Aquele a quem chamam Severus Snape escrita por magalud


Capítulo 15
Capítulo 15




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/640058/chapter/15

Foi uma grande surpresa para Harry. Quando Apsara informou que Snape estava bom o suficiente para vê-los, ele esperava um homem em recuperação, adoentado. Na verdade, na mente de Harry, havia a imagem de um doente frágil, numa cama. Ele se lembrava do tom acinzentado na face de Snape dentro da ala hospitalar, tratado por Madame Pomfrey. O Menino-Que-Derrotara-Voldemort podia até visualizar a pele amarelada e o rosto macilento emoldurado por madeixas opacas de cabelo negro e oleoso. Ele não esperava encontrar o homem ao ar livre.

Era literalmente ar livre, pensou Harry. Um campo, na verdade, ele se corrigiu. Não era tão diferente do campo de Quidditch na escola. Aliás, como se estivesse em casa, Severus Snape fazia círculos e voltas no céu.

Sem vassoura. Com as próprias asas.

— Nossa — Harry ouviu Ron baixinho. Hermione estava boquiaberta, olhos arregalados. Mas os olhos verdes de Harry estavam grudados no homem voador deslizando no céu muito limpo, que tinha um tom gentil de azul.

Snape estava sem camisa, com uma calça comprida preta e um sapato fechado que Harry não pôde ver bem se era um tênis ou bota. Depois Harry se deu conta de como era estranho pensar em qual calçado era mais apropriado para voar.

Acima de tudo, porém, Harry estava embevecido com o movimento das impressionantes asas negras. A graciosidade, a força, a estranha dança aérea — tudo isso fez Harry se coçar de vontade de pegar uma vassoura. Se ele estivesse com sua Firebolt, há muito estaria no céu, ao lado de Snape. Mas podia ser até perigoso: ele provavelmente estaria prestando mais atenção às magníficas asas pretas.

Nos poucos dias em que tinham sido hóspedes na terra de Elohim, Harry e os demais não se cansaram de se maravilhar com a variedade de pessoas do lugar — e asas, também. Havia asas brancas como de Elohim, e cinzas, e avermelhadas, algumas ruivas como o cabelo de Ron. Outras eram mescladas. Hermione comentou que a diversidade genética a fazia lembrar não só das variações das cores de cabelo humano mas também do pelo e pele de animais.

A estranheza fazia Harry quase se sentir em outro planeta. Há muito eles tinham desistido de perguntar a localização geográfica do local, depois de tantas respostas evasivas e amorosas do pai de Snape.

Naquele lugar, as pessoas voavam nas ruas. Apsara saiu com eles e mostrou as estradas altas, que era o nome dado às pistas voadoras. Harry imaginou que eles pudessem fazer o mesmo por vassouras um dia.

Todos esses pensamentos sumiram da mente de Harry quando uma sombra atravessou a visão e cresceu até Severus aterrissar graciosamente em seus dois pés diante do trio.

— Uau — Ron fez, quase sem fôlego. Ele parecia muito impressionado.

— Isso foi bem impressionante, senhor — Hermione conseguiu dizer.

— Obrigado, Srta. Granger — respondeu Severus, que ofegava ligeiramente. — Vejo que estão todos bem.

— Estamos, senhor, obrigado. — respondeu Harry. — Como se sente?

— Estou ótimo, Sr. Potter, obrigado. Aliás, estou extremamente bem para um homem morto, não concordam?

Harry estava estupefato pelo grande senso de humor de Snape. O homem também tinha uma ótima aparência: a pele perdera o tom pálido, e muitas linhas de expressão estavam mais suaves. O ar aparentemente amargo e sardônico sumira de seu rosto. Com tudo isso, Snape não só parecia mais jovem, mas também mais alegre.

— Fico feliz que esteja bem, senhor — disse Harry, com sinceridade. — Depois de tudo que fez...

Snape não o deixou concluir a frase:

— Fiz o que eu tinha que fazer, Potter, exatamente como você. Não pense muito sobre isso. Só me dou por satisfeito que o Lord das Trevas tenha morrido de uma vez por todas e agora o mundo bruxo possa viver sem a ameaça dele.

— Foi uma grande surpresa — comentou Hermione — descobrir suas verdadeiras origens. Disseram que foi surpresa até para o senhor.

