Shadows of the past escrita por larissabaoli


Capítulo 23
Capitulo 23




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Eu segurei Dane o abraçando para mim enquanto todo o seu corpo estava pendurado e ele se desesperou, tentando por os pés contra a parede para se manter no lugar.

– Rose, socorro! – eu gritei e a ouvi correr até a mim e me ajudar a segurar Dane o trazendo para dentro do terraço.

Eu o puxei, o abraçando e ele retribuiu.

– O que vocês estavam fazendo? Vocês não deviam estar aqui! Eu disse-

– Ele estava bêbado, Rose. Eu não o deixaria aqui. – eu quase gritei, o que fez Rose entender o que tinha acontecido e então ela se ajoelhou ao nosso lado.

– Quem é ele? – ela perguntou.

– Dane. Ele é quem me ajudou a fugir da primeira vez, ele levou a culpa por mim, no que houve... Ele só está... confuso. – eu disse, olhando para Dane que parecia desnorteado.

Rose o analisou e então se levantou novamente.

– Ah, por favor! Me diga que de toda a St. Vladmir você não resolveu escolher Dane Zeklos para se apaixonar!

Eu fiquei de boca aberta e a encarei sem saber o que dizer e então Dane se sentou de repente e se arrastou na outra direção em que estávamos e então começou a vomitar.

– Eu vou chamar Dimitri para leva-lo até a enfermaria. Fique aqui e não faça nada estupido... além do que você já fez. – ela disse parecendo aborrecida.

Eu observei Dane vomitar sem poder fazer nada por um bom tempo e depois de alguns minutos, Dimitri apareceu, carregando Dane pelos ombros até a enfermaria. Ele parecia ser um rosto conhecido ali e logo o internaram pondo-o em um soro de glicose e lhe pondo na fila dos alimentadores, o que me deixou um tanto enjoada.

– Somente familiares são permitidos enquanto ele está dormindo. Obrigada por tê-lo trazido. – disse uma enfermeira.

Eu fui até o corredor onde Dimitri estava me esperando.

– Ele foi internado. Mas não vão deixar que eu o veja, só é permitido familiares. – eu disse em um suspiro.

Dimitri parecia calmo como sempre, mas escondia um sorriso.

– Sabe que Rose está furiosa com você, não sabe? – ele perguntou, quando me sentei e me entregou uma caixinha de suco.

– Eu não entendi o porque, mas deu para perceber. – eu disse lembrando.

Ele não falou nada por um tempo.

– Ela... bem, elas, Lissa e Rose. Não tem um histórico amigável com a família Zeklos. Precisamente com o irmão de Dane, Jesse. – ele disse lembrando de algo que eu não sabia.

Eu estranhei e fiquei curiosa, mas não queria insistir. Se esse irmão de Dane, Jesse, era capaz de enviar bebidas alcoólicas entre outras drogas para o irmão que já era fragilizado, ele não parecia uma boa pessoa.

– Vocês estão... – Dimitri perguntou um tanto envergonhado.

– Não. – eu disse firmemente. – Nós somos amigos. Ele estava bêbado e eu fiquei com medo de acontecer algo pior e por isso fui atrás dele.

– E quanto ao que aconteceu na festa? – ele perguntou erguendo uma sobrancelha.

– Ah, você... vocês viram? – eu disse, ficando vermelha mais uma vez.

– Não precisa me explicar nada, Ana. – ele disse com um sorriso – Apenas tenha cuidado. Você é muito jovem para estar metida em tantos problemas, faça boas escolhas. Anda, eu te levo de volta ao dormitório. Amanhã você volta para visitar seu amigo.

Eu me levantei e nós fomos de volta ao bloco dos guardiões. Maioria das pessoas ainda estavam na festa, então foi fácil subir rapidamente e eu entrei no quarto em busca do meu celular para avisar a Bea que eu já havia voltado para o quarto.

