A Chuva dos Sete escrita por Lia


Capítulo 11
XI - Jogos... mortais?


Notas iniciais do capítulo

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Havia sido liberada do A.H.B. duas noites atrás, quando sua memória com a vampira e o garoto já não passavam de um pesadelo fictício e ruim para seu estado mental, pelo menos era isso o que os doutores disseram. Fizeram sua cabeça para acreditar que era apenas um sonho, sua mente brigando consigo mesma. Avisaram que era os efeitos colaterais de um desmaio sem indícios de agressões físicas, então acreditou, caiu como um camundongo no dito dos especialistas e não podia contradizer, já que não sabia nada sobre esse assunto.

Estava sentada na mesma mesa que se encontrara com Isaac a dias atrás, que pareciam ser séculos. O novo convidado estava quarenta minutos atrasado. Laurel já estava perdendo seu apetite e sua vontade de ter uma conversa relaxante. Batucando os dedos nos guardanapos e descendo sua atenção para sua cintura, passando a batucar ali; sentiu de leve algo áspero na ponta de seus dedos, o papel que estava por cima de seus medicamentos, com informações estranhas e a foto que tanto a perturbou por noites. Robin Delary. Era esse o nome. Era essa a garota de sua lembrança esquisita. Sem pensar diversas vezes, puxou o panfleto de volta para suas mãos trêmulas, analisando cada detalhe de seu rosto pela milésima vez no dia. Pele morena e sem nenhuma falha, um nariz levemente empinado e franzido, por conta do sorriso gigantesco que acompanhavam seus lábios de um tom vibrante e avermelhado, suas sobrancelhas eram como curvas em estradas, finas e extremamente bem feitas; o cabelo castanho caía sobre seu olho esquerdo, deixando seu sorriso ainda mais sedutor e irresistível, as maçãs do rosto estavam pintadas com uma tinta preta, em forma de coração e uma estrela, que em seu meio estava totalmente apagada, como se ela estivesse com uma coceira e acabara esquecendo de sua arte. Ela estava abraçada com mais duas garotas, que haviam sido cortadas para a foto entrar em uma perspectiva que a desaparecida fosse o foco. Desaparecida. Era uma palavra que soava como uma lâmina subindo direto do estômago de Laurel até sua garganta, de um modo tão cruel e rasgante que teve de olhar para baixo e verificar que suas tripas não estavam saltando para fora.

– Desculpa! - uma voz grossa a tirou de seus pensamentos, fazendo-a encolher os punhos até o papel ficar do tamanho de uma bola de tênis. - Desculpa! Não quis me atrasar! Foi efeito da... Foi mal, é sério!

– Quarenta e pouco agora. - verificou em seu relógio imaginário, abrindo um sorriso médio para Luccas.

Ainda com os óculos e a escuridão parada ao redor de seu corpo, cabelo desarrumado e os ferimentos continuavam, porém suas veias já não pareciam mais tão pulsantes e como se fosse lava passando dentro delas. Estava mais coberto do que antes, já que a guarda de Sunshine estava totalmente alerta com qualquer situação de vampiros. Ficou sabendo a pouco tempo que eles não eram autorizados a entrar no Vilarejo, e quem permitia - seja camponeses, crianças ou até mesmo idosos - sofria medidas drásticas sobre sua moradia. Existiam criaturas que se alimentavam de sangue, se locomoviam incrivelmente rápido e tinham uma força sobrenatural, mas metade de todos eram humanos. Como... Meio-vampiros. A segunda garota desaparecida deixava suas presas amostra em seu sorriso, mas Laurel conseguiu diferenciar as dela dos outros vampiros que já vira, como a de seu sonho e o Capuleto em sua frente; eram mais longas e afiadas. Robin Delary era uma vampira pela metade.

– Desculpa, de verdade. Lara ficou presa entre uma grade do parque e uma pedra, no meio desse sol todo... Foi complicado, mas deu certo.

– Senta. - Disse sem nem se importar com a história, apesar de estar apavorada com o estado físico de sua amiga. Não esperou o loiro digerir para prosseguir - Quem é Julieta West? Quem é Robin Delary? Por que elas estão desaparecidas? Quem é você?

