O Clã de Descendentes - A Ascensão da Magia escrita por Isaque Arêas


Capítulo 4
A Reunião das Fadas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/640569/chapter/4

Um piscar de olhos.

Essa havia sido a duração daquela viagem.

Em um momento Amanda estava no estacionamento e no outro estava em uma floresta calorosa e aconchegante. A fada que a acompanhava, porém, desaparecera e ela se via sozinha na imensidão verde. Procurava pela fada com seu olhar, mas não encontrava nenhum indício. Decidiu dar alguns passos, mas tinha medo de se afastar do lugar onde estava, afinal, se aparecera ali havia alguma razão em tudo. Procurou manter a calma e gritar pela companhia:

— Alô?! Tem alguém aí?! Eu vim para cá com uma fada... Ela estava vestida de verde...

Sem sucesso. Amanda então viu um tronco caído no qual resolveu se sentar enquanto esperava pela fada ou por qualquer pessoa que pudesse levá-la dali.

Alguns segundos após ela ter se sentado surge um clarão no mesmo local em que ela estava. Do clarão surgira um homem vestido em um roupão e ao redor dele apenas o brilho que ela reparara também na fada. Bernardo havia chegado. Sentiu o ar úmido da floresta entrando em seus pulmões e ao correr os olhos pela paisagem percebeu que a mulher sentada no tronco caído olhava para ele.

— Você... Você é uma fada?

— Bem, não... Minhas roupas não são bem “de fada”... — A menina ainda trajava as roupas que usara no show, uma roupa que parecia um collant brilhante com algumas pedrarias incrustadas, um decote ousado e botas compridas com saltos bem finos – E nem você pelo visto... — disse Amanda correndo os olhos pelo corpo do rapaz que encabulado voltou a ajeitar o roupão.

— Eu fui trazido pra cá por uma... Achei que você poderia saber do que se trata...

— Eu também! Meu nome é Amanda, acho que temos algo em comum afinal.

— Prazer, sou Bernardo. Já tentou procurar por alguém?

— Chamei há alguns segundos atrás, mas ninguém respondeu. Eu até tentei pensar em algo pra fazer, mas... Droga, eu estou em uma floresta! Eu estava em Londres ontem... O que diabos eu estou fazendo numa floresta?!

Bernardo se sentou ao lado dela e os dois pararam por um segundo para respirar.

— O que vamos fazer? — disse Bernardo olhando para Amanda que continuou encarando o ar.

“Nossa! Não param de falar!”

A voz veio de longe, mas ao mesmo tempo era presente no ambiente. E como num piscar de olhos se materializou em uma fada diante dos olhos dos dois.

— Que Zeus me perdoe, mas tiramos vocês daquele caos em que a Terra se transformou e ainda continuam reclamando... “Ah o que faremos? Que faremos?!” Apenas aproveitem o clima da floresta. São nossos convidados.

A fada que surgira vestia o mesmo vestido que a fada verde que atendera Amanda, porém na cor azul. Era mais baixa que ela e tinha uma atitude forte perceptível pelo seu tom de voz.

— Ah Primavera, tenha calma, eles não estão acostumados conosco – disse então uma fada de trajes semelhantes aos da outra, porém vermelhos que pareceu surgir do nada também — imagine você: cem anos sem magia na Terra! Até eu me sinto chocada só de pensar!

— Ah, como se cem anos fossem grandes coisas! Eu estou viva a bem mais de cem anos e não sinto diferença alguma! – retrucou irritada a fada – São eles que amam reclamar! Até parece que nunca viu um humano.

— Caladas as duas! Vamos recepcionar bem os nossos convidados por favor! – disse a fada que atendera Bernardo há poucos minutos no quarto do hotel e mais uma vez aparecera de repente.

Bernardo e Amanda só conseguiam ficar quietos em meio a discussão das fadas até que Amanda sentiu algo remexendo seus cabelos e de repente uma fada de vestido semelhante ao das que trajavam vermelho e azul saiu de seu cabelo. Estava em tamanho reduzido e então finalmente os dois entenderam porque todas apareciam repentinamente.

— Não se preocupem meninos, elas são tontas! — disse a fada verde rindo.

— Tontas uma ova! — disse Primavera afrontando a pequenina fada verde.

— Quietas! Vamos nos apresentar antes que a Fada Azul chegue. Imagina se ela pergunta a eles se os tratamos bem e eles respondam que não?! — disse a Fada Madrinha tentando pôr as coisas em ordem — Eu começo. Me chamo Madrinha, Bernardo já está apresentado, mas ainda não conhecia a bela dama, Amanda não é?!

Amanda balançou a cabeça como se dissesse sim.

— Eu me chamo Flora — disse a fada de vestido vermelho — Estas são Fauna — disse apontando para a fada que vestia verde — e Primavera — disse por fim apontando para a fada emburrada de vestido azul.

Agora Amanda podia ver a fada verde que a trouxera. Parecia idosa, assim como Flora, Primavera e Madrinha. Todas tinham os cabelos já grisalhos com exceção de Primavera que mantinha seus cabelos negros. Tinham feições amigáveis e olhares bondosos.