Tirando uma camisa do bolso das calças, Snape recolheu as asas e vestiu. Harry admirou-se que ele nem parecia carregar as asas.

— Tem razão, Srta. Granger — concordou o ex-bruxo. — Não tinha a menor ideia.

— Mas o senhor parece ter se adaptado rapidamente a seu verdadeiro lar — observou Harry. — Se me permite a observação.

— Há muito ainda a aprender, Sr. Potter — garantiu Snape. — Estou melhorando a capacidade de voar com minhas próprias asas graças à supervisão de meu pai, mas meu status nessa sociedade é de uma criança. — Os jovens ficaram chocados, e Snape explicou: — Tecnicamente, eu sou uma. Crianças aprendem a voar antes de andar, porque assim eles ficam menos vulneráveis a se machucar em quedas. Por outro lado, eu não tive nada da educação básica: física, ética, filosofia. Então, não apenas sou uma criança, mas também sou um estranho no meio de meu próprio povo. Para resumir: nem de longe estou adaptado. Mas confesso ter ficado tocado com a recepção que tive.

— Seus pais parecem gostar muito do senhor — comentou Hermione. — Eles usaram recursos extremos para levá-lo para casa. Seu pai pode ser bem intimidador, e sua mãe é muito doce.

— Obrigada, Srta. Granger. Levarei a eles suas impressões, embora eu tenha certeza de que não teriam deixado vocês virem se tivessem qualquer objeção. Suponho que, a esta altura, eu deva agradecê-lo, Sr. Potter, pela tarefa de abrigar minha mente na sua. Espero que não tenha sido muito esforço.

Harry deu de ombros. — Fiquei feliz em poder ajudar, senhor.

E ele estava sendo sincero. Ver Snape sorrir suavemente de gratidão fez Harry sentir uma sensação engraçada. Ele não sabia definir muito bem, mas era bom.

— As coisas aqui são tão diferentes da nossa terra — comentou Ron, abrindo a boca pela primeira vez.

Harry não precisava dizer que Snape também estava bem diferente. E também que estava mais relaxado, mais bem-apessoado, embora o nariz ainda fosse em forma de gancho e os dentes ainda fossem amarelados e meio tortos. O Rapaz-Que-Matara Voldemort observou os olhos de seu antigo professor não brilhavam mais com crueldade e malícia.

Harry escolheu não dizer a Ron que aquele lugar (fosse onde fosse) era verdadeiro lar de Snape, e não o mundo bruxo.

— Admito que pessoas voando com suas próprias asas não seja uma ocorrência corriqueira da Inglaterra Bruxa — reconheceu Snape, bem-humorado. — Às vezes eu também me sinto atordoado com a mera ideia.

— E como é? — indagou Harry, sem conseguir se conter. — Voar com suas asas, como é?

— No momento, sofro da falta de condicionamento físico e dores em músculos que nunca tive antes — respondeu Snape, cansado. Então ele sorriu. — Mas é uma sensação sem paralelo.

Os dois jogadores de Quidditich tinham os olhos brilhando. Com uma pontinha de inveja do homem alado, Harry disse:

— Só posso imaginar.

Severus confessou:

— Como um bruxo, eu nunca dei muita importância ao voo com vassoura. Minha mãe diz que era minha natureza se manifestando. Não tenho certeza, mas deixe-me dizer, Potter, que nada é remotamente comparável. E não preciso dizer que eu tinha capacidade de voar mesmo sem essas asas.

— Eu me lembro — comentou Harry, sorrindo. — Foi incrível, Professor.

— Por favor, me chame de Severus. Não sou mais seu professor, nem serei jamais.

— Senhor — disse Hermione —, o senhor vai voltar conosco?

— Não vejo como eu poderia voltar, Srta. Granger. Tal atitude só resultaria em sofrimento e dor. Melhor evitar tudo isso.

— Mas senhor! — protestou Harry. — É um herói! O Wizengamot perdoou todas as suas ações e lhe concedeu uma medalha.

Severus lembrou, gravemente:

— Se eu voltar, Sr. Potter, verá que a gratidão do Wizengamot não durará muito. É muito mais fácil reverenciar um herói morto do que um espião vivo que foi obrigado a assassinar um bruxo poderoso e querido.

