Shadow escrita por Cher Lloyd


Capítulo 3
Godfrey


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um capitulo para matar a curiosidade de vocês!



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Eu não devia aceitar. Eu realmente não devia aceitar, mas sua mão continuava esticada, esperando que eu a pegasse e aceitasse sua companhia.

Minha mente gritava para que eu não fizesse isso, gritava para que eu corresse para longe daquele homem desconhecido.

–Você não vai me atacar e nem me estuprar, né? –pergunto e seu corpo vibra com sua risada.

Seguro sua mão e vamos andando em silêncio pela floresta, após dois minutos, minha ficha cai, ele não me respondeu!

–Qual seu nome? –sussurro.

–Não posso falar. –responde, sua voz parecia agoniada.

–Idade? De onde é? Filme preferido?

–O Exorcista. –diz ignorando todas as perguntas anteriores.

–Por que você só anda de casaco e de roupa preta?

–Porque eu preciso.

–Algum problema com o Sol?

Seus lábios se repuxam em um sorrisinho e logo responde brincalhão:

–É no Sol onde mais apareço.

Desisti de fazer perguntas, ele não responderia nenhuma que tivesse haver com sua identidade.

O toque frio de sua mão fazia com que eu ficasse atenta a cada ação sua.

–Você acredita em fantasmas? –pergunta e paro de andar. Vários pensamentos vieram à minha cabeça com essa sua pergunta. A pele fria, sempre vestido de preto, mania de aparecer e desaparecer sem ninguém perceber?

–Você é um fantasma?

–Que? Não! Estou longe de ser fantasma! Estou bem vivo!

–Ah... Desculpa. –minha bochecha queimava de vergonha por ter dito aquilo. –É que você fez essa pergunta e comecei a pensar em várias coisas.

–Eu só queria puxar assunto.

Voltamos a ficar quietos enquanto passávamos pelo lago.

–Milla, você tem medo de mim? –poderia ser uma pergunta simples, mas devido as condições que estávamos, não era lá muito fácil de responder.

–Eu não sei. Devia ter medo?

–Talvez. Estou sozinho com você no meio do mato... –seus dedos se apertam em minha mão e ele me puxa para mais perto.

–Você não teria coragem de me machucar, eu conheço cada canto dessa floresta, conheço todos os esconderijos.

–Eu te acharia de qualquer forma.

Pela lente de seus óculos escuros eu conseguia ver meu reflexo. Meus olhos brilhando, as bochechas vermelhas e os lábios em um sorriso curioso. Bizarro eu estar assim para um desconhecido.

Aproximei-me mais dele, toquei em sua bochecha tentando de alguma forma imaginar como era o resto de seu rosto, ou até mesmo a cor de seus olhos.

Tentei puxar seus óculos, mas ao perceber qual era minha intenção ele segura meus pulsos com força me impedindo de continuar.

–Você não quer fazer isso.

–Eu quero.

–Você não quer saber quem eu sou, pode ter certeza.

–Nem um nome? Apelido?

–Pode me chamar de Shadow.

–Shadow? –você pediu por um apelido, ai está.

Resolvi não fazer mais perguntas e continuamos andando pela floresta, minha casa estava próxima, já dava para ver a fumaça da chaminé surgindo por entre o topo das árvores.

Enquanto caminhávamos, um trovão soou no céu e Shadow murmura um palavrão.

–O que houve?

–Chuva.

–Estamos na estação das chuvas, então é meio óbvio que chova.

–Isso significa falta de Sol.

–Você realmente gosta de Sol, né?

–Como eu disse, é onde eu mais apareço.

Quando chegamos ao portão da minha casa, uma nuvem cobriu o Sol fazendo com que o dia escurecesse.

–Vai vir uma tempestade... –comento me virando para despedir de Shadow, mas ele havia desaparecido.

Novamente ele tinha desaparecido sem que eu percebesse.

Entrei em casa ainda surpresa pelo desaparecimento repentino de Shadow. Como todos os dias, joguei a mochila no sofá da sala e Peter surge correndo pelo corredor.

–Ei baixinho, qual o almoço de hoje? –pergunto bagunçando seus cabelos.

–Acho que pernil.

–Comida de domingo em uma terça-feira? Mamãe está planejando algo.

Seguimos juntos para a cozinha, onde Lynda arrumava a mesa.

–Mãe, qual é a fofoca do dia?

–Por que acha que tem alguma fofoca? –pergunta cínica terminando de por os pratos em seus lugares.

–Porque sim.

–Bem... Eu tenho uma novidade para vocês!

–Papai está voltando? –exclama Peter e suspiro tristemente por sempre escutar essa pergunta e nunca ter uma resposta exata.

–Ainda não... Mas teremos vizinhos!

–Vizinhos? Onde? Em uma casa na árvore? –digo irônica me sentando à mesa.

–Na casa perto do lago.

–A casa que teve cinco assassinatos? Sério que alguém vai se mudar para aquele lixo amaldiçoado?

–Pelo que soube, a família tem muito dinheiro, vão reconstruir toda a casa.