– Ei, ei, vai com calma! - Ergueu suas mãos para cima, sentando-se e balançando a cabeça em forma de rendição. - O que quer saber primeiro? São muitas perguntas!

– Responda uma de cada vez.

– Claro...

Faltava poucos milésimos para todas as suas cartas de dúvidas mortais serem jogadas à mesa, deixando seus ombros incrivelmente mais leves. Sua ansiedade era grande e seu coração batia tão rápido que era possível sentir seus ouvidos pulsando junto, pela quantidade de sangue que era expulso e sugado. Sentia medo por estar tendo essas sensações com um garoto que se aproveitava de algo que ela era rica de ter, temia que ele se descontrolasse pelos barulhos cardíacos e pulasse para cima dela, mas ele parecia bem controlado.

– Bom, o romance de vocês vai ter que esperar uns anos, não é mesmo? - A conversa dos dois fora atrapalhada por outra voz distante, porém doce e comum. Apesar de ter certeza de que conhecida a pessoa, não lembrava-se de seu nome.

– Se não entendeu a indireta, é que ele é bem mais velho. Sabe, tipo uns séculos. - Outra pessoa e outra voz distinta e confusa. Ela já estava assustada.

Luccas - cujo segurava seu boné tão para frente que chegava na ponta de seu nariz - impressionado por terem o descoberto, tendo se escondendo o máximo que conseguira. Ela se sentia culpada por convidá-lo. De supetão, se levantou, apontando para a dupla, que só agora ela havia descoberto quem era. Eva, a ilusionista, estava parada diante deles, com a mesma manta da noite em que se apresentou para todo o vilarejo, ao seu lado estava Daniel, seu parceiro na ilusão e possível irmão. Os dois sorriam de um modo sarcástico e maléfico.

– Precisamos dela, vai ser rápido, prometemos. - O garoto apontou seu indicador para bem perto do nariz da outra loira, sem nem mesmo desviar a atenção para era. Ela tremeu.

– Não dá, não estão vendo que estamos conversando? - Retrucou o mais velho, dando um tapa fraco no braço do ilusionista.

– Não está vendo que não foi uma pergunta?

No instante em que os dois iriam rebater e começar uma discussão entediante, a garota bateu uma palma apenas. Os olhos de Laurel foram ficando cansados o suficiente para ela quase despencar, tudo que conseguiu ver eram grossas barras de ferro crescendo pela lateral de seu corpo, deixando-a presa e sufocada em uma jaula pequena, que fazia sua cabeça bater e volta em sua base. Era um ferro gélido, causando arrepios por seus braços e nuca. Seu amigo demorou demais para processar tudo que estava acontecendo antes de ser agarrado pelo moreno, iniciando uma briga pequena. Seu foco foi ficando pesado, como se carregasse o mundo nas costas. Ela desmaiou com o sorriso vencedor de Eva na mente.

– ❖ -

Acordou com um susto, dando um salto tão grande que seu crânio foi parar no topo de um tablete de ferro, fazendo toda seus nervos chacoalharem como em uma montanha russa. Não era um sonho. Ela ainda estava presa na maldita jaula. Não era uma ilusão. Todo seu corpo doía como se estivesse sendo comprimido em uma caixa minúscula, A situação estava pior. Uma multidão de pessoas do Vilarejo Sunshine era disposta em sua frente, um ao lado do outro, todos tão confusos quanto ela. Se atreveu a olhar para o lado e se sentir mais nervosa ainda, pois não era a única que estava presa; mais oito, sete ou até mesmo nove jaulas estavam ao seu lado, prendendo seres como ela, como se fossem aves que não fizeram seu número de circo com maestria. Reconheceu apenas três dentre todas aquelas outras pessoas: Lara, Serena e Valentine. A menor chorava e abraçava seu próprio corpo ali do fundo, a sereia debatia-se nas grades, tentando derrubar ou sair de lá de algum modo, enquanto a enfermeira que conhecera a dias atrás estava de mãos e pernas atadas, cabelos soltos e caindo por cima de seus ombros, desarrumados e rebeldes. Só agora notava sua orelha incrivelmente pontuda, diferenciando-a de todos os outros humanos que já pensou ser normal.

