Shadows of the past escrita por larissabaoli


Capítulo 18
Capitulo 18




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Depois de ter conhecido Sydney e ela ter me contado sobre os Alquimistas, eu decidi que havia muitas coisas ainda eu que eu não sabia e que eu deveria me manter aberta a novas informações. Eu sempre fui de observar e ficar na minha na maioria das vezes e isso me mantinha longe de confusões – até que eu entrei para a St. Vladmir – mas eu não sabia com que expressão eu estava me mantendo enquanto Angeline e Joshua me apresentaram aos Keepers.

Na Baia, existiam humanos, dhampir, Morois e alquimistas, mas nós tínhamos nossos próprios grupos. Nos mantínhamos amigavelmente, mas sempre andávamos com alguém da nossa raça ou relativos. Os Keepers eram como se fossem um grupo de campistas de todas as raças misturados – e quando eu falo misturados, eu quero dizer literalmente. Não haviam alquimistas ali, mas eles sabiam da existência deles e segundo o que Joshua e Angeline tinham me dito, os alquimistas costumavam ajuda-los trazendo roupas e mantimentos. Os dois dhampirs me levaram até o homem parecia ser o líder dali, um Moroi, com barba e cabelo marrom e vestido como todos os outros. Seu nome era Raymond e ele não foi tão calmo como os outros.

– Alguém vai vir te procurar aqui? – ele me perguntou sério.

– Ninguém sabe onde eu estou. – eu respondi.

– Joshua disse que tem alguém esperando por você na estrada.

Eu comprimi os lábios fazendo uma careta.

– Eu menti.

– Por que você fugiu? – ele me perguntou sem rodeios.

– Eu fui atacada por um Moroi. Eu consegui me defender, mas fugi para não ser pega. – eu respondi no mesmo tom.

Raymond olhou para mim dos pés a cabeça e demorou um tempo extra em minhas mãos que confirmavam a verdade.

– Não pode ficar aqui por muito tempo. – ele falou – Mas é bem vinda aqui por enquanto. Pode dormir com Angeline, Paulette e Molly. – e então saiu me deixando ainda mais sem reação.

Entre os Keepers havia crianças, idosos e adultos das três raças e eles pareciam viver isolados em cabanas e cavernas construídas ou modificadas por eles mesmos. Eles também sobreviviam com o que caçavam ou cultivavam e apesar de ser estranho, depois de um tour pelo lugar feito por Joshua eu me senti um tanto a vontade.

A comida, uma canja que caiu muito bem para um estomago que estava sempre disposto a qualquer coisa como o meu, foi bem vinda e logo Angeline se sentou próximo a mim e Joshua nas pedras de frente a fogueira, me pondo no meio entre os dois.

Eu os ensinei algumas coisas sobre celulares e também notebook, mas assim que percebi que eles não tinham eletricidade, tratei de desligar os dois para economizar bateria. Angeline parecia interessada de verdade, enquanto Joshua só parecia curioso sobre as funções. Enquanto eu explicava o que me era perguntado, outras pessoas começaram a se agrupar conosco para ouvir o que eu dizia e eu me mantive explicando pacientemente, até que Sarah – a mãe de Joshua e Angeline e a humana que havia cuidado dos meus ferimentos passando uma pomada de origem duvidosa e que cheirava estranho – apareceu, nos mandando ir para dentro da cabana e apagando a fogueira.

Quando entramos e tudo lá fora pareceu ficar em silencio, Angeline me mostrou seu quarto e pôs um colchão fino, feito de pedaços grossos de pano costurados juntos. Todos tinham um desse e eu também recebi um travesseiro de penas – que eu nem precisava perguntar para saber que era de verdade – e um lençol de retalhos. Eu me sentia sem sono e agitada, apesar de estar deitada. Todas as informações giravam em minha mente e eu me perguntei se quando eu dormisse, minha mãe veria que eu estava mentindo pela minha aura e colocaria minha fuga em risco ou se eu teria pesadelos com Oliver o que me fez ficar ainda mais alerta. Minha mochila estava ao meu lado e eu encarava o teto ainda super agitada. Eu também me sentia desconfiada e com medo, os Keepers pareciam pessoas legais – apesar de serem selvagens – mas eu os havia conhecido hoje. Segundo eles, eles seguiam costumes tradicionais e eu não sabia muito o que esperar. Talvez se eu tivesse frequentado mais aulas de Cultura Moroi ou Literatura Colonial Americana eu poderia entender ou saber o que esperar, mas era tarde demais para pensar nisso já que eu havia fugido da escola.

