Beard, tea and tobacco. escrita por Enoaies


Capítulo 9
What is happening to us ?


Notas iniciais do capítulo

Bem, sei que demorei, e peço desculpas por isso. Ai está mais um capitulo. Coloquem seus óculos de lentes grossas e preparem-se. Charles Ocean.



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Leesburg, Virginia – 24 de Setembro.

Na manhã seguinte a festa do Sr.Criswell, tive de me preparar para o trabalho. Demorei quase meia hora com as roupas e mais meia para tomar o café. Podia notar que estava tentando evitar algo que não era possível ser evitado. Ver Sr.Moosen. Minha mãe resolvera não fazer perguntas desde que voltara noite passada, voara para o quarto, insistindo em uma dor de cabeça falsa e um bafo de tequila. O que não era totalmente mentira. Acabara dormindo depois de um banho e meio capitulo de um livro clássico que pegara aleatoriamente na estante ao pé da cama.

–Vai buscar Otto hoje no aeroporto? – indagou minha mãe.

–Ah sim. Tinha me esquecido que hoje ele vem do Canadá. – servi-me de um pouco de chá. – disse pra ele que iria buscá-lo depois de sair da escola.

–E onde ele ficara?

–Irá ficar na casa da namorada.

–E onde ela mora? – terminou de fazer o café.

–Perto do centro da cidade. – aleguei. – ao lado daquela loja especializada em panquecas. – disse bebendo um gole do chá. Otto Sawyer era um amigo de infância, que vivera comigo em Leesburg por um bom tempo, e acabara me acompanhando para o Canadá. Ficamos lá por um ano, até que minha 4º paixão me deixasse por um professor de Frances, e deste modo me fizesse querer voltar para Leesburg. Agora ele voltara para levar a namorada para o Canadá. Seria como o ultimo “como vai à vida?”.

–Ah. Sim. – assentiu. – antes que me esqueça, seu pai ligou ontem, enquanto estava fora. – disse após um tempo de silencio.

–Ele disse o que queria? – perguntei pela xícara de chá.

–Queria saber quando vai visitá-lo. – largou a xícara de café em cima do balcão. – disse que não o vê desde que comprou aquela casa perto de um moinho em Williamsburg.

–Não tive tempo devido à mudança. – beberiquei do chá.

–Talvez devesse ir. – sugeriu. – para quem sabe esquecer o stress desse novo emprego.

–É. Talvez eu vá. – Terminei o chá e busquei o casaco em cima do balcão. – Preciso ir. Estou atrasado.

–Até. – acenou vendo-me sair pela porta de entrada.

Enquanto dirigia, pensei na idéia de ir até a casa de meu pai em Williamsburg. Poderia passar lá o final de semana, junto a sua nova família e uma xícara de chá. Sabia que acabaríamos falando sobre como minha mãe reagira ao divorcio e como com sua parte ele comprara um barco de pesca, e uma casa. Isso me fizera pensar. Isso seria melhor do que um fim de semana qualquer em Leesburg?

11h26min

A quarta aula acabara há seis minutos. Segui para a sala dos professores, encontrando-os largados aos cantos, com grandes sacos de gelo e copos de café. Sr.Criswell estava com a cabeça deitada sobre sua mochila. Usava óculos escuros e bebia um grande copo de café. Entrei em passos lentos e deixei a pasta em um canto perto do armário de metal. Servi-me de uma xícara de chá, e sai pelo mesmo caminho, com o mesmo silencio.

–Sr.Ocean? –a voz ecoou pelo corredor curto e silencioso.

–Sr.Moosen? – disse em um tom surpreso.

–Preciso falar com o senhor. – deu um longo suspiro.

–Claro. – comprimi os lábios. Ele seguiu pelo corredor, até chegarmos a sua sala. Pediu para que entrasse, e logo em seguida encostou a porta e sentou-se na cadeira ao outro lado da mesa. Tinha esboçado em sua face, a mesma velha expressão carrancuda, e a respiração pesada e raivosa. – sobre o que seria o assunto? – indaguei.

–Gostaria de falar sobre o que houve ontem. – entrelaçou os dedos a cima da mesa. – depois de todos sairmos do bar.

–Bem, ontem eu.

–Geoffrey. – Sr.Criswell apareceu na porta, ainda de óculos escuros. – acho que preciso ir para casa. – apertou o saco de gelo na cabeça. – estes barulhos e batidas estão me matando. E a voz de Honora é estressante.

