O Clã de Descendentes - A Ascensão da Magia escrita por Isaque Arêas


Capítulo 5
Histórias Passadas




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Andaram por algumas clareiras até chegar à casa das Boas Fadas. Enquanto andavam viam alguns animais que só existiam ali. Borboletas com asas muito vibrantes e coloridas, sapos igualmente coloridos, coelhos e cervos maiores do que os que haviam na Terra. Os pássaros pareciam seguir as fadas. Por onde elas passavam apareciam diversas espécies de pássaros coloridos cantando melodias alegres.

Durante a caminhada Primavera explicava os pontos por onde passavam, coisas como “Esta é a rocha onde tomei meu primeiro tropeço! Raios! Como doeu! Ainda não tinha asas naquela época” e “Neste tronco foi onde encontrei com Flora quando estávamos fugindo de uma leoa... Que desafios vivemos!”. Ela também explicou que as três ganharam o título de “Três Boas Fadas” por conta de um salvamento que fizeram à mãe de Aurora. A princesa na época precisava se casar e em seu reino aparecera um jovem rico que precisava de alguém para fiar seu linho. O pai empolgado fez negócios com o jovem Estevão. Sua filha fiaria o linho e em troca ele se casaria com ela, o Rei havia se endividado bastante e o jovem seria a salvação de seu reino. O homem então trouxe enormes montes de linho. A jovem então chorou muito, pois era demais para que ela pudesse terminar a tempo. Então as três fadas se encarregaram de ajudá-la e em um piscar de olhos o serviço havia terminado. As três salvaram o reino e assim começaram a servir a família de Aurora.

Ao fim da história, que agradou muito aos dois jovens, haviam chegado há uma grande árvore com uma porta encravada em seu tronco. Madrinha balançou sua varinha e em um passe de mágica a porta se abriu. Entraram de um em um na cabana natural.

Por dentro a árvore era bem mais espaçosa do que aparentava. Havia quatro andares. No térreo havia uma sala redonda com algumas cadeiras de balanço, cestos e fios de lã espalhados. Havia também um fogão à lenha e uma pia natural que gotejava. Ao lado das poltronas havia duas estantes e algumas prateleiras, todas repletas de livros e potes de vidro muito bonitos. Nas paredes se encontravam pendurados quadros, pinturas e até mesmo ervas amarradas. Os andares superiores tinham um buraco no chão por onde passava uma longa escada caracol que terminava no meio da sala do térreo.

No segundo andar havia três camas que os jovens entenderam ser das três fadas — Flora, Fauna e Primavera. Eram cobertas com mantas azul, vermelha e verde respectivamente. No terceiro andar havia apenas uma cama, pois era um andar menor tendo em vista que a árvore ia se afunilando à medida que subia-se as escadas. A cama tinha um tecido cintilante como cristal e além disso havia um guarda-roupa esculpido na madeira da árvore.

O quarto andar era um terraço onde havia uma luneta e um caldeirão onde as fadas geralmente preparavam pó mágico e por onde exploravam o céu e a floresta. O conjunto que formava a casa na árvore era bem aconchegante. Tão aconchegante que Amanda e Bernardo se lembraram que com toda a loucura que havia sido a noite anterior não haviam dormido ainda. As fadas perceberam isso e ofereceram suas camas para que eles pudessem se deitar e descansar.

Quando acordaram as fadas estavam sentadas na sala de estar tomando chá.

— Ah! Acordaram! Achei que deveria chamar um príncipe para beijá-los! — disse Fauna.

Riram-se as idosas.

— Isso... Não foi um sonho... — disse Bernardo passando a mão no seu rosto como se tentasse acordar.

— Você tirou as palavras da minha boca... A gente está mesmo aqui! Isso tudo aconteceu de verdade! — retrucou Amanda ajeitando seus cabelos.

— Ora, já superamos essa bobagem. Somos reais. Vocês são reais. Esses bolinhos são reais. Agora comam, antes que esfriem. — disse Flora levitando a bandeja e servindo aos dois.

— E se sentem, temos muito o que falar! — disse Madrinha levitando um par de banquinhos que os pegaram de surpresa pelas costas e os fizeram instantaneamente se sentar.

— Bem, por onde começar? — disse Fauna animada.

— Vocês tem alguma pergunta? — Amanda e Bernardo ameaçaram falar, mas antes que pudessem começar a fada prosseguiu — que não seja sobre “O que estamos fazendo aqui?” e toda aquela baboseira tediosa. — os dois se encolheram.

— Bem, eu tenho uma pergunta! — disse Amanda — Desde o início vocês dizem que nós não sabemos quem somos, talvez seja interessante a explicação... Tudo o que eu me lembro é da Fada Azul dizendo que somos descendentes de Aurora e Cinderela... Isso é tão absurdo pra nós, nem posso acreditar que disse isso em voz alta!