– Está tudo bem, sempre tem alguns de nós vigiando lá fora. – eu reconheci a voz de Angeline num sussurro no escuro.

– Certo. Tudo bem. – eu respondi na mesma altura.

– Por que você fugiu? Quer dizer, você não foi atacada de verdade, foi? Eu pensei que os guardiões estivessem sempre por perto para proteger e evitar que coisas como essa acontecessem.

– É. Eu também. – eu disse, mas eu sabia que o que havia acontecido comigo não era culpa dos guardiões, mas sim algo que tinha sido algo planejado por Jessica, Oliver e talvez até mesmo Gwen.

– Você não soube se defender sozinha? – ela perguntou depois de um tempo.

– O problema foi esse. Eu me defendi. Mas eu agredi uma pessoa importante, então eu achei melhor sumir por um tempo. Eu também tive ajuda de alguns... amigos – eu pensei em Dane enquanto falava – mas agora eu estou com medo do que vai acontecer com meus amigos que ficaram lá.

– Você acha que eles vão se meter em encrenca?

– Sim. Pelo menos um deles. – eu disse, mordendo o lábio nervosamente.

– Você parece ter amigos legais então. – disse Angeline e depois de um tempo em que eu pensei que ela já havia dormido continuou – Você pensa em voltar?

Eu também esperei um tempo para responder, porque eu não sabia se eu realmente queria. Minha vida desde que eu entrei na St. Vlad não foi nada fácil, mas voltar seria necessário. Eu ainda precisaria da droga do diploma de conclusão e não acho que Abe ou Janine iriam querer que eu fosse para outra escola. Caramba, aposto que todos eles vão ficar com muita raiva de mim quando descobrirem que eu fugi, eu pensei. Talvez fosse melhor eu simplesmente voltar no outro dia e assumir a culpa. Afinal eu agi em legitima defesa, certo? Eu sabia que uma parte de mim estava com medo do que aconteceria agora e eu não queria voltar e encarar isso. Voltar e ter que olhar para a cara de Oliver.

– Eu vou voltar... mas agora não.

– Pode ficar aqui então. Se quiser. – disse Angeline.

– Obrigada. – eu disse, mas não confirmei ou neguei nada.

A verdade é que era muito mais fácil ficar ali com os Keepers. Eles não pediriam minha documentação, não me entregariam para as autoridades e eu estaria afastada de pessoas como Oliver, Gwen, Jessica e Dane.

Eu passei quarenta e oito horas sem dormir. Os Keepers seguiam o mesmo horário que a academia e então eu me mantinha vagando pela floresta de manhã e a noite eu seguia o horário “normal”. Eu estava certa sobre eles serem um tipo de campistas, pois eles seguiam em caravana e acampando por lugares seguros. Eles já estavam ali a cerca de três meses e por isso já tinham construído e reformado algumas coisas, mas ao menor sinal de ameaça de Strigoi, eles partiam em retirada. Agora enquanto eu sentava nas pedras, próxima a fogueira apagada, sozinha e o sol tinha saído eu me sentia cansada e com sono, mas me recusava a dormir. Eu passei a ajudar as mulheres na cozinha e Angeline e Joshua passaram a me ensinar a lutar do jeito deles, o que me só estava servindo no momento para ser mais um motivo de exaustão. Eu me mantinha pensando em como deveriam estar as coisas no momento e até tinha curiosidade de dormir e ser posta em um sonho com Oksana ou simplesmente deslizar para a mente dela e descobrir, mas eu me recusava a dormir e se eu parasse e me permitisse entrar na mente da minha mãe, eu também corria o risco de adormecer.

– Você não dorme nunca? – Joshua apareceu e eu percebi que estava cochilando de olhos abertos.

Eu dei um sorriso amarelo e reprimi um bocejo.

– Problemas de insônia. – menti.

