Shadows of the past escrita por larissabaoli


Capítulo 20
Capitulo 20




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Enquanto estávamos na picape, Angeline tinha escolhido ir atrás na caçamba e como ela parecia bem triste eu evitei olhar para trás, mas pude ouvir alguns soluços enquanto Joshua dirigia e minha mãe estava no meio. Ela escolheu entrar antes de mim, ficando naquele local de proposito e eu me perguntei se ela não teria visto alguma coisa antes de nos salvar dos Strigoi na floresta. Nós ficamos em silencio todo o percurso e quando chegamos até a estrada, logo encontramos um Citroen c4 grafite com uma guardiã que nos esperava e que eu reconheci ser Jean.

Joshua estacionou e nós descemos e eu encontrei Angeline já recomposta, mas seu rosto denunciava que ela havia chorado. Janine parecia não entender por que ela estava vindo conosco, mas depois de perceber que ela também entraria no carro, ela me deu um olhar inquisidor que eu respondi com um sorriso de lado. Ela seria discreta o suficiente para não perguntar nada agora, mas eu sabia que sua curiosidade estava começando a aparecer. Joshua e Angeline se despediram com um abraço e enquanto eu colocava minha mochila e a mala de Angeline no porta malas, Joshua se aproximou de mim e me abraçou também, me puxando aos poucos do chão – o que me deixou um tanto assustada – e eu achei que ele iria me beijar, mas então Janine pigarreou, o que fez com que ele me pusesse no chão e eu tentasse não rir. Eu mesma impediria que ele me beijasse dessa vez, mas Janine parecia realmente incomodada que Joshua estivesse me abraçando e eu resolvi aproveitar isso.

– Até logo, Josh – eu disse, sorrindo e fiquei na ponta dos pés para beija-lo na bochecha.

Ele não respondeu nada, mas pareceu esperançoso e quando nós entramos no carro, Janine me olhou e parecia esperando explicações. É claro que eu tinha feito isso de proposito, mas fiz questão de suspirar parecendo apaixonada e acenar para Joshua, o que fez Angeline virar e fazer o mesmo.

– É melhor você não estar falando serio. – ouvi Janine dizer e em seguida Jean ligou o carro e nós seguimos a estrada de volta para a academia.

Quando chegamos, o sol já estava começando a aparecer, mas as pessoas que ainda estavam acordadas enquanto passávamos começavam a cochichar e imediatamente pegavam seus celulares ou corriam no que eu sabia que seria para contar a outras pessoas.

– Por que todos estão olhando para nós? – disse Angeline que parecia estar analisando todo o local impressionada, exatamente como eu fiz quando estive ali pela primeira vez.

– Janine é uma guardiã muito respeitada e popular – eu disse, o que não era mentira, mas eu sabia que eu era o centro do que estava acontecendo no momento. O assunto das fofocas.

No meio tempo em que eu havia finalmente tido uma conversa com Janine e enquanto arrumava minhas coisas para voltar para cá, eu sabia que teria que enfrentar ser o centro das fofocas por um tempo, mas também comecei a me preparar mentalmente para isso. Já que pelo visto, ser invisível não estava dando certo, eu iria tentar pelo menos ficar na minha e agir naturalmente, como se nada tivesse acontecido. Eu não tinha amigos o suficiente ali para virem me perguntar descaradamente o que eu estava fazendo ali ou o que havia acontecido, então eu estava segura, por agora.

Era uma sexta e nós nos dirigimos para uma área que até agora eu não havia visitado: o escritório da diretora. Nós entramos e subimos as escadas que dariam até uma grande sala no segundo andar e ao entrarmos, foi a minha vez de analisar o ambiente e ver o que aconteceria agora.

Na sala, que era lotada de estantes e quadros nas paredes com documentos e pastas lotadas de arquivos, estavam a diretora Ellen Kirova – uma Moroi de cabelos pretos com algumas mechas grisalhas, extremamente magra e alta e que me olhava como se eu tivesse trazido o próprio mal para toda a escola – e Abe que ao me ver parecia aliviado, além de Pavel e um outro guardião.

Eu pedi a Angeline para esperar sentada no corredor lá fora e Janine se aproximou comigo da mesa. Eu sentei em uma cadeira de frente para a diretora e ao lado de Abe, mas ela ficou em pé, se mantendo em sua pose de guardiã.

