Em família escrita por Hikari Mondo


Capítulo 10
No passado


Notas iniciais do capítulo

"Fico feliz de não ter feito isso"

Ok, chamada estranha, história ainda mais estranha. XD
Eu escrevi essa fic só de raiva. Não tenho paciência com pessoas burras. Especialmente quando elas se acham espertas. E a raiva me obrigou a escrever para me acalmar. Então, saiu isso. Apesar de estar um pouco exagerado algumas partes, eu até me diverti depois lendo.



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“Ok, eu tenho que admitir, até que você não está mal com o Nara” Kankuro disse, fingindo um contra-gosto.

“Não estou tão mal?” Temari perguntou divertida, e riu contidamente. “Você é tão engraçado!”

“É, é, é, você entendeu. Kuso.”

“Você já está falando como o Shikamaru, sabia? Como isso é possível, de repente nós três parecemos o Shikamaru!” Temari adicionou dramaticamente, e logo estalou em risadas.

Gaara deu um sorriso ao ver sua irmã tão feliz. Ela parecia mais jovem, sorridente, genuinamente feliz. Era bom vê-la assim. Ela foi uma das primeiras pessoas a lhe dar suporte, a lhe aceitar novamente depois da infância ferida. Poder vê-la tão radiante, quanto o sol, trazia serenidade ao coração de Gaara. O caminho de paz que ele trilhara já estava dando frutos. E aquecia seu coração saber que um destes era a felicidade da sua irmã.

É claro, ele tinha muito a agradecer ao seu novo irmão por isso também. Shikamaru também lutou muito no campo político para tornar a União Shinobi possível e estável, para expandi-la, e teve muito trabalho ao longo de todos esses anos. Seu cunhado também estava sentado na sala, com um sorriso pequeno mas inconfundível no rosto enquanto olhava de canto Temari, enquanto os dois irmãos mais velhos implicavam um com o outro. Ah, irmãos!

Shikamaru, assim como ele, parecia não se importar com as discussões bobas, intermináveis e implicantes entre Temari e Kankurou. Ele se encaixou facilmente na família. Como se desde o início fosse para ser assim... Ele lutou com Temari, e ele tocou alguma coisa nela. E depois ele...

“Fico feliz de não ter tentado atacar Shikamaru nessa época...” Seus pensamentos acabaram saindo como palavras de sua boca, em uma voz bastante baixa. Mas foi o suficiente para Temari ouvir. Ela parou de sorrir no mesmo instante, e ignorou qualquer que fosse o comentário de Kankurou, desviando toda a sua atenção em Gaara.

“Como assim, não ter atacado Shikamaru? Alguma vez você pensou nisso?”

“Nós nos encontramos algumas vezes...” Shikamaru comentou, sem dar importância ao assunto. Temari cruzou os braços, se virou para Gaara, um olhar exigente nos olhos. Ela não se daria por vencida.

Gaara se arrependeu de ter deixado as palavras escaparem. Ele fora tomado pelo clima despreocupado e acabara baixando sua guarda. Isso não era bom. Ele sabia que Temari estava preocupada. Ela não precisava, realmente, mas ela não podia evitar. Ela com certeza pensou como seria seu presente sem Shikamaru, e por isso sua expressão escureceu. Mas ele sabia que também não podia mentir ou desviar a atenção da irmã, isso só causaria mais nervosismo, suposições e quebraria a confiança dela. O jeito mais eficiente de lidar com isso seria contar a verdade, mas sem dar grandes detalhes.

Ele percebeu que, atrás de Temari, Shikamaru também estava olhando para ele. Silenciosamente. Ele tinha um aliado.

Gaara suspirou. “Duas vezes. Uma vez no hospital, quando eu estava no quarto de Rock Lee. Ele me prendeu com o Kagemane e me impediu de fazer qualquer coisa. Quando o Kagemane dele cedeu, logo Guy-sensei chegou ao quarto. A outra foi nas finais, quando eu estava indo para a luta com Sasuke. Ele e Naruto estavam subindo as escadas, quando eu estava descendo...”