Na manhã seguinte, eu fui para a igreja e me surpreendi ao ver Dane ali e eu agora sabia que ele também tinha me visto chegar, mas ele não esboçou nenhuma reação e então eu me sentei no lugar de sempre. O padre falou sobre o dia de finados que se aproximava e pediu para que nós rezássemos pelas almas perdidas, o que eu achei um tanto mórbido, mas entendi e quando a missa terminou, eu segui fazendo o que eu sempre fazia, enquanto esperava todos saírem e então me dirigia até as escadas.

Quando cheguei à biblioteca, que agora só precisava de uma limpeza e organização nos livros, eu encontrei Dane de costas para a entrada e de frente para o vitral.

– Fico feliz por você estar melhor. – eu disse sem saber como me aproximar.

Ele se virou e então pude ver que ele parecia cansado como sempre. Ele vestia uma camisa azul marinho com uma gola branca que fazia o azul em seus olhos parecer mais vivo. Ele pôs aos mãos nos bolsos da calça e respirou fundo.

– Eu sinto muito por ontem. Eu saí de controle. Não tinha intenção alguma de assusta-la ou causar problemas e entendo se você quiser esquecer tudo o que houve. – ele começou.

– Dane, está tudo bem-

– Não, não está. Você mais uma vez estava certa, eu sou um problema. – ele disse e abaixou a cabeça. – E as únicas pessoas que eu afetava eram Gwen e Oliver, talvez por isso eles tenham se cansado de mim e...

Eu estava acostumada a ver Dane sempre com um sorriso no rosto e disposto a fazer piadinhas. Essa era a primeira vez que eu via Dane parecer abalado daquela forma. Eu não sabia o que fazer, mas mesmo assim eu me aproximei ficando a sua frente.

– Está tudo bem. Você só precisa de ajuda e...

– Não. Ninguém pode saber disso. Ninguém pode saber que eu sou um usuário do espirito. Todos vão me tratar como uma aberração. – ele agora parecia com raiva. – As únicas pessoas que sabiam disso não falam mais comigo, além do Padre Andrew e você agora e é assim que eu quero manter isso. Em segredo. Eu prefiro que todos pensem que eu nunca me especializarei em nada.

Eu fiquei surpresa e não sabia como responder e então ele me olhou e toda a raiva parecia ter passado tão rápido quanto veio.

– Você precisa manter isso em segredo, Ana. Por favor. Pode me prometer? – ele me pediu.

Eu pensei no que ele estava me pedindo. Ele achava que o único problema que ele tinha era apenas ser um usuário do espirito? Eu analisei por um tempo e então confirmei.

– Sim, eu prometo. – eu disse, o que fez com que ele relaxasse um pouco. – Dane, há quanto tempo você sabe? Como você descobriu...

– Eu estava tentando entrar para uma espécie de sociedade secreta que meu irmão estava formando, mas eu era... inútil. Tratava-se de uma sociedade que estava se unindo para lutar contra os Strigoi, mas as coisas saíram de controle e tudo isso foi desfeito. Meu irmão descobriu que eu tinha problemas e então começou a me ajudar dizendo que se eu bebesse, isso tudo passaria, mas é tão momentâneo que eu preciso de doses cada vez mais frequentes. – ele disse, se sentando em uma das poltronas e pondo as mãos na cabeça.

Se ele achava que o seu irmão estava lhe ajudando, eu não queria nem saber o que ele achava que seu irmão faria para lhe prejudicar. Eu me encostei na poltrona ao lado, sentando no braço da cadeira.

– Sabe que existem remédios para isso, certo? A própria rainha é uma usuária e ela... está bem. Minha mãe também aprendeu a lhe dar com isso e hoje em dia-

– Sua mãe é uma dhampir. – ele me disse parecendo confuso.

Eu suspirei e sentei na poltrona, da maneira que estava, pondo as pernas para o lado.

