Eu acordei e ainda estava no quarto que eu dormia nos Keepers. Estava deitada com as costas para cima, meu cabelo tinha sido posto de lado e eu sentia um pinicado incomodo em minha nuca, próximo a minha orelha direita.

– Isso vai deixar uma cicatriz, mas quando você tiver suas marcas da promessa, a cicatriz vai deixar muito mais foda.

– Angeline! – eu reconheci a voz de Sarah próximo a mim e senti suas mãos em minha nuca. – Olá, Ana. Fico feliz que você esteja viva, mas não se mova agora, está bem?

Eu me mantive parada e me sentia sonolenta enquanto olhava para um candelabro que estava ao meu lado. Depois de um tempo percebi que Sarah estava me dando pontos na nuca com uma anestesia caseira e por isso eu ainda sentia o que ela estava fazendo, mas eu precisava admitir que não estava sentindo nenhuma dor.

– Josh... – eu tentei dizer.

– Está bem. Está lá fora preocupado com você e se sentindo mal por não ter conseguido acabar com os três Strigois sozinho.

Sarah terminou de me costurar e eu pedi para que ela buscasse minha mochila, pois entre as coisas que eu havia comprado na viagem que fiz a cidade estavam algumas coisas para curativos e então ela fez um pequeno e simples curativo e em seguida me ajudou a sentar.

– Onde está Janine? – eu disse lembrando de repente.

– A ruiva Tainted? Está sendo interrogada. – respondeu Sarah com uma expressão obscura – Ela não pode ficar aqui e Raymond vai fazê-la ir embora. E em seguida nós partimos.

– O que? – eu disse me levantando e ainda me sentindo tonta.

Em seguida eu me levantei, mesmo com as exclamações de Sarah e Angeline e segui para fora próximo à fogueira onde Raymond tinha me interrogado, achando Janine que era bem mais baixa que ele, mas que estava com uma expressão selvagem no rosto.

– Não pode ficar com ela. Ela não é uma selvagem como vocês! – disse Janine, o que fez com que todos começassem a partirem para a defensiva, mas prontos para atacar.

– Ela não vai sair daqui se não quiser. – disse Raymond cruzando os braços.

– Senhor Raymond. – eu disse chamando a atenção dos dois.

Janine me olhou e em seguida se aproximou, pondo as mãos em meu rosto e analisando meu pescoço e meu curativo.

– Ana, essa foi a mulher que salvou você e Joshua dos Lost que estavam lá fora. Eu agradeço, mas ela não pode e não vai ficar aqui. E ela agora alega que é sua-

– Mãe. Ela é minha mãe. – eu disse olhando para Janine e em seguida encarando Raymond.

– É. E ela diz que vai levar você, mas você é bem vinda para ficar. Se quiser, ninguém vai tirar você daqui. – ele disse, encarando Janine.

Eu suspirei.

– Está tudo bem, senhor. Eu agradeço pela estadia e por tudo que todos vocês fizeram por mim, mas está na minha hora de partir. – eu concluí e em seguida vi Joshua se aproximar atrás de Raymond que acenou em afirmativa.

– Tem certeza? Você já se sente bem para voltar? Você quer voltar? – ele me perguntou.

– Sim. – eu respondi mesmo sem ter certeza que era verdade.

Depois disso, Raymond pediu para que Joshua nos levasse até a estrada mais próxima e Janine ligou para alguém nos buscar. Ela não falou nada e eu me perguntei se ela só ignoraria tudo e me levaria de volta até a escola. Eu não duvidava que ela fosse capaz de fazer isso.

Eu segui para o meu quarto para arrumar minhas coisas e Angeline começou a me ajudar parecendo nervosa.

– Me leve com você. – ela disse de repente.

Eu a encarei surpresa.

– Eu não quero mais ficar aqui. Eu quero conhecer o mundo lá fora. Me leve com você. Se eu pedir ao meus pais, eles vão deixar, mas não quero abandonar tudo e ir sozinha, então...