– Se quiser, posso acordar minha mãe e ela pode te fazer um chá...

– Não, obrigada. Na verdade. Joshua, lembra que vocês me disseram que poderiam me levar até a cidade mais próxima? – eu disse tento uma ideia.

– Você quer ir embora? – ele perguntou parecendo magoado.

– Não... Não vou embora agora, só preciso... ir comprar algumas coisas na cidade. – eu disse. – Pode ir comigo? Ou me arranjar a chave do carro? Sei que deve estar na hora de você dormir...

– Não, eu vou com você. – ele me disse.

Joshua era bonito e sempre estava disponível para me ajudar em algo ou me explicar o que eu não entendia, mas eu me mantinha a uma distancia segura na maioria das vezes. Quando lutávamos ele deixava que eu o derrubasse de vez em quando, o que fazia Angeline descontar me derrotando por ele. Angeline era boa, mas era parecida com Jessica. Usava força e ataque antes de qualquer coisa.

Eu entrei no quarto e peguei minha mochila, fazendo o possível para não fazer barulho nenhum e saí da cabana quase correndo na ponta dos pés e em seguida Josh me guiou até uma Picape Ford 1960 de um tom de azul desbotado parecida com a que meu pai tanto adorava, mas em um estado muito pior.

– É um carro usado por todos, então... não podemos demorar muito.

Eu confirmei e em seguida entramos no carro. Joshua parecia animado e feliz em sair, mas eu não tinha certeza se era somente isso. Ele me olhava de lado enquanto dirigia e enquanto eu mais uma vez lutava contra o sono. O carro não conseguia andar além de 80km/h o que tornou o percurso lento e o rádio também não funcionava, então Joshua começou a puxar assunto.

– Então, o que pretende fazer na cidade? – ele me perguntou.

– Comprar algumas coisas. – Tipo café, energético ou vitaminas, eu pensei.

– Tipo coisas industrializadas?

– É.

– Ana, eu sei que eu disse que nós deveríamos voltar logo, mas se você quiser passar um tempo extra, talvez nós possamos tomar um sorvete. Faz muito tempo que eu não tomo um. Nós podíamos dividir um-

– Eu vou ser rápida. Precisamos pensar em Veronica, ela pode ter aquele bebê a qualquer momento, certo? – eu disse, pensando em Veronica, uma humana que estava grávida pela primeira vez e tinha somente um ano a mais que eu.

– Os partos são feitos lá mesmo. – Joshua me respondeu simplesmente. – Diana é a parteira e minha mãe e Paulette costumam ajudar também.

Eu lembrei ter visto uma anciã loira que me lembrava Yeva entre os Keepers e me disseram que seu nome era Diana.

– É, mas... podem haver complicações. – eu disse ainda me esquivando do que Joshua tinha sugerido.

– É, você está certa. – ele disse e depois mudou para um assunto pior – Quantos filhos você pretende ter?

Eu tive que lembrar de fechar a boca para responder, pois ele realmente parecia esperar uma resposta.

– Eu não sei. Eu não sei se quero ter filhos. – eu disse, olhando para a estrada quando uma memoria desagradável apareceu.

Depois de ter sido resgatada, levada para o hospital e depois voltar para casa, logo quando minha mãe entrou em minha mente e descobriu o que havia acontecido comigo, eu precisei retornar ao hospital e fazer diversos testes e dentre eles o de gravidez. Ela nunca me disse os resultados dos testes e eu nunca tentei descobrir, mas eu precisei tomar diversas medicações por um tempo e passei por uma pequena cirurgia. Eu fiquei anestesiada o tempo inteiro e não sabia o que estava acontecendo, mas depois de um tempo, eu me perguntei o que realmente tinha acontecido comigo para que eu tivesse que fazer essa cirurgia e por que simplesmente Oksana não poderia me curar do que quer que fosse.

– Suas mãos estão melhores. – ele disse me tirando dessa linha de pensamento.

– É, estão. – eu disse enquanto olhava minhas mãos que agora estavam cicatrizando.