– Bem, você me contou um segredo e me prometeu que eu não contaria. Pode fazer o mesmo por mim? – eu disse e eu sabia que ele confirmaria.

E então eu lhe contei sobre minha família adotiva e como Rose depois havia descoberto que eu era sua irmã, contando maioria das coisas por alto.

– Wow, isso é... muito. E esclarece muita coisa, quer dizer, você sabe que sua aura tem escuridão, certo? – ele me perguntou.

– Sim, é o sinal de ser uma shadow-kissed, além de diversos outros malefícios. – eu disse.

Ele não falou mais nada e então descansou a cabeça na poltrona e então eu me levantei e comecei a ir até as estantes mais distantes, tirando os livros do lugar e os pondo na mesa para então começar a limpa-los e então depois de um tempo Dane se levantou e começou a me ajudar.

Nós terminamos uma estante inteira e depois nomeamos cada prateleira com nome.

– Podemos ir almoçar lá fora se você quiser. – ele me disse.

– Dane, se a diretora nos ver... – eu balancei a cabeça.

Ele entendeu e então saiu voltando um tempo depois com meu almoço. Ele agora trazia comida de verdade além de salada e uma lata de refrigerante e eu era grata por isso. Nós almoçamos e então voltamos para trabalhar em mais uma estante. Devido a minha altura, eu precisava usar uma escada sempre que começávamos uma prateleira e começávamos de cima para baixo. Quando começamos a trabalhar na segunda estante, eu percebi que esses eram livros que pareciam enciclopédias, mas achei que conseguiria carrega-los sem problemas, pondo três em um braço e eu estava fazendo bem o meu trabalho, mas a escada que era de madeira e velha quebrou em um dos degraus em que eu pisava e eu tive que pular da altura em que estava para não cair. Dane tentou me segurar, mas eu aterrissei de mau jeito e senti meu pé esquerdo entortar.

Eu soltei um gemido sem poder gritar um palavrão na igreja e Dane tirou os livros dos meus braços e me segurou de lado enquanto eu mancava até uma cadeira. Eu olhei para meu pé e vi que ele estava torto e latejava cada vez mais.

– Eu poderia... – ele disse tocando de leve a minha perna.

– Não precisa, só vai fazer você se cansar e se sentir mal. – eu pensei em como ele se sentira depois de me consertar.

– Se eu lhe levar até a enfermaria vão engessar e você vai semanas de treino. Me deixe ajudar você – ele disse e desceu a mão até meu calcanhar o que fez com que a dor aumentasse e eu me segurei entre a mesa e a cadeira.

– Só se você me prometer que não vai beber. Que vai aguentar. Posso ficar com você até que você se sinta melhor, até que a escuridão passe.

Ele já parecia um tanto perturbado, mas afirmou.

– Fechado. Agora feche os olhos, isso pode doer um pouco, então vou precisar distrair você. – ele me disse e quando eu fechei os olhos ele me beijou, enquanto ainda segurava meu calcanhar e então eu senti toda a minha perna esquentar e depois o meu osso voltar para o lugar de maneira dolorosa. Eu tentei não gritar e apertei a cadeira e a mesa até os nós dos meus dedos doerem e depois não senti mais nada, além do toque de Dane, enquanto nós continuávamos nos beijando.

Ele interrompeu o beijo e deu um sorriso fraco e eu passei a mão em seu rosto.

– Obrigada. – eu disse e então eu o deixei sentado em meu lugar enquanto voltava a trabalhar nos livros.

