Desci as escadas já sentindo o cheiro da pizza invadindo toda a cozinha, Charlie colocava os pratos e copos na mesa e assim que percebeu minha presença pareceu ficar tenso.

— Ah, Bella... Eu já ia te chamar. - Falou forçando um sorriso. Sentei-me à sua frente e começamos a comer em silêncio. Pela primeira vez a pizza de mussarela e atum parecia não estar tão boa.

— Pai. - Chamei sem olha-lo. - Por que mentiu sobre o estado de Jasper? - Perguntei servindo-me de coca-cola. Ele hesitou por longos segundos antes de responder.

— Foi o que fiquei sabendo, talvez... tenham confundiram os pacientes. - Falou nada convincente. Encarei-o indignada, Charlie não sabia mentir, então era obvio que aquilo não era verdade.

— Tem algo que não sei nessa sua historinha mal contada? –

— Bells, não há nada com o que se preocupar. – Falou sério e pude jurar que estava suando.

— Charlie. - Reclamei cruzando os braços. Ele respirou fundo antes de prosseguir.

— Isabella, sem mais perguntas, ponha-se em seu lugar. – Repreendeu-me levantando-se e guardando tudo.

Lavei a louça e resolvi dar uma volta na rua, aproveitando que o céu estava sem nuvens e totalmente estrelado. Andei vagarosamente enquanto curtia a brisa batendo em meu rosto, onde Edward estaria naquela hora? Desejei poder morar em sua rua e sorri com aquele pensamento. Ele era tão diferente de tudo, e assim que nossos olhos se encontravam era como se toda dor do mundo não existisse. Quando menos esperava, um carro começou a vir em extrema velocidade pela rua, parando a centímetros de mim que acabei caindo com o susto. Já estava me preparando para levantar e xingar o irresponsável, mas parei assim que percebi que o homem estava encapuzado e tudo o que pude ver eram seus olhos, que encaravam-me sem nenhuma expressão, suas mãos apertavam com força o volante em sua frente, e antes que eu pudesse correr dali, ele deu ré e saiu cantando pneu a fora.

— Você está bem? - Uma garota de cabelos curtos e espetados perguntou ajudando-me a levantar.

— Sim... Você viu aquilo? Que cara maluco... - Falei passando as mãos na calça tentando tirar a poeira do chão. Reparei que a garota vestia roupas de ginástica e estava levemente suada.

— Pois é, mas o que faz sozinha por aqui a essa hora? É perigoso. - Falou avaliando-me discretamente de cima abaixo.

— Eu estava tentando tomar um ar, não pretendia ir longe, mas e você? - Perguntei e logo em seguida uma mulher de cabelos castanhos que aparentava ser um pouco mais velha que ela apareceu correndo. Logo reconheci quem ela era.

— Alice, não precisava sair correndo na frente... Bella?- Perguntou Esme, visivelmente tensa. Provavelmente minha cara confusa e a de Alice deixaram-na constrangida, pois pareceu corar e logo após ficou pálida.

— Hã... Olá! Alice estava ajudando-me, um cara maluco quase passou com o carro por cima de mim. - Respondi sorrindo e ela pareceu estar com olhos marejados.

— Oh, então você é a Bella, essa é minha mãe, Esme. Edward tem falado muito de você. – Falou sorrindo divertida. Esme olhou-a incrédula enquanto Alice alongava-se.

— Edward? Como assim? – Perguntei envergonhada, podia sentir minhas bochechas queimarem.

— Ele é meu irmão, não lembra? – Falou dando pulinhos no lugar, até Esme segurá-la pelo braço.

— Está ficando tarde, Alice, vamos embora. – Falou puxando a garota para longe de mim. Alice continuou sorrindo e acenando enquanto distanciavam-se.

Era claro que havia algo ali, e eu certamente iria descobrir o quê.

— Onde você estava com a cabeça de deixar aquele esquisitão entrar na sua casa? – Jasper perguntou enquanto eu conversava com Rosalie sobre o que havia acontecido. Revirei os olhos e assim que o sinal tocou seguimos para nossas aulas. Dessa vez seria matemática com Jasper, e eu estava feliz por ele estar mais contido e parecer estar superando o que achava que sentia por mim.

— Conheci a irmã dele ontem. – Falei rabiscando uma folha de meu caderno, estava seriamente pensando em entrar para o clube de artes.

— E dai? Ela era bonita pelo menos? – Perguntou debochado. – Já até conheceu a família dele? Isso escalou rápido. –

— Ah, cala a boca. – Pedi rindo e arrumando o material na mesa assim que o professor entrou na sala acompanhado de dois jovens. Um era moreno e alto, com calça jeans surrada e uma camiseta preta colada ao corpo ressaltando músculos que fizeram a mulherada ir à loucura, e a outra era ninguém menos que Alice, vestindo um vestido creme com uma sapatilha preta. Apesar de baixinha, a garota tinha curvas incríveis que fizeram os garotos ficarem inquietos.

