O Clã de Descendentes - A Ascensão da Magia escrita por Isaque Arêas


Capítulo 1
Prólogo - O Casamento




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O som pesado das respirações e alguns sapatos batendo no frio chão de mármore era o único som que se ouvia dentro da imensa catedral. Os convidados já haviam chegado. O padre estava no altar folheando uma imensa Bíblia que parecia ter duzentos anos. As flores no salão forneciam um perfume magnífico e o ar gelado, porém cálido que entrava pela porta ajudava a complementar o ambiente agradável ao local que em breve receberia o casal.

Do lado de fora se encontravam diversos repórteres com as câmeras e microfones a postos. As vãs espalhadas pela rua e uma imensidão de pessoas para prestigiar os amantes. Todos acompanharam a história de amor dos dois. Ele se apaixonara enquanto estava em viagem aos Estados Unidos. A conhecera em uma festa e não pararam de se falar. Foram flagrados diversas vezes em diversos países, sempre alegando a amizade, mas por fim assumiram o relacionamento. Dois anos se passaram e agora finalmente decidem declarar o amor que havia em seus corações.

Fazia três horas que os repórteres estavam ali. Parados. De pé. Começavam a se cansar quando virando a rua surge uma limusine branca com a bandeira da Noruega. Sabiam que era o príncipe que vinha ao longe. As máquinas fotográficas num relance saíram do peito para os olhos dos fotógrafos. A população começava a gritar o nome de Robert e cartazes e faixas eram estendidos com alegria.

A limusine para em frente à Catedral. Os guardas criam um corredor que leva da calçada até a igreja. O chofer abre a sua porta, atravessa o carro em direção à calçada e então abre a porta para que o príncipe saia. Com a mão estendida acenando para a multidão é possível ver o rosto pálido e tímido de Robert enquanto ele sai do carro. Põe-se a andar arrastando uma longa capa púrpura de um tecido camurça pesado. Seus cabelos loiros quase brancos brilham com os finos raios de sol que conseguem atravessar as pesadas nuvens norueguesas. Alguns repórteres tentam abordá-lo sem sucesso e ele apenas decide entrar na igreja.

Por mais que estivesse radiante por estar prestes a se casar, em seu interior o príncipe se encontrava descontente. Seus pais, o Rei Soren e a Rainha Mikaela, não aprovavam a união. Não aceitavam que seu filho se casasse com alguém que não fosse também da realeza e por mais que as discussões não fossem a público era algo que o perturbava demais discutir todas as vezes com seus pais.

O príncipe se colocou ao lado de seus pais na porta ao lado de dentro para que em breve subisse ao altar e aguardou pela sua amada.

Quando a limusine do príncipe saiu do local em que estava estacionada, pode-se ver a segunda limusine fazendo o mesmo contorno. Esta com a bandeira americana trazia a que seria a futura Princesa da Noruega. Mais uma vez o público aplaudia, gritava e estendia cartazes, faixas e até mesmo a bandeira dos Estados Unidos. Estavam felizes por ver seu tão amado Príncipe finalmente se casando.

A limusine para e repete-se a dança dos soldados em seus lugares formando um corredor. O chofer abre a porta da noiva e os olhos se voltam para a menina que desce sorridente do carro. Acenando para a multidão lá estava Carol se contendo para não borrar a maquiagem. A moça era muito emotiva. Começou a caminhar em direção à igreja e mandava beijos aos montes para os repórteres. Sua pele negra fazia contraste com o vestido branco cravejado de diamantes dando um tom único para a sua aparência. Seu cabelo desenhando um penteado trançado digno de uma escultura grega e arrastando um enorme véu ao longo do tapete vermelho que para ela se estendia.

Ao saber que a noiva havia chegado é iniciada a cerimônia. O órgão começa a tocar sua marcha e o príncipe e sua mãe entram desfilando pelo salão. Os convidados se colocam de pé em reverência às figuras que ali se encontravam. A Rainha portava um longo vestido azul real que a deixava mais imponente. Seu rosto já com algumas rugas mantinha, porém, uma classe inigualável. Seus cabelos tão pálidos quanto o loiro dos cabelos de Robert estavam cobertos por um enorme chapéu e as luvas num tom mais claro de azul completavam a peça. Ao chegar ao altar entrega o filho que permanece na companhia do padre aguardando a hora em que sua noiva adentrasse o salão.

Os trompetes soam anunciando que a futura princesa estava para entrar. O coração de Robert pulsava inquieto. A porta se abre e é possível ver um clarão por conta da luz do sol. E depois de alguns segundos lá estava ela. De braços dados ao Rei vinha Carol desfilando pelo tapete vermelho. A amada Carol de Robert.

O Rei vinha junto da menina, pois seus pais já não estavam mais vivos. Haviam morrido durante o desastre causado pelo furacão Katrina em 2005. A menina, tal qual Robert se encontrava feliz, porém não podia deixar de lembrar-se de seus pais e em seu coração queria muito que o braço do rei fosse na verdade o de um carpinteiro. Enquanto Carol se continha para não se afogar em lágrimas, o rei Soren se mantinha firme e sério. Seus poucos cabelos negros se perdiam na enorme coroa que trajava. Vestia também um elegante smoking com algumas medalhas e sapatos reluzentes. Entregou a noiva ao noivo assim que chegou ao altar e se colocou ao lado da esposa.