–Qual o nome da família?

–Godfrey.

Parei de cortar o pernil e a encarei. No mesmo momento o rosto de Roman vem à minha cabeça. Seu porte alto, o cabelo penteado para trás, a roupa social que vestia. Ele realmente tinha cara de ser podre de rico.

–Acho que terei companhia para voltar para casa...

Almoçamos em silêncio, cada um imerso em seus próprios pensamentos tentando saber porque uma família rica iria querer uma casa no meio da floresta, e que é considerada amaldiçoada por causa de cinco assassinatos.

Quando terminamos de comer, fui para meu quarto trocar de roupa. Pus uma camisa solta florida e um short cinza, deixando os cabelos soltos. O tempo do lado de fora havia melhorado, continuava escuro por causa das nuvens, mas pelo menos os ventos e os trovejos haviam parado.

Minha cabeça matutava com ideias, eu não devia escutar minha mente, mas quanto mais eu olhava para o caminho que levava ao lago mais curiosa eu ficava. A última vez que fui naquela casa abandonada foi quando Stacy me desafiou a entrar de noite. Isso foi há dois anos. Estava na hora de dar uma visitinha lá novamente.

Peguei meu celular e passei correndo pela sala, avisando para minha mãe que brincava com Peter que eu iria dar uma rápida volta por algumas trilhas.

Antes que ela dissesse alguma coisa, bati a porta de casa e fui andando pelo atalho que levava ao lago.

Enquanto andava comecei a perceber o quão silencioso a mata estava. Não havia nem grilo e nem cigarra fazendo seus barulhos bizarros, os pássaros não cantavam, não havia micos pulando de galho em galho. Tudo silencioso, só dava para ouvir meus passos.

Em somente cinco minutos já avistei o lago, e logo atrás de algumas árvores já dava para ver a antiga feia casa de madeira. Caminhei rente ao lago, a água esverdeada balançando calmamente. No verão eu sempre tive vontade de entrar nesse lago, mas meu pai dizia que o assassino das cinco famílias havia se suicidado ali.

Respirei fundo antes de empurrar a grande porta de madeira levantando uma massa de poeira. Flashes de quando entrei nessa casa pela primeira vez vem à minha mente. Stacy e Nina me assustando prendendo-me no armário que havia em um dos quartos no segundo andar. Meus gritos de quando uma aranha agarrou no meu cabelo. Eu tinha jurado nunca mais voltar aqui, mas aqui estou eu, dois anos depois.

Liguei a lanterna do celular e comecei a andar pela casa escura tentando reprimir a vontade de vomitar por conta do cheiro de mofo.

Enquanto subias as escadas, fui vendo as pichações nas paredes. Símbolos que eu não sabia o que significava, e que realmente nem queria saber, desenhos, nomes e várias outras bizarrices.

No fim da escada já havia uma porta meio aberta. Segurei o celular com mais força em minhas mãos ao entrar no quarto gelado e escuro. Meu coração saltava no peito de nervosismo. A cama de casal estava toda destruída e imaginei quantos adolescentes tarados já não devem ter se deitado nela.

Saí do quarto e entrei em outra sala, dessa vez parecia ser uma biblioteca, várias estantes ocupavam o cômodo e vários livros estavam jogados no chão.

Toquei os livros com a ponta dos dedos vendo a poeira se soltar e aos poucos ir revelando o nome de cada obra. Meus olhos fixos em cada capa para ver se reconhecia ou algum nome ou se achava algum que me interessava. Estava tão atenta em procurar algo para ler que quando o barulho de um copo de vidro se quebrando soou pela biblioteca meu coração dispara de medo. Escuto uma voz masculina xingando várias vezes por ter quebrado algo. Tento me esconder por entre as estantes e desligo a luz do celular.

Consigo escutar som de passos pelo corredor e me encolho fechando os olhos, porque alguém estaria aqui nessa casa a essa hora? Quem gastaria tempo andando desde a estrada até aqui para entrar nessa casa?

Movi a cabeça de leve para tentar ver quem era que estava ali atrapalhando minha invasão, mas a única coisa que pude ver foi as costas da pessoa, era um homem, isso dava para perceber. Voltei lentamente para o lugar que estava, mas infelizmente meu celular escapa do bolso e cai no chão, logo rachando a tela. Solto um grunhido revoltado e rapidamente tampo minha boca assustada.

–Tem alguém ai? –o homem chama e me encolho esticando o braço para conseguir pegar meu celular, mas antes que eu alcançasse, alguém o pega e o segura me forçando assim a erguer a cabeça.

–Oi... –murmuro mordendo o lábio. Eu não conseguia ver o rosto da pessoa, ele estava atrás de uma estante, e só seu braço que segurava o celular aparecia.

–Sabe que isso é invasão de domicilio, né? Essa propriedade é particular dos Godfrey. –diz duramente e sai de trás da estante.

Meu coração para de bater por alguns segundos ao constatar quem é a pessoa que estava ali comigo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, nao esqueçam de comentar!