Harry abriu a boca para protestar, mas Severus o interrompeu:

— Esta, contudo, não é a principal razão. Eu acredito realmente que este lugar é a minha segunda chance. Minha família está aqui, e este é o lugar onde eu devo ficar. É justo que eu dê a ele uma chance também.

Harry se sentia arrasado. Depois de tudo, Snape iria ficar ali.

— Mas... — Ele começou, mas não tinha argumentos. Snape tinha razão. Fazia todo o sentido do mundo.

Snape continuou:

— Por tudo isso, incluindo o perdão do Wizengamot, sou muito grato, Potter. Acredito que seja difícil para mim, neste momento, encontrar um lugar no mundo bruxo. As pessoas iriam se lembrar das coisas que fui forçado a fazer, das escolhas que me vi obrigado a tomar, então me odiariam — com bons motivos para tal. Nesta hora, algum corajoso Gryffindor como vocês três se sentiria na obrigação de defender a minha honra ou algo assim, e haveria muita tensão desnecessária. Não permitirei isso. Não permitirei que meus erros passados se reflitam em vocês ou outros.

Harry estava inconformado.

— Mas devemos tanto a você. Não é justo.

— Permita-me discordar — retrucou Snape. — É mais do que justo. O mundo bruxo não tem uma colocação para mim, e, como indiquei antes, considero essa circunstância uma bênção, por uma pletora de razões.

Harry estava emburrado.

— Ainda não está certo.

— Devo lembrá-lo que não sou mais um bruxo? Ou melhor, que deixei de ser humano? — Para enfatizar seu argumento, ele farfalhou as asas, mesmo sob a camisa.

Aquilo calou Harry. Snape tentou consolá-lo:

— Não se preocupe, Sr. Potter. Tudo acontece por algum motivo. — Ele estava quase sorrindo, o que normalmente perturbaria Harry, mas naquele momento era tranquilizador. Snape indagou: — Vocês pretendem voltar logo?

— Sim, senhor — respondeu Hermione. — Esperávamos que voltasse conosco, mas agora que isso não vai acontecer, não há motivo para adiar nossa partida. Tenho certeza que todos compreenderão sua decisão. Além disso, o Ministro Shacklebolt estava classificando todo o episódio como confidencial.

— Como deveria ser — concordou Snape. — Se eu "voltei" dos mortos, as pessoas poderiam acreditar que outros poderiam voltar. Imaginem o pânico entre as pessoas se elas pensassem que Lord Voldemort pudesse estar entre os que viveram de novo.

Ron fez uma careta diante do nome, e Hermione olhou para ele com censura. Snape pigarreou, como se nada tivesse visto, e mudou de assunto.

— Meu pai me lembrou que talvez vocês dois, que são fãs de Quidditch, poderiam querer voar um pouco.

Ron e Harry se entreolharam, sem entender.

— Voar?

Snape esclareceu:

— Sem vassoura.

Os dois quase perderam o fôlego.

— Quer dizer-?

— Exato — confirmou. — Se estiverem dispostos, claro.

Harry estava se coçando para aceitar o convite. Mas de alguma forma não parecia apropriado. O homem mal tinha se recuperado das garras da morte. Snape parecia ótimo, mas Harry não via em que carregá-lo no ar seria bom para a saúde de seu antigo professor.

Como se lesse seus pensamentos, Snape garantiu:

— Não se preocupe, Sr. Potter. Asseguro que isso não será danoso para minha saúde. Muito pelo contrário. Meus músculos se beneficiarão e muito de tal atividade.

— Mas senhor — protestou Harry —, eu não sou leve e o senhor não é mais bruxo.

— Verdade nas duas afirmações — concordou Snape. — Mas mesmo que eu não tivesse à minha frente não um, mas três bruxos treinados capazes de resolver este problema — Harry viu o rosto de Ron se tornar vermelho feito um tomate ao ouvir aquilo —, posso informá-los, com alegria, que meu povo não é totalmente desprovido de habilidades e atributos.

Harry mais uma vez se deu conta da profundidade das mudanças no antigo professor de Hogwarts. Antes, estas palavras teriam sido ditas com escárnio e malícia, mas agora eram cheias de alegria e camaradagem.

Hermione concluiu:

— Então o senhor tem algum tipo de poder.

