Aquele a quem chamam Severus Snape escrita por magalud


Capítulo 12
Capítulo 12




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/640058/chapter/12

No ranking das aparatações, aquela não foi das piores, avaliou Ron Weasley. A transição foi suave, para não mencionar uma sensação agradável em seu corpo, como um calor sentido mais no fundo de sua alma.

Quando ele olhou em volta para ver onde estavam, viu os demais parados diante do que parecia ser um imenso templo romano de mármore branco, de colunas altas e escadas frontais subindo até o prédio fechado. Havia um ar solene naquele lugar, notou Ron.

O caçula dos Weasley estava inquieto, pois para ele o ambiente era totalmente estranho. O céu era esquisito, com um tom rosado ao invés de ser azul. A luz ao redor era clara, mas suave, e a temperatura era bem agradável.

Ron viu árvores (com folhas verdes, notou) e considerou isso um bom sinal. Por um momento, imaginou que eles pudessem estar em outra dimensão, já que ninguém jamais explicou direitinho para onde iriam ou onde ficava a tal terra natal daquela gente.

Parecia a Ron que a atmosfera de reverência e respeito aumentava. Ninguém falava. Em silêncio, o grupo subiu os degraus até a pesada porta de madeira, onde uma mulher de idade os aguardava, vestida em túnicas claras com um estranho adereço de cabeça e expressão penetrante nos olhos muito azuis. Ela estava cercada de outras mulheres, também em roupas diáfanas. Ron notou que as acompanhantes eram todas mais jovens e bem graciosas.

Elohim curvou-se longamente diante da mulher mais velha.

— Saudações, Venerável Hierofanta.

— Saudações a todos — disse a senhora, em voz desprovida de calor. Ela olhava para Ron de nariz torcido. O jovem ficou intrigado.

Então a matrona se voltou para Apsara, a voz ainda mais áspera:

— É este seu filho, filha?

— É ele, Venerável. — A mulher gentil parecia intimidada, notou Ron. Ele estava cada vez mais desconfortável com a velha.

A tal Hierofanta olhou para Hermione, pela primeira vez mostrando algo como aprovação. Ela quase sorriu para a moça.

— E é esta humana a guardiã do midrash?

Apsara respondeu:

— Não, Venerável. É esse aqui — ela gesticulou para Harry, na maca flutuante, pálido e inconsciente. — O jovem humano não aguentou o midrash de meu filho e sucumbiu após uma luta valente.

Aquela certamente não era a resposta que a Hierofanta esperava. Ela voltou a olhar para Ron, torcendo o nariz mais uma vez.

— E por que trouxeram este macho para cá?

Apsara tentou acalmá-la:

— Ele também é um herói, como o guardião do midrash. Eles são amigos.

A Hierofanta voltou a encarar Ron, de cara fechada. O jovem se sentia como se tivesse voltado aos cinco anos, diante de sua mãe, logo após cometer uma peraltice.

Após longa pausa, a Hierofanta sentenciou, falando de maneira rápida e sem margem para contestações:

— Mantenham esse amigo fora. Acólitas, levem-nos e preparem os dois para a Câmara Honorável. Apsara, você e a garota humana podem vir comigo. Não há um momento a perder.

As moças de túnica pegaram as macas flutuantes e a mulher mais velha se voltou graciosamente para dentro do prédio. Apsara pegou Hermione pela mão e elas entraram rapidamente no prédio, que Ron percebeu ser uma espécie de templo. Elohim, que também não tinha recebido permissão para entrar, conseguiu deter Ron bem a tempo.

— Não entre. Você não conseguiria mesmo.

Ron estava nervoso — e indignado — e com medo.

— Mas Hermione está sozinha lá dentro!... E aquela mulher-

Elohim o interrompeu, antes que ele tivesse um acesso:

— Hermione ficará ótima. Apsara está com ela. Homens não podem entrar no templo. Nosso povo sabe há algum tempo que a energia feminina lida melhor com instâncias de espírito e cura.

Os olhos de Ron se arregalaram.

— Não deixe Hermione ouvir isso. Ela vai dizer que é discriminação ou condescendência.

— Bem, nesse caso — riu Elohim, de maneira conspiratória —, devemos nos certificar que ela entenda que isso se deve ao fato de que homens não lidam bem com coisas sutis e requintadas. Na verdade, não é exagero afirmar que essa é uma fraqueza masculina. Pelo que ouvi, somos inúteis nesse quesito.

Ele deu uma piscadela para Ron e os dois trocaram sorrisos de cumplicidade. Foi um gesto que aliviou e muito o jovem Weasley.

o0o o0o o0o o0o

Hermione olhou para a imensidão de prédio onde estava, impressionada que o lado externo pudesse ser tão enganador do tamanho interno. A atenção dela, porém, voltou-se para o presente quando a Alta Sacerdotisa ordenou a Apsara:

— Pode levá-la à antecâmara e trocar de vestes. As acólitas lidarão com as macas e levarão vocês para a cerimônia quando tudo estiver preparado. Não vai demorar.

Assim foi feito.

Na outra sala, Hermione recebeu uma túnica e banhou-se com um líquido sem cheiro algum enquanto Apsara também se trocava, comentando:

— Lamento que não tenhamos tido oportunidade de falar a esse respeito. Para a cerimônia, é necessário purificação, já que você falará por Harry.