— Acho que devo explicar — disse Flora tomando posição na mesa — Vocês conhecem a história de Aurora não é mesmo? Pobrezinha, amaldiçoada por Malévola acabou dormindo por conta de uma bondade de Primavera — Primavera se ajeitou na cadeira toda orgulhosa — ela e Felipe tiveram um filho algum tempo depois, e viveram felizes até que os descendentes de Aurora tiveram o reino tomado por Guilherme II, um duque na época, mas depois foi coroado rei.

— Ele nunca me desceu. Nunca me enganou. — desdenhou Primavera.

— Bobagem, você dizia que ele era lindo. — rebateu Flora.

— Bonitinho, mas ordinário. — disse Primavera cruzando os braços.

— Então os descendentes de Aurora foram se espalhando pelo mundo, o que nos leva a você minha querida. Em seu sangue corre a descendência de Aurora e de sua mãe, a quem nós três devemos lealdade. — continuou Fauna complementando as amigas.

— Não deveria ter outros? Há outros? Eu tenho uma irmã...

— Sim, o que acontece meu bem é que os primogênitos estão destinados a receber não só o trono, mas a magia a nós oferecida. Vivemos pra servir um ramo da árvore genealógica dela, não a todos. — explicou Flora.

— Até porque somos apenas três... — disse Fauna sentida.

— Ah sim, bem interessante na verdade... — disse Amanda mexendo ainda no cabelo deixando aparecer as duas mechas coloridas que ostentava.

— Ah, destino! Decidiu brincar conosco! — riu ironicamente Primavera cutucando Flora.

— O que foi? — perguntou Flora.

— Olhe o cabelo dela! Ela é mesmo parente de você sabe quem!

Amanda não entendeu muito bem o que falavam e isso era refletido em suas expressões faciais.

— Ah querida, a boba da Primavera está se referindo ao seu cabelo... As partes coloridas dele.

— Entendi... Eu pintei há algum tempo, amo muito as duas cores.

— Aurora também. Antes de ela adormecer nós fizemos para ela um vestido rosa que...

— Que era melhor azul — interrompeu Primavera.

— Não vem ao caso não é mesmo? — disse Fauna cortando uma possível briga entre as duas.

— Sabe, eu não acredito em coincidências — disse Amanda — talvez, se vocês falam que ela gostava das cores, isso esteja mesmo no meu sangue... Talvez seja parte de quem eu sou. Nunca entendi porque gosto tanto dessas cores, elas me lembram algo, falam comigo desde a infância.

— A magia é inexplicável querida, há mais traços de seus antepassados em você do que pode admitir. — adicionou Madrinha — Posso contar a história de Bernardo? Ou melhor... Do passado dele? Por favor, me deixem!

Bernardo se ajeitou na cadeira e cruzou os braços, não estava tão crente quanto Amanda de que aquelas histórias eram verdade.

— Ah conte! Eu amo a história de Cinderela e sua família! É tão emocionante! — disse Fauna batendo palmas — E triste também — acrescentou contida.

— Pois bem, depois que Cinderela e Kit se casaram a sua madrasta, aquela imunda Lady Tremaine roubou minha varinha. Víbora! Ela tentou destruir o passado de Cinderela, mas não teve sucesso. Cinderela sempre foi uma moça muito valente ainda que gentil e bondosa. Quando percebeu que não conseguiria vencer a enteada, Lady Tremaine avançou no tempo e jogou uma maldição sobre o filho dela. Uma maldição que o deixou irreconhecível e me impediu de vê-lo e ajudá-lo, tal qual a maldição de Malévola, ele estaria condenado caso não fosse amado. Quando soube do que ela fez eu pranteei por semanas. De volta ao tempo em que eu estava com Cinderela, o povo tirou o pai de Kit do poder e o prendeu. Cinderela e Kit se refugiaram em um palácio de veraneio no interior onde tiveram seu filho... — a face de Madrinha mudou de tom — Pobre menina, não resistiu ao parto e morreu ali mesmo. Kit nunca perdoou o bebê, por mais que eu tentasse dizer que não era culpa do filho, ele estava determinado em culpá-lo. O bebê cresceu e se tornou tão grosseiro por conta do descaso do pai que eu mesma não consegui educá-lo bem ou colocar alguma bondade e amor em seu coração. Kit fugiu do palácio uma vez e nunca mais retornou. A criança foi deixada com os criados do castelo e comigo. Quando ele completou dez anos, eu havia perdido minha varinha em algum lugar, vim então até a Terra do Nunca procurá-la. Quando retornei o menino havia se transformado em um monstro e então descobri o que Tremaine havia feito com minha varinha. Aquela cobra peçonhenta! — nesse momento Flora abraçou a amiga que se sentia muito irritada ao lembrar de Lady Tremaine — Não havia nada que eu pudesse fazer pelo menino, foi aí que decidi, assim como Primavera, amenizar a situação. Dei a ele uma rosa que floresceria até seu 21º aniversário e se alguém o amasse por quem ele era, esse feitiço odioso seria quebrado. Como a maldição impedia interferência mágica eu precisei me afastar dele, mas deixei com ele um espelho, quem sabe assim ele me veria de longe e até mesmo o mundo...