O padre já idoso se posiciona e inicia seu pequeno sermão. Os noivos se entreolham e sorriem. Carol de minuto em minuto olhava para cima para evitar as lágrimas e como se não bastasse lidar com o choro tinha que lidar com as caretas que Robert fazia para desestruturá-la na frente de todos. Era um bobo e ela amava aquilo. O padre termina o sermão e pede para que os noivos se coloquem de frente um para o outro para que possam fazer seus votos. Carol decide falar primeiro para que não estragasse o discurso com a possível voz de choro:

–- Robert. Você me realizou como ninguém antes havia feito. Me deu um novo propósito quando já não sabia mais para onde seguir e à partir deste dia eu quero retribuir o que você fez para mim. Eu quero viver para te fazer feliz. Na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza, até que a morte nos separe. Eu te amo tanto.

Vários aplausos se inflamaram com a multidão atônita e Carol sorria e chorava. Robert com o rosto enrubescido também sorria com a declaração da amada. O príncipe então pega o microfone das mãos de Carol para que possa começar seu tão aguardado discurso:

–- Carol. Nos conhecemos em um momento de alegria e isso resume boa parte da nossa história. A alegria que eu sinto ao estar perto de você não se compara a outra em canto algum da Terra. Seu sorriso me encanta desde o dia em que nos conhecemos e poder olhar para ele novamente só me faz querer olhá-lo de novo todos os dias. Eu desejo te fazer a mulher mais feliz do mundo na alegria ou na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe. Eu também te amo... Muito.

Novamente os aplausos enchem o salão e Carol desaba, a essa altura já não ligava mais para a maquiagem o que fez Robert rir bastante. Robert devolve o microfone para o padre que dá sequência à cerimônia:

–- Se alguém tem alguma coisa que impeça estes dois jovens de se unirem em matrimônio, que revele agora ou cale-se para sempre.

O salão emudece diante dos olhares dos reis, príncipes e do padre.

–- Se ninguém tem nada a dizer... Robert Lorentzen de Magne e Carol Thompson Davis, pelo poder investido a mim, eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva rapaz.

Robert respira fundo e Carol também. Aproximam-se e com grande comemoração a sua volta se beijam selando seu amor. Em seu peito Robert sente um calor como nunca sentiu antes e uma felicidade imensa o invade. O calor, porém, dá lugar a uma dor repentina e quase inexplicável.

O príncipe se esquiva rapidamente da amada e grita. O público não entende a reação, muito menos Carol. Robert leva as mãos ao peito e se agacha. Olhares inquietos presenciam a cena e alguns convidados menos sensíveis começam a filmar com seus celulares. Carol se abaixa e começa a falar com Robert, mas ele não consegue ouvir nada do que ela diz tamanha a dor. Era como se seu peito estivesse ardendo, mas não com um calor causado por fogo, era como a sensação de queimadura de gelo e seu coração pulsava mais que o normal.

As orelhas, o nariz e lábios de Robert começam a ficar sem cor, seus olhos azuis se tornam cada vez mais azuis e mais profundos. Carol se desespera e começa a chorar por não saber o que está havendo. O rei e a rainha ainda incrédulos sem saber o que fazer começam a buscar por um médico entre os convidados até que o impossível acontece.

Onde antes se via um tapete vermelho e um altar de mármore começa a se cobrir uma fina camada de gelo que dá um tom azulado ao chão e se expande num raio que tem origem em Robert que seguia ajoelhado com as mãos apoiadas no chão. O jovem príncipe decide olhar suas mãos apenas para ver as pontas dos dedos azuladas. A dor em seu peito havia diminuído e ele olha para os convidados e encara seus rostos surpresos e em choque. Robert então olha em volta aflito e pressentindo o perigo grita para que ninguém se aproxime dele.

–- Calma Rob, me diz o que você está sentindo. – diz Carol se aproximando.

–- Eu já disse pra ficar longe!

–- Rob, sou eu, me diz pra que eu possa te ajudar!

–- Carol se afasta, por favor!

Ao perceber que a menina ignora o seu pedido, o jovem estende a mão como quem diz “pare” e em seguida apenas é possível ver repentinamente uma estátua de gelo onde antes estava a noiva. Fez-se um silêncio ensurdecedor no salão até que surgisse o primeiro grito e a multidão de convidados começasse a correr.

O príncipe incrédulo agora consegue se levantar e olhar para o que antes era sua noiva. Seu espírito se perturba de tal forma que ele não sabe como lidar com tudo aquilo e apenas permanece ali parado; estupefato, até que alguém o chama na multidão e ele desperta de seu transe, quando cai em si e percebe o que fez seu coração se desintegra de tal forma que não apenas o chão, mas agora todas as paredes da catedral se cobrem de gelo. Do fundo de sua alma o príncipe grita e o gelo nos vitrais faz com que as janelas explodam e as colunas da igreja rachem.

Do lado de fora todos os convidados respiram profundamente e rápido, os olhares se voltam para a catedral que velozmente se cobre de gelo até que no momento em que o último convidado escapa era possível ouvir como se fossem geleiras se quebrando e rachando. As paredes ruem e a catedral de gelo vem abaixo explodindo em mil pedaços. Os olhares curiosos agora estão apavorados e nervosos e no meio da multidão é possível ouvir a rainha gritando “Rob! Onde está o meu filho?!”.


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