— Não entendo.

— É apenas uma formalidade, mas sem isso a cerimônia não poderia ser realizada, pois a Hierofanta não costuma dispensar as formalidades. Harry tem muita sorte de ter vocês, já que nenhum de seus amigos homens teria permissão de adentrar o Merkavah - o Altar Mais Nobre. A purificação é essencial, e isso é o que as acólitas estão fazendo por ambos. Meu filho viu violência e morte, assim como Harry. Eles precisam de uma limpeza mais profunda, devido à transferência de energia pela qual passarão. Você falará por Harry, e eu falarei por aquele a quem você chama de Severus Snape. Não deve haver qualquer risco para você. Toda a função é bem solene.

— Entendo — disse Hermione, admirando a túnica que usava.

Apsara suspirou, nostálgica. — Jamais pensei em voltar a estes corredores sagrados em tais circunstâncias.

Hermione arregalou os olhos.

— Já esteve aqui antes. — Não era uma pergunta.

— Já fui uma acólita — revelou Apsara. Eu queria dedicar minha vida aos mistérios sagrados e à Amesa. Quase fiz os votos de sacerdotisa. A Hierofanta achava que um dia eu poderia vir a ser sua sucessora.

— O que a fez mudar de ideia?

— Meu amado — respondeu ela, com um sorriso radiante. — Ele fazia questão de voar acima de nosso pátio durante as vésperas, as orações da tarde. Acho que a vida religiosa não estava no meu destino.

Hermione olhou em volta.

— Esse lugar parece agradável e tranquilo, ainda que seja um pouco formal.

— É prerrogativa da Hierofanta. Ela não é má pessoa.

— Não quis dizer que ela é má pessoa — garantiu Hermione. — Desculpe se dei essa impressão.

— Mas talvez eu deva avisá-la — disse Apsara, quase envergonhada. — Devo pedir desculpas pela Hierofanta. Ela não gosta muito de humanos, especialmente os do sexo masculino.

— Mesmo? Alguma razão especial?

— Ela é mãe daquele a quem vocês chamam de Gabriel. Aquele episódio em Sodoma e Gomorra a deixou muito... contrariada.

— Que episódio?

Levou algum tempo até Hermione aceitar os fatos. Por não ser do tipo religioso, o impacto não foi tão grande quanto poderia ter sido, mas a moça obviamente não encarou a informação com naturalidade. Ainda assim, as duas não tiveram tempo para se deter em passagens bíblicas, pois uma acólita curvou-se respeitosamente antes de se oferecer para conduzi-las ao Merkavah - o Altar Mais Nobre.

— Vocês devem guardar silêncio até alcançar o Merkavah — instruiu a acólita.

Havia uma espécie de antecâmara com três reclinadores ritualísticos, onde Hermione e Apsara se sentaram, conforme instrução da acólita. A jovem iniciada também guiou Ron e Elohim para a antecâmara. Sem nem titubear, o rapaz dirigiu-se para a namorada.

Foi no último segundo que Elohim conseguiu deter Ron. A reprimenda veio da jovem acólita, que sibilou de maneira reprovadora:

— Você não pode falar com as hochendame! Deve ficar quieto o tempo todo!

Pela primeira vez, desde que toda aquela loucura começara, Ron Weasley decidiu ficar ofendido com a jovem. O ruivo respirou fundo, disposto a responder à altura. Sentindo isso, Elohim segurou-lhe o braço (com força) e sussurrou:

— Não discuta com uma Iniciada.

Ron abriu a boca para responder, mas uma porta lateral pesada de madeira maciça se abriu e mais acólitas entraram, escoltando a maca flutuante de Snape, que ainda estava desacordado. Atrás dessa procissão, veio Harry, andando, vestido em um roupão impecável, o rosto escondido num capuz.

Pela terceira vez, Ron sentiu o impulso de ir até o amigo, mas desta vez conseguiu conter-se. Não foi difícil, depois de ver os olhares reprovadores tanto da acólita quanto de Elohim. Harry não parecia sequer consciente da presença de outras pessoas, seguindo a fila num passe ritualístico.

Ron viu a procissão se deslocar diante dele, indo rumo a outra daquelas imensas portas que estavam por todo o lugar. A porta abriu-se quase que como por magia, e a procissão seguiu por aquele lugar, levando primeiro Snape, depois Harry.

Ron estava a ponto de se erguer e seguir o cortejo, mas lembrou-se (bem a tempo, aliás) de olhar para Elohim. Foi a decisão mais acertada, porque o homem fez "não" com a cabeça.

A acólita, Hermione e Apsara seguiram graciosamente a procissão, e a porta pesada se fechou, deixando os dois homens sozinhos na antecâmara.

Ron ficou tão irritado que se virou dramaticamente para Elohim. O outro nem esperou a pergunta do mais novo para explicar pacientemente.

— Homens não têm permissão para entrar na Câmara do Merkavah. É um mistério feminino reservado apenas para mulheres.

— E o que devemos fazer? — quis saber Ron.

— Devemos esperar.

Aquela era precisamente a última coisa que Ron queria ouvir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aquele a quem chamam Severus Snape" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.