– Então existe uma nova Hathaway para me causar problemas. – ela começou – Anastacia, pode começar me dizendo o que aconteceu no dia em que você fugiu?

Eu comprimi os lábios sem saber o que fazer. O que Bea e Dane haviam dito para ela? Aonde eles estariam agora? O que Oliver tinha dito?

– No domingo eu tinha ido para a missa. Quando eu voltei, fui trocar de roupa e ouvi alguém bater em minha porta. Eu achei que fosse Bea, minha colega de quarto e pedi para que entrasse, mas era Oliver na verdade. – eu comecei e ouvi Janine suspirar, enquanto a percebia me encarando. Ela havia me dito para aprender a trancar minha porta há tempos atrás.

– E o que ele fez? O que aconteceu? – ela perguntou.

– Ele estava bêbado e começou a me perguntar coisas idiotas que não faziam sentido e eu pedi para que ele saísse.

– O que ele lhe perguntou, srta.? – ela parecia inocente, mas eu sabia que Oliver já deveria ter dado sua versão e teria dito o que tinha acontecido.

Eu respirei fundo criando coragem.

– Ele me perguntou quanto eu queria para... me prostituir para ele, senhora. – eu disse e vi os punhos de Abe se fecharem na cadeira em que ele estava sentado. – Eu não respondi e então pedi para que ele saísse, mas ele se recusou.

– Alguns alunos me disseram que você veio de uma cidade de mulheres dhampir que se prostituem. Isso é verdade? – ela me perguntou e eu tive que comprimir os lábios para não lhe responder nada ofensivo.

– Não senhora. Eu fui criada em uma cidade pequena chamada Baia. Nós temos uma população bastante variada lá e isso pode incluir algumas mulheres que trabalhem dessa maneira, mas não é o meu caso.

– É, srta. Hathaway. O seu caso é que você tem em seus genes ser uma causadora de problemas. – ela disse azeda.

– Ah, pelo amor de tudo que é sagrado, Ellen! – disse Abe batendo a mão no braço da cadeira em que estava sentado – A família daquele... rapaz já o retirou da escola. Não pode simplesmente acabar com isso sem mostrar sua opinião sobre a minha família? Você não deveria ser imparcial? – ele perguntou ainda mantendo calmo o tom de voz, mas visivelmente aborrecido.

– É diretora Kirova, para todos aqui, Sr. Mazur. – ela respondeu enquanto o encarava e em seguida voltou a olhar para mim. – Anastacia, continue nos contando o que houve naquele dia.

– Você já ouviu três versões do que aconteceu, diretora Kirova. Minha filha foi atacada por aquele imbecil e o garoto Zeklos que tinha o seguido quando ele entrou no bloco dos dhampirs viu o que ele ia fazer e defendeu ela, mas Ana sentiu medo e fugiu! E em seguida aquela garota, Bea, apareceu e chamou os guardiões! Não foi isso tudo o que houve, Anastacia?

Eu encarei Abe erguendo as sobrancelhas e entendendo o que ele tinha feito e logo em seguida eu acenei confirmando.

– Você tem certeza, srta. Hathaway? – a diretora perguntou, estreitando os olhos.

– Sim, senhora. – eu afirmei apressadamente.

Em seguida, ela me deu uma suspensão de um dia já que eu já havia perdido uma semana e eu precisava me manter acompanhando as aulas e minha punição, que seria trabalhar na igreja por um mês ajudando o Padre Andrew todos os dias, inclusive aos domingos.

– Eu espero que você entenda o quão sortuda você é por nada além disso ter lhe acontecido e você esteja permanecendo na St. Vladmir... e pelo sr. Zeklos ter aparecido para lhe defender. – ela me disse enquanto nos levantávamos.

– E eu espero que você entenda que da próxima vez que algum garoto invadir o quarto da minha filha dessa maneira, você não vai ter uma expulsão de um Moroi para lhe dar, mas sim um velório. – disse Abe, se levantando e indo em direção à porta, sendo o ultimo a passar e fechando-a deixando uma Kirova furiosa do lado de dentro.

Nós estávamos caminhando pelo corredor e eu fui até Angeline com meus pais me seguindo.

– Agora pode me dizer no que diabos você estava pensando? – disse Abe, ainda falando baixo.

Eu revirei os olhos e olhei para Angeline que parecia sem saber o que estava fazendo ali.