Temari olhou para Shikamaru, e depois voltou a olhar para Gaara. “Você já não estava bem antes de descer...” Os olhos dela se abriram como por reflexo.

“Não...” Gaara se obrigou a dizer. “Eu estava prestes a fazer... as coisas rapidamente, mas eu vi ele fazer um selo... E eu já tinha visto como o jutsu dele funcionava. Ele tinha acabado de enfrentar você, então ele estava com pouco chakra, mas aparentemente ele tinha o suficiente para pelo menos permitir que Naruto fugisse. Eu decidi que não valia a pena perder meu tempo, e que era melhor ir para a luta com Sasuke...”

Temari estreitou os olhos com essa declaração. Ela não estava mais tão preocupada, mas com um ar de suspeita. Ela virou-se para Shikamaru. “Você desistiu da nossa luta porque estava com pouco chakra. Era mentira.”

“Não era mentira.” Mesmo com o tom ameaçador de Temari, Shikamaru parecia bem calmo e falava com seu típico tom arrastado. “Eu gastei muito chakra para poder te capturar com o Kagemane. Você era muito mais esperta do que a maioria dos genins da nossa idade. A maioria teria caído na segunda, no máximo na terceira distração. Você desviou muitas delas. Você era uma ótima observadora. Bem, ainda é. Ainda é uma shinobi de excelência, comparado com qualquer shinobi hoje em dia.”

Dúvida flutuou nos olhos dela por alguns instantes, e depois ela voltou a encarar Shikamaru. “Mas você tinha chakra suficiente para me vencer. Você não desistiu porque não você não tinha um plano para me vencer. Você tinha! Você só não queria vencer... Se você não queria, porque entrou na batalha? Porque começou a lutar, porque não desitir logo de início?”

Shikamaru rolou os olhos, como se explicar fosse muito cansativo. Problemático. E então Gaara viu. Por um milésimo de segundo, os olhos de Shikamaru encararam os dele. Ele estava desviando a atenção de Temari. E ela nem estava percebendo isso. Mas Shikamaru estava deixando claro – Gaara precisava colaborar também, caso contrário ela voltaria a atenção ao assunto principal.

“É, porque você não fez nada pra ganhar?” No entanto, Kankurou parecia completamente alheio àquela silenciosa aliança.

“Eu queria ganhar de você.” Shikamaru se dirigiu a Temari. “Homens não deveriam perder para mulheres. Mas um homem também não poderia sair batendo numa mulher. Então, eu estava num dilema, minhas opções eram limitadas. Eu iria capturar você. Mas você era rápida, e você era esperta. Você me surpreendeu. Quando você lutou com Tenten, eu já sabia quem ganharia a luta. A diferença de força era evidente. Mas pessoas fortes tendem a confiar demais nas suas forças. Sua capacidade de análise me surpreendeu na batalha. Você era forte, e confiava na sua força, mas não era arrogante, ao ponto de menosprezar seus oponentes, ao ponto de ignorar a necessidade de observação e análise.”

“Você está dizendo que desistiu porque Temari te impressionou? Para que ela permanecesse na disputa?” Gaara sabia que o movimento estava feito. A deixa de Shikamaru fora até óbvia demais.

Mas aparentemente não para Temari. “Você desistiu por mim?!?!” A fúria parecia subir à cabeça dela. Por alguns instantes, Gaara temeu por Shikamaru. Mas sua apreensão sumiu ao ver Shikamaru ainda bem tranquilo. Kankurou estalou em gargalhadas.

“HAHA – Como você se sente... – ha – sabendo que um genin de Konoha poderia ter te vencido no Chuunin Shiken? – HA-HA”

“Cale a boca, ninguém falou com você!” Temari virou-se para Kankurou, que ainda ria no sofá da cara da irmã.

