O Clã de Descendentes - A Ascensão da Magia escrita por Isaque Arêas


Capítulo 2
Uma vez num show




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As luzes, ah, as luzes. O emaranhado de cores pulsantes. Intensas. Quentes. Aquecia a multidão que a cada flash de luz ia à loucura. O êxtase ao ouvir o som que começava. As caixas intensas fazendo com que os corpos vibrassem juntamente. As peles em chamas se arrepiando com a cada vez mais próxima apresentação. As luzes se apagam e ao fundo do palco é possível ouvir um grito que dizia “Vocês estão prontos?!”. A multidão delira.

O telão atrás do palco se abre revelando uma silhueta feminina com cabelos esvoaçantes. E como uma bomba de pura energia ela desfila e dança pelo palco junto com uma equipe de dançarinos que quase não se podem notar diante de sua presença. A performance atinge seu clímax com diversas acrobacias e a voz, que voz! A voz de um anjo que mesmo com tantos passos e movimentos não desafina em momento algum. Assim se segue todo o show que tem cerca de três horas de duração.

Ao fim do show Amanda desce do palco, passa por um longo corredor repleto de pessoas que a cumprimentam após o sucesso que havia sido a apresentação. Na porta do seu camarim há diversas flores e cartas que ela não olha no momento, mas pede para que os rapazes da equipe guardem e levem para o ônibus. Estava morrendo de sede. Entra no seu camarim e acende as luzes, abre o frigobar, pega um energético e já se joga no sofá. Esfrega os olhos e põe os pés pra cima. Já não dorme direito há tanto tempo, só dormia após algumas doses de vodca, certamente aquilo a apagava, mas já havia incontáveis noites que vinha tendo o mesmo sonho de perseguição em que acordava exausta e ofegante.

Amanda se levanta e vai até o espelho, precisava estar recomposta para os autógrafos. A maquiadora entra no camarim e começa mais um trabalho de retoque. A garota joga os cabelos desgrenhados para o lado exibindo seu undercut rebelde à direita e se levanta pronta para a próxima rodada.

Do lado de fora os fãs estão atônitos. Gritam, chamam por ela, cantam suas músicas e ela sorri em retribuição erguendo as mãos com o símbolo de paz invertido que formava um “A”, típico de seu fã-clube. Se senta numa pequena mesa rodeada de seguranças. Pega uma foto, “Com amor, A.A.”, pega outra foto “Não desista de sonhar, A.A.” e assim se segue uma interminável produção que só parou por volta do centésimo autógrafo e nem pergunte das incontáveis selfies tiradas com milhares de fãs.

Amanda se levanta para a tristeza de alguns fãs que não conseguiram o tão sonhado autógrafo e com mais um gesto de paz invertido retorna ao camarim para se jogar mais uma vez no sofá. Teria paz e tranquilidade mais uma vez não fosse por Erica, sua amiga que entra no camarim e bate a porta com força.

–- Ai o que foi agora? – diz Amanda irritadiça.

–- Nada amiga, só vim ver como você estava. Está cada vez mais metida. – responde Erica se jogando numa poltrona vermelha ao lado do sofá.

–- Eu só estou morta! Cansada demais.

–- Ainda não conseguiu dormir? Já falei pra você tomar um calmante.

–- Como se essa droga funcionasse. Meu calmante é outro. – disse Amanda erguendo uma garrafa de vodca que se encontrava na mesinha ao lado do sofá.

As duas riram.

–- Sabe quem está lá fora? – disse Erica animada.

–- Quem?

–- Will.

–- Que Will?

–- O Will.

–- Ah, fala sério.

–- Olha, você disse que daria uma chance pra ele. Não vai fazer isso agora.

–- Eu não disse nada, você inventa as coisas na sua cabeça e depois diz que eu falei. E agora o que eu faço?

–- Ah cara, ele é gato, vai logo lá e quem sabe assim você não dorme? – disse Erica levantando as sobrancelhas.

–- Você está muito safada. Eu não quero nada com ele, não vivo de flashbacks.

–- Tudo bem, eu dispenso ele por você, mas depois não diga que eu não avisei, quando ele estiver ganhando uma fortuna posando para a Calvin Klein ou fazendo a propaganda do Hugo Boss.

Erica se levanta e sai deixando a amiga jogada no sofá pensando no que fazer. Amanda sentia que precisava ponderar sobre William. William foi o último ex-namorado de Amanda. Bonito, jovem, elegante. Sonho de consumo de muitas garotas inglesas, mas não deu certo. Amanda já havia andado com a vida, mas Erica insistia para que reatassem, a verdade é que acabara fazendo amizade com ambos e agora o “trio” estava desfeito.

Erica era uma amiga da faculdade de Amanda e as duas tinham um laço fortíssimo, quase como irmãs não fosse a aparência em que diferiam muito. Erica era mais alta e tinha os cabelos negros, sua pele era morena típica da Índia de onde vinham seus descendentes e seus olhos castanhos. Vivia no celular, amava fazer compras e trabalhava como design de interiores para o desgosto de seus pais que queriam que ela se tornasse médica. A mente de Amanda já divagava do assunto, estava com muito sono e precisava aproveitar o momento para descansar após o longo show. Se deitou no sofá, fechou os olhos e após alguns minutos percebe que ainda não dormiu. “Nem mesmo um cochilo?!” pensou consigo. Ela então se levanta e vai até o espelho.