— Parece que já vem chegando! Vamos arrumar o salão! — disse Fauna empolgada.

Todas estenderam as varinhas e o que se viu foi puramente mágico. O chão coberto de grama se transformara diante dos seus olhos em um pátio de mármore fino e brilhante. As árvores pareciam ganhar vida e entrelaçavam seus galhos formando um teto belíssimo por onde uma luz dourada passava em feixes. As pedras cobertas de musgos adquiriam formas de arquibancadas ao norte do pátio e ao sul surgiu um palanque. Nele uma mesa de madeira com uma grande cadeira enfeitada com joias azuis apareceu magicamente. Abaixo do palanque surgiram duas cadeiras também de madeira, mais simples, porém muito graciosas.

Tudo era tão sincronizado e encantador. Os olhos dos dois humanos ali presentes brilhavam diante das maravilhas da magia. As fadas se movimentavam como se estivessem em um balé fantástico. Cada movimento fazia surgir um elemento mais belo que o outro.

Quando Flora dançava rosas desabrochavam. A cada passo de Fauna os pássaros e esquilos apareciam para ajudar a limpar o salão. Os movimentos de Primavera faziam com que o ar se enchesse com perfume de diferentes flores e a maestria de Madrinha com a varinha tornava a decoração do ambiente cada vez mais harmoniosa. Ao fim da melodia as fadas se posicionaram ao lado do trono com joias e fizeram sinal para que os dois jovens se sentassem nas cadeiras mais simples frente ao trono.

Ambos se levantaram do tronco de onde assistiam e só então Madrinha percebeu que ainda trajavam as roupas humanas e impróprias para a ocasião. Fechando um dos olhos como se calculasse a trajetória que seu feitiço alcançaria, a fada lança um jato de energia em Bernardo e em Amanda que transforma suas roupas enquanto os mesmos ainda andavam. Bernardo agora vestia uma farda branca e dourada reaproveitada do roupão e Amanda um vestido azul escuro e cravejado de brilho reaproveitado do collant preto. Primavera olhou para Madrinha com gosto por conta da cor azul escolhida e silenciosamente a aplaudiu no que a fada levemente reverenciou em agradecimento à atitude.

Então no ar se ouviu o som do bater de asas que ia crescendo a cada segundo. De repente de todas as regiões era possível ouvir e perceber as mais diversas fadas chegando. Uma a uma com suas asas lindamente desenhadas. Algumas com roupas que pareciam feitas de flores e folhas e outras com vestidos impecáveis. Todas surgiam pelo ar e tomavam um lugar na arquibancada de pedra. Amanda olhou para trás e viu diversas delas cochichando e olhando para os dois como se fossem novidade.

— Estão falando sobre nós... — Sussurrou para Bernardo que apenas consentiu com a cabeça.

Quando a arquibancada já estava repleta uma luz azul se fez presente no meio do salão. Era uma luz gloriosa e tão forte que apagava o brilho dourado do sol que passava pelas árvores. O ambiente inteiro ganhou um tom azulado e daquele brilho surgiu uma figura loira, alta e de uma beleza inigualável vestindo um longo vestido azul, em um tom mais claro que o de Primavera, com uma capa também azul transparente e uma linda tiara prateada. Era a Fada Azul a quem Madrinha havia se referido anteriormente. A bela fada desfilou pelo salão andando em direção ao trono. Parou de frente aos dois humanos e fez um sinal para que as demais fadas se sentassem.

— Amanda Alexandra e Bernardo D’Orleans, ambos estão aqui presentes nesta solene e extraordinária reunião com o objetivo de nos esclarecer a cerca de algumas dúvidas. — Após dizer isso se sentou — Creio que as fadas que os acompanharam não explicaram do que se trata, eu as proibi de tal ato, pois queria eu mesma saber de vocês o que está havendo com seu mundo.

Fez-se um silêncio estranho na sala. A Fada Azul olhava para eles como se esperasse uma resposta. Bernardo e Amanda se entreolharam.

— Vossa... Alteza... Perdoe-me, mas não entendi a vossa pergunta... — disse Amanda usando a pouca linguística culta que possuía.

— Ora, é visto que seu mundo deixou de receber ajuda e visita das fadas ao longo dos tempos. O que desejo saber é o porquê.

— Nós... Receamos não saber responder a essa pergunta Alteza — disse Bernardo.

— Não sabem?! — disse a Fada Azul muito indignada e as fadas ao redor repetiram a sua feição — Santa Athena me dê sabedoria nesse momento! Será possível que não saibam tanto quanto nós?

— Perdão senhora, mas nem sabíamos da existência de fadas há poucos minutos... — retrucou Bernardo.

Aquela fala ofendera bastante os seres que ali se encontravam, algumas fadas mais sensíveis inclusive choraram.

— Será possível que o bloqueio ao seu mundo prevaleceu tão forte assim?! — disse a Fada Azul agora preocupada — Já que não sabem, acho que cabe a mim explicar o pouco que sei.