“Nah, não fiz isso por você. Eu não fazia parte daquele grupo. Todos eram pessoas fortes, com um chakra muito maior que o meu. Meu próximo oponente seria Shino, um cara que eu mal vi lutar. E depois seria Naruto, Sasuke ou Gaara. Bem, eu não contava com Naruto prosseguir, apesar de ele ter o efeito surpresa. Enfim, enquanto eu lutava com você, eu vi que aquilo não era para mim. Eu queria ser um cara mediano, sabe? Você estragou isso também.” Ele sorriu de canto, e Gaara percebeu que Temari respondeu o sorriso, mesmo que ele não fosse capaz de ver o rosto dela de fato.

“Mas a história do chakra acabando era mentira...? Você deu a vitória a Temari!” Gaara se perguntou se Kankurou queria realmente saber a verdade, ou se só prosseguiu o assunto para implicar com Temari.

“Meu chakra estava acabando. Eu não conseguiria aguentá-la por mais muito tempo.”

“Ah sim, seu jutsu tem um limite de tempo. Deve ser bem chato ter que se planejar com isso”

Um sussurro quase inaudível passou pelos lábios de Temari. Como se ela quisesse manter em segredo, mas já tivesse ruminado o pensamento por muito tempo. “Acho que não tem um tempo limitado.”

Shikamaru olhou para ela surpreso. Ele parecia realmente surpreso. Nada como o homem manipulador que fizera sua irmã se distrair de sua preocupação pela vida dele. Gaara estava grato que Shikamaru pudesse evitar esses sentimentos ruins em sua irmã, mas ao mesmo tempo se indagava se essa facilidade de manipular Temari seria realmente uma coisa boa. Ele precisaria ter uma conversa bastante sincera com o Nara em algum momento.

“O que, vai defender o maridinho agora?” Temari virou os olhos, desafiando Kankuro. Ele continuava rindo maliciosamente, mas não tomou nenhuma tentativa de ‘ataque’ sob o olhar dela.

Shikamaru continuava a encarar Temari em admiração. “O que você disse?”

Ela virou para ele séria por alguns segundos, e quando ele piscou – Gaara tinha a impressão que imaginara que a cabeça do Nara tinha assentido levemente, mas não viu nenhum movimento – Temari repetiu claramente. “Acho que seu jutsu não tem um limite de tempo.” O sorriso de Shikamaru se abriu, orgulhoso, e ele levantou as sombrancelhas. “Você nunca disse que tinha. Mas você faz as pessoas acreditarem que exista um limite máximo que você possa suportar. Porque isso faz com que elas fiquem muito confiantes, e vuneráveis. Você explora essa vulnerabilidade.”

“E o que te fez chegar a essa conclusão?” Shikamaru perguntou, sem negar ou afirmar nada.

“Você derrotou um Akatsuki sozinho, Shikamaru. Você é a única pessoa de que se tem registro que derrotou um Akatsuki sozinho. Com todo o respeito, não quero ofender você, mas acho muito improvável você ter feito isso se seu jutsu tem um limite de tempo. E o fato de você saber explorar bem as fraquezas das pessoas. Você se finge de desatento, mas você está observando tudo, sempre preparado para usar algo contra a pessoa sem que ela perceba.” Temari terminou subindo a voz, e Gaara se perguntou se ela descobrira o que ele e Shikamaru fizeram.

Mas seu cunhado continuava com um olhar, um sorriso de admiração – não, de reverência – dirigido a sua irmã. “Você nunca deixa de me surpreender, mulher. Sabia disso? Você é incrível.”

“Elogios não vão te levar a lugar nenhum.” Ela estreitou os olhos de novo. “Você está tentando me manipular também?”

“Hmpf. Não é um elogio. É um fato. Você é incrível. Eu queria uma vida mediana, e meu primeiro erro foi lutar com você.” Ele deu de ombros. “E porque eu tentaria manipular você agora? Não faz nenhum sentido.”