Conseguimos finalmente chegar até a cidade que bem... era tão grande quanto a que estive presa na Rússia. Encontramos uma lanchonete e depois de ter pedido para recarregar meu celular e notebook, eu comprei um copo extra grande de café e alguns donuts cheios de açúcar. Joshua também pediu café e donuts, mas se recusou a me deixar pagar e logo sentamos para comer.

– Tudo parece doce demais. – ele disse fazendo uma cara estranha.

Eu ri, pois ele estava com o rosto sujo de calda de donut e levantei a mão pondo no rosto dele e limpando, o que fez com que ele sorrisse.

– Você sabe fazer? Aposto que Angeline adoraria comer um desses.

– Podemos levar alguns. - eu disse e voltei a comer.

– Você está gostando? De ficar conosco. Acho que se eu pedisse ao meu pai, ele deixaria que você ficasse.

Eu terminei um donut antes de responder, procurando uma maneira de dispensar Joshua educadamente.

– Eu estou gostando e eu agradeço por vocês terem me deixado ficar. Mas eu tenho uma família, bem duas famílias e uma hora eu vou precisar voltar.

– Você quer voltar? – ele me perguntou. – Se não quiser, pode ficar e eu garanto que ninguém vai levar você. – ele disse de maneira protetora.

Eu comprimi os lábios.

– Eu preciso voltar. Mas não vou voltar agora, então... podemos deixar esse assunto para lá? Por enquanto?

– Por mim tudo bem, talvez eu possa fazer com que você fique. – ele disse e aproximou sua mão da minha que estava na mesa.

Parecia impossível fazer ele desistir e eu não queria magoa-lo, então deixei que ele segurasse minha mão.

Depois de cerca de três horas, nós tínhamos comprado mais donuts para levar, mais copos de café e algumas latas de energéticos e eu havia comprado uma mochila maior além de roupas mais acolchoadas e entre outras coisas que eu estava precisando. Eu não consegui me desfazer da minha mochila velha por ela me lembrar minhas outras fugas na Rússia e entre outros momentos, então a pus dentro da nova e em seguida nós voltamos para o carro.

Eu desconfiava que aquela tinha sido a primeira vez que Joshua havia provado café, pois ele parecia agitado e desperto além de inquieto, o que o tornava um tanto atrapalhado e fofo.

– Josh, pode me deixar dirigir? – eu perguntei e me esforcei para pedir de maneira delicada.

Ele parecia um tanto indeciso, mas mesmo assim acenou e me deu as chaves e eu passei para o lado do motorista me sentindo animada. Fazia meses que eu não dirigia nada e ansiava por isso mesmo que fosse num carro decrépito como aquele. Seguindo as direções que Joshua me dava, eu até tentava forçar o carro a acelerar, mas ele realmente não ia muito além.

– Mais devagar ou vai acabar quebrando o carro e vamos acabar ficando encalhados na estrada. Não que não seria legal ficar aqui... com você... e sozinho... – ele continuava e quando eu o olhei vi que ele estava começando a ficar vermelho.

– Josh. Eu não vou quebrar o carro. E se quebrar, eu tenho quase certeza que consigo consertar. – eu disse tentando não rir dele, mas falhando.

– Você sabe como consertar carros? – ele parecia impressionado e eu tentei não ficar ofendida. Já estava um tanto claro que os Keepers eram tão tradicionais que ainda aderiam ao machismo.

– Yeah, eu sei consertar algumas coisas e trocar pneus. Meu pai me ensinou. – eu disse e imediatamente senti falta de Mark o lembrando.

Quando voltamos, eu estacionei onde tínhamos encontrado o carro, mas ainda era o meio da tarde e todos ainda estavam dormindo. Eu tirei a mochila do carro e entreguei as chaves para Joshua.

– Vai dormir agora? – ele me perguntou.

– Não. Ainda sem sono. – e agora eu estava mesmo. Depois da animação de ter dirigido e do grande copo de café que tomei, eu ainda me sentia cansada em algum lugar da minha mente, mas estava pronta para qualquer coisa.

– Eu também. Então o que quer fazer agora? – ele disse encostado no carro.

Eu pus minha mochila na traseira da picape e então subi, me sentando.

– Não sei. Posso ficar aqui até todo mundo acordar?

Ele sorriu e sentando-se ao meu lado.