Eu me sentia orgulhosa do quão longe eu tinha chegado enquanto arrumava minhas malas para voltar para a Corte. Eu havia conseguido tirar boas notas, me tornar boa nos treinamentos e cumprir todos os meus horários sem mais nenhuma falta ou atraso. Também havia conseguido me manter distante de problemas e da escuridão, sem ajuda de amuletos, além de dessa maneira também ajudar Dane, ou pelo menos tentar ajuda-lo. Nós terminamos a reforma na igreja no final de novembro, mas ainda costumávamos passar o domingo lá. Esse se tornou o nosso lugar de encontro e eu me sentia em território seguro por estar num solo religioso e por saber que dessa maneira Dane não tentaria nada demais. Eu não sabia o que éramos no momento, mas gostava de manter isso em segredo, Bea era a única que sabia disso e ela agora me ajudava a fazer as malas, pois já tinha terminado com as suas. Ela estava ansiosa para voltar para casa, por eu ter prometido a ela que dessa vez ela não ficaria somente trancada onde morava. Eu havia me prometido dar atenção a ela enquanto estivesse por lá e conhecer sua mãe para entender como era a situação da vida de Bea.

Eu também sabia que Dane estaria lá e isso me causava uma certa agitação. Nós estaríamos de férias e Rose – com quem eu havia trocado mensagens – ainda não gostava do que havia acontecido, apesar de eu ter pedido para que ela não falasse nada para Abe ou Janine. Eu não fazia ideia de como eles reagiriam, mas se eu mesma não sabia o que estava acontecendo entre eu e Dane, como eu poderia explicar isso para meus pais? Em janeiro, logo depois das festividades, eu teria alguns dias para viajar até a Baia e ver Mark e Oksana e dessa vez eu levaria Bea comigo. Ela iria pedir permissão a sua mãe e nós contávamos com uma resposta positiva, nos empolgando e planejando uma escapada para comprar roupas extras de frio.

Eu terminei de fechar minhas malas e então nós descemos esperando no hall de entrada que estava decorado e cheio de luzes por todo o bloco. Os alunos estavam maioria com suas malas prontas, embora alguns sempre ficassem por aqui e eu me despedi de alguns rostos conhecidos, pessoas que eram meus colegas de classe e que iriam viajar para visitar suas famílias, eu andei com Bea pela sala até eu ver Janine conversando com Alberta. Quando ela terminou e veio até mim, ela parecia orgulhosa e me abraçou me deixando surpresa e então eu a apresentei a Bea que mais uma vez parecia ter perdido a capacidade de falar e em seguida nós seguimos até o aeroporto.

Tivemos um voo sossegado de Montana até a Corte e logo Bea e Janine pareciam ter achado algo em comum: sua fascinação pela história dos guardiões. Elas debateram sobre os guardiões mais respeitados que conheciam e Janine a impressionou contando histórias sobre alguns que ela mesmo havia conhecido e sobre histórias que já aconteceram com ela. Eu me mantive apenas observando e com um fone de ouvido, afinal esse não era um assunto que eu tinha muito conhecimento ou que eu queria participar.

Se a decoração da St. Vladmir estava me impressionando com os detalhes, a da Corte estava me deixando abismada. Tudo havia sido decorado para o Natal e Pensilvânia estava mais fria e com uma névoa que estava para começar. Eu imaginava que isso atrasaria todas as pessoas do aeroporto e sabia que foi uma sorte e tanta que nós não tivéssemos sido afetadas por isso. Nós andamos e logo Bea se despediu, indo para sua casa, enquanto Janine me levava até o hotel onde fiquei da ultima vez. Quando chegamos até a recepção, Marlene era quem estava presente e ela fez questão de ser agradável como sempre e me atualizar de sua vida pessoal, me falando sobre seu novo corte de cabelo e que isso tinha atraído um namorado misterioso que ela não havia me dito o nome ou nada além de que ele era um homem poderoso.

Eu me instalei dessa vez num quarto no segundo andar, com um tamanho mais... “normal”, mas ainda assim uma suíte. Eu comecei a abrir minha mala e organizar minhas coisas e então percebi que Janine parecia inquieta e ainda estava ali comigo. Quando eu olhei para ela e ela estava comprimindo os lábios – uma mania que eu herdei, aparentemente – ela não demorou muito para começar a falar.

