Aquele a quem chamam Severus Snape escrita por magalud


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Notas: Vá com calma se você é uma pessoa muito religiosa. A fic não mexe com religião, mas mexe com alguns conceitos. Não há intenção de ofender crenças.
Alerta: Se a trama parecer conhecida, não se amofine. Ela é conhecida. Só foi repaginada. Rá!
Agradecimentos: Cris, beta eterna. Trekkers ruleiam.



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Harry Potter acordou assustado, já de varinha na mão. Sujo e levemente ferido, Harry estava na sua cama, em seu dormitório na Torre de Gryffindor na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts. Ao menos a cama teria sido a sua, se ele tivesse feito o sétimo ano em Hogwarts.

Harry Potter tinha passado a maior parte dos últimos 10 meses fora da escola, fugindo enquanto buscava as Horcruxes de Lord Voldemort num mundo bruxo dominado pelas trevas. E o pesadelo só tinha terminado umas poucas horas atrás.

Umas poucas horas antes, Harry Potter tinha conseguido, de uma vez por todas, derrotar Aquele-Que-Não-deve-Ser-Nomeado. Depois de consultar o quadro de Albus Dumbledore, Harry comera o sanduíche trazido por Kreacher e tinha planejado dormir até o dia seguinte - ou noite.

Mas agora Harry estava de pé, exausto, acordado pela adrenalina que percorria suas veias, encarando as duas pessoas estranhas no dormitório.

Era um casal. O homem era alto, aparentando uns 50 anos, com robes claros cheios de detalhes dourados. A mulher, um pouco mais nova, estava vestida de dourado e detalhes brancos.

Eles não fizeram nenhum movimento ameaçador, mas Harry, ainda sob efeito do susto, da surpresa e da fatiga da batalha, não abaixou a varinha, indagando:

— Quem são vocês e como entraram aqui?

— Não há necessidade disso, filho — disse o homem, e sua voz era agradável como um vento suave num dia quente. — Eu lamento perturbar seu descanso, mas precisamos urgentemente de informações sobre aquele que vocês chamam de Severus Snape.

Harry os encarou com atenção, o coração ainda acelerado. Os dois estavam visivelmente angustiados, especialmente a mulher, pálida e trêmula, à beira de um colapso. Nenhum dos dois parecia ser partidário de Voldemort, mas não custava ser prudente.

— O que querem saber sobre ele?

— Somos sua família. Pode me chamar de Elohim.

Aquilo deixou Harry em alerta.

— O Prof. Snape não tinha família.

O homem, Elohim, repetiu:

— Não viemos lhe fazer mal, rapaz. Mas precisamos saber sobre ele, por favor.

A voz do homem parecia tão angustiada que Harry suspirou, abaixando a varinha:

— Eu... Lamento sua perda. Ele foi um herói.

A mulher tentou conter um soluço, mas deixou uma lágrima cair. O homem mal olhou para ela, ainda parecendo agitado. Harry arregalou os olhos, imaginando se cometera uma gafe terrível.

— Oh, não. Vocês sabem que ele m-morreu...?

— Deixe de lado as convenções sociais, rapaz — Elohim parecia impaciente. — Ouvi que você foi o último a estar com ele. Isso é verdade?

Uma renovada onda de dor invadiu Harry, ao lembrar a cena na Casa dos Gritos: as lágrimas, a emoção, o sangue... Enquanto vivesse, Harry iria ver o momento exato em que os olhos negros se encontraram com os seus olhos verdes e perderam o brilho para sempre.

O rapaz precisou se recompor para responder:

— Sim, senhor. Eu estava com ele em seus últimos momentos. — Desengonçadamente, lembrou-se da educação e estendeu a mão. — Eu sou Harry Potter.

Elohim não apertou a mão estendida, ansioso.

— Ele lhe deu alguma mensagem?

— Sim, claro. Bem aqui. — Harry pegou o frasquinho de memórias e mostrou aos dois. — Aqui estão as memórias. Eu pretendia ficar com elas, mas...