– Ninguém está usando o carro agora, então acho que sim.

Nós ficamos ali até que o sol começou a se por. Ele se manteve perguntando sobre a vida lá fora e eu era detalhista quanto a tudo, mas evasiva quanto as perguntas pessoais. Uma hora ele teria que entender que eu não queria nada além da amizade dele e para ser sincera, ele era bonito e muito legal comigo, mas eu não me via como dhampir das cavernas. Além de que até onde eu sabia, os Keepers também aderiam a bigamia.

Eu me sentia esticando o máximo que podia a mim mesma. Fazia agora quatro dias que eu não dormia e a situação estava ficando bem insustentável. No começo eu bebia um energético a cada 6 horas, mas agora que os energéticos haviam acabado, eu estava começando a me desesperar. Ficar sem dormir, também estava começando a me causar a tão conhecida dor de cabeça e saber que eu estava fora das wards me preocupada que eu começasse a ter visões por estar mentalmente fragilizada. Eu ainda me mantinha ajudando Sarah e as outras mulheres no que elas me pedissem, mas não estava mais sendo realmente útil. Me olhando pela câmera do celular eu podia ver minhas olheiras profundas e Joshua tinha começado a tentar me convencer a dormir. Quando eu abri meu celular, pude ver que minha caixa de mensagens e meu correio de voz já estava lotada, mas eu me mantinha ligando e desligando rapidamente o celular para economizar bateria. A madrugada novamente tinha chegado e eu estava no quarto com o notebook ligado enquanto pesquisava na biblioteca off-line que eu tinha se havia em algum livro de biologia que me dissesse por quanto tempo uma pessoa poderia ficar sem dormir.

– Você parece acabada. – disse Angeline entrando no quarto e deitando.

Eu não respondi.

– Pode me deixar jogar? – ela me disse parecendo esperançosa. Eu havia mostrado a ela alguns jogos que o computador oferecia e seu favorito era o campo minado, já que ela não tinha paciência para nenhum outro jogo de cartas ou xadrez.

Eu coloquei o computador entre nós duas e a observei jogar por um tempo.

Não lembro exatamente em que momento eu dormi, mas eu senti quando fui sugada para um sonho e em seguida me vi na varanda de casa.

– Ana? – eu reconheci a voz de minha mãe e a vi sentada no banco da varanda – Ana! – ela disse se levantando e vindo até a mim.

Ela me abraçou e agarrou meu rosto em suas mãos.

– Você está bem? Você não dorme há quatro dias! O que houve? Janine me ligou, ela está desesperada! Ela me disse que você foi atacada na escola e então sumiu!

Eu me sentia tão cansada que eu simplesmente a abracei de volta e comecei a chorar em silencio.

– Por favor, não me diga que você... Que esse garoto...

Eu balancei a cabeça.

– E o que houve? Onde você está? Eu preciso avisar a Janine e Abe!

Eu me mantive em silencio e enxuguei o rosto com as costas das mãos.

– Ana, você precisa me dizer! – Oksana continuou – Você foi levada? Por que passou tanto tempo sem dormir? Eu tenho tentado te encontrar a três dias!

Eu respirei fundo antes de começar a falar.

– Mãe. Eu estou bem e viva. Eu não fui levada, mas não vou voltar agora.

Oksana parecia em choque e começou a tentar argumentar.

– Me deixe dormir, por favor. – eu continuei – Eu estou bem, eu juro. Mas por favor, me deixei sozinha. Eu estou segura.

E então eu senti o sopro em minha cabeça, como se alguém tivesse soprado em meus ouvidos e chegado até o cérebro ou algo gelado tivesse tocado o centro da minha cabeça. Oksana tinha entrado em minha mente para checar se eu estava realmente segura.

– Viu? Eu estou bem agora. Mas por favor, não me faça voltar para lá.

Minha mãe agora parecia horrorizada ao saber tudo o que havia acontecido comigo e me abraçou mais forte. Eu a encarei e percebi que ela agora estava prestes a chorar e balancei a cabeça. Ela também trazia olheiras visíveis e eu sabia que estava fazendo uso do espirito por todo esse tempo para poder me encontrar.