— Bom dia, seus aborrecentes. Esses são Jacob e Alice, estão entrando hoje para a turma, certifiquem-se de trata-los bem a partir de agora. – O professor falou e antes que os dois dirigissem aos seus lugares, percebi a troca de olhares entre eles, que parecia mais como lasers fuzilando um ao outro.

— Caramba, esses caras não perdem uma. – Jasper falou balançando a cabeça em desaprovação, olhei-o confusa e então ele prosseguiu. – Ela mal chegou e já é vista como um pedaço de carne, isso é ridículo. – Falou voltando o olhar para a frente da sala. Vi Alice virar o rosto levemente para o lado e sorrir olhando-o. Ok, alguém me tira daqui antes que eu segure uma tocha olímpica.

No decorrer da aula percebi Alice inquieta em seu lugar, e chamei Jasper discretamente indicando-a com a cabeça. Ele revirou os olhos pra mim, mas levantou e foi até o lado dela oferecer ajuda.

— Olá! – Alguém falou ao meu lado e precisei olhar pra cima para reconhecer quem era.

— Oi. – Respondi sorrindo para Jacob.

— Me falaram que você é a mais inteligente da sala, poderia me ajudar com uma dúvida? – Perguntou já puxando uma cadeira e sentando-se ao meu lado. Claro que aquilo atraiu alguns olhares para nós.

— Isso é bobagem, eu nem sou dessa turma, só tenho algumas aulas com eles, eu sou do 2° ano. – Falei desviando o olhar do seu e tentando afastar-me desconfortavelmente. Já estava quase pedindo para ele sair dali.

— Eu sei. – Falou abrindo seu livro na página de exercícios. – Na verdade foi uma desculpa para falar com você, eu sou muito bom com cálculos. – Falou sorrindo largamente, tive vontade de vomitar ali mesmo.

— Sério? – Perguntei sem vontade.

— Olha, não estou flertando com você, se é o que pensa. – Sussurrou para que só eu ouvisse. Fiquei aturdida na mesma hora. – Acho que precisaremos conversar durante o intervalo. Importa-se de deixar seus amigos de lado por um tempo? – Perguntou fingindo ler algo no livro.

— Ok, onde encontro você? – Aquilo já estava começando a me irritar.

— Aqui, quando todos sairem. – Falou levantando e voltando para seu lugar.

Jasper e Alice me olhavam confusos, e só dei de ombros indo até os dois.

— Você conhece ele? – Jasper perguntou olhando de relance para Jacob.

— Não, nem quero, mas preciso falar com ele no intervalo. – Falei bufando indignada. Alice deu uma risadinha e então o sinal tocou fazendo com que os alunos praticamente corressem da sala após o professor sair.

— Não, Bella você não pode me deixar sozinha, ficar com Emmett é humilhante, amigas não fazem isso. – Ela falou abraçando-me pela cintura. Meu Deus, que baixinha carente ela era.

— Jasper vai estar com você, e tem a Rosalie também, você vai adorá-la! – Falei sorrindo e apertando a bochecha dela que olhou para Jasper com ansiedade.

— Não demore muito, e qualquer coisa grite. – Ele falou e pareceu hesitar antes de sair acompanhado de Alice.

Jacob estava no fundo da sala olhando-me sem expressão alguma. Aproximei-me dele e sentei receosa à sua frente.

— Então...? – Incentivei-o a falar o que tanto queria.

— Fique longe dos Cullens. – Falou apoiando os cotovelos nos joelhos e inclinando-se para frente. Não consegui me segurar e ri daquilo.

— Você tem algum problema? Isso é ridículo. – Falei encarando-o com raiva.

— Acho que você não quer que ninguém se machuque, não é mesmo? Se Jasper ou a linda irmã dele fossem atingidos por sua culpa, você ficaria satisfeita? – Perguntou olhando-me nos olhos e só então pude reconhece-lo.

— Foi você. – Falei um pouco mais alto e levantei assustada. – Ontem... Você estava no caro, você tentou me matar. – Afirmei com certeza e senti minhas mãos começarem a suar.

— Tem razão, era eu. – Confirmou com um semblante sombrio também levantando-se. Dei um passo para trás e ele continuou vindo em minha direção, então virei para correr dali, e quando estava para sair da sala senti um chute em minhas pernas, o que levou-me ao chão. Jacob agora estava em minha frente e encostava a porta, deixando-me em pânico.

— O que você quer? – Perguntei sentindo as grossas lágrimas descerem pelo meu rosto.

— Eu já falei, sua idiota, fique longe deles. Eu não estou sozinho nisso, acredite, se abrir a boca, as pessoas que você ama estarão mortas. – Respondeu abaixando-se ao meu lado. Tentei me levantar e senti uma dor aguda em minha perna, provavelmente havia um hematoma ali.

— Não machuque ninguém, isso não é culpa deles. – Falei sentando-me e olhando-o com ódio.