— Não é disso que estou falando! Você sabe o que eu quero.

— Desculpe, senhor. Acho que não sei do que está falando — disse Harry, confuso com a situação.

O homem alto inspirou profundamente, como se buscasse paciência, e disse, na voz agradável:

— Meu jovem, respeitosamente peço sua permissão para buscar em sua mente a informação que procuro.

Talvez Harry estivesse mais cansado do que imaginara, talvez ele tivesse se apiedado do homem, ou talvez Harry tivesse pensado que essa era uma maneira de finalmente ajudar um homem que morrera para protegê-lo. Seja o que fosse, o fato era que ele jamais pensou em negar o pedido.

— Claro.

Harry tinha certeza que o tal Elohim ia tirar a varinha e aplicar Legilimência nele, mas não foi isso que aconteceu. Ao invés disso, o rapaz que acabara de derrotar Voldemort sentiu uma vontade irresistível de olhar para o estranho e lembrar de todos os detalhes possíveis sobre a morte de Snape na Casa dos Gritos. Pouco tempo depois, ele já não tinha mais essa vontade. Havia uma mágica estranha no ar, e Harry mal percebera.

Mas Elohim parecia devastado. Ele se deixou cair sentado na cama, como se não tivesse forças para permanecer de pé. A voz dele não era mais que um sussurro.

— Não pode ser. É impossível...

Harry observou que o homem parecia totalmente transtornado. Abaixou a cabeça, os ombros caídos em claro sinal de derrota. A mulher, ainda que parecesse mais transtornada que ele, sentou-se a seu lado, buscando conforto enquanto também dava.

Os dois pareciam tão envoltos em dor que Harry se sentiu um intruso. Pior: ele sentiu culpa.

— Lamento muito por sua perda. Não pude fazer nada por ele. Ele morreu como herói.

Elohim ergueu a cabeça para encará-lo, com ar cansado, e pareceu a Harry que ele envelhecera 10 anos naqueles poucos segundos. Em voz embargada, Elohim disse:

— Meu jovem, imploro sua paciência um pouco mais. Viemos de muito longe para levá-lo de volta para casa e agora... isso. Por favor, poderia me dizer exatamente o que aconteceu?

Harry ficou intrigado.

— Pensei que tivesse visto na minha mente.

Elohim esclareceu:

— Preciso saber se você tocou nele. Se ele olhou em seus olhos em seus... momentos finais.

A mulher fez um ruído agudo e angustiado antes de repetir:

— Momentos finais?

Harry olhou-a com atenção, notando que ela estava ainda mais pálida e trêmula. O homem foi paciente ao dirigir-se a ela pela primeira vez:

— Por favor, Apsara. Deixe o garoto falar.

Não havia repreensão na voz, notou Harry, e a mulher deixou escapar um soluço. Harry obedeceu ao pedido, recordando a dor e a tragédia dos terríveis momentos na Casa dos Gritos. Elohim fez algumas perguntas, interessado em reconstituir com precisão aqueles momentos tão terríveis.

— Você o encarou? Olho no olho?

— Sim, ele me pediu que olhasse para ele.

— E ele tocou em você?

— Ele me puxou pela roupa para se aproximar de meus olhos, mas ele estava fraco.

— Então ele não encostou em você? Não houve contato com sua pele?

— Não, senhor.

— Portanto, além daquelas memórias que saíram dele, ele não lhe transmitiu qualquer outro tipo de mensagem ou informação. Isso é uma avaliação correta?

— Sim, senhor.

Elohim praticamente murchou como se fosse um balão esvaziado. Harry ficou com a nítida impressão de que as últimas esperanças daquele homem tinham ruído, uma a uma, por cada uma de suas respostas. Ao lado dele, ainda incerta do veredicto, a mulher (Apsara, lembrou Harry) encarava seu acompanhante, os olhos vermelhos de tanto chorar pareciam buscar algo em que se agarrar.

— Então ele foi. Perdido... — suspirou Elohim. — Para sempre...