– Vá descansar também, por favor. Agora já sabe onde estou. Durma e me deixe voltar, mãe.

Ela acenou e em seguida eu estava de volta ao sono profundo.

Quando eu acordei, meu notebook estava completamente descarregado e já era o meio do “dia”. Eu ouvia todos lá fora e alguém tinha deixado meu café da manhã próximo a mim. Eu sentia minha boca seca e meus músculos travados e comecei a comer analisando o que minha mãe tinha dito em sonho. Okay, meus pais já sabiam o que tinha acontecido e agora Oksana sabia onde eu estava. Eu não sabia se ela contaria ou não minha localização, mas tinha certeza de que ela não me procuraria mais por um tempo. Esse espaço para privacidade, era uma das coisas que eu mais amava ter e meus pais – Mark e Oksana – sabiam disso. Segundo minha mãe, todos já sabiam que eu tinha sido atacada e que eu havia fugido, mas ela não me contou nada sobre o que tinha acontecido com Dane, Oliver ou Bea o que me deixava na mesma situação, mas apenas mais preocupada. Bea tinha um histórico impecável, por mais que fosse por motivos estúpidos como se tornar a guardiã de uma mãe que a ignora, mas eu não arruinaria isso para ela. Eu esperava que nada de ruim tivesse acontecido com ela e que Oliver colocasse a culpa apenas em mim. Eu não me importava. Talvez, se eu fosse expulsa da St. Vladmir eu poderia voltar a Baia e frequentar a escola da cidade. Agora que Jill não chegaria, eu me veria mais uma vez sozinha quando voltasse, exceto por Bea. Isso que tinha acontecido, era um salto e tanto. Sydney, Jill e Rose eram grandes amigas, mas o que Bea tinha feito, tinha sido algo incrível e nós só nos conhecíamos a menos que um mês. Pensar nisso me fez ter uma certa saudade de Bea e de algumas pessoas de lá. Não sabia o que tinha acontecido com Oliver, então não sabia se ele estava frequentando as aulas ou se o prof. Lemoine agora estaria tendo uns bons dias de férias e sentia falta até mesmo de Meredith e seu humor negro sempre disposto a fazer piadinhas comigo. Eu tinha certeza que quando eu voltasse ela seria pior ainda comigo e me faria ter que reaprender tudo novamente.

Eu suspirei e me levantei indo para fora e encontrando Angeline lutando com alguns outros meninos, mas ela parecia com raiva.

– Até que enfim você acordou. – ela disse ao me ver e terminando uma luta derrubando um menino do seu tamanho, mas mais novo no chão com força – Você não me deixou dormir com todos os gemidos e agouros. Foi horrível. Se eu soubesse, que quando você dormia fazia esses sons, eu mesma tinha me encarregado de não te deixar dormir.

Eu ri e me senti ficar vermelha.

– Eu sinto muito. Tive alguns pesadelos.

Isso a deixou em silencio e depois ela mudou de assunto.

– Seu computador apagou. Eu acho que o quebrei. – ela disse e parecia culpada.

– Está tudo bem. Só estava descarregado, eu lhe expliquei sobre isso, lembra?

– Yeah – ela disse e mudou de assunto novamente – Quer vir treinar?

Eu afirmei e então começamos. Lutar com Angeline e os Keepers me fazia ter um ponto de vista diferente do que eu tinha na academia. Eles colocavam bastante força bruta, mas tinham alguns truques que eu passei a memorizar, misturando ao que eu já havia aprendido.

No dia seguinte – eu tinha voltado a dormir normalmente e tive um sono tranquilo. Nos últimos dias, Joshua tinha me dito que estava preparando uma surpresa para mim e se manteve distante. Eu depois de um tempo passei a achar que ele só estava tentando me evitar pelo meu mau humor devido à falta de sono, mas enquanto comíamos ele sentou-se ao meu lado e me avisou que minha surpresa estava pronta, me pedindo para encontra-lo na hora do jantar.

– Pode me dizer alguma coisa sobre isso? – eu perguntei a Angeline que tinha ouvido toda a conversa.

Ela tentou não rir e eu percebi que suas bochechas tinham ficado vermelhas.

– Não posso contar o que é, mas espero que você goste. – ela disse e se levantou retirando sua louça.

