Aquele a quem chamam Severus Snape escrita por magalud
Não foi sem inquietação que a família chegou a Hogwarts. A apreensão deles era palpável, mas o exterior era sem expressão e totalmente composto. Contudo, o fato do chamado ter vindo diretamente do Ministro Interino da Magia não era nada tranquilizador.
Shacklebolt os esperava junto à lareira pela qual usaram o Floo. — Bem-vindos. Fico satisfeito que puderam vir tão rapidamente.
Era muita gentileza, avaliou Lucius Malfoy. Gentileza demais. Se aquele chamado do ministro fosse para a sentença que levaria todos a Azkaban, os Aurores teriam vindo levá-los, não? Não, uma coisa bem diferente disso. Lucius manteve os olhos abertos e fixos no Ministro, para que o outro não notasse o sub-reptício suspiro de alívio que soltou dos lábios aristocráticos.
— É uma honra, Ministro — mentiu, da maneira suave e natural que só os bem-nascidos sabiam. — Mas ainda não entendo-
— Lamento todo o sigilo, Sr. Malfoy — interrompeu Kingsley, habilmente —, mas logo verão o motivo para tudo isso. Por favor, acompanhem-me.
Não havia Aurores portanto, portanto, aquilo positivamente não era uma prisão. Lucius seguiu o homem, a longa cabeleira branca balançando no ritmo de suas passadas. Desde que o Lord das Trevas se fora, o cabelo dele tinha voltado ao antigo esplendor. Talvez fosse a pestilência que seu antigo Mestre aspergia na atmosfera que curara o cabelo de Lucius. Os elfos precisaram de dois dias inteiros para livrar a mansão da malignidade e maldade concentradas.
Olhando por cima dos ombros, Lucius observou Draco destilando tensão e Narcissa tentando disfarçar o nervosismo. As roupas elegantes não conseguiam esconder tanta angústia. Todos os três estavam inquietos, e com um grande pergunta: o que era tudo aquilo?
Eles estavam prestes a entrar na ala hospitalar, se a memória e o cheiro de materiais de assepsia estava corretos. Ao chegarem à porta, porém, Shacklebolt virou-se, avisando:
— O que estão prestes a ver é altamente confidencial. Vocês têm, claro, a opção de não entrar. Mas se escolherem entrar deverão jurar pela Honra de Bruxo que não revelarão a ninguém o que estão para ver e discutir.
Lucius ergueu uma sobrancelha e manteve uma atitude irônica. — Um juramento pela Honra de Bruxo? Não um juramento mágico, que seria mais apropriado para os atos oficiais do Ministério?
Shacklebolt sentiu uma raiva interior ao responder à ofensa, quase rosnando:
— Já que não é um idiota completo, Sr. Malfoy, já deve ter desconfiado que não estou aqui em missão oficial do Ministério. Embora o assunto não seja diretamente ligado à Segunda Guerra, também não é totalmente desvinculado. Portanto, vamos parar com rodeios e esclarecer: sim, haverá perguntas desagradáveis sobre lealdades e essas coisas. Para ser totalmente honesto, o Wizengamot não vai levar em consideração nada do que acontecer aqui ao julgar o seu caso. A menos que queira requerer que a Corte o faça.
A sobrancelha de Malfoy não abaixou:
— Terei eu alguma razão em especial para fazer este requerimento?
Shacklebolt deu um risinho — e Lucius não gostou de sentir que o homem nem disfarçava a satisfação com seu desconforto.
— Essa decisão é toda sua, Sr. Malfoy. Pode achá-la muito proveitosa, se tiver cabeça.
Lucius refreou o instinto de colocar aquele mestiço no seu lugar. Sem alterar o tom da voz, observou:
— E o senhor garante que isso nada tem a ver com o Wizengamot ou o Ministério.
— Oh, pode ficar tranquilo, Sr. Malfoy. Nada aqui tem autorização do Ministério ou da Corte Bruxa. — Ele olhou para os três. — Então, o que dizem? Estão dentro ou preferem voltar para casa?
Houve uma ligeira hesitação e o cabeça do clã consultou Narcissa com um olhar. Ela assentiu, e Draco fez o mesmo. Virando-se para Shacklebolt, Lucius indicou.
— Mostre o caminho, Sr. Ministro.
Shacklebolt soltou mais um daqueles sorrisinhos e abriu a porta.
Nada de estranho veio receber o trio Malfoy. Kingsley os dirigiu para um casal vestido em trajes pálidos e diáfanos.
— Sr. Malfoy, deixe-me apresentá-lo ao Sr. Elohim e sua mulher Apsara. Esses são Lucius Malfoy, sua mulher Narcissa e o filho Draco.
Os dois homens trocaram breves apertos de mão. Lucius sentiu um calor estranho quando as mãos se tocaram.
Apsara sorriu para Draco e Narcissa amistosamente e exclamou:
— Que jovem bem-apessoado! Deve estar orgulhosa de seu rapaz, Madame.
Lucius não pôde deixar de notar que aquela era a abordagem mais sutil e mais eficiente para desfazer as suspeitas naturais de sua mulher sobre estranhos.
— Obrigada, Madame.
Kingsley jogou a bomba:
— Elohim e Apsara são verdadeiros pais de Severus Snape.
Três pares de sobrancelhas Malfoy se ergueram dramaticamente diante da informação. Narcissa soltou um gemido abafado e Lucius indagou:
— Verdade? Mal posso esperar para ouvir a história toda. — Num momento de inspiração, acrescentou: — Aproveitando a ocasião, não sei se estão a par da profunda amizade e admiração que eu tinha por seu filho. Minhas condolências por sua perda.