– E então... Alberta me disse que você está indo bem no treinamento e que você já está entre os melhores da turma. – ela parecia orgulhosa enquanto dizia isso.

– É, eu me acostumei com as aulas. – eu disse com um sorriso curto.

Ela ficou em silencio e então respirou fundo.

– Existe mais alguma coisa que você queria me contar?

Existe um problema em manter segredos. O problema é que quando alguém se aproxima e faz uma pergunta como essa, você meio que enlouquece. Eu comecei a pensar o que alguém poderia ter contado a ela e tudo o que me restou foi pensar que Rose havia contado sobre o que houve no Halloween. Afinal, eu e Dane só nos víamos ao domingo e durante a semana, eu me afastava dele e focava nos estudos o máximo que eu podia e nós sentávamos próximos um do outro na primeira aula, mas eu tentava me manter concentrada.

– Não... eu acho que não. – eu disse e voltei a tirar as roupas da mala.

Janine se sentou na poltrona que havia no quarto e pôs as mãos em seu colo.

– Bem, é que você me disse que queria alguém para falar e eu posso não estar presente o tempo inteiro, como Abe e Oksana, mas você está aqui agora e quero que você se sinta a vontade para conversar comigo, está bem? – ela parecia sem jeito enquanto falava.

Eu sorri e me levantei, indo até ela e me sentando no braço da poltrona. Demorei alguns segundos para lembrar de coisas banais que estavam acontecendo na academia e então preenchi nossa conversa com assuntos fáceis. Eu sabia que depois de um tempo ela estaria entediada com todos esses assuntos, mas era mais fácil falar sobre o que estava acontecendo na escola e nas aulas do que estava acontecendo na minha vida.

Quando ela estava a caminho da porta, ela pareceu lembrar de algo e parou virando-se para mim.

– Ana, então... eu sei que Mark e Oksana provavelmente faziam uma ceia de natal e eu pedi licença para... tudo bem se você não quiser, ou se você quiser ir na ceia que é dada pela rainha, mas esse é o primeiro natal que tenho você comigo e queria fazer uma ceia em... família. Eu, você, Rose, Dimitri e... Abe.

– Eu adoraria. – eu disse parecendo um tanto surpresa e então a acompanhei até a porta.

Quando Janine foi embora, eu terminei de organizar minhas coisas e então troquei mensagens com Bea, que me mandou a localização de sua casa e me pediu para que fosse visita-la. Eu saí do quarto e desci saindo mais uma vez para o frio agradável que estava lá fora. Eu andei até as mansões das famílias que moravam ali e mais uma vez pude admirar o quão grande elas eram e como todas se pareciam de alguma forma e então eu cheguei até uma que tinha uma porta verde escuro e segundo a localização que Bea havia me mandado, essa deveria ser sua casa. Eu toquei a campainha e esperei até que um rapaz de no máximo 25 anos, mas que possuía as mesmas características físicas que Bea atendesse a porta. Ele era um Moroi de cabelos pretos e olhos verdes, que me olhavam da cabeça aos pés.

– Nós não pedimos por uma fornecedora. – ele disse com um sorriso sarcástico.

Eu respirei fundo, para não fazer nenhuma besteira e coloquei a melhor cara amistosa que conseguia.

– Bea está em casa? – eu perguntei não me dando ao trabalho de responde-lo.

– Se está procurando por ela, continue andando até achar o anexo atrás da casa, mas se quiser alguma diversão, pode vir falar comigo, princesa. – ele disse pondo o braço na porta mostrando os músculos que não eram tão definidos assim. Na verdade ele também era tão rechonchudo quanto Bea só que isso caia bem melhor nela.