–Entendo. – virou-se para Sr.Criswell. – precisara escrever uma rápida justificativa e então poderá ir. – pegou uma ficha na ultima gaveta. – e precisamos de um professor para dar aula no seu lugar.

–Deixe Brian fazer isso. – adentrou a sala, pegando a fichas das mãos de Sr.Moosen. – adoraria vê-lo fazendo alguma coisa diferente, alem de polichinelos e abdominais.

–Tem certeza? – arqueou a sobrancelha. Sr.Criswell assentiu, com um gesto. – tudo bem então. Já pode ir. – dispensou-o. – então. – voltou-se para mim.

–Bem, eu estava dizendo que. – parei, de maneira que pensei nas palavras a serem ditas. – não sei como justificar o que aconteceu ontem.

–Entendo. – umedeceu os lábios. – também não consigo pensar em nada. – disse quase em um sussurro. – estava pensando e acho que o senhor irá concordar comigo quando digo que. –umedeceu os lábios, fazendo uma pausa. – não devemos mais falar sobre isso. – concluiu.

–Concordo. – assenti. – a noite passada foi um tanto confusa para ambos, acredito. E acho que está seria a decisão mais correta a se tomar.

–Então está decidido. – levantou-se. – peço-lhe desculpas pelo ocorrido.

–Também peço que o senhor me desculpe. – olhei o relógio vendo que estava na hora de voltar para a aula. Despedi-me e voltei aos corredores, em direção a sala de aula.

15h00min

Faltava meia hora para liberarmos os alunos. Minha pasta já estava em cima de minha mesa, pois achei que desta maneira evitaria ir até a sala dos professores, e assim não encontraria Sr.Moosen novamente. Na sala os alunos conversavam entre si, enquanto eu apenas assistia toda aquela demonstração de alegria e empolgação com o fim do dia.

–Sr.Jenkins. – chamei o garoto, que parecia o mais animado naquele momento. – o que planeja faze neste fim de semana? – indaguei.

–Eu vou fazer uma pequena viagem com minha família. – gesticulava de maneira exasperada.

–E onde pretendem ir?

–A um parque aquático. – soou como se anunciasse uma grande descoberta. – fica a duas horas daqui e é enorme.

–Bom. – sorri. – e você Srta.Stone? – indaguei a garota ruiva no fundo da sala. A mesma que dissera gostar do oceano.

–Acho que vou para a casa dos meus avos em Maryland. – comprimiu os lábios e inflou a bochecha, pensando em algo a mais. – tomaremos leite com biscoitos e veremos os ponteiros do relógio se mover, eu acho. – deu de ombros. – é isso o que gente nessa idade faz.

–E não haverá mais ninguém lá além de seus avos? Primos? Irmãos?

–Meus primos moram em Orlando, e não gostam dessa idéia de sair de lá para se enfiar em um buraco em Maryland.

–E seus irmãos? – indaguei.

–Sou filha única. – deu meio sorriso, que não soube decifrar como feliz ou desapontado.

–Entendo. – comprimi os lábios.

–Também é filho único Sr.Ocean? – perguntou Gregory White. Um garoto franzino de dentes tortos e um cabelo loiro escuro.

–Não Sr.White. – sorri de canto. – tenho uma irmã.

–E ela onde ela mora?

–Na Alemanha.

–E o que está fazendo lá? – olhou-me como se aquela fosse a idéia mais idiota que alguém poderia ter, afinal “por que alguém sairia da maravilhosa Leesburg?”.

–Ela tem um trabalho lá. – respondi após alguns segundos. – tem uma agencia de viagens. Uma das melhores.

–Então vocês não se vêem muito? – indagou Phillip Prescott. Um garoto do tipo que usava bonés para trás e calcas abaixo da cintura, falava muitas gírias e se considerava “maneiro”. – quer dizer, você está aqui e ela está lá e tals.

–Não Sr.Prescott, eu não vejo muito minha irmã. – suspirei. – talvez duas vezes a cada ano, mas nem sempre. – conclui, vendo-o abrir a boca em um “O” como se aquela resposta fosse mesmo muito interessante. – mais alguma pergunta sobre minha vida? – sorri, passando os dedos pela barba.

–O que você acha do Sr.Barba? – indagou Srta.Stone.

–Desculpe. – franzi o cenho.

