Kakashi acordou assustado. Tivera outro pesadelo, mas esse fora diferente. Normalmente, só via a morte de Rin. Dessa vez ele reviveu o momento em que encontrou seu pai morto no chão de sua antiga casa, escutou as últimas palavras de Obito, sentiu seu braço atravessando o corpo de Rin e lembrou-se do momento, há cinco anos, em que alguém o contara que seu sensei estava morto. Ele estava total e completamente só. Claro, ele tinha outros colegas. Mas eles jamais entenderiam como era perder todas as pessoas importantes na sua vida em tão pouco tempo e ainda se sentir culpado por isso.

O jovem se levantou, arrumou a cama, tomou banho, escovou os dentes e ficou encarando sua imagem no espelho. Era muito parecido com o seu falecido otousan.

Colocou seu uniforme de ANBU e saiu. Ele pretendia ir ver o Sandaime Hokage e pedir por qualquer missão disponível, só para ocupar a mente. Como sempre, ele passou pela loja de dangos escutando os amigos o convidarem para se juntar a eles e, como sempre, ele seguiu seu caminho sem ao menos responder.

Chegando à torre do Hokage, ele bateu duas vezes na porta e entrou sem cerimônia. O homem mais velho estava sentado em sua cadeira assinando alguma coisa e levantou os olhos quando ouviu que alguém chegara.

– Oh, ohayo Kakashi-san. – ele cumprimentou.

– Hokage-sama – o jovem respondeu de forma pragmática, fazendo uma reverência. O Hokage soltou um suspiro. Tão jovem e tão amargo. Queria poder ajudar, mas, por hora, tudo que poderia fazer era dar ao garoto o que ele veio buscar. O que ele sempre vinha buscar.

– Sei o que você quer Kakashi – ele disse – e a resposta é sim, tenho uma missão para você. Quero que viaje até a Aldeia da Lagoa, que fica na fronteira leste do País do Fogo, e faça um reconhecimento. A aldeia foi atacada por saqueadores, mas algumas testemunhas afirmam que havia algo a mais agindo. Tome aqui um mapa que marca o local. Você deve levar três dias, no máximo. Pode ir sozinho, mas me mande uma mensagem relatando o que encontrar. Isso é tudo.

Kakashi pegou o mapa, fez outra reverência e saiu. Passou em sua casa, pegou sua mochila com suprimentos e foi embora. Viajou sem parar até perto do meio-dia, quando a fome apertou, já que não tinha tomado café-da-manhã. Todos os seus dois dias de viajem se resumiram em correr, comer e dormir em horários pré-determinados e rígidos. Não verbalizou uma palavra sequer. Não havia ninguém para escutar mesmo.

Ele chegou ao seu destino no horário previsto. Ela ficava em uma ilha no meio de uma grande lagoa. Poderia ter sido pequena se comparada com outras aldeias, mas definitivamente era incrivelmente espaçosa pra um lugar que fica no meio da água. Só havia um problema: ela não existia mais.

Quando soube que saqueadores haviam atacado o lugar, esperava ver famílias desamparadas, alguns corpos e, no máximo, casas destruídas ou queimadas. A imagem diante de seus olhos era completamente diferente. Não havia uma alma viva sequer, cada construção fora incinerada ou devastada, não havia mais árvores ou plantações que pareciam ter sido arrastadas por um maremoto e o chão estava repleto de rachaduras e crateras enormes. Aquilo não era obra de saqueadores. Era uma força destrutiva da natureza.

Kakashi correu sobre a água até alcançar a aldeia. Sua missão era fazer uma varredura para tentar descobrir a causa de todo aquele desastre, mas não havia nada ali. Ele andou e andou e a única conclusão que tirou foi que aquele lugar havia sido atingido por um furacão, um tsunami, um terremoto e um incêndio, tudo ao mesmo tempo. Obviamente, todos estavam mortos.

Ele estava se virando para partir quando pensou ter ouvido um barulho. Fora algo tão baixo que assumiu que era fruto de sua imaginação, até que escutou de novo, mais alto dessa vez. Parecia com um... gemido. Kakashi andava pelas ruas devastadas tentando descobrir a origem do som até que passou perto de uma casa que parecia ter afundado no chão e ouviu o som novamente. Agora tinha certeza. Aquilo era um choro, um choro de criança.

O homem desceu pela beirada da cratera e caminhou na direção do amontoado de madeira e terra. Bem no meio de tudo havia uma espécie de motinho de pedras de onde se podia escutar o tal choro. Ele se aproximou mais e retirou a pedra do topo.

Encolhida dentro daquele abrigo improvisado estava uma garotinha de no máximo cinco anos que chorava baixinho. Assim que percebeu a claridade repentina, olhou para cima e viu um homem de cabelos brancos e máscara no rosto. A garota se encolheu mais, assustada, mas ela estava sozinha há tanto tempo que qualquer rosto seria bem-vindo, então ela esticou seus bracinhos para o homem, esperando que ele a pegasse.

Kakashi ficou totalmente sem jeito. Não esperava encontrar uma criança ali e definitivamente não esperava que ela pedisse por colo. O que deveria fazer? Era óbvio que a pequena estava sozinha e assustada. Deveria acabar logo com seu sofrimento? Não. Por mais frio que fosse jamais conseguiria assassinar uma criança. Deveria pegá-la? E depois? A única coisa que sabia era que não poderia deixar uma criança daquele tamanho sozinha. Então ele desajeitadamente retirou a garotinha do meio das pedras e a segurou a uma distância de seu corpo.

A garota o olhava com olhos castanhos e tristes. Ela tinha cabelos bem incomuns, encaracolados e da mesma cor dos olhos (Bem, ele tinha cabelos brancos, então não podia julgar). Sua pele era branquinha, mas sem ser pálida demais e estava vestindo um vestido amarelo muito sujo. Mais uma vez ela esticou os braços para ele, como se pedisse por mais contato. Kakashi lentamente a acomodou em seu colo e sentiu quando ela encostou a cabeça em seu ombro e começou a chorar de novo. Ela deve estar tão confusa ele pensou.

Assim, homem e criança partiram juntos, deixando aquela cena desastrosa para trás.