Eu passei o resto do dia com uma grande curiosidade, mas tentando preencher o dia entre ajudar Diana e Veronica – que entre os dias em que não dormi, teve seu filho. Era engraçado perceber que Diana era realmente parecida com Yeva, inclusive em suas adivinhações estranhas e em como elas sempre pareciam saber de tudo. O bebê, que se chamava Theo, tinha nascido saudável e não tinha muito cabelo, mas tinha olhos castanhos e eu logo me vi um tanto apegada a ele. Segundo Veronica, se eu ficasse eu poderia ser a madrinha dele se eu quisesse, mas isso foi apenas mais uma questão que eu não pude responder no momento, por isso eu apenas agradeci e me mantive cuidando de Theo e as ajudando.

Quando a noite chegou, logo depois do jantar, Joshua veio até a mim.

– Pode vir comigo até a minha casa? – ele me perguntou e parecia nervoso.

Eu sabia que ele não dormia na casa onde eu estava, mas não sabia que ele tinha sua própria cabana. Sabe que eu estava sendo convidada para a casa de um homem e que nós ficaríamos sozinhos me deixou desconfiada.

– Vai ser rápido e eu posso manter a porta aberta o tempo inteiro. E você pode levar uma arma se quiser. – ele parecia sincero quanto a parte da arma e eu tentei não rir.

– Okay. – eu acenei e me levantei.

Nós seguimos para além do alojamento dos Keepers e começamos a entrar em um terreno um tanto escuro. Joshua carregava uma tocha como na noite em que nos conhecemos e logo eu percebi que estávamos fazendo o caminho que eu havia feito para chegar até ali. A cabana dele, parecia ser perto do lugar onde eu parei.

A cabana era feita de madeira e tinha o tamanho do meu quarto na St. Vladmir. Tinha um banheiro simples como o do lugar em que eu estava e poucos móveis, mas tudo ali parecia ter sido criado e feito à mão.

– É simples, mas não é como se ficássemos muito tempo em um lugar. Eu já tive uma caverna de pedra, mas depois de um ataque de Strigoi tive que abandona-la. Toda vez que nos mudamos eu preciso recomeçar a construir minha casa, o que é um tanto difícil, então eu mantenho poucas coisas... simples também... – ele me disse explicando o lugar e tentando organizar.

– É uma casa legal. – eu disse com um sorriso – Eu também morava em uma cabana.

– Morava? – ele me perguntou.

– Yeah, com meus pais. Mas na Rússia. – eu disse lembrando da nossa cabana na Baia.

Ele se abaixou e pegou dentro de seu travesseiro uma pulseira fina de cor laranja com amarelo e se aproximou de mim me oferecendo.

– Você tem problemas para dormir e Angeline disse que tem pesadelos quando dorme. – ele disse quando eu estendi a mão para pegar a pulseira, mas ele pegou meu pulso e começou a coloca-la – Eu a fiz para que você possa ter sonhos, mas só funciona se você acreditar.

Eu deixei que ele amarasse a pulseira que era feita de barbante, mas incrivelmente detalhista, nos tons de laranja, amarelo e marrom e no meio formava um filtro dos sonhos pendurado delicadamente. Eu olhei para Joshua e ele parecia incrivelmente feliz por eu ter deixado que ele colocasse a pulseira em meu braço.

– Obrigada, é linda. – eu disse e o abracei, mas ele era mais alto que eu, o que fez com que eu passasse as mãos em sua cintura e ele fizesse o mesmo.

Quando eu o soltei, ele pareceu hesitar e em seguida me beijou. Por um momento milhões de coisas passaram em minha mente: primeiro eu pensei que estava mais uma vez sendo beijada de surpresa, o que era um tanto incomodo. Depois pensei no quanto seria fácil entrar nesse romance com Joshua e me manter com os Keepers, podendo viajar por todos os lugares. Talvez eu me acostumasse por completo àquela vida e eu podia admitir que uma parte minha realmente desejava ficar e não ter pressões, confusões ou horários a seguir. E então eu pensei mais uma vez em tudo o que eu estava fugindo e me senti covarde e logo em seguida me veio em mente que eu estava beijando alguém que eu não amava. Que era apenas um amigo que eu pensei em entrar em um relacionamento por conveniência. Eu lembrei de ver minha mãe e meu pai juntos e de Rose e Dimitri também e o que eu sentia por Joshua não chegava nem perto ao que eles sentiam um pelo outro. Essa intensidade, que eu só havia provado com uma pessoa. Eu interrompi o beijo de maneira simples e quebrei nosso contato físico com cuidado.