Amanda ri de sua aparência. A maquiagem havia se transformado em uma pintura digna de Dalí por conta do suor. Remove parte dela e em seguida escorre sua mão por seus longos cabelos castanhos que estavam repletos de fixador. Fazia tempos em que não reparava em si mesma, a turnê não parava há meses e ela não tinha muito tempo para sua vida pessoal. Observou seus cabelos, sua textura, até mesmo as pontas mais claras loiras que pendiam sobre ele e as mechas rosa e azul que davam estilo e personalidade à sua franja. Seus olhos violetas cintilavam com a luz dourada que saltava do espelho. Era formosa como poucas meninas, mas não sabia disso, achava sua beleza muito comum inclusive.

Algo, porém, chamou mais sua atenção do que seus olhos ou seus cabelos. Era uma luz, mais como um brilho fraco de cor esverdeada no fundo da sala. Amanda se virou rapidamente para ver do que se tratava, mas ele não estava no camarim, se apresentava apenas no espelho. Esfregou os olhos mais uma vez e o brilho havia desaparecido.

Decidiu se levantar e caminhar até o ônibus em que estava sua equipe para que pudesse ler as cartas e rir um pouco. Saiu do camarim e enquanto trancava a porta uma sombra se projeta na mesma fazendo com que a menina se vire e encare William a pouquíssimos centímetros dela.

–- Will... Que susto! – disse Amanda ainda ofegante.

–- Eu precisava te ver.

–- Ah sim – Na mente de Amanda ela sorriu, mas ao vivo era algo que parecia mais um sorriso bem desconfortável.

–- A Erica me disse que você repensou.

–- A Erica ficou maluca, eu não repensei nada.

Will sorriu com a possibilidade que surgia, mas que se apagava com a seguinte frase da menina.

–- Não saímos de onde paramos. – Completou Amanda.

–- Ah cara, qual é?! O que eu tenho que fazer pra gente voltar?!

–- William eu estou muito cansada, eu não durmo direito há eras, estou competindo com a lua pra ver quem fica mais acesa à noite. Não quero discutir isso agora. – Retrucou Amanda num tom mais ríspido que chamou a atenção de um dos seguranças que passava, mas que com um sinal ela o dispensou.

–- Amanda, eu sei que eu errei e feio com você, mas acredita em mim eu não vou te fazer sofrer de novo.

–- Sofrer mais do que eu já sofri com você é uma tarefa difícil mesmo... – respondeu a menina entre os dentes.

–- O que?

–- Nada. Só me deixa ir Will e eu te juro, foco no juro, que a gente conversa amanhã.

–- Não, a gente precisa resolver isso agora, eu só tenho mais essa noite na cidade...

–- Olha aí o destino resolvendo pela gente! – disse a garota se livrando dos braços de William e andando em direção ao ônibus. – Acho que você deveria aproveitar essa chance de ser feliz sozinho.

William correu para perto dela e começou a caminhar ao seu lado.

–- Você acha isso engraçado, acha que me ver sofrendo é hilário.

–- Nossa, você ficou dramático depois desses meses.

–- Mas é verdade e mais verdade é que você não consegue me esquecer.

–- Meu sistema solar tem nove planetas William e se tem um sol nele se chama Amanda. Nenhum dos nove giram em torno de você.

–- Olha aqui – disse William agarrando o braço de Amanda.

–- William, você está passando dos limites.

–- Eu te dei opções, me afastei, já te dei mil provas do meu amor, você vai me amar como antes Amanda.

–- William me larga! – exclamou a menina puxando seu braço das mãos de William.

Já haviam alcançado o lado de fora do teatro onde Amanda havia se apresentado quando de súbito William agarrou seus braços e a beijou à força no que a garota rapidamente mordeu seus lábios com tanto vigor que chegou a sentir o gosto do sangue.

–- Droga Amanda! – gritou o jovem a empurrando.

A força com que William a empurrou fez com que ela caísse no chão. Cuspiu o sangue na calçada.

–- William eu não sou sua e se você chegar perto de mim mais uma vez eu vou dar queixa de você na polícia. Você vai receber um mandado pra ficar há 20, 30, um cacete de quilômetros longe.

Depois de tirar isso de seu peito Amanda se levantou e continuou andando em direção ao ônibus. Quando mais uma vez sentiu seu braço sendo puxado.

–- William você não ta me dando escolha...

Amanda se virou, mas o que viu não foi William, na verdade o menino estava com uma feição apavorada ao perceber a companhia que agora puxava o braço de Amanda. Era uma figura feminina com um longo vestido esverdeado e com um chapéu pontiagudo. Suas mãos pareciam pura energia, era como se sua pele possuísse composição imaterial ainda que fosse possível olhar para ela. Amanda tentou visualizar o seu rosto, mas a luz era tamanha que não conseguia distinguir seus traços.

–- Precisamos de você querida. – disse a voz num tom tão suave e bondoso que fez com que Amanda se esquecesse de tudo a sua volta e apenas confiasse no que a voz dizia, seja lá o que ela quisesse dizer.

A figura de vestido verde levantou suas mãos que revelaram uma varinha prateada. Juntamente ao movimento surgiu um par de asas prateadas em suas costas com um desenho lindo jamais visto. A mulher girou a varinha no ar uma, duas, três vezes e de repente se vira apenas um brilho suave que caia no chão ao passo que no estacionamento agora estavam o ônibus, o prédio e William que só conseguia pensar onde estaria Amanda depois de ser abduzida pela mulher do vestido verde.


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