–É assim que chamamos Geoffrey. – explicou Sr.Prescott.

–Sr.Moosen? – disse surpreso.

–É ele mesmo. – assentiu Stone debruçando-se sobre a mesa. – o que acha dele?

–Não sei. – dei de ombros. – o que vocês acham?

–A sem essa. – Sr.Prescott bufou. – estamos perguntando sobre o que você acha.

–Acho que não seria certo ter de responder essa pergunta. – argumentei.

–Certo, então quero fazer outra pergunta. – disse a garota de sardas sobre o nariz.

–Pois bem. Faça.

–Por que Ocean? – franziu o cenho.

–Sobrenome do meu pai. – conclui a conversa, ouvindo logo em seguida o toque estridente do sinal. Todos os alunos voaram de suas mesas e correram pelos corredores. Rumo à liberdade.

Sai pelos corredores após todos os jovens deixarem a escola. Evitei o caminho que levava até a sala dos professores, indo direto a porta dos fundos, a fim de chegar ao estacionamento. Assim que cheguei próximo ao carro busquei as chaves no fundo da pasta, próximo ao livro de capa dura. Entrei e coloquei todas as coisas no banco do passageiro, liguei a chave na ignição. Antes que saísse do estacionamento, vi Sr.Moosen sair em disparada pela dos fundos. Levava em mãos uma xícara, que após uma rápida checagem, identificou-se como minha.

–Creio que está xícara seja sua. – balançou-a no ar.

–O-Obrigado. – agradeci saindo do carro. – sabia que estava esquecendo algo.

–O senhor a deixou lá quando saiu para ultima aula. – parou de correr, apoiando-se sobre os joelhos. Ofegante. – achei que fosse buscá-la, mas não apareceu. – tomou fôlego.

–É que tenho uma coisa importante para fazer, então resolvi sair direto. – expliquei.

–Ah claro. Sem problema. – ainda respirava desordenadamente. –aqui está. – entregou a xícara.

–Obrigado. – comprimi os lábios. – é minha xícara favorita. – sorri de canto, pensando em como fora idiota mencionar este detalhe. – eu. Desculpe-me por isso.

–Tudo bem. – assentiu. – entendo. – suspirou.

–Acho que vou indo. – apontei o carro. – não posso me atrasar. – expliquei.

–Ah sim. – comprimiu os lábios. - uma coisa importante. – suspirou novamente. Ficamos ali por um tempo. Despedi-me de novo e virei-me para porta, passando a mão na maçaneta. Em um instante senti algo passar por minha cintura. Virei em um rápido movimento, e senti seus lábios tocarem os meus. Sua barba raspar da minha. Aquela mesma sensação. Os mesmos toques. Seus dedos iam calmos ao meu pescoço. E minhas mãos novamente em sua cintura, quase envoltas em um abraço. Aquilo durou alguns segundos.

–Achei que tínhamos combinado. – tomei fôlego, expirando calmamente. Com os olhos virados ao chão. – não falar sobre isso. – sentia seu queixo tocar minha testa, e seus dedos deslizarem pelo meu pescoço, até chegarem aos meus ombros.

–E não falamos. – deslizou a mão até chegar a meus pulsos.

–Eu. –fiz uma pausa, sentindo seus dedos tocarem os meus. –preciso ir. – desvencilhei-me daquele momento e entrei no carro. Dei a partida e sai, sem dizer mais nada. Sem fazer mais nada.

Rodei por alguns quarteirões distantes da escola, até parar em uma loja de conveniência, junta a um posto de gasolina. Estacionei o carro do outro lado da rua, desligando a ignição e puxando o freio.

A loja cheirava a raspadinha de laranja e salgadinho de bacon. Devia ser porque o balconista estava comendo e bebendo deles. Andei um pouco até decidir comprar uma caixa de fósforos e um maço de cigarros. Cruzei a rua voltando ao carro. Peguei um cigarro e acendi, dando uma rápida tragada, soltando a fumaça pela janela. Bati a mão no volante algumas vezes. Irritadiço. Demorara alguns anos para perder o habito de fumar quando estava nervoso, mas aquilo realmente estava acabando comigo. Coloquei a chave na ignição e parti direto ao aeroporto.


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Notas finais do capítulo

Então? Espero que tenham gostado e ficado um pouco wtf com isso. Espero que deem review e me digam o que estão achando. Agradeceria muito. E até o próximo capitulo pequenos adoradores de chá!



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