– Abe, pode lidar com a parte do castigo depois? Eu acho que arranjei uma substituta para mim. – eu disse e olhei para Abe que parecia não entender o que eu estava falando.

Eu tinha que admitir que ter uma ideia como essa em tão pouco tempo, foi uma surpresa até para mim, mas quando Angeline deu a entender que queria conhecer o mundo lá fora, eu lembrei do quão incrível era quando eu trabalhava para Abe e viajava de cidade em cidade. Angeline tinha a mesma idade que eu e já sabia dirigir, além de saber se defender sozinha e não ter problemas em se relacionar com todo tipo de pessoa. Ela seria perfeita para se manter no meu lugar, trabalhando para Abe e eu tinha certeza que Abe cuidaria para que ela se mantivesse estável em todos os sentidos, além de providenciar documentos para ela se precisasse. Agora, ela ficaria aqui até o fim do ano, quando eu passaria os feriados na Corte, tendo aulas com Lemoine e depois que conseguisse um diploma de ensino fundamental, ela iria embora.

Abe possuía meios para que ela fosse admitida na escola mesmo depois dessa discussão que tivemos com Kirova e além disso, ele havia pedido para que Angeline fosse agora minha colega de quarto, dando assim a primeira missão para Angeline: cuidar de mim enquanto ela estivesse ali. Eu tentei não rolar meus olhos quando Abe pediu para que ela fizesse isso, mas entendi que esse era o jeito dele de dizer que ele estava realmente preocupado comigo.

Janine e Abe me levaram até o quarto e em seguida pediram para que eu deixasse Angeline no quarto e descesse para falar com eles, o que eu fiz. Eles me levaram até a biblioteca do dormitório e eu me preparei mentalmente para mais uma sessão de família.

– Você prometeu que não fugiria. – começou Abe.

– Eu prometi que não voltaria para a Rússia-

– Anastacia! – disse Janine exasperada.

– Okay, eu sinto muito!

– Você fugiu, sem deixar pistas e no meio da noite! Além de não entrar em contato com Oksana ou qualquer pessoa. Eu tive que vir aqui e sua mãe teve que sair da Corte! Pode entender o quão isso foi perigoso? – ele me disse e pela primeira vez ele parecia... um pai, o que me fez comprimir um riso. – O que foi? – ele me perguntou sem entender.

– Nada, Abe. Eu realmente sinto muito. – eu disse e voltei a ficar seria – Eu fiquei com medo do que aconteceria e do que vocês iam pensar e fugi.

– Assim que cheguei aqui, sua amiga Bea veio me procurar e me contou tudo o que houve e o que eles contaram para Ellen. Ela parecia extremamente preocupada, mas foi muito inteligente. Embora, eu teria preferido que você tivesse ficado e falado a verdade. – disse Janine. – Além disso eu fico feliz por você já ter feito amigos aqui.

– Yeah. – eu disse pensando e olhando para a janela ao lado.

– E agora faz algum sentido você ter trazido aquela menina com você, mas o que exatamente você estava fazendo com aquele rapaz quando eu encontrei vocês? – perguntou Janine cruzando os braços e estreitando os olhos.

– Que rapaz? – perguntou Abe.

Eu mordi o lábio tentando não sorrir.

– Ele também é um amigo que eu arranjei. – eu disse e fingi um bocejo – Então... eu estou com sono. Faz cinco dias que não durmo direito.

E então eles se despediram e eu realmente os abracei, pensando no quanto eu sentiria falta deles até – o que eu esperava ser a próxima vez que eu os veria – as festas de final de ano.

Quando eu voltei para o quarto, passei pela porta do quarto de Bea, que era antes do meu, mas estava vazio, até que cheguei no meu e a encontrei parada enfrente a minha cama, conversando com Angeline. Eu entrei e parecia estar havendo um silencio inconveniente no lugar e então eu pigarreei e toquei no ombro de Bea que se virou no mesmo segundo e pareceu surpresa.

– Meu Deus! Então é verdade! Você está viva! Você voltou! – e então ela me abraçou.

– Eu também senti sua falta, Bea. – eu respondi abraçando de volta e era verdade.