Elohim adquiriu um ar sereno ao comentar:
— Na verdade, Sr. Malfoy, eu estou bem a par da proximidade que teve com meu filho. Entendo que formaram uma amizade desde os anos mais tenros.
— Sim, nós nos encontramos aqui mesmo, em Hogwarts.
Apsara virou-se para Narcissa.
— De uma mãe para outra, Madame, posso lhe pedir a gentileza de me falar um pouco sobre meu filho?
— Será um prazer — disse a mulher altiva, mostrando alguma simpatia em seus olhos. — Severus era um amigo querido e um mentor para nosso filho Draco. Eu o pedi que ajudasse Draco numa ocasião particularmente difícil, e Severus mostrou-se excepcionalmente prestativo. Sou extremamente grata a ele por proteger Draco, arriscando tanto e pagando um preço terrível para manter sua palavra.
Com os olhos marejados, Apsara observou:
— A senhora deve amar muito seu filho. Posso ver seu amor e sua devoção. Por Draco, tomou atitudes que surpreenderam até a senhora mesma, não foi?
Lucius viu a pele pálida de Narcissa ficar ainda mais branca, mas ela se controlou e disse, com uma ponta de orgulho:
— É claro. Ele é meu filho.
Elohim interveio.
— Então a senhora deve entender que ficamos satisfeitos em descobrir o que fez pelo jovem Harry. Mesmo que tenha pensado apenas nos interesses de Draco, no final suas ações protegeram Harry. A senhora mentiu para o seu Lord, mentiu na cara dele e confirmou que ele estava morto quando ele não estava. Louvável! Eu me rendo à sua coragem, Madame. — E fez uma reverência respeitosa.
O silêncio se fez.
Lucius sentiu o coração parando de puro terror, e ele chegou a temer por um momento que suas pernas não aguentassem o choque. Ele ignorava (sequer suspeitava) que sua delicada Cissy tivesse mentido para o Mestre. Ela jamais divulgara tal informação, nem Harry Potter.
Lucius olhou para o filho: Draco parecia igualmente petrificado tamanho o choque.
Aparentemente alheio às reações da família, Elohim continuou, entusiasmado:
— Não creio que vocês saibam disso, portanto deixem-me dizer por que escolhemos mandar Severus numa missão para ajudar Albus Dumbledore.
— Missão? — repetiu Lucius, a voz falhando.
— Exatamente — confirmou Elohim — Severus estava aqui para ajudar contra o Ser Trevoso. Seu destino era servir ao bem. Parece, porém, que ele foi persuadido a juntar-se às forças das trevas e do mal. Agora diga-me, Sr. Malfoy, como pai, o que o senhor faria se alguém tentasse desviar seu filho Draco do seu caminho e impedi-lo de cumprir seu destino? O que o senhor acha que devo fazer com a pessoa que desencaminhou meu filho?
Se antes Narcissa tinha ficado pálida, agora foi a vez de Lucius ficar sem cor ao se dar conta do que Elohim falava: falava dele, a pessoa que encaminhara Severus ao poder um bruxo que prometia varrer os sangue-ruins do mundo bruxo e colocar os Muggles em seu devido lugar.
Mas ele ainda tentou balbuciar:
— Bom, eu... Talvez, acho...
A voz de Elohim perdia rapidamente a doçura e tornava-se dura e ameaçadora a cada palavra. — Porque houve um responsável pela queda do meu garoto. Houve uma pessoa que despiu Severus de tudo que ele era e vendeu a alma de meu garoto a tudo que é vil, ruim, pernicioso e MAU!
Lucius foi perdendo o pouco de cor que ainda tinha no rosto à medida que a bela expressão de Elohim se transformou numa máscara feroz. O Todo-Poderoso Lord Malfoy teve um genuíno faniquito quando seus olhos incrédulos observaram o efeito dramático das alvas asas de Elohim abertas em sua magnitude total, avançando contra ele com uma fúria comparável à mais legítima ira divina.
As reações foram rápidas e inevitáveis.
Narcissa caiu desmaiada na hora, Draco soltou um grito inacreditável (como uma mulherzinha, diga-se de passagem), e Lucius tentou corajosamente manter-se de pé, mas desta vez suas pernas não aguentaram e ele caiu de joelhos, num misto de horror e pura admiração.
— É a segunda humana que desmaia — observou Elohim, com curiosidade e espanto. — Imagino se elas fazem isso com frequência.
Apsara comentou:
— Eu imagino que essa, talvez, não seja a melhor hora para informar que Severus está vivo, amado.
Ao ouvir isso, Lucius sentiu que estava bem próximo de se juntar a Narcissa, na inconsciência.
— Talvez sim. — Acho, então, que levá-los conosco está fora de questão.
— Sugiro que perguntemos a eles diretamente, amado.
— Excelente ideia.
— E também sugiro que tente reduzir sua dramaticidade. Quem sabe isso reduz os desmaios femininos?
— Oh — fez Elohim, genuinamente surpreso. — Tentarei essa abordagem, então. Obrigado pelo insight, meu amor.
Kingsley sorriu e ajudou Narcissa, que era amparada pelo filho. Ele nunca sonhara que viveria para ver o dia que as aristocráticas expressões dos Malfoy seriam substituídas por esses rostos de incredulidade e assombro.
Kingsley estava adorando tudo aquilo.
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