– Eu sinto muito. – eu disse.

– Tudo bem. – ele disse e pareceu se sentir um tanto triste e depois de um momento continuou – Mas por favor, fique com a pulseira. Lembre-se de mim quando voltar. – e então se dirigiu a porta. – Vamos, está quase na hora de minha mãe apagar a fogueira.

E então éramos nós dois mais uma vez pela floresta, mas dessa vez em um silencio incomodo e estranho.

Quando estávamos passando pelo lugar onde eu os encontrei, eu senti um enjoo familiar em meu estomago e dessa vez eu notei três sombras. Uma se moveu rapidamente próximo a mim, a segunda desceu de uma árvore e a terceira foi direto até Joshua o derrubando e me fazendo gritar surpresa. Eram três Strigois homens contra eu e Joshua e eu tinha certeza que até eles sabiam que essa seria uma disputa fácil. Joshua que foi derrubado começou a tentar pegar a tocha que caiu ao seu lado de volta, mas um dos Strigoi partiu para o ataque, chutando areia para o fogo e fazendo com que a tocha começasse a apagar, nos deixando praticamente às cegas. Eu conseguia ouvir Joshua lutando com um Strigoi, mas não entendia por que eu não havia sido atacada ainda.

Eu considerei correr, mas de maneira nenhuma eu deixaria Joshua para morrer sozinho e então eu senti um dos Strigoi me agarrar pela garganta e eu tentei lutar ou pelo menos lembrar os movimentos que Meredith havia me ensinado, mas nada que eu houvesse aprendido até agora chegava perto de enfrentar um Strigoi de verdade e sentir sua mão apertar com mais força minha garganta, fazendo com que eu sufocasse e então eu lembrei que eu realmente tinha trazido uma arma por via das dúvidas. Depois do que aconteceu com Oliver no quarto, eu realmente preferi me prevenir levando uma faca de cozinha dentro da jaqueta e então eu consegui pegar rapidamente, usando para cortar debaixo do braço esquerdo do Strigoi e aproveitando que ele se distraiu, tirando a mão que me estrangulava para enfiar a faca em seu peito por debaixo do braço que eu havia ferido. Ele caiu, mas eu não sabia se a faca era de prata ou se sequer eu tinha atingido o lugar certo e eu só esperava que isso fosse o suficiente para me dar tempo de fazer alguma coisa por Joshua, que continuava lutando, mas que parecia estar sofrendo.

Corri na direção de onde eu os ouvia, mas então eu fui jogada contra uma árvore, batendo a cabeça com força. O terceiro Strigoi finalmente havia começado a lutar e ele me jogou para o lado da floresta que estava iluminado pela lua e então veio até a mim. O que eu não percebi foi que ele estava mancando e parecia que seu rosto estava cortado. Ele caminhou até a mim e eu sentia minha cabeça latejar enquanto o via se aproximar. Quando ele já estava me alcançando e eu pensei em deslizar para a mente de Oksana enquanto ele me matava, eu o vi simplesmente ser derrubado e isso me despertou. Eu me esforcei para me manter sentada e foquei em saber o que estava acontecendo, até que percebi alguém pequena e ruiva que se movia com uma agilidade mortal e logo em seguida enfiou a estaca no Strigoi que iria me matar. Logo depois eu a vi sumir e os sons da luta de Joshua também haviam cessado. Eu temi por Joshua e comecei a me levantar, mas isso só fez com que eu caísse sentada mais uma vez e então eu vi minha salvadora se aproximar novamente, pondo o rosto na frente do meu. Uma parte que ainda tinha algum bom senso em mim, ao reconhecer quem havia me salvado, teve a noção de entender o quão ferrada eu estava, pois Janine havia me achado e então eu apaguei.


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