– Algumas meninas me disseram que viram você chegar, mas eu vim aqui e vi outra garota entrar em seu quarto e fiquei tão preocupada... – ela disse me soltando – Eu achei que você tivesse sido expulsa ou algo pior, porque afinal você não respondeu nem mensagens, nem e-mails, nem ligações! Onde você esteve esse tempo inteiro? Numa caverna?

Eu ri e fechei a porta atrás de nós e em seguida sentei na cama chamando Bea e lhe contando tudo o que houve nos últimos dias e lhe apresentando Angeline. Angeline insistia em estar um tanto reclusa, mas depois que passamos a conversar sobre os Keepers, ela passou a explicar a Bea tudo sobre eles.

Por ser madrugada no horário da academia, depois que esclarecemos por onde eu estava e com quem eu estava, Bea se despediu dando boas vindas a Angeline e indo para o seu quarto. Angeline também parecia sonolenta, então eu a deixei dormir em minha cama enquanto ninguém aparecia com a sua e comecei a guardar minhas coisas dando espaço para que ela pudesse guardar as suas. Depois que terminei de guardar tudo, coloquei meus eletrônicos para carregar enquanto me atualizava e via dezenas de mensagens, ligações e e-mails chegando. Eu tentei apagar a maioria e digitei uma mensagem copiando para todos os remetentes: “Eu estou bem. De volta a St. Vlad.”. E então eu deixei minhas coisas ali e desci as escadas indo até a cozinha. Os guardiões me reconheceram e alguns pediram desculpas pelo que havia acontecido, eu respondi dizendo que estava tudo bem e depois de ter achado algumas frutas e água, eu fui até o balcão e comecei a comer sozinha. O local inteiro estava silencioso, mas quando eu já estava terminando eu percebi alguém entrar na cozinha e me virei para ver Jessica entrando.

– Então é verdade. Você teve coragem de voltar. – ela começou e se sentou no balcão ao meu lado.

– Yeah, eu voltei por que soube que você sentiu minha falta. – eu disse enquanto terminava uma maçã.

Ela riu forçadamente.

– Então, onde você esteve? Estava precisando de dinheiro e foi se prostituir aqui na América?

– Onde eu estive não é bem da sua conta, Jess. Você deveria não estar tão obcecada assim por mim, as pessoas podem pensar coisas erradas. – eu disse, ainda controlada, mas sentindo a escuridão se aproximar e por isso eu terminei minha refeição em silencio e andei em direção a porta da cozinha.

– Você fez Dane brigar com um amigo e pode ter se livrado de Oliver, mas ele voltou com a Gwen, você sabia? Eles estão juntos desde que você se foi.

Eu ouvi o que ela disse, mas fingi que não e ignorei, saindo da cozinha e voltando até o meu quarto. Dane e Gwen haviam voltado. Bem, ele não era nada meu além de um amigo que me fez um grande favor. Com quem ele se relacionava não era problema meu. Eu disse a mim mesma enquanto subia as escadas. Eles já namoraram antes, eles deveriam ter um relacionamento que eu não entendia... e nem queria entender também.

Depois de um tempo, Alberta apareceu no quarto com alguns guardiões e outros homens que acrescentaram alguns moveis para Angeline. Alberta no entanto, esperou que todos fossem embora e então ficou para conversar baixo comigo.

– Eu estaria sendo antiprofissional e imparcial se eu dissesse que na verdade fiquei muito orgulhosa por você ter reagido, então eu posso apenas dizer que fico feliz por você ter voltado. – ela me disse reprimindo um sorriso.

Eu a encarei e a vi sair me deixando ali no quarto com Angeline que tinha começado a organizar suas próprias coisas agora.

Quando todos começaram a acordar, eu ajudei Angeline a ficar pronta, me sentindo ansiosa por ela, mas ela parecia bem mais preparada e disposta do que eu no meu primeiro dia. Ela estaria em todas as minhas classes por tempo indeterminado, mas ao invés de apenas uma aula com Lemoine no sábado, ela teria a manhã inteira. Nós descemos e eu encontrei Bea quando fomos tomar café da manhã, eu estava suspensa das aulas normais, mas isso não incluía as aulas extras.

– Então... Bea, já que nós agora somos amigas e compartilhamos um segredo... que tal nós compartilharmos outro que seria você pegar leve nessas aulas e me dar mais trinta minutos de sono como no primeiro dia? – eu disse quando chegamos ao ginásio.