Eu dei meia volta mais uma vez o ignorando e pisando firme pela grama sem me importar se eu podia ou não. Eu andei até encontrar uma espécie de casa de hospedes que era feita com paredes de vidro cobertas com cortinas e uma porta, eu fiquei em frente, mas chamei Bea para o celular para evitar encontrar novamente com o Moroi idiota da porta da frente. Bea veio atender essa porta e logo nós entramos e ela passou a mostrar que esse era seu quarto.

– Bem legal, não é? É tipo ter a própria casa, mas não precisar se preocupar com comida porque a cozinha é ao lado. Eu moro aqui desde que meu pai faleceu. Era aqui que ele vivia também e minha mãe achou que seria legal eu ter todas essas lembranças dele. – ela disse e então pegou um porta retrato que estava no criado-mudo. – Vê? Esse era meu pai e essa sou eu quando eu era um bebê. – ela disse com um sorriso nostálgico.

Eu olhei para a foto que exibia um dhampir latino de cabelos e olhos pretos com um bebê no colo. Ele parecia feliz e eu reconheci o sorriso de Bea estampado nele. E depois ela continuou me mostrando seu quarto, mas eu percebi que parecia feito para ela se mantivesse ali e não precisasse sair.

Ouvimos uma batida na porta e em seguida uma Moroi de cabelos brancos e olhos azuis pôs a cabeça para dentro do quarto.

– Srta. Sarcozy? – ela disse.

– Tudo bem, Mirtha. Essa é Ana, minha amiga da St. Vlad. – Bea disse e então a Moroi entrou no quarto, vindo até nós. – Ana, essa é Mirtha. Ela trabalha aqui e cuida de mim desde que nasci.

Mirtha parecia ter cerca de 60 ou 70 anos e tinha a pele enrugada e mãos frágeis que seguraram as minhas com um sorriso.

– É um prazer conhece-la, Ana. – e então ela se virou para Bea. – Beatrice, sua mãe está lhe chamando.

E então Bea confirmou com a cabeça e me chamou saindo porta a dentro pela casa e eu a segui. A casa era meticulosamente organizada e cheia de empregados e que sorriam e balançavam a cabeça enquanto Bea passava apressada entre eles até chegar em sua sala que tinha duas portas e que aparentemente dariam em um escritório. Ela deslizou uma delas e entrou, me levando junto. O escritório tinha o carpete da cor das portas, num tom de verde escuro e os moveis tinham uma madeira perfeitamente lustrada, onde uma mulher que parecia a versão mais velha e mais séria que Bea estava sentada com uma camisa branca e calças preta. Ela suava uma armação de óculos preta e me lembrava Kirova, enquanto fazia uma careta para nossa entrada.

– Beatrice, quantas vezes preciso lhe pedir para bater na porta antes de entrar? E por que não aprende a andar em silencio? Escutei o barulho que fazia há muito! – ela disse repreendendo Bea, se levantando, cruzando os braços e nos encarando.

– Eu sinto muito, senhora. – Bea disse parecendo nervosa.

A mulher então passou a me observar assim como o Moroi babaca da entrada fez.

– E quem é essa...?

Bea levantou a cabeça e olhou para mim e para sua mãe.

– Ah, essa é Ana. Ela é minha amiga da St. Vlad. Ana, essa é minha m-

– Helena Voda. – ela disse e então continuou me observando, até que perdeu o interesse e voltou a olhar para Bea. – Beatrice, amanhã eu viajarei com Ralf por tempo indeterminado. Talvez só voltaremos no próximo mês. Você pode ficar por aqui ou pode voltar para a escola, a escolha é sua. Agora pode ir. – ela disse e sentou-se novamente, voltando a se concentrar no notebook que estava em cima da escrivaninha.

Bea sussurrou um “sim, senhora” dessa vez triste e cabisbaixa e virou-se para sair, mas então eu lembrei.

– Sra. Voda, Bea poderia viajar comigo após os feriados? Serão apenas alguns dias e nós estaremos na companhia de adultos responsáveis. – eu disse, torcendo por uma resposta positiva.