Madrinha começou a chorar. As lembranças a afetavam muito. Fauna trouxe um pequeno lenço para que ela enxugasse os olhos. Amanda também começava a lacrimejar.

— Eu tentei procurar por Kit, mas ele havia realmente desaparecido. Eu estava ligada ao sangue de Cinderela, não o dele, acreditava que se ele voltasse poderia amar o jovem. Mas graças aos deuses apareceu uma menina que se apaixonou por ele. A Bela foi uma das minhas grandes alegrias dessa vida. E depois que ela quebrou o feitiço sobre o Adam eu pude retornar e viver com eles. O tempo se passou e eles tiveram filhos, seus filhos tiveram filhos, até que há cem anos atrás de repente eu não conseguia mais encontrá-los. — Madrinha colocou as mãos no rosto.

— Nós sabemos querida, acalme-se — disse Flora consolando a amiga — foi horrível. Imaginem uma imensidão de fadas querendo voar até a Terra sem conseguir e pior, os humanos não estavam nos chamando... Foi terrível! Era como se uma barreira tivesse se levantado entre a Terra e a Terra do Nunca. Não ouvíamos e nem sentíamos mais nada!

— Por isso vocês estão aqui... São os únicos que ainda tem algum contato com fadas em todo o mundo — exclamou Madrinha secando as lágrimas — vocês são a última chance que temos de descobrir o que aconteceu.

Bernardo apoiou os braços na mesa, estava balançado com a história, mas ainda não sentia o peso de responsabilidade que tinha.

— Por que precisam descobrir o que houve? A barreira já não caiu? — perguntou o jovem.

— Bernardo, sabe o que as histórias, de Aurora, de Cinderela, de Adam, nos mostram? Você pode não perceber, talvez ainda seja incrédulo demais, mas após uma mostra de magia que impede que as fadas interfiram ocorre uma maldição. A magia sempre vem com um preço e as maldições sempre nos alcançam. — A expressão da Fada Madrinha estava obscura — Quem quer que tenha começado o bloqueio, seja lá qual ser tenha feito isso, é tão poderoso que queiram os deuses que não seja nada demais, porque do contrário há de cair uma maldição tão grande sobre a Terra que temo que nem todas as fadas da Terra do Nunca no auge de seu poder possam salvá-la.

Fez-se um silêncio pesado na sala. Bernardo sentiu um arrepio em sua espinha. As fadas estavam abatidas.

— Precisaremos de toda ajuda possível Bernardo... — disse Fauna cortando o silêncio — de seres mágicos, de humanos, de deuses, de todos... Maldições são muito difíceis de quebrar, elas sempre custam caro.

— Não podemos simplesmente voltar cem anos atrás e tentar descobrir? — disse olhando para a Fada Madrinha — Assim como Lady Tremaine?

— Não, nem pense em dizer uma coisa dessas! É perigoso voltar atrás! Ainda mais com um evento mágico acontecendo... Podemos alterar pra sempre o rumo da história e pra pior! Precisamos quebrar essa maldição com o que temos — respondeu a Fada Madrinha.

— Fadas, eu tenho mais uma pergunta... — disse Amanda, colocando sua xícara de chá na mesa — Eu ando tendo um sonho estranho... Já tem algum tempo, talvez vocês saibam interpretar.

As fadas se inclinaram à mesa, seres mágicos amam interpretar sonhos.

— No sonho eu estou em uma rua deserta, não sei bem onde, mas sei que os prédios estavam vazios em volta. De um lado da rua há uma espada e eu tento alcançá-la, mas quando começo a andar na direção da espada é como se algo me puxasse para trás. Quando eu olho pra trás vejo uma imensidão de lobos, tigres e outros animais correndo na minha direção. Há uma semana o sonho parava por aí, mas essa semana eu finalmente alcancei a espada, mas assim que eu a tocava o sonho acabava.

As fadas se entreolharam confusas.

— Não vou negar, sonhos de perseguição não querem dizer coisas boas... Há quanto tempo vem tendo o sonho? — perguntou Flora.

— Há algum tempo... Não me lembro desde quando, mas sei que não consigo dormir direito depois disso... É bastante estranho. Ah espera, foi depois que eu gravei a última música no estúdio. Isso dá... — Amanda fechou os olhos e fez as contas, riu consigo — cem dias... — disse ainda rindo incrédula e olhou para Bernardo — É inacreditável como essas coisas acontecem...

— Receio termos que relatar à Fada Azul tudo que você nos disse. Será bom agora que vocês já sabem quem realmente são. Vamos, não há tempo a perder. — disse Flora já encantando a louça para que se lavasse sozinha.

Assim as fadas e os dois jovens confusos saíram floresta a fora em busca da Fada Azul.


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