– Ha, boa tentativa. Mas eu tenho uma ideia melhor, que tal você mostrar como funciona para Angeline e me poupar esse trabalho? – ela disse, pegando sua mochila, abrindo um livro e se sentando em um dos colchonetes.

Ensinar algo para Angeline, não era um trabalho muito fácil. Ela se esforçava em aprender e tentava até que aprendesse, mas o problema é que eu era em quem ela tentava no momento. Eu tinha quase certeza que não havia causado tantos danos em Bea, mas Angeline estava me quebrando com força bruta no primeiro dia. Para minha sorte, eu teria um tempo para me recuperar agora e depois que a aula acabou, Bea seguiu com Angeline até a sala enquanto eu voltava para o quarto.

Quando cheguei no quarto, aproveitando que estava sozinha, passei uma mensagem para Oksana pedindo para que nós entrássemos em uma videoconferência e depois de ter ouvido mais um sermão da parte dos meus pais adotivos, eu pude matar um pouco da saudade deles também. O que mais me impressionou saber, foi que Mark já sabia da existência dos Keepers e ele e minha mãe já haviam considerado viver com eles, logo no inicio do relacionamento dos dois, mas eles preferiram se manter sozinhos.

Depois que terminamos nossa conversa, eu comecei a estudar algumas coisas que poderiam ter sido vistas nas aulas que perdi e no horário do almoço, eu desci para o refeitório. Quando estava me virando para ir até a mesa onde Angeline, Bea e seus outros amigos estavam sentados, vi no centro do lugar a mesa onde Dane, Gwen, Jessica e outras pessoas estavam sentadas. Gwen e Jessica estavam conversando entre si, mas Dane parecia que estava me observando há muito. Eu o peguei me encarando e retribui o olhar. Ele parecia impressionado e algo nele parecia estar tentando passar alguma mensagem, mas então Gwen passou a mão em seu rosto, fazendo com que ele olhasse para ela e lhe dando um beijo da mesma maneira que ela fez quando estávamos nos falando pela primeira vez na escola. Eu tentei agir normalmente e simplesmente revirei os olhos e sai indo sentar.

– Cara, eu sinto como se minha cabeça estivesse pegando fogo. – disse Angeline, enquanto cutucava com um garfo um hambúrguer. – Eu sou mesmo obrigada a me apresentar em todas as aulas? Esses caras não tem vida própria para cuidar? Precisam saber sobre a minha? E qual é a da loira modelo e da anã sempre ao lado dela cochichando e rindo? – ela disse e apontou descaradamente para Gwen e Jessica.

Eu ri e segurei seu braço, puxando para a mesa de volta.

– Angeline, calma! Primeiro: sim, você é obrigada a se apresentar nas primeiras aulas. É mais como se fosse um gesto de boas vindas, embora eu nunca tenha entendido por que ou pra quê. E quanto aquelas duas... apenas ignore. Não vale a pena e não pode fazer nada contra ninguém enquanto estiver aqui.

Ela parecia aborrecida e se manteve tentando comer o hambúrguer com um garfo, o que atraia alguns olhares até que eu parei seu garfo e segurei o hambúrguer mordendo um pedaço e mostrando a ela como deveria fazer. Ela parecia surpresa e então estava em território confortável enquanto comia com as mãos.

Eu comi meu almoço enquanto estava de costas para a mesa em que Dane estava sentado e me mantive focada em pensar em qualquer coisa menos nisso. Quando nos levantamos e fomos para a aula de Lemoine, eu não pude deixar de me sentir apreensiva e com medo de chegar em sua sala e dar de cara com Oliver sentado lá a frente, mas para meu alívio, apenas o professor estava lá e ele foi discreto como sempre, nos dando as boas vindas e em seguida começando a explicar para Angeline como funcionaria as aulas. Eu também fiquei ajudando Angeline a entrar no ritmo em que as aulas estavam, mas ela parecia impressionada de verdade com Lemoine. Enquanto eu tentava explicar para ela o exercício que ele havia passado, ela não parava de observa-lo e eu precisava chamar sua atenção diversas vezes. Depois que finalmente acabamos, ela foi entregar seu exercício e quando fui entregar o meu, eu percebi que teria mais três horários vazios. Ficar no quarto seria entediante e vagar pela escola, significava ter que ver pessoas que eu preferia não ver no momento, então eu resolvi perguntar a Lemoine se eu poderia ficar.

