processar o pedido com cautela. Apenas assentiu.

Chace estava subindo as escadas, cronometrando o tempo que os espinhos paravam de aparecer, percebendo o movimento circular que faziam e quando resolviam parar de vez. Observava tudo nos mínimos detalhes, até mesmo quando todos eles eram sugados para dentro do cano e deixavam a vitima sem apoio, deslizando para baixo, até voltarem de supetão e acertá-lo em alguma parte do corpo, se não estivessem alertas. Paravam de aparecer por três segundos. Giravam em sentido horário, paravam por um segundo e voltavam no sentido anti-horário. Sumiam por cinco segundos. Tudo estava cravado em sua mente e pronto para o uso, sentiu que fora a primeira vez que pensara em algo por tanto tempo, tinha certeza que conseguiria chegar até as garotas em dez segundos. Escalou até ficar no topo do cano e observou o homem conseguir chegar até a base, já com a camiseta encharcada e os olhos cheios de lágrimas ao observar sua filha ainda intacta. Porém, sua mulher estava logo ao seu lado, indicando a menina com o queixo.

– Agora! - Gritou consigo mesmo, esperando todas as estacas desaparecerem para se jogar lá dentro, sentindo-se em um tobogã transparente. Dois segundos para elas voltarem.

O homem chorava e se inclinava para beijar o rosto de sua esposa, enquanto desamarrava as mãos de sua filha mais nova, que acompanhava suas lágrimas. "Eu te amo" era a única coisa que ele dizia e ela murmurava. Quando solta, a criança o abraçou tão forte que quase perdeu a força de seus próprios braços. Em segundos, uma labareda de fogo atingiu apenas a parte de mulher, engolindo seu corpo como se estivesse faminta.

Um segundo.

– Sem afeto. Vocês tem pouco tempo para fugir daqui. O que te faz pensar que somos bons? - A morena com olhos negros proliferou, estalando os dedos e criando um buraco incrivelmente iluminado atrás do único homem que chegara até o final. Ele pulou com cambaleios.

Seu corpo surgiu ao lado da arquibancada e o buraco fora fechado. Ele abraçava sua filha com uma dor forte no coração, gritando tão alto que quase deixou todos estremecidos de medo, alguns entendiam seu sentimento de perda. A dupla de amigos sentiu um tremor subir até sua espinha. Laurel tentava de todo jeito jogar seu corpo para o lado, já que estava em uma distância próxima demais da mulher que estava sendo pulverizada por culpa das chamas, sentia seu braço esquerdo ficar quente com as fagulhas que a atingiam. A dor percorreu novamente, como se o dragão que Evan havia criado voltasse para lhe assombrar apenas em uma parte de seu corpo.

O lobisomem ergueu a mão nos segundos que contava em sua mente, agarrando uma das estacas que surgiu bem próximo a sua testa, quase derrubando-o ali de cima. Esperava que os espinhos todos sumissem por mais uma vez, para que ele deslizasse até o final com maestria e seu plano fosse concreto. Isaac já estava no cabo de aço a muito tempo, vendo que seu tempo estava se esgotando e ele mal conseguia respirar com toda a adrenalina que deixava o suor escorrendo de sua bochecha ao queixo; seu "amigo" já desamarrara seu irmão mais novo e já estava sentado na arquibancada com ele, não colocou a atenção para saber quem era a segunda pessoa a ser consumida pelas chamas.

Giro horário. Três segundos. Dois segundos. Um segundo. Soltou e deslizou até a ponta do tubo, vendo seu plano dar em um perfeito resultado. Agora vinha a parte mais difícil. Apesar de algumas pancadas que levou na direção de seu estômago e pescoço, conseguiu manter-se ereto e com tudo funcionando perfeitamente, encarou as quatro garotas e não sabia o que fazer, sentir ou até mesmo para onde olhar. Lara, Laurel e Valentine eram suas prioridades, já que tinha certeza que o tritão salvaria sua irmã.

– Pirralho nojento! - Um homem robusto e de barba malfeita subiu na corda de aço junto de Isaac.

Nem tudo é o que parece. Em segundos, o que estava resistente o suficiente para aguentar várias pessoas de uma vez desmoronou. O metal fora substituído por palha envolta de algo escorregadio, quase lançando o garoto de volta ao início. - Vai morrer em minhas mãos!

– Mas... Quê?! - O adolescente quase deu um berro, erguendo os olhos para sua irmã, presa e indefesa, com o fogo chegando perto o suficiente para sentir o calor batendo em seu queixo.

A corda estava se rompendo bem na direção dos pés de Isaac e sua queda para morte era de pequenos metros, assim como sua astúcia. Chace estava entre sua escolha fatal, querendo levar todas consigo e saltar dentro do buraco branco que abria e fechava sempre que alguém tomava uma decisão. Por um impulso, ele caminhou até ela e começou a desamarrar o que a prendia com tanta força. A mordaça foi parar no chão e um abraço fora distribuído.

A corda rompeu, lançando Isaac na direção da morte.


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Notas finais do capítulo

quem o Chace escolheu?



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