A mulher soltou um longo uivo e pôs-se a soluçar amargamente, com seu companheiro a tentar consolá-la. Por uns segundos, Harry ficou sem saber o que fazer. Ele desejou que Snape não estivesse morto, que aquelas pessoas fossem poupadas da dor da perda.

Harry sentia que falhara, que tinha fracassado. Sim, ele tinha derrotado Voldemort, mas aquilo não tinha sabor de vitória. E tudo parecia ainda mais amargo porque se tratava de Snape.

Os últimos meses haviam sido um puro exercício de ódio a Snape. Desde a morte de Dumbledore, Harry só enxergava seu antigo professor por uma lente escarlate de pura ira, fresca e viva. Vê-lo morrer por causa de um capricho de um homem sedento de poder, porém, não tinha sido satisfatório. E depois...

Depois, quando Harry descobrira que Snape fora seu guardião e protetor durante todos aqueles anos, ele sofrera um choque. Ainda não se recuperara da ideia de que o amor de Snape por sua mãe superara a aversão do homem a seus traços parecidos aos de James e mais: aquele amor dera a Snape coragem de desafiar Voldemort durante quase 20 anos, enganando-o para que Harry pudesse viver.

Naquele momento, em que aquele casal chorava a perda de seu ente querido, Harry se sentia pequeno, culpado e sujo. Snape deveria estar vivo. Deveria ser reconhecido como herói. Deveria ser homenageado pelos sacrifícios que fizera todos esses anos. Deveria poder abraçar essa família que chorava a sua ausência e que...

Opa.

Harry parou, repentinamente tomado de clareza e acuidade mental, seus sentidos entrando em foco nítido.

Espere. Quem eram aquelas pessoas? Família? Todo mundo sabia que Snape não tinha parentes.

O que era tudo aquilo?

Antes que Harry pudesse questioná-los, Elohim ergueu-se, e havia uma aura de determinação nele. O ar abatido e derrotado se fora, e agora o homem era pura força de vontade. Harry pensou duas vezes antes de desafiar um homem assim.

— Pare com isso, Apsara — ordenou, com firmeza e compaixão. — Não é o fim. Aquele homem, Dumbledore. Onde ele está, garoto? Responda!

— Ele morreu, Sr. Elohim — respondeu Harry, com compaixão, lembrando-se que agora Dumbledore era apenas um retrato. — Foi no ano passado, durante a guerra contra Voldemort. — O rapaz achou melhor não mencionar quem matara Dumbledore, concentrando-se em também obter respostas. — Vocês não sabiam disso? De onde disseram que vinham?

— Eu não disse. Mas posso ver que você pode falar com o retrato dele. Leve-me até ele.

O tom não admitia relutância, observou Harry. A atenção do rapaz foi desviada pela mulher, que pediu de maneira chorosa:

— Por favor, amado, deixe isso. Vamos deixar este lugar. Nosso garoto está perdido para sempre. Não podemos levá-lo para casa.

— Isso é um absurdo! — gritou Elohim, incensado. — Não aceitaremos isso! É uma ofensa a todo nosso povo!

Harry estava confuso. Que povo? Que ofensa? Quem era aquela gente?

— Meu amor, por favor — insistiu a mulher. — Por favor. É doloroso demais.

O homem a ignorou e dirigiu-se a Harry, ordenando:

— Leve-me até Dumbledore.

Harry perdeu a paciência.

— Desculpe-me, moço. Mas é tarde, eu acabei de derrotar um Lord das Trevas e não tenho intenção de ir a lugar nenhum até saber exatamente quem são vocês e como foi que entraram em Hogwarts.

Apsara, a mulher, aproximou-se de Harry, pegou as mãos dele e o encarou. O rosto dela, agradável e sereno, estava banhado de lágrimas, e ela sussurrou:

— Por favor, meu jovem, nos ajude. Acabei de perder meu filho para sempre. Tenha piedade.

Provavelmente foi o apelo pungente da mulher que fez Harry se esquecer de todas as suas perguntas e levá-los até o gabinete do diretor.


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