– Professor, eu estou suspensa das aulas normais e vou estar livre pelos próximos três horários. O senhor poderia me passar algo para estudar agora? Eu perdi quase uma semana, então... – eu não conseguia acreditar que eu estava perguntando isso.

– Tudo bem, Anastacia. Se quiser podemos ficar aqui até sua aula com a Meredith, digo... guardiã Meredith... Sheppard. – ele disse começando a ficar vermelho.

– Okay. – eu respondi desconfiada e então voltei para minha mesa.

Quando cheguei até a aula de Meredith, ela parecia aborrecida e Angeline já havia começado a correr.

– Esqueceu as noções de tempo em cinco dias, Hathaway?

Eu gaguejei um não e comecei a me aquecer. Ela passou a aula inteira de mau humor, mas parecia impressionada que eu realmente tinha conseguido juntar alguns dos movimentos de luta dos Keepers com os movimentos que ela mesma havia me ensinado. Ela também estava pegando pesado com Angeline, mas Angeline parecia gostar dessas aulas mais do que as do primeiro tempo.

Quando voltamos para o quarto, eu encontrei Bea um vestido preto com detalhes em vermelho e laranja.

– E então? Muito acabadas? Temos uma festa para ir – ela disse com um sorriso– e todos querem conhecer a mais nova ruiva da St. Vlad.

Eu me neguei, mas percebi que Angeline queria ir e a deixei livre.

– Não, tudo bem. Eu fico aqui também. – ela disse e parecia determinada.

– Eu sinto muito, Bea. Vou ter que passar mais uma vez. – eu disse me lembrando que essa era a segunda festa que Bea me convidava.

– Jesus, Ana! As pessoas na Rússia não se divertiam? Vai para a festa de Halloween pelo menos, certo?

Eu afirmei, mas não disse nada e logo em seguida desejei boa festa e entrei no quarto trancando a porta. Eu precisava admitir que se Angeline não estivesse ali agora que voltei, eu poderia estar surtando cada vez que era deixada sozinha, mas como o que havia acontecido com Jill ainda me deixava receosa, eu sabia que não deveria me apegar ou depender dela, ainda mais sabendo que Abe poderia a qualquer momento chama-la.

No domingo, eu não quis acordar Angeline que havia passado o sábado inteiro estudando desesperadamente tanto comigo quanto com Lemoine e parecia estar realmente empolgada e se dedicando a nova vida. Eu me arrumei e depois de tomar café da manhã saí para a missa. Eu encontrei as mesmas pessoas que sempre costumava ver na missa, mas procurei apenas prestar atenção no que o padre falava. Quando a missa terminou, eu esperei que todos fossem embora e em seguida fui até o Padre Andrew. Ele me disse que no momento ia precisar que eu ajudasse a limpar os bancos enquanto ele varria o lugar e depois me pediu para que eu subisse até a biblioteca da igreja para trabalhar organizando os livros e o lugar. Eu não fiquei muito feliz em limpar os bancos, mas me sentia otimista em gastar meu tempo no domingo organizando uma biblioteca. Talvez eu pudesse ler alguns dos livros e isso poderia ser bom. Depois que me certifiquei que não havia mais nada em nenhum dos bancos, eu subi as escadas. E então eu comecei a entender o que significava organizar o lugar: até as escadas que levavam até biblioteca estavam cheias de poeira. Eu suspirei e prendi o cabelo, enquanto continuava subindo as escadas e entrei no lugar. A biblioteca era grande, um tanto bagunçada e muito empoeirada. Tinha uma outra entrada, mas essa parecia como uma entrada secreta no lado oposto ao que eu estava, uma janela de vitral que deixava o ambiente com uma estranha luz vermelha, uma mesa com seis cadeiras, duas poltronas velhas de couro marrom, com um tapete e diversas estantes de madeiras amontoadas de livros que pareciam frágeis e algumas já estavam quebradas em alguns lugares.

Eu passava entre elas em silencio analisando o que eu poderia fazer para conserta-las e como começar a arrumar um ambiente como esse sem danificar nada, até que próximo à entrada secreta que eu havia encontrado, entre duas estantes, eu vi uma pessoa sentada encostada a parede e por um momento achei que era alguém desmaiado, até perceber quem era e vi que na verdade essa pessoa estava dormindo. E essa pessoa era Dane Zeklos.


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