— Tipo é a palavra correta. O que você chama de poder é mera questão de treinamento, e magia nada mais é do que uma percepção diferente.

— Elohim disse algo parecido — ela recordou.

— Foi, mas nós não entendemos — completou Ron.

— Com sorte, Sr. Weasley — disse Snape —, um dia seus descendentes entenderão.

Eles se olharam entre si, entre a esperança e a dúvida. Snape teve que dar um empurrãozinho:

— Então, alguém quer voar? Já fiz meu aquecimento e estou pronto.

Harry não deu chance para desistências e agarrou a chance sem demora. Depois de discutirem a parte operacional, as coisas correram de maneira mais satisfatória do que ele imaginara.

As sensações de voar sem vassoura (ou de trestálio ou de hipogrifo, para ser sincero) eram muito mais intensas do que ele esperava. Harry tinha uma consciência muito aguda do vento zunindo em suas orelhas, do sol em seu rosto, da falta de peso em seu corpo.

Embora Harry não estivesse muito confortável nos braços de seu antigo segundo professor mais odiado (Umbridge tinha o primeiro lugar inconteste), ele se sentia seguro. Snape podia ter sido o pior inimigo de seu pai, mas ele também fora o melhor amigo de sua mãe e o peão mais confiável de Dumbledore. Snape dedicara sua vida a proteger Harry, e o convite para voar com suas asas poderia ter sido uma forma sutil de inquirir se Harry confiava nele.

Ou então, Harry percebeu alarmado, ao ver o sorriso incontrolável de Ron quando o amigo também experimentava as alegrias de voar nos braços de um anjo virtual, que podia ser a maneira de Snape para dizer adeus.

Ele só fez a pergunta depois que Ron aterrissou e Hermione declinou do convite.

— O senhor não vai mesmo voltar conosco, vai?

Harry viu o sorriso de Snape cair diante da pergunta direta. Os outros dois arregalara os olhos, parando de rir depois dos momentos de descontração. Um clima tenso pairou sobre eles, denso o suficiente para fazer o ar pesar.

Depois de uns segundos de pausa, Snape respondeu de maneira suave:

— Lamento, Sr. Potter, mas não vou voltar com o senhor.

— Por favor, me chame de Harry. Eu não sou meu pai, sabe?

As sobrancelhas de Snape subiram, de maneira divertida.

— Sim, Harry, eu sei que não é. Você é muito parecido com sua mãe.

— Gostaria de poder fazer o senhor mudar de ideia — disse Harry. — Adoraria a oportunidade de conhecê-lo melhor, senhor.

— Teria sido uma experiência interessante, não resta dúvida — concordou o ex-Mestre de Poções.

Neste momento, Snape soltou um sorrisinho típico de seus tempos de Hogwarts, e aquilo trouxe a Harry um tipo de conforto que ele o fez sorrir também.

— Boa sorte, senhor.

— Desejo a todos o mesmo. Contudo, quero que nunca se esqueça de uma coisa, Sr. Potter: daqui para frente, eu não estarei mais por perto para salvar sua pele.

Harry sorriu e deu um aperto de mão como gesto de adeus. Ron e Hermione fizeram o mesmo, vendo Elohim e Apsara chegando. E era assim que terminaria, pensou Harry, um tanto desapontado: eles voltariam sem Snape.

Foi Elohim quem os orientou de volta ao mundo bruxo. Harry estava distraído ao ouvir as instruções e recomendações do pai de Snape, vendo seu ex-professor ficar com a mãe recém-encontrada. O rapaz sabia que jamais poderia contar essa aventura, e deveria fingir que Snape tinha morrido na Batalha de Hogwarts.

Mas Harry não prestava muita atenção nessas coisas. Tudo que ele pensava era que ele nunca mais veria o homem que salvara sua vida tantas vezes, por amor a sua mãe. O homem mais corajoso que ele conhecera.

o0o o0o o0o

Apsara quebrou o silêncio pouco depois que Elohim desapareceu com os adolescentes.

— Reparei que você decidiu não contar a eles a verdade.

— Não poderia contar parte da verdade, de qualquer modo.

— Você poderia ter dito que vai voltar.

— Vai ser melhor assim — insistiu Severus. — Você entende por que preciso fazer isso?