Helena parecia nem sequer ter ouvido o que eu estava dizendo e quando respondeu, continuou com os olhos na tela.

– Tudo bem.

Eu não conseguia acreditar no que eu tinha visto e ouvido e esperei que voltássemos para o quarto para me virar para Bea e perguntar:

– O que diabos acabou de acontecer? – eu disse sem ligar para o tom de voz.

Bea parecia pedir desculpas e deu de ombros.

– Bem, nosso relacionamento de mãe e filha ainda tem muito o que melhorar e depois que eu me tornar sua guardiã, ela vai me ter por perto e isso pode melhorar as coisas... – ela disse e então se sentou na cama, parecendo triste e abatida.

Eu olhei para a foto no criado-mudo e pensei na mulher que eu havia conhecido e que era a mãe que Bea tanto idolatrava. Se essa era a família de Bea, o pai dela deveria ser um santo e mártir para aturar essa mulher. E agora ela deixaria Bea passar os feriados sozinha.

– Bea, minha mãe está preparando uma ceia de natal. Você gostaria de participar? – eu perguntei lembrando dos planos que Janine havia me contado.

– É claro! E eu poderia pedir a Mirtha para me ajudar a preparar alguma coisa para levar, se você quiser. – ela disse, já se animando novamente.

– Por favor, leve alguma coisa. – eu disse tentando não rir e lembrando que Rose havia me falado há muito tempo atrás que Janine não era uma mãe tradicional – nós provavelmente vamos precisar de todo tipo de ajuda.

Eu saí da casa de Bea de volta ao hotel e percebi que já estava ficando tarde e que a movimentação estava diminuindo. Eu andei novamente entre as mansões e já estava quase chegando aos blocos novamente, quando percebi alguém andando atrás de mim.

– Procurando por mim? – eu reconheci a voz de Dane e então me virei para vê-lo começar a andar ao meu lado. Ele estava lindo com um suéter bege e jeans escuros e com o cabelo molhado pela névoa.

– Eu estava na casa de Bea. A família dela é uma droga. – eu disse levantando as sobrancelhas e lembrando do que eu havia presenciado.

Isso fez com que Dane risse e então ele pôs o braço nos meus ombros e eu senti o cheiro de álcool e parei o encarando.

– Dane... – eu comecei.

– Ana, relaxe. Eu estou em casa – ele disse dando de ombros.

Eu senti a raiva emanando. Ele sabia o quanto eu odiava quando ele perdia o controle e se embriagava.

– Então vá para casa. E só me procure quando estiver sóbrio novamente. – eu disse e saí andando.

Ele se manteve me seguindo, nós havíamos entrado na parte dos blocos da Corte com diversos edifícios.

– Ah, por favor, Ana. Volte aqui! Você sabe que é difícil de controlar e veja, eu me sinto melhor-

– É e por quanto tempo? Por quanto tempo você vai se sentir melhor até que precise beber novamente?

– Tempo suficiente para não ter alucinações ou qualquer outra coisa! – ele agora parecia tão aborrecido quanto eu.

– Dane, não pode fugir disso e não pode se esconder do que está sempre com você! Só precisa aprender a controlar isso!

– Como? Me entupindo de remédios? Bem, eu prefiro outras drogas mais rápidas.

Eu fechei os olhos em uma careta e mais uma vez dei meia volta, ele segurou meu braço e eu me obriguei a parar.

– Vá para casa, Dane. – eu disse num suspiro derrotado. – Por favor.

Ele pareceu entender o quão chateada eu estava e se aproximou de mim, mas eu olhei para os lados e apesar de não ter muitas pessoas passando próximo e ninguém estar percebendo que estávamos discutindo, eu me obriguei a me acalmar e o levei até um beco entre dois prédios. Ele parecia não entender, mas me seguiu e logo nós estávamos escondidos.