– Então arrume as suas coisas, eu sei o que nós podemos fazer. – eu disse tendo uma ideia que parecia brilhante.

Enquanto Angeline conversava com seus próprios pais, eu terminei de arrumar minha mochila e fui até o carro, seguida por Janine.

– Como você conseguiu me achar? – eu perguntei.

– Oksana me ligou assim que soube notícias suas. Ela pediu para que eu não fosse a sua procura, mas acho que não cumprir promessas é algo de família. – ela disse estreitando os olhos.

– Eu cumpri a minha promessa. Eu me mantive na academia e ainda estou cumprindo já que eu não voltei para a Rússia. Eu ainda estou na América, não estou? – eu disse dando de ombros.

– E essa vai ser sua desculpa? Estamos a sua procura há cinco dias!

– Se tivesse ouvido minha mãe saberia que estava tudo bem e pararia de me procurar. – eu disse cruzando os braços.

– Ela não é sua única mãe, Anastacia! E se para ela está tudo bem lhe dar espaço e deixar você ir, para mim não está! Entendo que foi ela quem te salvou e criou, mas eu também sou sua mãe. – Janine disse.

– Então por que não tem agido como uma? – eu falei aumentando o tom de voz sem perceber – Você não se importa com o que acontece comigo desde que eu cheguei ali. Nunca recebi uma ligação ou mensagem sua e eu precisava de você ou de alguém, quem quer que fosse! Eu precisava de alguém para me dizer que o que eu estava fazendo valia a pena!

– E vale! Você viu o que você foi capaz de fazer! Você derrubou um Strigoi sozinha. Você não o matou, mas imagine o que você faria se tivesse se mantido frequentando as aulas! – ela parecia impressionada.

– De que importa? Eu só estou me mantendo no treino para não apanhar nas aulas e só estou tendo essas estupidas aulas porque Lissa me pediu para que eu as experimentasse, mas quer saber? Elas são um saco e não me servem de nada!

– Anastacia, será que não pode ver? Essas aulas estão fazendo a diferença e futuramente farão uma diferença maior ainda! Pode não querer ser a guardiã de ninguém, mas eu tenho certeza que você quer se defender sozinha, eu tenho certeza que você sabe o quão importante é saber se defender e o quanto isso teria lhe ajudado se você já tivesse tido essas aulas quando... – ela parou e então eu percebi.

– Quem contou para você? – eu disse, sentindo a raiva começar a tomar conta. – Foi Abe, não foi?

Ela balançou a cabeça e eu a vi começar a reprimir sua vontade de chorar.

– Oksana achou justo que eu soubesse. Ela me contou tudo sobre você e quando ela me contou sobre isso... Eu achei importante que você tivesse essas aulas. Ela já tinha me dito que não queria que você se tornasse uma guardiã por pressão, mas nós duas concordamos que seria melhor se você soubesse se defender para que isso nunca mais acontecesse.

Eu ainda estava de braços cruzados, mas agora encarava meus próprios pés enquanto tinha tantas emoções e memorias passando em minha mente.

– Eu sei que você tem um laço especial com Oksana – Janine continuou – e eu sei que eu não sou uma mãe tão boa quanto ela, mas eu quero que você me aceite como sua mãe. Eu não tive participação na sua vida enquanto você crescia, mas eu estou tentando agora. Você pode me das essa chance e tentar também? Pode fazer isso? – ela disse e se aproximou de mim, segurando meu rosto em suas mãos.

Eu a encarei por um momento, com seus olhos castanhos e cabelos ruivos, vendo o quanto éramos parecidas e pela primeira vez eu a abracei como eu abraçava Oksana.

– Vocês estão prontas? – a voz de Joshua surgiu depois de um tempo e atrás dele Angeline com uma mala velha de couro puído e ela parecia como se tivesse acabado de chorar, mas determinada e pronta para qualquer coisa.

– Sim. – eu disse e dessa vez eu estava pronta para voltar a St. Vladmir.