Ela sorriu graciosamente.

— Mais do que imagina. Cuidar dos outros é um traço profundamente arraigado em nosso povo, como você sabe agora. Sei que você se sente responsável pelo jovem Harry. Você tem por ele uma dedicação igual à que teria se ele fosse seu próprio filho.

Uma dorzinha conhecida apertou o coração de Severus quando ele lembrou:

— Ele poderia ter sido.

— Possivelmente.— concedeu Apsara. — Mas agora você vai viver mais que ele, e os filhos dele, e os filhos dos filhos dele.

— E eu devo cuidar deles também, como continuarei a fazer. Por isso é melhor que eles não saibam que voltarei.

— Mas eles nem mesmo vão se lembrar que você está vivo, filho.

— Foi uma decisão de papai — Severus lembrou. — E concordo com ele. Será melhor que não se lembrem. — Ele suspirou. — A única coisa que me condói é que Harry vai sentir falta é esse fechamento sobre meu papel na guerra.

Apsara sugeriu:

— Pode ser que não seja assim. Como guardião do midrash, ele pode ser capaz de reter uma parte de suas memórias ou sentimentos. Ouso arriscar que isso daria a ele esse fechamento.

— Ficarei feliz se isso acontecer — disse Severus, com sinceridade. — A perda de oportunidades é o pior tipo de arrependimento que se pode experimentar.

Apsara pegou o braço do filho, solidária:

— E você sabe disso melhor que ninguém, é claro. É por isso que tenho toda a confiança que você se dará muito bem em proteger o jovem Harry como um virtual anjo da guarda.

— Obrigado, mamãe.

— Obviamente, isso não quer dizer que eu não vá sentir sua falta, meu filho. Eu só terei sua companhia aqui em casa por um curto período durante seu treinamento.

— Sua presença será mais que bem-vinda para me visitar. Papai também, claro.

— Oh, nós certamente vamos dar uma passadinha. Seu pai tem uma quedinha a favor dos humanos.

Severus sorriu.

— Notei.

Apsara ofereceu-lhe o braço e Severus o tomou.

— Então — convidou ela —, vamos voltar para a casa? Seu primo Gabriel quer conhecê-lo. Ele quer lhe dar dicas sobre se misturar a humanos e cobrir seus passos com múltiplas identidades ao longo dos tempos.

Eles se puseram a caminhar sobre a relva macia, ainda de braços dados. Num tom sarcástico, Severus observou:

— Mãe, pelo que ouvi, discrição não era o forte de Gabriel.

Apsara sorriu.

— Oh, ele melhorou muito no último milênio. Você ouviu sobre o Grande Desastre de Reykjavik logo após a morte da Princesa Diana de Gales?

Severus ergueu uma sobrancelha.

— Ouvi falar da morte da Princesa. Mas um grande desastre na Islândia? Não, acho que não ouvi falar disso.

O sorrido de Apsara era tão brilhante que chegou a resplandecer. — Exato. — Ela mexeu as sobrancelhas sugestivamente. — Viu? Discrição. Agora, você sabia que podemos alterar a vibração de nossas moléculas de tal modo que os humanos não nos veem? Você pode ficar literalmente invisível para eles. Não percamos tempo. Há muito que você precisa aprender antes de voltar ao mundo dos humanos.

Severus sorriu, sabendo que iria sentir saudades do humor delicado e mordaz de sua mãe. Ele não mentira para Harry Potter. O mundo bruxo não tinha lugar para ele, e ficaria aliviado em saber que ele não voltaria para lá.

A verdade, porém, era que seu verdadeiro lar nunca seria seu lar. Severus já se sentia deslocado e sabia que ele viveria com essa sensação a vida toda. Considerando que a expectativa de vida de sua espécie chegava a dezenas de milhares de anos, contudo, Severus achava que era um tempo muito longo para se sentir um estranho em sua própria casa.

Além disso, Severus também tinha suas próprias questões a trabalhar, relacionado a fechamento. A morte de Lily, ele acreditava, era uma coisa a qual ele jamais superaria, mas agora ele estava aprendendo a lidar com uma perda tão devastadora.

Talvez cuidar da família dela pelos próximos milênios fosse o que ele precisasse.

The End


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aquele a quem chamam Severus Snape" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.