– Isso não vai funcionar se você vai passar as férias dessa maneira. – eu disse.

Ele abriu a boca numa espécie de choque.

– Não. Eu sinto muito. Eu... eu vou para casa, eu vou melhorar. – ele disse, ainda segurando meu braço e descendo a mão até a minha.

Eu respirei fundo e me mantive firme.

– Você precisa melhorar. E não por mim, mas por você. Você precisa aprender a controlar o espírito.

– É difícil-

– Mas não é impossível e tudo depende da sua força de vontade. – eu disse e ele olhou em meus olhos, me fazendo o encarar por um tempo.

– Okay. Eu vou me esforçar mais. – e então ele pareceu lembrar de algo – Mas pode fazer algo por mim?

Eu estreitei os olhos e esperei que ele continuasse, mas quando vi que ele esperava uma resposta, eu respondi sem pensar.

– Sim.

– Seja minha acompanhante na festa de aniversário do meu irmão amanhã. – ele disse e eu sabia que era isso que ele queria me fazendo prometer antes.

Eu arqueei as sobrancelhas com um sorriso de lado.

– E como vai me apresentar para os seus pais?

– Que tal como a encrenqueira que quase me fez ser expulso esse semestre? – ele disse pensativo e com humor em seus olhos que me observavam.

Eu acenei tentando não rir.

– Isso realmente causaria algum impacto.

Eu comecei a me sentir nervosa por pensar em conhecer a família de Dane e até tentei arranjar algo para argumentar, mas não vi como.

– Certo, mas não vai beber nada na festa.

– Duvido que haja algo sem álcool...

– Dane...

– As pessoas vão brindar com champanhe e terá vinho. – ele disse com um sorriso brincalhão.

– Okay, mas eu vou fiscalizar cada taça. – eu disse estreitando os olhos.

Ele sorriu mais ainda e me puxou de leve me abraçando e pondo as mãos em minha cintura.

– A policial mais sexy que já vi – ele disse e então me beijou.

Nós nos mantivemos ali até que senti seu abraço apertar um pouco mais e lembrei de onde estávamos e o que poderia acontecer e então eu fui parando lentamente.

– Certo, então nos vemos amanhã, mas se eu chegar à sua casa e você tiver bebido uma taça que seja, eu voltarei para o meu quarto e não falarei com você por um longo tempo.

Ele confirmou com a cabeça e pareceu pensar por um tempo.

– Tudo bem.

Eu também confirmei e segurei seus braços, lhe dando um beijo rápido e saindo, mas ele me segurou pela cintura e me pôs contra parede me dando um beijo de tirar o folego. Ele ainda cheirava a álcool, mas embora eu odiasse isso, eu já tinha me acostumado e eu sabia que dessa vez ele havia bebido vodka com suco de laranja como na festa. Quando senti seus lábios descerem para o meu pescoço, eu comecei a ter as visões que eu tanto odiava e então eu mais uma vez tive que afasta-lo, mas me esforçando para que ele não percebesse, me despedindo dele. Eu saí do beco e andei apressadamente de volta para o hotel, me odiando por não conseguir me controlar. Às vezes, enquanto eu estava com Dane eu tinha memórias horríveis e isso era um grande balde de agua fria e eu sabia que tanto para mim quanto para Dane. Ele provavelmente já tinha uma vida sexual ativa, já que ele namorava Gwen e eu sabia que não demoraria muito até que eu estivesse enrolada em um grande problema. Eu sabia que a qualquer momento eu teria que ter uma conversa constrangedora com ele ou então deixa-lo livre para ficar com quem quisesse.

Quando cheguei ao quarto e depois de ter tomado uma ducha e trocado de roupa para pijamas acolchoados, eu me mantive pensando em tudo que tinha acontecido no dia e tive dificuldade para dormir, me sentindo ansiosa em pensar sobre a festa onde eu conheceria a família de Dane.


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