– Bem-vindos! - A garotinha do grupo dos quatro estava por cima da criança que chorava, apesar de ser mais velha, parecia apreciar seu sofrimento a cada segundo.

Ela queria salvar Lara. Queria abraçá-la e dizer que tudo estava indo bem. Mas não estava.

– Obrigada por comparecer, para falar a verdade. - A morena de olhos totalmente pretos sentava-se por cima de Laurel, que sentiu um peso desnecessário, sentando-se sem nem querer ou perceber. Estava sendo forçada a fazer aquilo também? Todos enjaulados sentaram-se também. - Sentem-se, sentem-se. Não sustente meu peso, Hyde, já, já eu saio.

– Bem... - O ruivo da vez se juntou as risadas de seu próprio grupo, tamborilando seus dedos entre as barras de ferro de Serena, que tentava levantar-se. - Gostei de que vocês nos deixaram ficar aqui e tentar deixar esse lugar mais agitado...

– Com uma brincadeira como esta! - Eva continuou sua fala, despertando um fogo ardendo ódio dentro da garota que fora aprisionado por ela, que, pelo visto, não tinha sido apenas Laurel.

– Que será divertida, prometemos de dedinho! - Agora o moreno. Com as pernas flexionadas em uma barra de aço que sustentava o mesmo número de jaulas, porém em caixas inteiramente de vidro. Ele parecia um morcego daquela perspectiva- Podem desfazer essa expressão de confusão, já deixei tudo claro, não?

– Se não deixou, vou explicar... - Lexy saltou de cima da estrutura, aterrissando como um pássaro no tablado que ainda não havia sido retirado de lá. - Como já devem saber, o rei e a rainha estão ocupados demais acompanhados com Guardiões que já foram liberados na busca da Lenda de Ophelia.

Foram? Eles já foram liberados? Era incrível de como uma ausência acaba deixando-a por fora de todos os acontecimentos. Queria estar lá para se despedir, mesmo sem conhecer nenhum. Queria estar lá para consolar Alex, que tanto queria ir e não conseguiu. Ela se sentia uma inútil.

– E como esse vilarejo é mais quieto que a lista de namoradas do Evan... Resolvemos deixá-lo animado assim! - Edna tomou posse da atenção, irritando tanto Daniel quanto o garoto menosprezado por não ter pretendentes o suficiente. O ruivo sorriu no final, sem estar bastante ofendido, mas era notável a tristeza. - Dentro desses seis compartimentos tem as seis pessoas que aceitaram estar nesse desafio. Vou repetir porque vocês tem a mania de duvidar de tudo que nós falamos... Elas aceitaram estar aqui. Não forçamos nada.

– Vamos conhecer nossos competidores? - A criança cruzou os braços, misturando sua estrutura com as de outras menores de idade na plateia.

Estalou os dedos de um modo simples e dois ursos incrivelmente enormes caminharam na direção das caixas; eles eram totalmente brancos e de olhos azuis, o rosto não era como um normal, era parecido com um lobo, só que mais atencioso e menos assustador. Porém, suas garras deixavam uma aura de terror ao redor de cada um. Abocanharam as caixas de uma só vez, espalhando pedaços de vidros reduzidos a uma fumaça amarelada quando destruídos. Os vencedores caíram das caixas com um só salto, sem nem mesmo saber aonde estavam e o que estava acontecendo. Cada um com uma roupa diferente.

Chace e Isaac foram os últimos a cair, em pé e com um trage totalmente estranho. O olhar se cruzou com o das amigas. Serena tremia ao ver seu irmão, que iniciou uma corrida apressada até ela - que teria sucesso se um dos quatro não estivesse segurando-o pela gola do "uniforme" -, na tentativa de alcançá-la.

– Beleza! - Eva aprimorou um passo para frente, saltando de cima da jaula de um desconhecido. Ela sorriu de uma orelha a outra, batendo palmas. - Que os jogos comecem!


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Notas finais do capítulo

Se estiverem com dúvidas porque tudo aconteceu "rápido demais", comentários e eu respondo quase tudo que n permita spoiler



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