Tudo bem, Gaara pensou, a intenção de fazer Temari não se preocupar podia ser boa, mas mentir tão descaradamente na frente dela estava começando a preocupá-lo. Um casamento feliz não poderia ser construído em um lar onde um dos envolvidos não fosse honesto com o outro. A sua conversa com Shikamaru ia ser bem longa.

“Você sabe explorar muito bem o sentimento das pessoas quando quer. Já vi você fazer isso antes. Não me admiraria se você fizessse isso comigo também.” Mas pelo menos ficava feliz de sua irmã não ser tão cega mesmo na frente do Nara.

“Hee” Foi algo como uma risada, mas que parecia sair mais do nariz do que da boca. “Como se me adiantasse muita coisa. Você sempre descobre cedo ou tarde quando tento esconder algo de você...”

“Mas isso só porque você me deixa descobrir, não é?”

“Acredite mulher, existem muitas coisas que seria melhor para mim que você nunca soubesse. E mesmo assim você descobre. Eu não consigo ocultar nada de você; como eu disse, você sabe analisar.” Ele desviou o olhar e passou a fitar o chão. Kankurou estava inclinado para a frente, quase em cima do casal, mas eles pareciam totalmente alheios a este fato.

Temari encarava o marido em silêncio, até não se conter mais em esperar. “Mas...?”

“Mas o quê?” Shikamaru respondeu abruptamente.

“Existe um ‘mas’ nessa sua frase.” Temari falou como se estivesse exprimindo o óbvio.

Seu cunhado suspirou. “Mas mesmo quando eu não quero te contar, quando eu não quero que você saiba... eu ainda quero que você descubra... É um pouco contraditório, eu sei; mas eu quero que você saiba tudo sobre mim, mesmo quando isso não é logicamente o melhor pra mim.” Ele moveu o rosto para encará-la profundamente. “Acho que foi por isso que me casei com uma mulher tão inteligente.”

Temari abriu um sorriso lentamente enquanto eles se encaravam. Gaara poderia jurar que havia uma comunicação, uma conversa através de seus olhos, mas não era capaz de entender sobre o que se tratava. Kankurou, cuja cabeça estava quase entre o casal, olhava de um para o outro, numa espécie de tentativa de acompanhar a troca de palavras. No entanto, sua expressão confusa indicava que ele não estava sendo muito bem sucedido na sua missão.

Subitamente, Temari virou-se para Kankurou, fazendo com que ele saltasse para trás devido ao movimento inesperado. Temari ainda sorria. “Alguém quer mais chá?”

Ela começou a pegar as xícaras da mesa sem que ninguém dissesse mais nada, e então começou a andar em sua direção – ela precisava passar pelo lado da poltrona em que Gaara estava para ir até a cozinha. Quando ela estava passando ao seu lado, Temari parou, colocou uma mão em seu cabelo, e sorriu amavelmente para Gaara. “Também fico feliz de você não ter atacado o Shikamaru.” Com isso ela endireitou-se e continuou seu caminho até a cozinha.

Gaara a observou andar por alguns instantes, até desviar o olhar de volta para seu cunhado. Ele também observava Temari, ainda com o mesmo olhar de admiração e reverência – e amor, Gaara concluiu. Com certeza, era diferente de um amor de família, mas ainda era claramente amor.

Mas a fala de Temari colocou em dúvida o que Gaara pensara até ali: quem realmente fora manipulado nessa história? Temari ou ele próprio? Gaara não tinha mais certeza.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu imagino o Shikamaru esperto ao ponto de poder manipular pessoas - mas ele não é tão bom para fazer isso com a Temari. Eu poderia explicar muitos motivos que me levam a essa análise, mas gosto de deixar isso de material para as próximas fics.

Mas sério, eu ainda não gosto de pessoas burras. O problema não é 'não saber algo'. É ser burro MESMO. (Obrigada, eu precisava desabafar.)



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