A Fada se levantou e começou a andar pelo salão, estava de fato preocupada.

— Humanos e fadas sempre tiveram relacionamentos bem estreitos de fato, ao longo do tempo os humanos se tornaram menos sensíveis à nossa presença. Tornaram-se muito racionais, mas isso não impediu que agíssemos. Há cerca de cem anos um bloqueio entre nosso mundo e o seu mundo surgiu. Nenhuma fada conseguiu ir até a Terra e as fadas que por lá permaneceram... — A fada abaixou a cabeça — Bem... Enfim, acreditei que vocês romperiam esse bloqueio um dia e que assim poderíamos voltar, mas nem mesmo se lembram de nós.

Amanda e Bernardo se sentiram culpados, mesmo sabendo que não tinham culpa do acontecido.

— Em nosso mundo temos vocês como lendas... Contos... — respondeu Amanda.

— Isso é um absurdo sem tamanho! Foram apenas cem anos! O interessante é que algumas perguntas também surgem ao pensar essa história... — a fada fez uma expressão de pensamento – Quem haveria de colocar tal bloqueio aos nossos mundos? Quem com tamanho poder poderia fazer isso?

— Malévola, com certeza! – disse Primavera para Flora resmungando e recebeu uma leve cotovelada da amiga.

Bernardo levantou a mão. As fadas se entreolharam sem saber o que ele queria dizer com aquilo. Envergonhado, ele achou que deveria falar e abaixou a mão.

— Desculpem, acho que não condiz muito com o assunto, mas podem nos dizer o porquê de estarmos aqui? De verdade, eu ainda não entendi... Não somos tão importantes assim em nosso mundo, talvez devessem falar com nossos presidentes, ou com a rainha...

Madrinha deu um leve tapa em sua testa. Azul notou que eles realmente não sabiam quem eram.

— Meu jovem, não pense que sua sede por desafios vem do além, não, não. Não pense que sua carteira cai de seu bolso à toa, que você vive perdendo suas chaves de casa por coincidência ou até mesmo que seu gosto por leitura é apenas parte de seus gostos pessoais. Oh não! E você senhorita, não ache que vive tendo noites de insônia por acaso ou que sabe cantar apenas por dom da natureza, pois nem mesmo seus olhos escondem quem você é.

Os jovens estavam confusos, mas mantinham seus olhares fitos na Fada Azul, afinal, ela revelara detalhes preciosos de suas vidas.

— Bernardo, segundo a Fada Madrinha, você está na linhagem de Cinderela e Kit Charmant. Já Amanda, você se encontra, de acordo com as Três Boas Fadas, na linhagem de Aurora e Felipe D’Rose.

O choque foi tão grande que os dois começaram a rir ao saber da notícia.

— Então a senhora está dizendo que eu sou tipo um tataratataratataraneto da Cinderela? A Cinderela das irmãs feias? Dos Irmãos Grimm? Eu nem sei se ela é um conto dos Irmãos Grimm... — Ria Bernardo já chorando.

— E eu não devia sentir sono pra caramba?! Qual é, sou tataratataraneta da Bela Adormecida! — Ria Amanda sarcástica.

As fadas, porém permaneceram sérias e se sentiram um pouco ofendidas por tamanha dúvida vinda dos dois.

— Isso não é só verdade como as suas fadas aqui — apontou para as quatro fadas presentes — não teriam conseguido contatar vocês. Elas são fadas cuidadoras. Estão destinadas a cuidar de humanos. Uma vez que uma fada se envolve com um ser humano, estabelece com ele um elo que perdura as gerações. A Fada Madrinha esteve ao lado de Cinderela por toda a sua vida e com seus descendentes, assim como As Três Boas Fadas com os descendentes de Aurora, podem permanecer incrédulos, mas não acreditavam em nós há minutos atrás e cá estamos! — Disse a Fada Azul bem ríspida e até mesmo um pouco agressiva. Percebendo sua agressividade e que a mesma afetara os convidados que agora se encontravam bastante culpados, a bela fada decidiu não prolongar a reunião — Bem, acho que é melhor que vocês tirem esse momento para estar próximos a nós... Talvez com o maior contato consigam entender quem somos e quem vocês são. Não se preocupem com a banalidade de seu mundo... O tempo aqui não corre como lá.

Dito isso se retirou. Todas as fadas voaram para longe restando apenas as quatro fadas originais no salão.

— Acho que a ofendemos — sussurrou Amanda para Bernardo.

— Não se aflija querida, é muito duro saber que esqueceram de nós quando durante esses cem anos cada uma de nós não parava de pensar em vocês — disse Flora consolando Amanda.

— Andem conosco durante esses dias, tenho certeza de que tudo há de se explicar com o decorrer do tempo. — disse a Fada Madrinha, fazendo um gesto para que toda a construção mágica que fizeram momentos atrás ruísse ao que era antes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Clã de Descendentes - A Ascensão da Magia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.