— Eu lhe avisei. – E sem mais uma palavra saiu da sala, deixando-me ali sozinha e assustada. Eu sentia meu estômago revirar e podia jurar que estava mais branca que papel. Sai da sala apoiando-me nas paredes, e tudo parecia estar girando.

— Bella? O que aconteceu? – Alguém perguntou ao longe, mas não conseguia enxergar mais nada, e então a escuridão me tomou.

— Você não vai tocar em um fio de cabelo da minha filha, seu desgraçado. – Uma mulher falava ao longe, e a escuridão parecia ir embora. – Acha que não sei o que seu filho quer? Você é doentil. –

— O que foi que você disse? Não? – Um homem de cabelos compridos e pretos perguntou e uma gargalhada tomou o local. – Você quer morrer? – Prosseguiu com ira e uma porta se abriu revelando a cena.

— Você vai pagar por tudo o que me fez, por tudo o que fez a todas essas mulheres. – Mamãe gritou dando-lhe um tapa na cara. O homem hesitou por longos segundos, o ódio era visível em seus olhos, em sua mão direita havia algo semelhante a um canivete, e antes que mamãe pudesse correr ele atingiu-a bem no peito, continuando por mais 10 vezes em todo o seu tórax, mesmo após ela já não reagir mais.

— Dê um jeito nisso. – Falou limpando as mãos em um guardanapo.

— Mamãe! – Gritei chorando e então os olhos dele focaram-se em mim.

— Não, mamãe, não! – Gritei acordando em um pulo. Sentia alguém segurando-me e aquilo piorou tudo, os gritos que escapavam por meus lábios eram ensurdecedores, e o ar pareceu faltar até que olhos verdes encararam-me com angústia.

— Bella, você precisa se acalmar, volte pra mim, estou aqui com você. – Edward falou deixando-me confusa com tudo. Percebi que estava na enfermaria com Jasper, Rosalie e Alice, que olhavam-me assustados.

— Onde ela está? – Perguntei tentando me levantar. – Onde está minha mãe? – Gritei livrando-me dos braços de Edward que ainda tentava manter-me na maca.

— Teremos que sedá-la. – A enfermeira falou junto ao seu auxiliar. Aquilo me deixou ainda mais nervosa.

— Ninguém vai tocar nela, está tudo bem. – Edward falou puxando-me pela cintura na intenção de me proteger. Só então percebi a cena que estava fazendo e sentei-me novamente, escondendo o rosto entre as mãos. Jasper e Rosalie aproximaram-se, abraçando-me e empurrando Edward para longe. Percebi que ele e Alice trocaram um olhar agonizante antes de saírem dali sem dizer mais nada. Só então me lembrei do aviso de Jacob, e aquilo voltou a me dar calafrios. Uma garota entrou na sala com um corte na cabeça, e a enfermeira finalmente deixou-nos em paz.

— O que aquele idiota te fez? – Jasper perguntou com raiva. Rosalie só conseguia chorar.

— Ele não fez nada, eu só passei um pouco mal e tive um pesadelo... – Falei lembrando-me do sonho aterrorizante que tivera.

— Bella, eu sinto muito... – Rose falou acariciando meus cabelos. Jasper levantou e começou a andar de um lado para o outro.

— Está tudo bem, não se preocupem. – Pedi levantando-me e recebendo olhares desaprovadores de todos os lados. – Não pensem que vão me prender aqui, porque não vão. – Falei saindo daquela sala. Eles somente seguiram-me sem perguntar nada, e assim que saímos da escola Alice e Edward estavam próximos ao volvo prateado.

— Podia ao menos ter me falado que ela era irmã do esquisitão. – Jasper resmungou abrindo a porta da caminhonete pra mim. Sorri com aquilo. Alice nos encarou com olhos tristes antes de ir embora com seu irmão.

— E muda alguma coisa? – Perguntei encarando-o divertidamente.

— Não, ela continua linda. – Falou piscando pra mim. Poxa vida, realmente, ele havia me superado bem rápido.

— Alice é tãaaaaaaao legal! – Rosalie falou animada e começou a contar tudo o que elas conversaram sobre as novas tendências do ano. – Aliás, não vi o Emmett hoje. – Reclamou seguindo até seu carro.

— Você vai para casa conosco hoje, Charlie já está sabendo, então... – Jasper falou enquanto eu entrava no carro com ele no lugar do motorista.

— Tudo bem, só não me faça ouvir suas histórias de como se apaixonou a primeira vista pela baixinha novata. – Pedi beliscando seu braço. Ele resmungou de dor.

— Ai, sua maluca, acho que vou te levar ao psiquiatra! – Murmurou dando partida no carro. Forcei um sorriso e voltei a pensar no sonho que tive, parecia tão real... Eu nunca pensei tanto na morte de minha mãe para sonhar com algo daquele jeito, e a história que Charlie contou-me sobre a morte dela era totalmente diferente. Leucemia era o certo, não era? Ou talvez eu realmente precisasse ir a um psiquiatra.